Regalia escrita por Daymare


Capítulo 2
O mago




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— Tragam-me o mago.

Godor Exodus estava sentado de modo imponente em seu trono, olhando desdenhoso para seus servos que se inclinavam em uma reverência exagerada. Pela grande porta adornada de prata e rubis entraram dois soldados robustos, arrastando um homem pelos braços. O homem estava vestido completamente de branco, e seu rosto estava parcialmente coberto por uma máscara geralmente usada em rituais de magia. Os soldados o largaram e ele caiu de joelhos no chão.

O ditador se levantou, e em passos pomposos se aproximou do mago.

— Então, caro mago. — usou sua bengala para erguer o rosto do homem — Já faz um mês que lhe pedi uma previsão. Seu tempo acabou.

O mago riu baixinho. Não temia aquele homem.

— O herdeiro de Solaris se aproxima para tomar-lhe o trono...

Godor trincou os dentes e proferiu uma bofetada no rosto do mago com a bengala, fazendo com que sua mascara voasse longe. Os longos cabelos prateados lhe escorreram pelo rosto, e os olhos acinzentados do mago encararam os vermelhos do ditador.

— Como ousas? Sou o verdadeiro herdeiro de Solaris. — disse o ditador e o mago começou a rir em uma risada macabra e doentia.

— Pelos poderes que me regem — gritou — eu declaro tua queda como iminente. O verdadeiro herdeiro será coroado. Tu serás enterrado e confinado em sua perversa escuridão, e teus dias estarão contados. — os servos se sobressaltaram, o mago recebeu outra bofetada, e dessa vez cuspiu sangue.

— Tirem-no daqui. — ordenou aos soldados — porém não o mate. Ele ainda pode me ser útil.

A primeira sensação que Aidan teve, foi que tinha alguma coisa explodindo, sucessivas vezes do lado de fora de seu quarto. Abriu os olhos, desnorteado e constatou que na verdade a porta estava sendo esmurrada.

— AIDAN... EU... SEI... QUE... VOCÊ... ESTÁ... AÍ... ABRE... ESSA... DROGA... DE... PORTA...!!! — gritava uma voz frenética do lado de fora, enquanto esmurrava a porta com mais violência ainda.

O elfo bufou. Não tinha deixado bem claro para a estalajadeira que não deveria dizer que ele estava por ali? Enrolou-se nos lençóis e abriu a porta de supetão.

Uma criatura de 86 centímetros, exatamente a metade da altura de Aidan, robusta e com espessos cabelos loiros caiu para dentro do quarto com o susto. A chorosa Édia estava do lado de fora, possivelmente tentando persuadir o pequeno invasor a não incomodar o elfo daquela forma.

— Eu... Eu... Desculpe-me... — dizia ela, tentando justificar a falha.

— Está tudo bem. — Aidan disse a ela, que saiu quase correndo para buscar um desjejum — Gunther, seu maníaco! Eu não disse para parar de me seguir? — disse o elfo à criatura que se levantava do chão, resmungando.

Gunther não tinha uma raça definida. Dizia que era uma mistura de espécies indefinidas, ou um gnomo que cresceu demais. Aidan havia o conhecido umas quatro cidades anteriores, e desde então ele não largava de seu pé.

— Eu não te disse que iria te acompanhar na sua jornada? — resmungou, batendo suas roupas — E eu tenho o olfato muito bom, não adianta você tentar sumir, que eu te acho pelo seu cheiro!

O elfo bufou.

— E eu já lhe disse que não — deu ênfase especial ao “não” — preciso de sua ajuda? 

— E eu te disse que isso não é escolha sua. Já não conversamos várias vezes sobre isso? — o gnomo sentou-se na cama, se acomodando. — Então não sei o que temos ainda a discutir.

— Pois bem, Gunther, pode me acompanhar, mas pode me dar licença por um momento, e esperar lá na taberna?

— Para você desaparecer de novo das minhas vistas? Mas nem sonhando que eu vou...

— Gunther, eu preciso me vestir.

O gnomo encarou o elfo dos pés a cabeça, que trajava apenas os lençóis os quais estava enrolado, e corou levemente com a falha.

— Tudo bem, mas apareça para o desjejum. — resmungou, pulando da cama e saiu do quarto. O elfo fechou a porta às suas costas.

Aidan bateu a cabeça duas vezes na parede e suspirou. Não dava para fazer a missão a que fora designado com um gnomo extremamente irritante grudado aos seus tornozelos. Alguém, em algum lugar o odeia muito, para ter que estar passando por isso, pensou.

Duas horas depois, após comer o desjejum, e uma despedida chorosa de Édia (que lhes presenteou com uma cesta de mantimentos) os dois aventureiros puseram o pé na estrada. Aidan estava com relativo mal humor, apesar do bonito dia. Um gnomo chato tagarelando em suas orelhas era a maior causa disso.

— Então, o primeiro passo, pelo o que entendi é você chegar a Solaris para assumir o trono, não é parceiro? — o gnomo tagarelava, e o elfo revirou os olhos.

— Já lhe disse, não sou o herdeiro de Solaris, sou da casa de Asteri. — respondeu seco.

— Bah, deixe de ser modesto. Eu sei muito bem o que você esconde! Mas eu não ligo, sou uma criatura muito simples, que gosta de viver na simplicidade. Eu não iria me incomodar em ter um amigo da realeza, principalmente do reino de Solaris. Imagine só a vida que eu poderia ter, mas, sem interesses, claro, o que importa é nossa amizade!

— Gunther. Eu lhe disse que não sou o herdeiro. — resmungou — A minha missão é buscar o herdeiro verdadeiro e lhe ajudar a assumir seu trono. E já lhe disse, não somos amigos.

— Mas... — o gnomo pareceu confuso. — Onde vamos achar o verdadeiro herdeiro então?

— Narenburgo.

— Mas... Mas isso é muito além do vale, e muito distante de Solaris! Vamos ter que andar um bocado!

— Se você não quiser ir, por mim tudo bem. É para lá que eu rumo.

— Rá, vai achando que vou largar essa missão só por isso! Um gnomo bravo e corajoso sempre tem grandes recompensas! — disse, se empertigando como um pavão.

O elfo baixou os olhos, e coçou os cabelos presos para trás. É, se dependesse de Gunther, aquela seria uma longa viagem... 


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