A Escolha escrita por Miss Black_Rose
CAPÍTULO VI
Sedução. Conquista. Artimanhas, quem sabe inestimáveis, que todo bom agente deveria ter se quisesse lidar com pessoas, com alvos... Com vítimas.
Mary estava velha. Os anos incontáveis e tensos, o excesso de mentiras e sua sorte favorável nos jogos... De cintura, a impediram de falhar muitas vezes, mas agora já não possuía mais a mesma paciência, o mesmo afeto e o mesmo ânimo que tivera pela profissão.
Estava cansada, exausta e quem sabe a tempo de tirar sua aposentadoria. Claro que não da mesma maneira que Harris. Estava velha para trabalhar e nova para morrer.
- só tem quarenta anos e já está pensando em desistir? – Disse o velho Joe se sentando ao lado dela sofregamente com uma xícara de chá na mão.
- Me transformei em uma mulher intolerante. Não sei se tenho paciência para lidar com mais uma missão. Foi por isso que tomei o meu cargo, Joe. Eu faço negociações, organizo a minha agência, sirvo de intermédio para os meus superiores, mas, mais do que isso... Mas do que isso eu não quero.
- eu sinceramente acho que esse não é o problema. – respondeu Joe movendo lentamente a colher sobre o chá. Os olhos fixos no redemoinho.
Mary o observou em silêncio até que lhe erguesse os olhos.
- nenhum de nós jamais se cansa do que faz, Mary, porque nunca fazemos a mesma coisa. Temos várias vidas e talvez seja isso que tanto encante os mais novos. E à nós também. A verdade é que só recusamos o que não nos é bem-vindo por algum motivo especial.
- se está insinuando que... Não, não tem nada a ver...
- então porque deu o mesmo nome a ela?
Mary o encarou surpresa por alguns minutos, então desviou os olhos para a vitrine, onde um casal de enamorados passava na calçada de paralelepípedo.
- talvez eu... Quisesse me lembrar. – começou a responder a quarentona, mas atenta à quebra da impassibilidade se ergueu bruscamente e desapareceu na sombra de uma porta.
Joe ficou alguns segundos a encarar a única saída para dentro da casa. Estava em seu próprio bar. Um estabelecimento pequeno, isolado e escuro, mas de bons ares. Vazio à esta hora da manhã.
Se erguendo sofregamente, lutando contra o frágil corpo de oitenta anos bem contados, dirigiu-se até ela. Mary repassava as lições de Ada com um apego singular, mas familiar ao velho.
“Ela usa a garota. Precisa de sua confiança, mas...”, Joe encheu os olhos de ternura e abriu o relógio de bolso onde encarou uma foto por alguns segundos. “Que você seja abençoada com um destino diferente, minha querida.” Pensou, olhando novamente para a pequena oriental. “E que saia dessa vida antes que seja tarde demais.”
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