Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 7
Nenhum Anjo Deveria Ter que Pedir Desculpas




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VII

NENHUM ANJO DEVERIA TER QUE PEDIR DESCULPAS

ROSALIE

Que diabos ele estava fazendo no meio da estrada?

Droga, droga, droga!

E qual era o problema com aquele estúpido carro? Primeiro, os freios não funcionaram; e, agora, eu tentava acelerar uma, duas, três vezes, mas o motor afogava. Mordi nervosamente o meu lábio e quis suspirar em busca de controle, mas o sangue delicioso que escorria da perna de Emmett certamente me faria cometer uma loucura se o fizesse.

Com as mãos trêmulas, liguei a chave novamente. Dessa vez, para o meu alívio, consegui dar a partida no maldito carro.

- Você dirige bem mal.

Tive de olhar para Emmett. Idiota! Eu estava fazendo a ele o favor de levá-lo à clínica, e ele ainda tinha a petulância de reclamar das minhas habilidades no volante?

- Cale a boca.

Ele riu de uma forma que me fez rolar os olhos.

- É sério, Rosalie. Muito mal!

Bufei, e, como conseqüência, inalei um pouco daquele aroma delicioso que escorria da perna dele. Deus, eu não tinha experiência como vampira! Apenas dois anos... como podia resistir àquela tentação?

- Você tem sorte de eu estar aqui! – Eu disse rudemente, empurrando o meu pé no acelerador. Por que o carro era tão lento? Se eu pudesse revelar o que eu sou, e levasse-o à cidade correndo, já estaríamos com Carlisle e... e Emmett não estaria sentindo dor!

- Quem mais poderia te levar para a clínica?

- Deixe-me pensar: talvez alguém que não tenha jogado o carro em cima de mim!

- Você não estava prestando atenção! – Disse alto, defensivamente. No momento, eu ainda tinha a mais absoluta certeza de que estava sendo perfeitamente racional. – Qualquer um poderia ter te atropelado! Qualquer um poderia ter apenas deixado você na estrada! Então, sim, você teve muita sorte!

- Eu estava prestando atenção! E você estava dirigindo como uma louca!

Louca?

- Nã..louca!

Ele rolou os olhos enquanto nós começávamos a entrar na cidade.

- Você está ouvindo o que você está dizendo?

- Sim! A culpa é toda sua! Você foi atropelado por andar tão distraído, agora cale a boca!

Mas eu não fiquei feliz com o fato de Emmett ter me obedecido: pude ouvir a respiração acelerada dele, o eventual gemido de dor... Por Deus, aquilo doía em mim, e eu ainda não fazia idéia do motivo! Comecei a sentir uma coisa ruim que vinha diretamente do meu coração morto. Angústia, talvez?

Sabia que a minha testa estava franzida quando cheguei à frente da clínica de Carlisle. Rapidamente desci do carro e abri a porta. Não me importei com a recepcionista; havia apenas uma pessoa que eu queria ver:

- Carlisle! Ajude-me!

Carlisle apareceu apenas uma fração de segundo mais tarde – pelo olhar assustado da recepcionista, ela certamente percebera que ele fora rápido demais. O meu pai adotivo se aproximou de mim e disse baixinho:

- O que houve? – Diminuiu ainda mais a voz, de forma que apenas eu conseguisse ouvir. – Isso é sangue humano?

Assenti.

- Eu acho que atropelei Emmett McCarty.

- Como-? Rosalie!

Irritei-me ainda mais. Não bastava o próprio Emmett me censurando?

- O freio não funcionou! Acho que eu não consegui instalá-lo direito!... Carlisle, foi horrível! Eu senti o cheiro dele, mas não pensei que ele estivesse na estrada! E, quando eu o vi... eu tentei parar o carro, eu juro! Eu-

Eu parei de falar. O nó em minha garganta não deixou.

- Tudo bem – Ele deu um suspiro e me olhou daquela forma paternal e compreensiva. –Eu vou trazê-lo para dentro, agora.

Achei melhor não estar na clínica para ver Emmett ser tratado – eu estava nervosa demais; apenas queria ficar longe. Saí da clínica e fui para a pracinha, sentando-me contra o vento e, finalmente, respirando. O cheiro delicioso do sangue de Emmett não estava mais tão forte, apesar de ainda impregnar o ar.

Gemi baixinho.

Por que eu não tinha atacado Emmett, se ainda era uma vampira nova? Por que era tão fácil para mim ficar perto dele?

O sangue dele tinha um cheiro bom, como o de qualquer outra pessoa; mas... Era como se não abrisse o meu apetite. Como se eu pudesse sentir a fome me consumir, mas a idéia de comer me enjoasse.

Era como se a alegria de ter Emmett vivo, perto de mim, me fazendo sorrir, fosse infinitamente melhor do que a satisfação que o sangue dele poderia me dar.

Suspirei.

Quantas pessoas no mundo tinham o poder de me fazer sorrir? Poucas. E todas elas achavam que eu estava morta. As lembranças das antigas gargalhadas eram todas cobertas por um véu espesso... mas eu ainda podia conhecer rostos como o de Richard – meu irmão caçula –, Vera e Henry, a Sra. Grant... e Royce. Depois da minha morte, eu parei de rir... até conhecer Emmett.

Emmett McCarty fazia com que eu me sentisse viva.

E eu quase o matei.

Livre da apreensão e da preocupação, senti-me, finalmente, culpada. Especialmente ao lembrar-me da minha atitude no carro; do quanto fui rude.

Eu não sei exatamente quanto tempo havia se passado, mas logo senti o aroma de Carlisle cada vez mais presente, e os seus passos cadenciados se aproximando de mim. Virei-me.

- Ele está bem?

Carlisle sentou ao meu lado.

- Ele fraturou a perna direita e teve alguns cortes superficiais. – Carlisle pausou por um momento, mas eu sentia que ele queria falar alguma coisa. Ergui uma sobrancelha. – Rosalie, como isso aconteceu?

- Foi como eu lhe contei, Carlisle. Ele estava caminhando pela estradinha de barro que leva à nossa casa, ainda perto da rodovia estadual. Tentei frear, mas não consegui parar o carro a tempo.

Carlisle assentiu.

- Por que ele estava ali? – Eu não respondi; na verdade, sequer tinha pensado naquilo. Não havia nada naquele caminho além da minha casa. A constatação de que Emmett estava indo me visitar fez com que eu me aquecesse por dentro. – Rosalie?

- Eu... não sei.

- Rosalie, o que está acontecendo entre você e esse garoto?

- Nada – respondi com sinceridade. – Eu gosto dele, Carlisle, e acho que seria bom ter um amigo. Eu não sou ameaça para ele; acho que isso ficou mais que provado hoje. Então qual o problema...?

- Não há nenhum problema, Rosalie. Eu apenas me preocupo.

Bufei exasperada.

- Todo mundo se preocupa, aparentemente! Mas não é como se eu fosse assassiná-lo na primeira oportunidade! Não foi você quem disse que nós temos que nos misturar com os humanos? Carlisle, eu sinto falta de ter amigos! Eu sempre tive milhões quando era viva!

"Isso... essa vida é tão solitária! O que nós temos é uma família: Esme é como minha mãe, você é como meu pai, e Edward como meu irmão! E por isso nenhum de vocês consegue dar o tipo de companhia que eu preciso, de vez em quando!"

- E esse garoto consegue?

- Não apenas ele! Os amigos dele, também!

- Mas ele é diferente.

- Apenas porque eu passei mais tempo com ele!

Carlisle suspirou, sentando-se ao meu lado.

- Edward está muito preocupado. Ele disse que você pensa demais em Emmett.

- Bem... – Dei de ombros. – Não é ele mesmo quem diz que eu tenho que parar de pensar no meu próprio umbigo? – Rolei os olhos. – Se eu penso demais em Emmett, Carlisle, é porque ele é a primeira pessoa que conseguiu me fazer sorrir desde que eu virei... essa coisa. E, depois de dois anos de solidão, é natural que eu tenha me impressionado com isso!

- Mas você não sente nada por ele?

Olhei para Carlisle com tanta intensidade que o percebi recuar um pouco.

- Você me viu, dois anos atrás. Você me viu jogada na rua, nua e dilacerada... por fora e por dentro. Você viu, em meus olhos, que eu já estava morta; que eu não queria lutar. Você me viu prometer que nunca mais confiaria em outro homem. De todas as pessoas, Carlisle, você deve saber que eu não estou pronta para querer alguém.

Carlisle assentiu lentamente enquanto colocava a sua mão sobre a minha; transmitindo uma segurança que apenas um pai conseguiria.

- Nesse caso, Rosalie, eu fico feliz. Apenas não revele a Emmett o que nós somos.

- Eu não quero que ele saiba que eu sou um monstro.

Carlisle deu um meio-sorriso.

- Bem, eu vou levá-lo para casa. Você não quer falar com ele antes?

Franzi o cenho.

- Eu não tenho nada o que falar com ele, agora.

- Pedir desculpas, talvez?

Sim, eu tinha que me desculpar.

Soltando a mão de Carlisle, levantei-me e comecei a me encaminhar para a clínica. A porta do consultório de Carlisle estava aberta, eu imaginei que Emmett estivesse lá. Lentamente entrei. Como esperado, ele estava lá, com uma perna imobilizada.

Os grandes olhos verdes se cravaram imediatamente em mim, e Emmett logo abriu um enorme sorriso. Senti o meu coração morto doer.

- Oi...

O sorriso dele abriu ainda mais, acentuando as covinhas em suas bochechas. Me perguntei como um homem daquele tamanho conseguia ter aquele ar adoravelmente inocente.

- Mais calma?

Dei um meio-sorriso e me aproximei, sentando-me na cama. Tive que resistir ao impulso de tocá-lo.

- Emmett, eu apenas queria... – pedir desculpas. Por que aquelas palavras eram tão difíceis? – Eu queria dizer que...

Ele ergueu uma sobrancelha.

- Nós temos o dia todo, Rosalie.

Suspirei.

- Eu apenas queria dizer que eu sinto muito – disse rapidamente.

Emmett sentou-se na maca.

- Mesmo?

Os meus lábios imediatamente crisparam-se. Ele estava sendo sarcástico!

- Mesmo. Me desculpe por ter te atropelado... E por ter sido grossa no carro.

Emmett me olhou por um tempo; me examinou – se fosse Edward, teria certeza que estava lendo os meus pensamentos. Por fim, Emmett abriu novamente o seu sorriso lindo e brincalhão, que me irritava apenas por me fazer derreter por dentro, e disse:

- Você acredita em destino, Rosalie? – Ergui uma sobrancelha e cruzei os braços. – Eu acredito. E tenho certeza que você estava ali, naquela estradinha, apenas porque era predestinada a me salvar.

Eu quis rir.

- Mesmo? Eu sou a sua salvadora, então? O seu anjo.

- Exatamente!

- E como você explica o seu anjo estar dirigindo o carro?

Emmett olhou para cima, aparentemente pensativo.

- Uma coincidência, talvez? Sabe, Rosalie, nem todo anjo dirige bem.

Os meus olhos foram aos dele, e um sorriso brotou nos meus lábios. E, pela primeira vez depois da minha morte, eu senti vontade de beijar alguém.

Oh, Deus...

Eu queria Emmett McCarty para mim. Eu queria ser o seu anjo. Mas eu não podia, porque ele estava vivo... e eu estava morta.

Me levantei rapidamente e tentei sorrir.

- Nenhum anjo deveria ter que pedir desculpas. Logo, eu retiro o que eu disse.

Ele assentiu.

- Justo.

- Eu vou voltar para casa. Ver se o carro sofreu algum dano. Tchau.

- Tchau, meu anjo.

Bati a porta do consultório quando saí, e me apressei pra o carro. Eu precisava sair dali. Carlisle, ainda na praça, não se aproximou – talvez tenha percebido a minha aflição e a minha vontade de ficar sozinha.

Daquela vez, o motor do carro me obedeceu. Tão rápido quanto podia, dirigi pela cidade e pela rodovia estadual que cortava a floresta.

Droga, droga, droga, droga!

Aquilo não podia ser verdade! Eu não podia estar apaixonada! Não por uma pessoa que eu conhecia há tão pouco tempo! Não depois do que tinha acontecido comigo!

Não!

Emmett McCarty era um bom homem; ele merecia uma boa vida! Uma casa, uma família... filhos. E ele teria tudo aquilo, com Louise Pace! E eu ficaria aqui, sozinha, e não interferiria... simplesmente porque ele não podia ser meu.

Ele merecia mais.

Ele merecia mais.

Pela primeira vez em minha existência, estava mais que disposta a esquecer os meus desejos e as minhas necessidades. Não seria egoísta.

Finalmente decidi escutar Edward – e também Carlisle –, e me afastar. Eu não veria mais Emmett McCarty. Se eu não podia tê-lo, qual o objetivo de manter uma amizade?

- Eu estou orgulhoso, Rose – Edward disse, se aproximando do carro ainda em movimento. Meu irmão me acompanhou até a garagem.

- Você me ajudará? – Implorei, descendo do carro. – A ficar longe?

Edward sorriu.

- Eu sempre posso te distrair, lhe ensinando exatamente como consertar o estrago que você fez no nosso carro. Aliás, que diabos aconteceu?

Tentei sorrir, deixando fluir pela minha cabeça todos os acontecimentos das últimas horas.

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