Além dos Olhos de Prata escrita por Ty3f


Capítulo 2
Aliadas pela última vez




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Para Irene que ainda se mantinha como espectadora, invocou seu poder de youma e pôde predizer a ação seguinte de Priscilla cujos olhos encaravam  o rosto impassível da sua oponente. Seus dedos se fecharam sobre o cabo da espada. Quando Teresa abaixou a espada contra a cabeça da que despertava, sentiu-se sendo lançada para longe.

“Teresa!” O grito de Clare pôde ser ouvido.

Um grito de dor.

Caiu rolando pela lateral do elevado caminho de pedras. Em meio a pedras pontiagudas, Teresa sentiu um corpo se mexer sobre o seu.

“Irene!”

“Dos males o menor...” A Número 2 sorriu irônicamente e se rolou para o lado da Número 1. “Depois eu me vejo com você.”

Teresa pôs-se rapidamente de pé e ofereceu a mão para a Irene que aceitou e se levantou.

“Que nossa última luta como aliadas seja proveitosa,” rogou Irene.

“Será no mínimo divertida,” Teresa respondeu e subiu as pedras com a sucessora em seu calço.

As duas puderam acompanhar o final da transformação de Priscilla. Do outro lado. Noel e Sophia estavam apavoradas. Irene e Teresa não escondiam seus receios e hesitações. Diante daquela quantidade de Youki, Priscilla se transformaria no Kakuseisha mais poderoso que qualquer uma das quatro já teria enfrentado. Da corcunda, surgiram asas, os dedos dos pés se alongaram rompendo as botas de metal. Um único chifre se ergueu na resta. Os cabelos se arrepiaram. Priscilla emitia urros guturais e uma luz intensa cegou as quatro guerreiras por alguns momentos...

Assim que tornaram a enxergar, o kakuseisha, ergueu-se do chão. Noel e Sophia viram Irene e Teresa do outro lado, juntas e entenderam na hora. As quatro guerreiras lutariam do mesmo lado mais uma vez. Sacaram suas espadas.

A kakuseisha girou o corpo num movimento fluido olhando para as todas elas, ouviram a lámina da espada em sua mão direita roçar nas pedras do chão. O rosto de pele escura se contorceu num sorriso.

“Eu não quero matá-las,” disse o monstro numa voz rouca que em nada lembrava o tom infantil de Priscilla. “Tenho fome”

Os olhos apenas viram a kakuseisha desaparecer e aparecer na frente de Sophia. O monstro agarrou-a pelos cabelos e puxou-a de encontro a si. Cheirou-a.

“Seu cheiro é ruim. Eu quero visceras... Humanas... Você não serve.”

Então, Sophia foi lançada longe.

Irene aumentou o nível de youki. Ela se comunicou com Teresa através de seus olhos, agora dourados. Teresa impulsionou o corpo na direção da Kakuseisha Priscilla que absorveu o golpe que arrancaria sua cabeça com a espada.

“Quer me matar, é?” Priscilla riu. “Eu não vou deixar.”

“E por quê você acha que eu preciso de permissão para matar quem eu quero?” Teresa respondeu com um sorriso no rosto, sorriso pelo qual era chamada de Teresa do Sorriso Aparente.

Priscilla abaixou a espada com força empurrando Teresa para trás, que usando de seus poderes, instantâneamente estava de volta frente e frente com a oponente. As espadas começaram a se chocar por todos os lados. Um ataque era dado e defendido para um contra-ataque ser ofendido e defendido. Os golpes se tornavam cada vez mais rápidos para olhos destreinados. Irene procurava uma maneira de aplicar sua Espada da Luz sem ferir Teresa, cujo corpo girava para lá e para cá a fim de inferir danos na kakuseisha e se defender dos golpes que recebia. Irene se concentrou nos Youkis das que lutavam e se enfiou na luta aplicando a técnica pela qual ganhara sua fama.

Noel observou as duas guerreiras mais poderosas lutarem contra a kakuseisha, Irene não era mais vista, a presença dela era marcada apenas pelas faíscas pelo encontro de sua espada com a espada da que despertara. Teresa mantinha-se se defendendo e tentando manter a atenção do monstro focada em si a fim de que Irene pudesse ferí-la mortalmente. Entretanto a criatura parecia ser demasiadamente poderosa até para as duas juntas. Noel sentiu que aquele seria o fim da classe mais poderosa que a Organização criara até então. Inspirou uma grande quatidade de ar enquanto se concentrava em seu próprio Youki. Era a mais rápida depois da Espada da Luz de Irene, a criatura era forte e poderosa, mas não podia ser tanto assim. Talvez até escaparia, mas não escaparia sem estar bastante ferida. Quando as veias saltavam pelo rosto e pelas mão de Noel, ela rufou na direção da batalha, pensando em seu último suspiro.

De longe, Sophia colocava o braço horrivelmente deslocado no lugar. Via grandes explosões, sabia que as outras três estavam indo com tudo para cima do monstro que Priscilla se tornara. No que seus superiores pensavam quando mandaram alguém tão inexperiente quanto Priscilla para ir atrás da cabeça de Teresa do Sorriso Aparente. Eles só podiam estar loucos.

Puxou o braço para frente de uma única vez e ouviu um estralo dolorido. Com a mão limpou o filete de sangue de escorria por seu rosto. Pôs-se de pé. Tirando o braço, seus ferimentos não iriam atrapalhá-la. Seus olhos brilharam dourados e ela começou a correr na direção da luta.

Noel caiu de costas no chão, após ter recebido um chute generoso de Teresa que arrancou a espada de Priscilla de seu ventre. Irene afundou contra um monte de pedras, levatando muita poeira. Já Teresa estava presa numa chave de pescoço, prestes a ter o pescoço quebrado, após ter deixado sua espada cair.

“Olha no que você me transformou...” Kakuseisha sussurrou no ouvido de Teresa.  “Olha! Veja que coisa horrivel eu me transformei, por sua causa.  Sabe, isso é injusto, você me tranforma nisso e agora quer me matar. Muito injusto... Muito injusto...

“Eu não te transformei em nada, a culpa não é minha se você não passava de uma imbecil inexperiente que achava que tinha o controle de qualquer coisa. Eu mandei você conter o seu youki enquanto ainda havia tempo!”

“É, mas eu não o fiz, queria apernas te matar, pois assassinos não merecem nada menos do que a morte.”

“Olha quem fala...”

Ela afastou as mechas do cabelo da guerreira e lambeu sua orelha.

“Não, não... Eu ainda não matei ninguém, portanto, a pecha de assassina ainda é só sua... Sabe, toda essa movimentação me deixou ainda mais faminta...” Ela começou a andar, averiguando o estrago que causara nas outras, arrastava Teresa consigo. “Quero abrir o ventre de seres humanos, enfiar minha cabeça em seus intestinos cheios de sangue. Não deixar nenhum resto de carne para trás e saborear cada órgão— O que?” A criatura virou-se e deu de cara com a lâmina de uma espada. Foi obrigada a largar Teresa para se esquivar do ataque repentino de Sophia, que atirou-se com tanta força que cravou a espada até o cabo no chão, fazendo-o tremer.

“Meu cheiro é ruim, é?! Bom pra você, agora me diga o que acha da minha espada?” Os olhos dourados de Sophia cintilaram e ela puxou a espada com força e atirou-se novamente contra a Kakuseisha. Foi o que Teresa precisou para jogar no chão e alcançar sua própria espada.

Priscilla ria enquanto absorvia os golpes violentos de Sophia. Teresa avançou para cima da criatura novamente. Enquanto isso Noel e Irene curavam seus ferimentos para então voltar a batalha.

“Vocês são tão engraçadas, acham mesmo que podem me vencer...”

Irene observou que Priscilla apenas brincava com as outras e que era apenas com Teresa que iria lutar a sério. As duas estavam apenas se divertindo. Restava apenas a dúvida. O Youki da kakuseisha era gigantesco e o de Teresa.... Parecia que oscilava. O que a número 1 estava tentando? Ah sim... Depois da diminuição súbita do youki de Teresa, Irene percebeu. Ela estava se segurando, porque? Porque não se atirava logo em cima de Priscilla e arrancava logo a cabeça dela? Sabia que ela tinha potencial para isso. Lembrava-se de como ela superara a cada uma das Guerreiras em pouquíssimo tempo e em meses recebera o posto de número 1. Porque Teresa estava se segurando?

O duelo entre a kakuseisha e a número 1 continuava com a criatura desviando das investidas de Sophia, ignorando-a totalmente. Logo, Priscilla arremessou Sophia para cima de Noel e o som das espadas cessou.

Teresa baixou a espada, ofegante. Os olhos prateados da número 1 se encontraram com os da Kakuseisha. Concluiu que verdadeira batalha iria começar. Era com ela com quem Priscilla queria lutar, pouco lhe importavam as outras, era Teresa o alvo de sua raiva.

“Você matou meu pai, agora vai pagar,” a voz suave de Priscilla chegou aos seus ouvidos. Teresa maneou a cabeça. Ela estava delirando.

Irene cuidando de cicatrizar seus ferimentos viu a número 1 fechar os olhos e segurar o cabo da espada com as duas mãos. Logo ouviram uma risadinha.

“Sabe... Foi até bom você ter despertado, além de adiar bastante futuras incomodações, arrancar a cabeça de um despertado não me fará sentir qualquer piedade.”

Priscilla urrou e avançou para cima de Teresa. De repente, as que assistiam, sentiram o crescimento mostruoso de um youki. Irene viu os olhos dourados de Teresa e então assossiou, Antes de Priscilla despertar, aquela aura mosntruosa era da número 1. Não era possível. Apenas 10% do poder dela extremamente superiores aos mais de 70% de Priscilla.

As espadas se chocaram com um estrondo e faíscas se tornaram vivíveis. Era um duelo de forças monstruosas.

Irene nem ousava piscar, sentia aquilo, o poder dentro de Teresa era absurdo. Agora entendia porque ela era chamada de Teresa do Sorriso Aparente. Todos os anos que investira treinando e aperfeiçoando sua espada da luz, apenas se equiparavam ao sorriso dela, perante a tanto poder.

Logo a dança com as espadas começou, se não fossem as condições, seria um espetáculo impressionante. Irene, que possuia a visão treinada, mal podia enxergar os movimentos de cada uma.

“Teresa... Teresa é um monstro,” Noel gemeu apavorada do outro lado.

“Temos que fazer alguma coisa,” Sophia disse baixinho.

“Mas veja, nem Irene se atreve a se meter na luta, o que nós vamos fazer? E melhor, o que vamos fazer neste estado.”

Irene tentava calcular quanto por tempo Teresa conseguiria segurar Priscilla sozinha. Talvez... Talvez devessem aproveitar enquanto a kakuseisha estava distraída com a número 1 e investir um ataque surpresa. Entretanto, por que ela só deixara para expor seu poder depois que as três estivessem fora de combate? Olhou para as duas companheiras que também assistiu a batalha. Elas eram fracas demais. Irene lembrou dos tempo de seu treinamento em que Teresa desaparecera por dois anos, todos pensaram que ela tinha sido morta por um youma, entretanto quando ninguém mais a esperava, ela retornara, mais forte e poderosa do que nunca. Superara a todos, inclusive a Irene a quam no começo jamais conseguira inflingir um mísero arranhão. Teresa jamais lhe explicara o que tinha acontecido naquele tempo.

Ela embainhou a espada e instantâneamente apareceu ao lado de Noel e Sophia.

“Irene!” Sophia exclamou surpresa.

“Como vocês estão?” Perguntou imediatamente se dirigindo para verificar os ferimentos de Noel que parecia estar pior.

“Vamos ficar bem...”

“Estão em condições de lutar?”

Os olhos de ambas quase saltaram das órbitas.

“Irene, você está louca? Não temos como vencer Priscilla. Veja o youki das duas, é imenso,” Sophia disse.

“Sei que não podemos vencer, mas podemos ajudar.”

“Nós seremos mortas!” A voz de Noel foi ouvida.

Irene viu o braço de Priscilla se esticar, agarrar Teresa pelo pescoço e afundar o corpo da guerreira contra um monte de pedras.

“Teresa não conseguirá segurá-la por muito tempo e se não morrer antes acabará despertando. Se for este o caso, perderemos qualquer chance de sobrevivermos.”

Irene rasgou um pedaço da capa e rapidamente o pressionou contra o ferimento na barriga de Noel. Ao menos já estava cicatrizando. Os ferimentos no ventre eram sempre os piores para se curarem. Olhou rapidamente para as duas lutando. Não era para ter chegado àquele ponto. Amaldiçoou Teresa por matado aqueles humanos.

“Vamos...” Irene pôs-se de pé.

“Irene, nós vamos morrer,” Noel praticamente gritou.

“Nossas vidas perderam completamente o valor quando entramos para a organização.”

Noel levantou com um pouco de dificuldade segurando o ferimento no ventre. Ela seria a primeira que pereceria. Sophia parou ao lado da número 2. As três sacaram as espadas e elevaram os níveis de youki.

Noel correu na direção da kakuseisha que percebeu a aproximação e esticou sua carne a fim de atingí-la antes que se aproximasse. A guerreira conseguiu desviar da primeira investida, mas não da segunda e as garras atravessaram seu crânio.

“NOEL!!!” Sophia impulsionou violentamente o corpo para cima e fez com que a velocidade da queda lhe desse força suficiente para atacá-la de cima. A garra presa na cabeça de Noel foi decepada e o chão tremeu com impacto do corpo no chão.
Priscilla chutou Teresa e apareceu na frente de Sophia, sorrindo. “Pensei que você não queria mais brincar... Mas tudo bem, ainda tem espaço para você.”

A lâmina da espada de Priscilla rapidamente cortou Sophia pela cintura, dividindo o corpo em duas partes.

“Não...” Irene murmurou frustrada. Não podia ser não era para ser assim. Com a espada na mão, trocou um breve olhar com Teresa, caída em meio as rochas, com uma estalagmite pontiaguda atravessando-lhe o ventre.

Motivada pela frustração, a número 2 correu na direção da kakuseisha, porém nem teve tempo de pensar, logo que se aproximou, foi arremessada longe e caiu de costas. Sentiu a ombreira despedaçar e o sangue fluir pelo fundo corte no ombro. Estava acabado. Ergueu um pouco a cabeça e foi Teresa ainda presa com a rocha fincada no ventre. Priscilla caminhou até ela soltando risinhos e bruscamente a arrancou dali. As asas se abriram e com a mão que lhe restava, segurarou a guerreira pelo braço e voou em direção ao norte.

“Teresa!!!” Ouviu uma vozinha finha gritar atrás de si, mas não deu ouvidos. Usou sua própria espada como apoio e com certa dificuldade pôs-se de pé. Elas se afastavam rápido. Já estavam em seu limite, mas poderia alcançá-las se usasse seus poderes. Baixou os olhos e encontrou a espada de Teresa. Os olhos de Irene se arregalaram, ela não teria nenhuma chance. Mancou até a espada e juntou-a. Maneou a cabeça pensativa e então pôs-se a correr, o mais rápido que pode, ignorando os músculos cansados, as dores e o youma que gritava dentro de si.

Teresa se debatia tentando se soltar, mas a kakuseisha a segurava com muita força e ela estava muito enfraquecida pelo enorme ferimento em seu ventre. Estava perdendo muito sangue e concentrava seu youki em se curar. Ao menos conseguia estancar a hemorragia. O vento batia em seu rosto e ela, tinhosa, não ousava pensar que seria o fim, mesmo que no fundo ela soubesse que tinha perdido tudo.

Irene pulou de uma ribanceira, aterrisando na margem de um rio. Lá estavam elas. Só mais um pouco. Só mais um pouco. Pegou a espada de Teresa e ergueu-a na horizontal ao lado de sua cabeça. Ergueu a mão livre e usou-a como mira, em seguida invocou uma grande quantidade de youki em seu braço, até que seus músculos doessem, e lançou a espada com força e velocidade na direção de Priscilla. Quando a arma alcançou a despertada, a silhueta atingiu o ponto cego da luz do sol e tudo que Irene pôde ver foi o corpo de Teresa cair como se fosse uma boneca, completamente sem vida. Rufou na direção do ponto onde a número 1 cairia.

Teresa caiu numa larga ponte de pedra que passava sobre o rio, gemeu ao puxar, com dificuldade o braço que fora deslocado quando fora pega pela despertada e que piorara com a queda. A outra mão pousou de leve no ventre, avaliando seu estado. Se estava ruim antes, era melhor nem pensar em como estavam suas entranhas agora. Ergueu um pouco a cabeça. Droga. Estava realmente péssima. Sentia o youki de Priscilla perto e ele era grande, mas não esperaria nada a menos daquela que poderia ter sido sua sucessora. Sentou-se, sentindo todas as parte do seu corpo implorando por descanso.

Ainda não, ela pensou, aproveitando que Priscilla estava destraída com o ataque repentino de Irene para se concentrar em sua respiração. Sim, a vida de uma guerreira dependia também de atos simples como respirar, acalmou seus pensamentos. Priscilla estava tendo dificuldades em administrar todo o seu poder, e isso lhe dava uma grande vantagem. Porém aos poucos ela estava conseguindo se controlar a prova disso fora a velocidade com que conseguira matar Sophia e Noel, mesmo tendo perdido a mão. Apesar de ainda ser muito nova e não ter definido um estilo de batalha Teresa podia afirmar que, pelos ataques que investia e pela tendencia que tinha para colocá-al na defensiva, Priscilla se tornaria uma guerreira, ou melhor, uma kakuseisha ofensiva, portanto, ela teria um pouco de dificuldade para regenerar a mão perdida. E talvez sua única chance de vencê-la, no estado em que estava, seria promover ataques surpresa e arrancar um a um os membros da criatura. Teria que fazer aquilo quatro vezes e não errar nenhuma. Ou então arrancar a cabeça, porém isso era bem mais complicado.

“Teresa...” Irene se aproximou, ofegante.

“Ela não está longe...”

“Você ainda consegue lutar?”

Teresa teve vontade de dar um soco em Irene, mas resistiu ao impulso. “Consigo, mas minha espada está em algum lugar do corpo dela.”

Irene desembainhou sua espada e ofereceu-a para Teresa. “De jeito nenhum eu conseguiria vencê-la.”

Teresa afastou a espada. “Ajude-me a levantar.”

Irene estendeu a mão livre e puxou Teresa para cima. “O que você pretende fazer?”

“Eu não tenho muita certeza, mas ela vai voltar. Meteu na cabeça que eu era o youma que matou a familia dela e agora quer me matar de qualquer jeito.”

“O problema não é ela querer lhe matar, mas o poder que ela tem, é o suficiente para ela se tornar um ser abissal. Temos que aproveitar os ferimentos que já foram inflingidos.”

“Eu sei... Eu sei... Mas precisarei de ajuda para matá-la. Aliás, esta é a hora perfeita para um de suas estratégias de combate...”

Irene suspirou e mirou o grande ferimento no ventre de Teresa. Estava cicatrizando, porém demoraria semanas até que ela ficasse bem por completo. Seus pensamentos começaram a rodar em torno do que vira da luta antes nos monstes rochosos, procurando por pontos fracos. Não seria impossível, mas precisariam de uma oportunidade única para arrancar a cabeça de Priscilla ou seria mortas. Todavia, precisavam recuperar a espada de Teresa. Sim, com uma boa estratégia poderiam vencê-la.

“Ela está voltando,” ouviu a voz de Teresa e em seguida sentiu o Youki de Priscilla.

Em questão de instantes ela frente a frente com elas e tudo que podiam ver nos olhos amarelos da kakuseisha era a loucura do despertar. Irene ergueu a espada. Teresa deu alguns passos para trás. A esperança estava deixando seus corações. Para as duas guerreiras mais fortes já criadas pela Organização esrava reservada apenas a morte. A espada de Teresa ainda estava cravada no ventre de Priscilla, mas ela parecia não se importar com a lâmina atravessando suas entranhas.

Irene invocou uma grande quantidade de seu poder e desapareceu das vistas delas. As próximas ações não puderam ser vistas nem sentidas por ninguém. Ela surgiu atrás da despertada e puxou a ponta da lâmina fazendo com que o cabo aumentasse a extensão do ferimento, neste momento sentiu-se empurrada para trás e uma leve ardencia no braço esquerdo. O impacto de seu corpo com o chão derrubou algumas pilastras de pedra e então Irene pode sentir o sangue de seu corpo fluir.

“Irene, parece que você perdeu seu braço...” a voz fina de Priscilla falou. E então Irene viu a mão da kakuseisha segurgar seu braço e em seguida derrubá-lo ao chão.

Os olhos de Teresa se arregalaram. No que Irene estava pensando?! Foi então que viu o corpo da companheira caído com suas espadas ao seu lado. Ela fora recuperar sua arma para que pudesse lutar. Ainda assim um ato estúpido e desesperado demais para o estilo dela. Teresa invocou seu poder e seu youki mostruoso chamou a atenção da despertada, mas antes que esta pudesse ofender-lhe qualquer ataque, Teresa surgiu por uma fração de segundo próximo a Irene a fim de juntar as duas espadas. Logo Teresa estava no ar e apenas o cintilar das lâminas pode ser visto. O braço sem mão de Priscilla saiu voando e o sangue escuro manchou o chão. Em seguida Teresa se aproveitou da distração e conseguiu decepar metade de uma perna. E enquanto o corpo de Priscilla caía no chão, sua carne de esticou e atravessou o ferimento no ventre da guerreira. Um grito agudo pode ser ouvido.

Teresa estava suspensa no ar com os dedos da kakuseisha rasgando-lhe ainda mais o ventre. Sentia como se sua carne estivesse sendo rasgada a dor era insuportável e pela segunda vez em sua vida desejou morrer logo, mas para sua surpresa sentiu seu corpo cair. Teresa fechou os olhos enquanto sentia a dor. Priscilla tinha-a soltado. Por que? Sons estranhos chegaram aos seus ouvidos.

Suprima seu youki, Teresa, vamos, uma voz masculina soou no fundo de sua mente. Aquele momento pareceu uma eternindade. E ela caiu, afundando na escuridão. E por fim, mais nada, era apenas o fim.


Irene viu a silhueta despedaçada da Kakuseisha desaparecer no horizonte, rumando ao norte. Ofegante, caiu de joelhos no chão e levou sua mão que restava até o ferimento provocado pela amputação de seu braço esquerdo. Sangrava muito e sua vista começava a ficar turva. Arrastou-se até seu braço arrancado e pegou-o, pretendendo-o colocá-lo de volta no lugar. Mas ainda precisaria dele? Tinha que pensar rápido, se demorasse muito a ferida começaria a cicatrizar e não poderia mais colocá-lo de volta. Mais a frente seus olhos encontraram a espada de Teresa. Por fim, Teresa do Sorriso Aparente fora derrotada. Pegou o braço, a espada e mancou até beira da ponte. Lá estava o corpo dela, prestes a ser levado pela correnteza. Estava morta? Duvidava muito. Estava apenas inconsciente. Só era possível matar Teresa cortando sua cabeça fora.

“Irene...” Teresa sentou-se atrás dela e começou a desembaraçar com seus dedos hábeis e pacientes os longos cabelos brancos de Irene. “A guerreira número 9, Elaine, quase virou um youma por esses dias. Foi morta por um completo desconhecido a quem teve que implorar para ser seu Algoz.

“Eu soube,” Irene reconheceu o tom na voz de Teresa, ela ficara impressionada.

Seguiram-se alguns minutos de silêncio, onde era apenas ouvido o crepitar da fogueira, cujo fogo começava a se extingüir.

“Irene...” Ela recomeçou. “Quando eu usar de todo o meu poder, quero morrer com o coração humano, mesmo não tendo vivido como tal. E eu quero que você arranque minha cabeça,” Irene se surpreendeu, e era muito difícil pegá-la de supresa. “Ninguém mais. Você é a única a quem eu dou o direito de me matar quando o momento chegar.”

Irene se refez do susto e pegou as mãos de Teresa. Seus grandes olhos, agora prateados a imploravam para concordar com seu pedido.

“Teresa, isso é ilógico. Por que se preocupar com um futuro tão distante, quando nossa jornada esá apenas começando?” Irene perguntou num tom sério, mas suave o suficiente.

“Porque eu não quero te assustar de novo com esse assunto quando você receber minha carta negra,” Teresa respondeu com o semblante entristecido.

Irene maneou a cabeça. Ainda tinha os punhos de Teresa presos em suas mãos.

“E se eu tiver que morrer primeiro. Você faria o mesmo por mim?”

Teresa suspirou. “Ora, mas é claro! Mas sou eu quem vai morrer primeiro. Eu sinto isso.”
Irene arqueou as sobrancelhas finas. “Teresa, você é uma boba.”

Teresa sorriu pela primeira vez naquela noite. O sorriso mais belo que Irene já vira em toda a sua existência. Sabia que aquele sorriso não esmaeceria tão logo.

Irene ergueu a espada de Teresa e lançou-a na direção do corpo. Como se o tempo começasse a passar mais devagar, os segundos se estenderam e Irene viu a espada cruzar o ar e fincar-se no corpo de sua dona. Era melhor assim. Se Teresa sobrevivesse, a Organização em peso iria atrás dela. Dessa forma, compriria sua promessa e Teresa morria como humana. Irene sentiu um peso gigantesco em seu coração. Teresa aprendera o que era compaixão. Sim, ela morrera com mais humanidade no coração do que Irene jamais poderia ter. Invejou-a.

Virou-se, pegou seu braço. Embainhou sua espada, deixou a ponte e seguiu para Leste, deixando para trás a lendária Teresa do Sorriso Aparente, a mais forte das guerreiras chamadas Claymores. Teresa do Sorriso Aparente, cuja expressão de boneca jamais deixava o rosto. Teresa do Sorriso Aparente, traidora da Organização por quem lutara a vida toda. Teresa do Sorriso Aparente, traída pela Organização por quem lutara a vida toda.


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