- Escolha uma delas. – A voz rouca, emanando simpatia forçada com uma alta dose de oportunismo ecoou pelo pequeno espaço.

Estavam todos em uma sala de madeira acinzentada, com poucos móveis: um conjunto velho de sofás orientais esburacados, um tapete persa desbotado com manchas de terra e café e uma pequena mesinha com um abajur quebrado.

A única luz vinha da lareira e moldava pequenos vultos na parede, atrás da fila de meninas.

Harris olhou lentamente para o rosto de cada garota. A grande maioria estava à baixo do peso ou do tamanho, fazendo-o balançar a cabeça com um ar de reprovação.

- pode levar duas pelo preço de uma! – a velha disse sem pensar duas vezes. Não podia perder o cliente.

- Posso ficar com a mais velha? – perguntou Harris, segurando o queixo da menina com a bandeja e olhando-a com o rabo do olho.

- a mais velha? Bem, ela já não é mais virgem... – respondeu a velha, com um tom lamentoso na voz.
- É uma pena, mas as outras não me servem. – disse Harris.

- Mas olhe bem para elas! Estão meio magrinhas, mas depois de uma semana comendo bem elas entram no eixo! – a velha disse, finalizando com uma gargalhada estridente.

Harris a ignorou, olhando para uma miudinha bem no fundo, escondida nas sombras.
- mas... e aquela? – apontou para a menina.

- a chinesinha? Apareceu há duas semanas. Acho que tem retardamento. Não abre a boca.
- é virgem?

- é sim, mas é a mais fraquinha. Tem uma ruivinha que...

- é ela. – Harris interrompeu, puxando a pequena menina pelo braço. – quero essa e essa aqui. – continuou, segurando uma menina alta e morena pelo ombro.

- mas senhor essas são...

- Quanto quer? – Harris estendeu um maço de dinheiro.

- oh, acho que isso é suficiente, senhor. – respondeu a velha, pegando as notas, molhando o dedo na língua amarelada e contando seu valor.

As duas meninas foram levadas para um furgão preto, onde seus os olhos foram vendados por outro homem.

Harris subiu no carro já ligado, olhando pela última vez para o rosto enrugado da velha, que esboçava um sorriso ganancioso. Com a face fechada, ele tirou um cigarro do maço e acendeu, enquanto o outro homem dava partida.

A velha continuou os observando da soleira da porta, até que o furgão sumisse no horizonte. Então, guardando o dinheiro entre os seios, se virou para as meninas mandando-as rusticamente para os fundos. Assim que se viu na sala vazia soltou uma gargalhada eufórica. Com tanto dinheiro ele poderia ter comprado quase todas as meninas.

- Mas porque será que levou só as duas? – a velha se perguntou, estremecendo repentinamente.
Pela porta aberta entrava um vento frio, de final de outono. Enrolando-se no xale desgastado, a velha a fechou lentamente, olhando pela estreita brecha para os lados, sorrindo pelos olhos.

* * *