A Deusa e o Desejo escrita por SlipperySanity


Capítulo 1
Ilusão verdadeira


Notas iniciais do capítulo

Simplesmente vi uma amiga reclamando de não haver muitas fics Sakura/Kakashi que envolvam hentai e resolvi escrever este texto. Tentei ao máximo deixá-lo interessante, mas a minha falta de interesse pelo casal não ajudou. Então, espero que gostem da pitada de mitologia que a história tem. Comentários, sim?



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A DEUSA E O DESEJO

Slippery Sanity

         Eram cinco horas quando abriu os olhos, mas ficara acordada muito tempo. Ouvira minuto a minuto os farfalhos de folhas perpassando seu corpo, sentira os mosquitos pungindo a pele rosada e finalmente olhara para a raposa castanha que lambera seu rosto. Ela já se afastara e agora inclinava-se para a fonte do barulho suave — água corrente: um lago que cortava a relva e refletia a lua em despedida.

         Uma essência vazia gelava tudo, enquanto, conscienciosamente, Sakura sabia que um grupo de vários seres a circundava. Insetos, tão pequenos e invisíveis à escuridão da manhã; mamíferos que corriam à procura de alimentos; e répteis que voltavam de sua caça noturna. Um degradê alaranjado fragmentava o céu violáceo e os encobria.

         Sakura olhou ao redor.

         Não estava sozinha. Não se referia aos animais, agora. Uma batida soou e ressoou distante, levantando-a. No momento apenas se deu conta do quão trêmula estava. O frêmito que acalentou suas costas doídas, no entanto, bastava para segurar-lhe em pé, contrariando a preguiça repente que assolava por perto.

         — Quem está aí? — gritou num fio de voz.

         A sensação de que havia teias de aranha pousadas em sua garganta cresceu. Ladrou um cão a plano de fundo e as árvores explodiram em uma revoada de pássaros sombreados. Eles voaram para todas as direções, mas Sakura sabia que alguns haviam ficado: os que tinham um ninho para cuidar. Ela sentiu-se muito longe de sua família, subitamente se dando conta de que estava absolutamente solitária — sua mãe havia morrido na guerra. Dormir na floresta, onde isto? Estava ficando louca. Ao menos era próxima à vila.

         Como resposta veio o silêncio. As batidas pararam e, se não tivesse certeza de que o suposto inimigo estava a no mínimo dez metros de si, Sakura poderia dizer que ouvia sua respiração. Suave, compassada, como se estivesse apenas observando. Mas era apenas o zéfiro que oscilava suas vestes; deveria ser.

         Algo estourou em seu pé e a garota saltou, com um ofego derrapante. Um pedestal relevara-se na grama agora maculada e uma toupeira respirava o ar puro, olhando para todos os lados. O animal pareceu perceber que tinha companhia e voltou para seu buraco. Sakura revirou os olhos, contendo a ânsia de chutá-lo, e voltou sua atenção ao intruso.

         Nada, mas o barulho de uma árvore sendo derrubada e um grito apavorado.

         Ela correu entre os arbustos, o vento cortando frio seu rosto, e encontrou algo que nunca imaginaria acontecer em sua frente: um homem estava caído ao chão, um machado na mão e o rosto estupefato. À sua frente uma mulher flutuava — não, não era uma mulher. Era o ideal de perfeição. O ser mudava todas as horas: sua pele era pálida, morena, negra; os cabelos grandes, curtos, louros, ruivos. As únicas coisas perpétuas eram os olhos pretos, intrínsecos, e o véu que cobria seu corpo como a noite líquida.

         Ela olhou para Sakura e seu rosto se torceu numa careta mal contida.

         — Oh, não — suspirou.

         — Quem — a menina disse —, quem é você?

         A mulher pareceu ultrajada, descendo os pés que pairavam no ar ao chão com graciosidade divina.

         — Eu sou Nyx, a deusa da noite, das feiticeiras e dos rituais. E tu, mortal, quem és?

         Sakura forçou-se a recolher o queixo caído e gaguejou:

         — Eu... bem, não tem importância. O que você fez, Nyx?

As palavras saíram com ironia inconsciente; a deusa pareceu ultrajada, porém sem ao menos mostrá-lo em sua face. A personificação da noite respondeu, com uma voz de quem impunha fazer o que eu quisesse:

         — Este homem estava perturbando minhas dríades, cortando árvores e destruindo o patrimônio que eu e meus irmãos vos proporcionamos. Tu o apóias?

         Ela apontou um dedo para Sakura.

         — Não, eu...

         — Ótimo — ela cortou, aproximando-se; andou — e Sakura não sabia se ela estava flutuando ou não, agora — até perto da garota e passou um dedo longo pelo seu rosto. — Interessante, mortal. Interessante.

         — O que é interessante? — Sakura murmurou, hesitante.

         Estava preparando seus punhos para qualquer inconveniência.

         — Como não apareço neste mundo frequentemente — tu sabes, a Terra me cansa —, eu lhe concederei um desejo. Digas.

         Depois de um tempo infindável de surpresa crua, Sakura pediu. A deusa sorriu travessamente, como se quisesse dizer: “é sempre isso” e, desvanecendo lentamente em uma brisa escura, dirigiu-se ao horizonte onde a noite se recolhia.

         Sakura voltou para a vila com borboletas no estômago. Ela não sabia se era verdade, se o que pedira concluiria-se, mas esperava que sim. Com todas as suas entranhas, ela pedia: Sim, por favor, sim!

         Ela o encontrou em sua porta, encostado ao batente, os olhos levantados subitamente do livreto amarelo com sua chegada. Ela torceu o nariz ao ver o título, uma ramificação do famigerado Icha Icha Paradise. Agora que a guerra havia findado e Jiraiya morrera, Kakashi levara o ímpeto de continuar as histórias, e vivia lendo as edições anteriores para perpetuar seu trabalho. Então, quando não estava em missões, escrevia. Ou até no meio delas; Sakura já tinha presenciado isto.

         Sorrindo embaraçosamente foi como ela o convidou para entrar. Cruzaram o vestíbulo da casa — os móveis eram rasteiros, os sofás almofadas especialmente grandes e, na cozinha, apenas um armário. Kakashi foi convidado a sentar-se numa das cadeiras que circundavam a mesa de madeira escura e o fez.

         — Quer algo para beber? — Sakura ofereceu.

         — Água.

         Ela assentiu, abrindo uma porta das portas duplas do armário, e o interior de uma geladeira surgiu. A dúvida de Kakashi foi sanada e ele ergueu as sobrancelhas, interessado. Entre frutas, um recipiente de leite e potes diversos ela tirou uma jarra transparente. O cristal reluziu à luz do vitral. Ela o serviu, pondo mesmo para si em dois copos de porcelana.

         Dois pares de olhos se encontraram, verdes em negros, esmeraldas em ônix; Kakashi analisou como a tez pálida casava com a excentricidade do cabelo, como um rubor manchava suas bochechas na cor vermelha de seus lábios finos. Num ímpeto, suas respirações quentes cruzaram e ele capturou sua boca sobre a mesa.

         Ele passou uma mão por seu rosto e a empurrou para fora da cadeira, rumo à parede oposta ao armário, onde o vitral se encontrava. Braços fortes circundaram quadris finos, e Kakashi lembrou-se de como custava a ele acreditar que pessoa daquela delicadeza possuísse tanta força. O fato de Sakura ser uma ninja exímia — em perícia médica e em combate — fazia seu fulgor teso crescer ainda mais.

         O clima quebrou-se quando eles foram inconscientemente à sala e bateram no começo da escadaria, que subia para o andar superior em espiral. As costas delicadas foram comprimidas contra o material sólido, mãos calejadas a puxaram para perto e eles se comprimiram num abraço sôfrego. Era impossível saber de quem vinha o desejo de ficar mais próximo.

         Sakura separou-se relutantemente e desviou o olhar, puxando-o para cima dos degraus. Eles rapidamente chegaram acima, com uma cena cômica da garota tentando girar a maçaneta da porta, e entraram no quarto. Era totalmente diferente do que imaginava — nada rosa, nada de ursinhos — e, com um choque surdo, Kakashi foi empurrado para a cama. O edredom que a forrava era macio, ele constatou, e gelado.

         Ela pulou em cima de suas pernas, sentando-se e retirando seu colete. A camiseta preta debaixo logo foi tirada com o mesmo afinco e a garota gastou algum tempo analisando o tórax forte e bronzeado. Enão, voltou-se para o homem, arrancando-lhe um beijo e tirando sua calça. Kakashi achava incrível que Sakura fosse uma dominadora e estivesse levando a situação, mas não ficaria por baixo.

         Ele a derrubou na cama, virando-se e acalentando seu corpo. Kakashi sugou o pescoço pálido, extraindo um gemido entredentes. Ele sentiu o perfume de lírios e retirou sua blusa. Consentindo em deixar o momento de contemplar para depois, ele a colocou nua, suspirando a cada peça retirada. Puxou-a para um beijo violento.

         Enrodilharam-se num círculo, ambos sentados, e a única roupa separando-os era a boxer negra.

         Alguns momentos depois ambos beijaram-se por fim, cansados, e Sakura enrolou-se no tecido macio, alçando seu corpo até a janela. A coberta arrastou no chão enquanto ela andava. Chegando à moldura da janela, seus olhos brilharam com o reflexo das estrelas. Ela olhou atentamente às nuvens roxas que adornavam o empíreo e agradeceu à deusa. Uma estrela cadente cruzou o céu em resposta.

         Virou-se lentamente, voltando-se ao homem e esboçando um sorriso cansado.

         — Eu fiz um desejo, sabia? — disse.

         Ele segurou seu olhar.

         — Você não quer saber o que é? — ela insistiu, colocando uma mecha de cabelo rosado para trás da orelha.

         O mais velho finalmente respondeu, como se estivesse entediado:

         — Ele se realizou?        


         — Sim.

         — Então não tem importância. 


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Notas finais do capítulo

Nyx — A deusa grega Nyx era a personificação da noite. Uma das melhores fontes de informação sobre essa deusa provém da teogonia de Hesíodo. Muitas referências são feitas a Nix naquele poema que descreve o nascimento dos deuses gregos. A explicação é simples. A Noite desempenhou um papel importante no mito como um dos primeiros seres a vir à existência. Hesíodo afirma que a Noite era filha do Caos, o que a torna uma das primeiras criaturas a emergir do vazio. Isso significa que Nyx era irmã de algumas das mais antigas divindades da mitologia grega, incluindo Érebo (a Escuridão), Gaia (a mãe Terra), Tártaro (Trevas abismais) e Eros (o amor da criação). Dessas forças primordiais sobreveio o resto das divindades gregas.

Dríades — Dríades ou Dríadas, na mitologia grega, eram ninfas (espíritos da natureza, basicamente fadas sem asas) associadas aos carvalhos. De acordo com uma antiga lenda, cada dríade nascia junto com uma determinada árvore, da qual ela exalava. A dríade vivia na árvore ou próxima a ela. Quando a sua árvore era cortada ou morta, a divindade também morria. Os deuses frequentemente puniam quem destruía uma árvore. A palavra dríade era também usada num sentido geral para as ninfas que viviam na floresta.



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