Aquilo de não ir para a escola era divertido até. As meninas eram gentis, mas o que me incomodava era o Ivan. Porque eu teria de trabalhar com um menino?! Mas tudo bem. No terceiro dia em que fui para o prédio, tive de subir direto para o segundo andar. Tinha ficado extremamente irritada de não poder terminar de falar com a secretária enquanto esperava Steven.

   - Deixe-a em paz. Um diálogo é quando duas pessoas conversam Lienda - dizia Steven rindo baixinho. - Aliás, sua casa é muito longe daqui. Vou estar pagando um apartamento pra você, até poder trabalhar de verdade e pagar sozinha.

   - Mas Steven, minha escola... 

   - Eu te ensino o que sei. 

 Realmente, odiava quando ficavam me cortando. Steven explicou que iria conversar com o meu irmão e nos dois iríamos nos mudar, se ele quisesse. 

  Entramos no segundo andar e Steven colocou em cima da mesa a maleta que segurava. Nós quatro nos sentamos envolta da mesa e ficamos observando. Ele virou a maleta para nós e a abriu. Lá dentro haviam celulares enfeitados e quatro fones de ouvido, bem pequenos. Um dos fones tinha microfone e os outros não. Todos ficaram olhando para aquelas coisas.

  - Pra que servem esses bregnithes ?- perguntei sem tirar os olhos da maleta. 

  - Para o que vocês irão fazer hoje. Vou-lhes explicar, crianças. - ele fez uma pequena pausa - Lya,  fiquei sabendo que você é uma hacker, assim facilita os meus planos. 

   Lya assentiu com a cabeça baixa e a pele rosada. 

  - A mulher que precisamos pegar tem nome, idade e dados pessoais desconhecidos. Ela sabe da existência de Retsam, digo, a rocha, e quer roubá-la para fazer alguma coisa. Até onde tenho entendimento, ela já trabalhou aqui dentro da agência e por isso tem muitas vantagens. Isso é um dos motivos por ela não estar tentando nada ainda, sabe que seria inútil bater de frente. 

  Ele nos olhou e apoiou os cotovelos nas pernas, juntando as mãos. 

   - Ela virou uma ladra e foi expulsa daqui, mas tinha aprendido de mais... Droga, ela sabe tudo de Retsam! Mas sempre cedi em chamar crianças para fazer qualquer coisa... Me desculpem, foi minha única opção. 

   Naquele momento estava fazendo uma força imensa para não dizer nada, queria muito fazer muitas perguntas... Mas eu tinha um respeito enorme por Steven, nem eu mesma entendia, só sabia que devia ficar quieta. 

  - E o que nós vamos fazer? conte logo, quero ver pra que servem essas coisas. Ah! eu não vou ficar aqui né? quero ir procurar essa mulher! Ela parece ser interessante, até porque já trabalhou aqui, você conhecia ela, não é? Então não seria mais fácil se.... 

  Steven soltou um riso novamente.

  - Vocês mudaram quase todas as regras daqui, crianças. 

  Ele pegou os celulares e deu para nós. O meu era verde, minha cor favorita. Tinham alguns coelhos desenhados nele e um chaveiro com a letra "R", do meu verdadeiro nome. Observei os outros celulares para ver os chaveiros e o das gêmeas eram um "M", o de Ivan era um "W". 

 Pensei comigo que Ivan tivesse um nome muito estranho. Minha curiosidade só aumentava, mas eu não podia dizer meu nome e duvido que eles dissessem os seus. Quando liguei meu celular tocava minha música favorita, que ainda é até hoje: "Happy people" de Skoop On Somebody e tinha a imagem de um gif de galho muito fofo na tela.

  - Ah! muito obrigada Steven! agradeço por não ser rosa - sorri.

  O das meninas era muito bonito também, tinham o mesmo estilo e pelo que percebi era de acordo com o que cada um mais gostava. No de Lyra tinham doces, no de Lya tinham pandas. O do Ivan não pude ver, ele guardou assim que recebeu, só deixou o chaveiro de fora. 

  "Garotos são mesmo estranhos" pensei comigo. 

  - Lya vai ficar aqui no prédio enquanto Lienda e Ivan vão no café em que aquela mulher costuma freqüentar. Quando conversarem com ela, Dêem um toque para Lyra, ela vai estar esperando para fazer o que eu pedi. Se descobrirem o nome da mulher, liguem para Lya que vai procurar por ela na internet. Alguma coisa vai achar, e se achar o computador que ela usa... Podemos pegá-la logo. Não é difícil, mas não saiam dos planos, por favor.

  Todos assentiram sem dizer nada. Era tão difícil não poder falar, mas eu tive que ficar quieta. 

  - Podem ir. Os fones ainda não são necessários. 

Nos levantamos e fomos saímos do prédio, Ivan pegou no meu pulso e foi andando até o café do centro. Eu nunca tinha andado pra tão longe, gostei de ficar andando... Lyra tinha pego um rumo diferente, que daria no mesmo lugar. 

  - Já que estamos aqui Ivan, eu bem que podia conhecê-lo melhor. Mas antes, deixe que eu me apresento! Aquele dia eu não pude falar muito, mas... 

  - você fala demais. 

Meu sangue subiu pra cabeça. Além de ser um menino sem sentimentos ainda ousava dizer aquele tipo de coisa... Davi sempre disse que os meninos deveriam tratar as meninas com delicadeza e não podiam ousar bater nelas com uma pétala de flor. Não pude comprovar isso, já que não tinha muitos amigos. 

  - Quem você pensa que é?! Eu sou uma mulher e devo ser respeitada! Sem falar que você está puxando o meu braço com muita força, seu bruto!

   Ivan não disse nada, só soltou meu braço e continuou andando, com as mãos no bolso da jaqueta. Não entendi a reação dele diante daquilo, mas de qualquer forma, fiquei pensando se disse algo muito... Rude. 

  - Pelo menos não fui escolhido por ter cara de idiota - ele disse.

  Senti ter levado um tapa na cara. Tinha esquecido desse detalhe...

   - Não vai falar mais nada? já estamos quase chegando - continuou. 

   Pelo menos ele não mentiu. Mas o sorriso malicioso dele depois disso me deixou realmente furiosa.

   Paramos em frente a um lugar que parecia uma mansão. Era amarela e feita de madeira, muito grande mesmo. Fiquei impressionada com a beleza do café e logo esqueci de tudo que fui fazer e do que o Ivan havia dito.  Entramos ali, ele estava parecendo confuso.

  - aconteceu alguma coisa? - perguntei.

  - Já fiz teatro, esqueceu? Tenho que procurá-la de um jeito menos óbvio - cochichou em meu ouvido ainda com uma cara de assombro. Tentei fazer o mesmo, mas quando ele me olhou perguntou se eu queria ir no banheiro... Desisti de fingir. De repente ele agarrou no meu braço, enquanto estava tropeçando. Fez uma cara de choro e eu me abaixei para ver o que tinha acontecido.

   A mulher, sim, ela tinha aparecido. Ela estava lá e ele tinha tropeçado na frente da mesa dela. Aquela linda mulher se abaixou gentilmente e perguntou se precisávamos de ajuda. Sua voz era tão doce, suave, dava vontade ficar ouvindo ela falar. 

  - Ah! perdi minhas moedas! Irmã, caiu no buraco! - ele me olhou desesperado.

> oh suck, tenho que sair ¬¬' logo continuo pessoas.