Libertação escrita por GabrielleBriant


Capítulo 2
O Evento




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Quase sem querer, deixei que os meus olhos voltassem para o rosto do Jake. Havia algo ali... uma dor, quase. Mordi o meu lábio inferior e esperei – eu podia jurar que ele se aproximara de mim. O meu coração acelerou com a minha vã esperança sendo alimentada. Jake abriu a boca – a boca linda, carnuda, bem desenhada que me chamava para um beijo – para responder:

- Nes-

A irritante buzina de um carro o calou. Olhei para a entrada da casa; lá estava a Perua de Phillipe, já com todos os meus amigos dentro.

- Ness!

Mais buzinas.

- Vamos, garota!

Respirei fundo e disse, numa altura suficiente para que os meus pais me ouvissem:

- Eu já vou. Amo vocês.

E, sem me despedir do Jake, corri para o carro.

II

O EVENTO

Não me pergunte que filme nós vimos. Eu posso dizer que era um típico blockbuster de ação, recheado de explosões, tiros e palavrões. Naturalmente, os meninos escolheram o filme – a aniversariante não tinha direito a escolha, já que não pagaria a conta, o que fez com que a comédia romântica fosse voto vencido.

Também não me pergunte a trama – considerando que, de fato, existia alguma. Eu me sentei com Anna e Michelle longe dos garotos, de forma que pudéssemos conversar e nos livrar do tédio mortal que o filme provavelmente nos traria.

Enquanto saíamos do cinema e nos encaminhávamos para o carro de Phillipe, eu ainda pensava que aquela seria uma típica noite com os amigos.

Claro que eu estava redondamente enganada.

Em primeiro lugar, eu realmente pensava que nós iríamos à Syn; mas esses não eram os planos dos meus amigos. O verdadeiro plano dos garotos, na verdade, consistia em invadir o campo de basebol da cidade e fazer uma espécie de piquenique com as cervejas que eles tinham comprado alguns dias atrás.

Apesar de tentar protestar, admito que gostei do plano. De alguma forma, existia algo muito apelativo no ato de vandalismo que estávamos prestes a cometer.

Assim, com lanternas, um isopor cheio de cervejas e algumas mantas, nós entramos no estádio vazio. Logo estávamos sentados na grama, olhando a noite estrelada e conversando besteiras.

- À Ness – Philippe disse, erguendo a sua cerveja. – Que vai nos abandonar e correr para uma cidade grande qualquer; mas que nós amamos mesmo assim!

Ri, erguendo a minha latinha de refrigerante e batendo contra as garrafas de todos eles.

- Ainda faltam meses, pessoal! Quase um ano!

- Mas esse é o último aniversário que você vai comemorar conosco... pelos próximos anos, pelo menos – Michelle apontou. – Você já sabe para que faculdade vai?

Suspirei.

- Eu queria ir à NYU ou para a UF, mas acho que não vai dar certo – porque tinha sol em Nova York e na Flórida, e os meus parentes vampiros, que não me deixam só por nada nesse mundo, não poderiam ir comigo. – Talvez eu acabe no Canadá. Vancouver seria bom!

- Eu voto pela NYU – Michelle continuou. – Mas espero que, ao chegar a Manhattan, você não se esqueça das suas raízes!

Rolei os olhos. Se eles ao menos soubessem que, para um ser como eu, não existia tal coisa como raízes...

- Eu terei que vir visitar Carlisle e Esme, de qualquer forma. Posso aproveitar e falar com vocês.

Andrew, o novo namorado de Michelle, tomou um grande gole da sua cerveja.

- Quem vai com você?

- Toda a minha família, acho. Carlisle e Esme realmente querem que fiquemos juntos, então no próximo ano eu provavelmente irei com Rosalie, Emmett e Jasper, e, no ano seguinte, Bella, Edward e Alice se juntarão a nós.

- Eu acho super legal, isso que o Dr. Cullen fez... Adotar todos vocês!

- Sim, foi legal. O ambiente em nossa casa é ótimo; nós somos muito unidos.

- Eu sempre quis saber qual a história que ligou vocês...

- Hm... Edward foi o primeiro. Esme não pode ter filhos e queria adotar um bebê; mas, quando chegou ao orfanato, se apaixonou por ele. No ano seguinte, ela e Carlisle adotaram Emmett e Alice, para fazer companhia a Edward; isso foi poucos meses antes dos Hale morrerem. Os Hale eram grandes amigos deles, e, no testamento, lhes deixaram a guarda de Jasper e Rosalie. Dois anos depois, Esme e Carlisle decidiram tentar, novamente, adotar um bebê... Mas eles me viram brincando com a minha irmã e nós éramos irresistivelmente lindas!

Sorri, tomando um gole do meu refrigerante e esperando que a conversa fosse encerrada. Eu sempre tive medo de dar detalhes demais sobre a minha família, ou me confundir e chamar papai de... bem, papai.

Pigarreei e olhei para o namorado de Michelle.

- Voltando ao assunto anterior: você já está na faculdade, certo?

- Sim, sim! Aqui mesmo, em Olympia. Espero que Michelle seja aceita!

Vi, pelo canto do meu olho, Phillipe se levantar e se aproximar de mim. Ele se sentou ao meu lado, muito mais próximo do que o normal.

- Ness – ele disse. – você poderia me fazer um favor?

Virei o meu rosto para encará-lo. O rosto dele estava tão perto do meu que eu podia sentir o cheiro da cerveja proveniente do seu hálito. Naquele momento, eu já sabia o que esperar.

Não seria a primeira vez que Phillipe tentaria me beijar. Somos amigos há algum tempo, e sempre houve uma espécie de faísca entre nós. Ele me olhava de uma maneira lânguida, e sempre estava me elogiando. Eu sabia que ele não era apaixonado por mim – Phillipe não era do tipo que se apaixonava. Mas ele gostava de exibir as suas namoradas-troféus... E, com exceção de tia Rose, eu era a garota mais bonita que já pisara em Elsa High – por isso ele queria namorar comigo. Isso não era segredo.

Mas eu nunca deixei que nada acontecesse entre nós, porque desenvolvi essa fantasia pateticamente romântica na qual eu seria de Jake e Jake seria meu. E, como eu estava esperando Jake perceber que eu era uma mulher, não poderia me distrair com outros homens. O resultado disso era que, fisicamente e mentalmente, eu era uma adulta... que sequer havia beijado alguém.

Mas eu me mantinha em meu propósito de tomar as rédeas da minha vida e ser dona do meu destino. Chega de esperar por Jake: eu era uma mulher que merecia ter um homem em sua vida... e, por isso, deixei que Phillipe se aproximasse, encorajando-o com um sorriso acolhedor.

- Um favor?

Ele sorriu mais abertamente, percebendo a minha boa vontade. Os olhos azuis dele brilhavam muito; hipnotizavam-me.

- Ness, esse é o seu aniversário de dezoito anos. Que tal brindar com uma cerveja?

Oh. Então ele não me beijaria.

Corei terrivelmente e desviei o meu olhar. Bebidas alcoólicas: apenas outra coisa que eu nunca experimentei em minha vida – papai odiaria, mamãe não confiaria mais em mim, vovô me passaria um sermão sobre os malefícios do álcool.

Há alguns dias, eu recusaria. Mas hoje eu apenas sorri e engatilhei até o isopor, pegando uma latinha. Nós brindamos, claro. E eu senti o gosto amargo da cerveja, que não era nada agradável... mas certamente algo com q que eu conseguiria me acostumar.

Naquela noite, eu tomei apenas duas garrafas.

Phillipe não voltou a se aproximar de mim, e eu quase pensei que as surpresas do meu dia haviam acabado... mas eu estava enganada.

Nós voltamos tarde para casa. Phillipe era praticamente o meu vizinho, então eu fui a última a ser deixada... e eu já deveria adivinhar as intenções de Phillipe, mas é como eu disse: apesar de ser madura, eu ainda era muito inocente.

Phillipe estacionou – e eu de imediato pude ouvir o burburinho em minha casa. Papai pediu para que mamãe bloqueasse a sua mente e eu ouvi tio Emmett fazendo brincadeiras de mau gosto com ele. Tia Alice chamou tia Rose, e eu tinha certeza de que elas estavam na janela, me espionando.

A interação era tão grande lá em casa, que eu mal percebi que Phillipe retirara o cinto de segurança e mudara de posição em sua cadeira.

- Então – ele suspirou – boa noite, Ness.

Eu lhe sorri.

- Boa noite.

- Eu me diverti.

Assenti, completamente alheia ao motivo que o levava a tentar puxar assunto comigo à uma e meia da manhã.

- Eu também. Acho que foi bem melhor do que se tivéssemos ido para a boate! Foi um ótimo aniversário!

- Você sabe que poderia ser melhor, não sabe?

Ri-me.

- Tecnicamente, não é mais o meu aniversário.

- Não... mas você poderia fechar as comemorações com chave de ouro.

- E como seria isso?

Phillipe sorriu e o brilho no olhar dele ficou intenso... mais intenso que nunca.

- Você poderia, finalmente, me deixar lhe beijar.

Oh. Acho que fiquei vermelha.

O meu coração tomou um ritmo que eu achava ser impossível. Eu estava nervosa; eu estava com medo... mas, acima de tudo, eu queria saber como era ter os lábios de um homem sobre os meus.

"É a vida dela, Bella." – Ouvi vovó dizer. – "Você não pode impedi-la de viver!"

Mordi o meu lábio interior, tentando não escutar mais nada... tentando focalizar apenas o incrível azul dos olhos de Phillipe. Respirei profundamente antes de dizer:

- Eu finalmente deixo.

Ele sorriu e a mão dele tocou o meu rosto – o toque mais íntimo que eu experimentara até então. O frio na barriga aumentou com a antecipação, enquanto ele delineava o meu rosto... fechei os olhos.

Foi então que eu senti. A textura macia sobre os meus lábios, massageando-o lentamente. Phillipe beijou o meu lábio inferior, fazendo arrepios cruzar a minha espinha. Eu senti a língua dele passear lentamente pela minha boca, e os meus lábios se abriram instintivamente... E, claro, ele viu aquilo como um convite para deixar a sua língua deslizar, vindo ao encontro da minha.

Foi... fantástico. Foi como o meu corpo inteiro ficasse alerta, mas, ao mesmo tempo, eu não podia distinguir nada do que se passava ao meu redor. Só existia Phillipe, eu e a língua dele massageando a minha. E a mão dele em meu cabelo. E a outra mão dele apertando a minha cintura.

Pela primeira vez, a sensação estranha e forte em meu baixo-ventre não foi despertada pelos meus sonhos com Jake. Era real. Eu tinha um homem me beijando, me tocando... e eu queria mais.

Mas não naquela noite.

Lentamente, meio que tentando imitar as reações que 90% das mocinhas de comédias românticas têm depois de um beijo, me afastei dele e sorri.

- Pois é. Boa noite.

Phillipe deu uma breve risada e acariciou o meu rosto.

- Boa noite. E até amanhã.

- É. Isso mesmo.

Com a cabeça rodando e com um sorriso incrustado em meus lábios recém-desvirginados, desci do carro e me encaminhei para a minha casa, me certificando de não olhar para trás. Quando abri a porta, claro, todos estavam na sala e todos me olhavam, provavelmente esperando uma explicação sobre o que uma garotinha de oito anos estava fazendo, beijando um adolescente pervertido.

Fechei a porta.

- Parece que amanhã vai chover. A meio-humana, aqui, tem que dormir um pouco antes da aula. Boa noite.

Sem dar chances para que eles iniciassem o interrogatório, me apressei até o meu quarto.

Eu estava feliz. Mesmo. Mas isso apenas durou até o momento em que eu vi o meu celular jogado na cama. Havia uma mensagem.

É meia noite e eu estou preocupado. Ligue para mim quando chegar em casa. J.

Meu coração ficou apertado com... culpa, eu acho. Mordendo o meu lábio inferior, eu apaguei a mensagem e desliguei o meu celular.

XxXxXxX


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