Secret Longing escrita por MayonakaTV


Capítulo 1
Um.


Notas iniciais do capítulo

Exagerei, as usual.



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Eu nunca quis entrar para a Ordem. Nunca quis ser um policial, entende? Mas, por influência de meu pai (para não dizer que ele me enfiou aqui à força), um famoso oficial das antigas, ali estava eu, trajando um ridículo colete bege com o brasão da Ordem Policial de Londres estampado no peito.

Estava revendo algumas fotos de família (insultando a cara cínica do velho em todas elas) quando o chefe me telefonou. Mais uma prostituta havia sido encontrada morta numa esquina qualquer.

"Você será tão bom quanto eu fui, Kami" - ecoava a odiosa frase que meu pai havia me dito tantas vezes.

Fechei o álbum, já sentindo o coração acelerar. Mais uma...

Após um último gole de café frio, levantei-me e saí de casa, torcendo para que o corpo fosse de uma prostituta qualquer. Nada pessoal, por favor, entenda.

Há certo tempo, eu vinha vigiando de perto uma delas...

Um.

O nome é Mana. Sexo masculino. Idade, desconhecida. Rosto fino e delicado, pele branca, olhos azuis. Aproximadamente 1,67m. Profissão: Meretriz da Meia-Noite.

Talvez você, leitor, não saiba o que é uma Meretriz da Meia-Noite, então irei clarear sua mente. Meretrizes, todos sabemos o que são, certo? Na época, o número de casos de adultério e morte de prostitutas devia ser o maior da Europa, se não do mundo. Cansada de ouvir reclamações, processar maridos infiéis e abrir covas para mulheres da vida, a justiça moveu centenas de forças policiais para evitar a circulação desse tipo de gente pelas ruas. Tudo era válido, desde humilhação e espancamento até prisões de no mínimo uma semana de duração. Entretanto, as "profissionais" não estavam dispostas a perder sua única fonte de renda, terminando por mudar seu horário de atendimento para as primeiras horas da madrugada onde a ronda era quase nula, tornando-se as "Meretrizes da Meia-Noite", ou MDM para encurtar. Então, como o nome já deixa meio óbvio, você jamais veria uma dessas durante o dia. O serviço se tornou mais discreto e, devido à raridade com se encontravam as meretrizes, pode-se dizer que muito mais caro (não que isso tenha diminuído a procura). Além do mais, embora os policiais fossem pagos para "limpar as ruas", era óbvio que gastavam o salário como frequentadores assíduos do serviço.

Com certeza você está pensando que eu também sou um desses oficiais pervertidos. Não seja precipitado, jamais tive relações com outro homem. Sei o verdadeiro sexo de Mana pelo simples fato de tê-lo encontrado no banheiro de um restaurante e ter ficado um tanto inquieto com a beleza do rapazinho. Quase abri a boca para comentar de que o banheiro feminino era do outro lado, mas não tive muito tempo, ele foi embora assim que terminou o que estava fazendo. Sua curiosidade agora deve ser "como um homem pode ser uma meretriz", estou errado? Acredite, meu amigo, isso acabou se tornando comum naqueles anos, já que o país passava por inúmeras crises financeiras e isso obrigava jovens desesperados, fossem garotos ou garotas, a fazerem o possível e o impossível para conseguir dinheiro: roubar, matar e principalmente se prostituir, sendo a última opção a mais rentável. Os que eram mais bonitos, ah, esses tinham muita sorte se conseguissem uma porção de maquiagem e um vestidinho aristocrático barato e fácil de tirar.

Voltando ao assunto, eu não deveria ter me importado com aquilo, era certo que não tornaria a vê-lo... mas por uma feliz obra do destino, tive o prazer de reencontrá-lo em uma de minhas caminhadas noturnas. Estava sem sono e tão cansado de encarar o teto que decidi sair, embora o horário não fosse o mais adequado (por isso fiz questão de levar um revólver comigo). Passava pela Gardenia Avenue, injuriado com as luzes falhas dos postes que insistiam em acender e apagar o tempo todo, quando ouvi passos se aproximando. Um irritante barulho de saltos femininos.

- Oh, quem diria. Uma MDM. - Tirei o relógio do bolso. Meia-noite, nem um minuto a mais ou a menos.

Entrei em um beco qualquer, estava curioso a respeito de como seria a criatura. O que vi foi uma jovem pálida, de cabelos presos em cachos azulados nos dois lados da cabeça, e uma enorme franja da mesma cor. Usava vestido negro vitoriano, com um toque sombrio dado pelas inúmeras rendas e detalhes florais. Luvas negras também de renda, meia-calça escura e os saltos barulhentos, para os quais eu não daria menos de doze centímetros.

Era a pessoa que eu tinha visto no banheiro do restaurante.

Encostou-se no muro e ficou balançando a pequena bolsa que tinha nas mãos. Em menos de dez minutos, parou diante do pequeno um carro preto, de onde saiu um homem muito bem vestido e de presença imponente.

- Está disponível hoje, gracinha? - perguntou.

O lolita assentiu com a cabeça. Será que aquele homem sabia que estava levando outro homem para a cama? Pensando nisso, senti um certo nojo, mas confesso que também tive vontade de ir lá perguntar... o talzinho era bonito demais. O homem abriu a porta do carro esperando que o lolita entrasse, e entrou logo após. Fechada a porta, o carro partiu. Tomei o caminho de volta com a cabeça a mil por hora. Em meus 23 anos de vida ainda não tinha me interessado por mulher alguma, muito menos por uma que dava para todos que pagassem. Ou pior, por um homem que dava para todos que pagassem! Então por que aquela vontade de saber quem era aquele de cabelos azulados, que se vestia como uma garota e trabalhava como meretriz?

Tenho um pouco de vergonha de dizer que voltei na madrugada seguinte, ocultando-me no mesmo beco escuro, sem ter a mínima noção de por que estava ali. Os olhos oscilando entre o relógio e a esquina, faltava pouco para meia-noite, ele logo chegaria... e chegou, me deixando de boca aberta. Desta vez o vestido era interamente azul, com um laço negro na cintura. Maquiado com esmero, usava uma gargantilha feita de renda também azul, assim como as longas luvas e os laços que seguravam as maria-chiquinhas nos cabelos, desta vez totalmente negros, fazendo-me ter mil dúvidas sobre como poderia tingí-los de uma noite para outra. Eu tinha de admitir, o rapaz se vestia com mais elegância do que muitas londrinas. Como da outra vez, bastaram dez minutos para que um carro parasse na calçada. Um Mercury prateado, de onde desceu um homem tão ou mais influente que o da noite anterior. "São ótimos partidos", pensei, e senti meu estômago se contorcer. Seria possível que eu estivesse com ciúmes?

- Entre - disse o homem, e lá se foi o carro com a meretriz e seu contratante.

Voltei para casa tão ou mais aturdido do que na noite anterior. O que estava acontecendo comigo? Eu não podia ter me apaixonado por alguém que mal conhecia, e ainda mais alguém cujo salário provinha de um trabalho tão repulsivo! Já entrei chutando a porta, não conseguia olhar para lugar nenhum sem ver a figura de uma esquina onde um lolita sorridente rodava sua bolsa. Nervoso, jurei para os quatro ventos que não iria mais a tal beco, e adormeci.

Na madrugada seguinte quebrei minha promessa.

Voltei mais algumas vezes para vigiar o rapazinho. Por um acaso descobri seu nome de trabalho e, desde então, passei a estar ali todas as noites, esperando ver sua figurinha graciosa parada junto ao poste da esquina. Sempre em belos e caros vestidos de ótimo gosto, balançando infantilmente a bolsa de um lado para o outro até que algum cliente viesse procurar seus serviços. Com uma beleza daquela, estava no direito de cobrar um valor absurdo, e eu não conseguia mais dormir direito imaginando o preço de uma noite ao lado dele.

Então, uma a uma, as meretrizes começaram a morrer. Uma nova onda de assassinato de vadias, e quem era chamado para dar uma olhada? Está falando com ele! Não tente sentir algum ânimo nessa frase, porque eu não tinha o menor orgulho de estar envolvido naquilo. Pense em alguém que chegava a cada cena do crime com um terrível aperto no coração, rezando para que o corpo não fosse de Mana. Sim, esse alguém era eu.

Nos primeiros dias (mais precisamente nos dias em que Mana ainda estava vivo) não me incomodei tanto, porém, a tendência é sempre piorar. O número de mortes começou a aumentar sem ter qualquer explicação óbvia - aí sim entrei em desespero. Eu passaria diversas madrugadas trancado na sala do chefe, me entupindo de café e bolinhos, andando em círculos pelo que parecia ser o crime perfeito... e acendendo velas todas as noites para que Deus guardasse a vida de Mana.

Droga, pai. Eu queria ser bibliotecário.


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Notas finais do capítulo

Sim, MDM foi proposital (Moi Dix Mois ♥).
Eu sei que o Mana tem 1,73m, mas quis deixá-lo menorzinho, e *surta ♥*
E meu Mercury prateado não tem nenhuma relação com Queen, só fui perceber a coincidência depois que já tinha escrito! XD