Você ficou mais forte, Sasuke.

   Percebi isso no momento em que te vi de novo, no momento em que você disse que via minha morte.

   Seu ódio alimenta sua força.

   Seu ódio por mim.

   Às vezes, eu penso como seria hoje se nada daquilo tivesse acontecido, se ninguém tivesse planejado o golpe contra Konoha.

   Eu já deveria estar casado e seria o chefe do clã, pelo menos, eram o que diziam os mais velhos sobre o meu futuro.

   E você, bem...

   Você deveria tratar as garotas melhor do que as trata hoje.

   Você é assim por causa do ódio.

   O ódio se apoderou de você, otouto. Ele corroeu até o último traço de emoção que existia em você.

   Ah, quando você era pequeno você era tão feliz.

   É, feliz. Parece estranho, mas você ficava correndo pela sala, desenhando e comendo os biscoitos que a okaa-san preparava. 

   Já eu gostava de observar o céu noturno enquanto você fazia milhões de perguntas sobre o nosso futuro.

   Eu respondia que seria feliz.

   Mas eu menti. Concorda Sasuke?

   Acredito que nenhum de nós dois tenha sido feliz.

   Eu matei o clã e fugi. Você viveu sozinho.

   Você é seu ódio.

   Eu sempre quis dizer a verdade a você, talvez você me perdoasse e nós poderíamos viver juntos, mesmo como dois fugitivos.

   Mas eu não podia.

   Tinha que fazer você vingar o clã, tinha que te deixar mais forte.

   Tinha que extinguir seu ódio.

   Esperava que, quando você me matasse, seu ódio desaparecesse junto comigo.

   Eu e seu ódio.

   Seríamos apenas duas memórias sem importância na sua vida.

   Passado. Era isso que eu seria pra você.

   Mas eu gosto de pensar que talvez, você lembre-se de quando éramos mais jovens.

   E felizes.

   Você não saberia da verdade, então não havia com o que eu me preocupar.

   Não saber dela seria melhor pra você, melhor para todos.

   Ela também seria levada junto comigo.

   Ah Sasuke, você me perdoaria?

   Se eu disesse que foram ordens e que eu não queria ter feito aquilo. Você me perdoaria?

   Mas eu estaria mentindo, não seria justo.

   Porque não foram apenas ordens, foi minha escolha. Eu escolhi descer a cortina sobre os Uchihas.

   Mas eu não poderia fazer isso com você.

   Você é meu otouto, meu pequeno otouto.

   Você tinha que viver.

   Viver para me matar.

   Você se lembra daquela vez em que eu tentei te ensinar a jogar shogi?

   – Ganhei.

   – Ah nii-san, desisto. É a quarta partida seguida que você ganha. Quando eu vou ganhar?

   – Talvez da próxima vez otouto. – disse o Uchiha mais velho, se dirigindo a porta de sua casa para ir ao campo de treinamento.

   Realmente, acredito que não jogaremos mais shogi, nem iremos à casa da fazenda, como sempre fazíamos nos feriados. Também não iremos mais dividir a última bolacha do pacote, nem enfeitar a árvore de Natal desse ano.

   São memórias tão distantes, mas eu faria qualquer coisa para poder vivê-las mais uma vez.

“Me desculpe Sasuke, não haverá uma próxima vez.”