Secret Longing escrita por MayonakaTV


Capítulo 3
Três.


Notas iniciais do capítulo

Ficou meio grande, não? O:



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- Merda!

Meu desespero foi tão grande que saí de casa do jeito que estava, tentando, ao mesmo tempo, arrumar a gravata e o cinto das calças enquanto corria. Pela cara das poucas pessoas na rua àquela hora, deviam estar pensando que eu era algum amante que, ao primeiro sinal de perigo, havia fugido pela janela. Modéstia à parte, se eu fosse mesmo um, bom... com certeza o marido traído não seria capaz de me alcançar.

Ah, Gardenia Avenue! Eu não sabia se comemorava ou chorava por ser tão perto de minha casa! Ruazinha maldita!

Já cheguei empurrando todo mundo, tropeçando no meio fio e quase caindo em cima do corpo. Parei, tentando encontrar qualquer sinal de que fosse - Deus quisesse que não fosse! - meu querido Mana. Banhado em pânico (e também em suor), eu não sabia por onde começar. Os sapatos, é. Negros, saltos de pelo menos doze centímetros. Um lindo vestido azul. Luvas de renda... Levei a mão ao peito, numa inspiração dolorida, quase chorando. De alegria! Graças aos céus, não era ele! Claro, o rosto estava desfigurado como sempre, mas você deve imaginar o que estava faltando (ou melhor, o que tinha a mais) no corpo para que eu soubesse.

Passados esses minutos de tensão, o triste foi ter de aguentar o dia todo os comentários sobre o cheiro de xixi de cachorro.

Três.

Posso dizer que aquele trabalho de enterrar meretrizes estava começando a me deixar meio mole. Ainda cansado pela noite mal aproveitada e pela manhã tensa, passei a tarde ouvindo gritos para não cochilar em cima da mesa, e a cada momento de fraqueza em que acabava desabando sobre o monte de papel, via Mana morto jogado na calçada como se fosse um saco de lixo. Tais pensamentos estavam começando a me irritar e me deixar ferido por dentro; se eu não conseguisse resolver essas mortes, mais vidas inocentes (públicas, depravadas, mas mesmo assim, vidas... hn, deixa pra lá) estariam sendo interrompidas. Logo, todas as prostitutas do país estariam mortas, e eu não poderia fazer merda nenhuma além de encomendar a floricultura para deixar sobre a lápide de Mana.

Senti os olhos arderem, mas sou muito macho para chorar por uma coisinha como essa. POR UMA COISINHA COMO ESSA. Porque a coisa foi diferente quando, em meio à madrugada que passei confinado na deprimente sala do chefe, após a enésima xícara de café, desabei de sono e tive um pesadelo. Primeiramente, eu dormia com Mana, me perdendo na sensação de beijar aquela pele tão alva e delicada e nos gemidos prazerosos que ele dava, chamando meu nome e pedindo por mais. E na manhã seguinte ele estava morto. Seu vestidinho azul todo manchado em vermelho vivo e o rosto, outrora sorridente, completamente desfigurado. Acordei gritando feito um louco, com o rosto lavado em lágrimas e um certo "incômodo" entre as pernas. Aí levei uma jornalzada na cabeça. Sim, o chefe estava ali, me olhando com cara de "Kami, pare de usar drogas". Ainda bem que fui liberado. Só não entendi por que o chefe me deu o jornal.

Enquanto caminhava de volta para casa (me ver no carro era raridade), passei os olhos de relance por algumas notícias. Sempre odiei ler jornal, diferente de meu pai. Não sei que graça tem ler desgraça. Meio contraditório. Graça, desgraça... ok, vou parar com as piadinhas. Mas sejamos sinceros, o povo adora uma desgraça. Se puder ver sangue, então, nem se fala! Qualquer dia eu espremeria um daqueles malditos pedaços de papel em cima de uma panela, quem sabe o sangue que sairia dali não me ajudaria a fazer um belo de um molho pro jantar? Enfim, na primeira página havia um tal de Közi, o mais novo dono do Banco de Londres. Credo, que carinha feio. Bom, amassei o jornal, joguei numa lixeira pelo caminho e fui direto para o banho quando entrei em casa. Passaria a manhã inteira dormindo e, se não houvessem interrupções, a tarde também.

Se você acha que não haveriam interrupções e que pode parar de ler por aqui, sinto iludí-lo, meu amigo.

Eu mal havia me deitado quando a porra do telefone tocou. Eu ainda jogaria aquele trambolho na lareira. O sono embaçava tanto minha visão que por umas cinco vezes quase caí da escada.

- A-alô...

- ...

- Alguém me procurando...?

- ...

- Sim senhor, estou indo praí agora...

Desliguei. O chefe disse que havia alguém desesperado para falar comigo sobre algo muito importante que só eu poderia resolver. Minha primeira atitude foi dizer "puta merda". A segunda, foi procurar o café. A terceira, caçar a chave do carro que eu nem sabia onde estava... e por último, reunir forças para sair de novo, caminhar até o abençoado automóvel e tentar manter os olhos abertos enquanto dirigia. Ok, esta última missão foi um fracasso, dentro de alguns dias as multas por atropelar um gato e um hidrante chegariam na minha caixa de correio. Pelo menos o barulho da batida despertou a curiosidade sobre quem estaria à minha procura, e quase fez um buraco no meu cérebro no caminho até o posto policial. O engraçado é que, quando cheguei, mal pus o pé porta adentro e ouvi alguns risos maldosos ao meu redor. Meus colegas perguntavam "pagou o serviço pela metade, Kami?", "não deu conta e ela veio devolver o dinheiro?", e eu não compreendia nenhum desses comentários, que tive de aguentar até chegar à sala do chefe.

- Com licença, senhor! Vim o mais rápido que pude - a voz de desânimo ainda podia ser disfarçada, mas a mentira, não sei não. - Quem queria falar co... - só então entendi a razão de estar sendo alvo de tantas gracinhas. Sentado em um canto da sala, com a bolsa sobre o colo, estava ninguém mais, ninguém menos do que o próprio Mana.

- Eu precisava falar com você, monsieur Kami.

Meu Deus, ele sabia meu nome.

- Como sabe meu nome?

- Isso não importa muito. Por favor, vamos sair daqui e lhe contarei tudo o que sei.

- E o que é que você sabe?

- Eu sei quem está matando as meretrizes.

Arregalei os olhos.

- Vamos para minha casa.

Mais risos e mais comentários pelo corredor, agora mais diretos e muito mais maldosos. Mana seguia encarando os próprios pés, as bochechas coradas e os olhos brilhando na denúncia das lágrimas que viriam. Como eu queria passar o braço ao redor dos ombros daquela menininha desprotegida e puxá-la para perto de mim, mandando todos aqueles palhaços irem se ferrar! Só não o fiz, porque a humilhação seria ainda pior para Mana. Graças a Deus chegamos logo ao carro, entramos e seguimos rumo à minha humilde casa na rua Fleur.


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Notas finais do capítulo

E AGORA? HEIN, HEIN? HEEEIN? QQ