A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa


Capítulo 41
Um Anjo Me Salva


Notas iniciais do capítulo

Acho que vocês querem me estrangular pelo o que eu estou fazendo com o Justin, coitado dele, né?Mas, eu não posso parar agora!



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-Rio? – Ela não falou nada, só o ajudou a me levantar, e eles me lançaram no rio de águas geladas. Caí deitado, de costas, e tive um calafrio logo ao sentir a água gelada em meu corpo nu. E então, fui atingido por um objeto pontiagudo e cortante no meu abdômen. E sangue. Muito sangue. Mais um golpe com a faca, canivete, punhal, sei lá. Eu me revirei de dor, totalmente sem ar para respirar, nem para gritar. Daí senti algo gelado em minhas narinas, abafado por um pano. Tudo girou mais ainda, e minhas pálpebras ficaram pesadas. Só tive a visão de três pares de pés fugindo, e apaguei.

Horas depois:

A minha respiração fraca, trêmula e ofegante era a única coisa que eu ouvia. Meus sentidos ainda não tinham voltado direito, eu nem conseguia abrir os olhos ainda. Eu estava com frio, tremendo, meus lábios estavam roxos devido ao frio que sentia, os cortes doíam, eu estava perdendo muito sangue. De repente, ouvi passos, folhas sendo quebradas, com mais intensidade, pareciam estar vindo até mim. Uma voz chamava “Justin! Justin!!”, até chegar perto de mim. Quando alguém abriu caminho pela clareira, eu só ouvi passos, e mais passos. Até a pessoa que estava lá me achar.

-Meu Deus... – Ouvi uma voz masculina dizer. Eu acho que era Scooter. – Justin? É você?!

Ele chegou um pouco mais perto da borda do rio, e ao olhar minha face, mais pálida que o comum, eu acho que até levemente azulada, demonstrando que eu estava naquela água gelada fazia um bom tempo, e que estava em um estágio alto de hipotermia, e os cortes na minha barriga, sangrando ainda, sua reação não foi a das mais calmas.

-Deus! Justin, Justin!! – Ele disse, em desespero. O senti tocar meu pescoço, depois a dobra de meus joelhos, e me erguer, me tirando da água fria. Ele me colocou no seu colo, e pôs o seu casaco como cobertor em mim. Abri meus olhos levemente, tremendo, e tive outro calafrio. Minha boca tremia, eu estava morrendo de frio. E eu vi que o homem que me tirara da água era Scooter.

Scooter percebeu que eu tinha acordado, então disse a mim baixinho que o que ele iria fazer poderia doer um pouco, e então pressionou suas mãos contra um dos cortes, estancando o sangue. Arqueei meu corpo e tentei desesperadamente falar para ele parar, não só por que doía, mas por que... Qual é, eu tenho Aids, se ele tocasse no meu sangue pegaria também. Eu não queria isso.

Quando ele terminou de estancar os dois ferimentos, Scooter me abraçou, passando o calor de seu corpo para o meu. (n/A: Essa é uma técnica de sobrevivência!) Murmurei um “Faça parar. Faça essa dor parar.” com o pouco de ar que tinha. Scooter suspirou.

-Calma, a ajuda está chegando. – Ele sussurrou em meu ouvido. Minhas forças cessaram, eu perdi a consciência novamente. Só consegui ouvir Scooter ligando para alguém, e desmaiei. Minha cabeça tombou para o lado, mas foi logo apoiada pela sua mão. Eu não devia ter ficado tão bravo com ele, eu tinha dado piti, fugido, e agora ele estava salvando a minha vida! Ele estava sendo, como, como um anjo! Por que eu fui tão idiota?

Tudo bem, eu desmaiei. Um tempo depois, eu ouvi mais passos, de três pessoas. 

-Meu Deus!! – Uma voz feminina gritou, uns segundos depois. Eu acho que era minha mãe.

-Justin! – Uma outra voz, feminina também, completou. Essa era a Gabby, reconhecia pelo sotaque espanhol. Passos vieram correndo para mais perto de mim, e senti alguém tocar meu cabelo. Não sabia quem era. Ouvi soluços, e mais soluços, e senti me envolverem numa toalha, junto com o casaco, e Scooter se levantou e me ergueu no seu colo.

Bem, eu ouvi a voz de um homem que eu não conhecia, mas, tomando pelos  termos técnicos de sobrevivência que ele disse, acho que ele era um paramédico, sei lá.

Fui carregado no colo por um tempo, o fato de eu ser pequeno e estar sendo carregado no colo me fez sentir-me como um bebê, eu só ouvia soluços, e aquilo me deixou agonizado. Eu queria saber quem estava lá, eu queria abraçar a minha mãe! Eu queria chorar! Mas eu estava sem forças até para abrir os olhos!

E, o pior. Eu podia morrer!

Uma ambulância nos esperava, quando saímos da mata. Me colocaram numa maca e cobriram meu corpo da cintura para baixo. Minha mãe chorava ao meu lado, quando já estávamos dentro do carro. Então, eu juntei toda a força que tinha, abri os olhos e a olhei nos olhos pela primeira vez no dia. Minha mão direita estava fechada em punho ao lado do meu corpo. Então eu abri a mão.

Minha mãe olhou para o colar que estava na minha palma, boquiaberta. Era o colar que eu havia comprado com a minha primeira mesada de artista, de prata, o pingente era uma Cruz vazia, o maior símbolo da minha religião. Eu havia conseguido resgatar aquilo, havia caído perto de aonde me derrubaram, para... Você sabe.

Ela mal conseguiu falar nada. Só voltou a chorar, e segurou minha mão. Colocaram uma máscara de oxigênio em mim, para eu conseguir respirar, junto com um sedativo. Fui sentindo meus olhos ficarem pesados, e então fechei os olhos.

Quando acordei, eu estava deitado numa cama. Eu estava perto da minha mãe, que estava chorando. Ela estava segurando a minha mão, assim como quando eu apaguei, acariciando-a com o polegar. Assim que abri os olhos, ela disse meu nome num soluço e me abraçou intensamente. Eu retribuí, e, assim que senti seu abraço, comecei a chorar junto com ela.

Ficamos mais um tempo juntos até Scooter e Gabby aparecerem, e se juntarem ao abraço. Assim quando nos soltamos, eu descobri que estava num hospital e que eu estava usando aquelas camisolas sem a parte de trás.

Ok, né... *Cara de "tá legal..."*

Scooter e minha mãe se retiraram para falar com a clínica geral. Ficamos só Gabby e eu no quarto.

-Então... – Ela disse. – Como você está?

-Estou... Bem... Acho... – Respondi, limpando as lágrimas. – Quantas horas são?

-Meia noite e dez. – Ela respondeu. O clima estava tenso, então eu resolvi brincar um pouco. Mas, não dava. Tentei fazer piada, mas eu desviei pra outro assunto:

-Hum... Então... Você me viu... – Corei. – nu?

-Não consegui. – Ela disse, rindo. – Aconteceu muita coisa naquela clareira? – Assenti, e falei:

-Mais do que você pode imaginar... – Mexi um pouco no cabelo, ainda molhado. – Talvez esse tenha sido o pior momento da minha vida. O pior trauma que eu já tive. – Eu estava ficando incomodado com aquela conversa. O olhar que o homem direcionou a mim me voltou à tona, eu comecei a suar.

-Eu acho melhor mudarmos de assunto... – Gabby disse, tirando minha franja, ainda úmida, por causa do rio, de meus olhos.

-Quando eu vou sair daqui?

-Eu não sei... – Gabby disse. – Eu vou beber um copo d’água. Agüenta as pontas sozinho, né?

-Agüento... – Ela me beijou na testa e saiu. Nisso, Scooter adentrou o quarto.

-Oi, Little Beatle... – Scooter disse. Ele ficou parado em frente à porta.

-Oi, Scooter... – Disse.

-Tudo bem?

-Acho que sim... – Olhei para baixo. Um silêncio se formou.

-Como você foi parar lá, onde eu estava? – Disse, cortando o silêncio.

-Eu saí pra te procurar. Eu, Pattie e Gabby. Você tinha sumido já fazia um dia!

-E por que minha mãe e Gabby não estavam com você?

-Eu resolvi ir pra lá por que sabia que você ia pra lá quando queria pensar. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa. – Ele olhou pra baixo, como se estivesse pensando que poderia ter impedido que aquilo acontecesse a mim. – Pattie e Gabby foram procurar na casa de Katy e na gravadora.

-Ah...

Silêncio de novo.

-Me desculpe por ter dito aquelas coisas sobre você. – Ele disse, cortando o silêncio novamente.

-O quê?

-Você não é um zero à esquerda, - Ele deu um passo à frente. – nunca foi, você não veio de um fim de mundo – Scooter sentou-se ao meu lado, na cadeira que minha mãe estava um tempo antes –, e sim, eu sentiria MUITO a sua falta se você sumisse. E eu não iria te deixar voltar pra Stratford de jeito nenhum só por causa de uma coisa que eu falei.

Não falei nada, olhei para baixo, refletindo no que ele tinha dito.

-Eu fui um idiota ao falar aquilo pra você. Saiba que você foi a coisa mais importante que já aconteceu comigo. – Scooter continuou. Sorri de leve, ainda de cabeça baixa, e disse:

-Eu também fui um idiota por pensar que você só estava interessado no meu dinheiro... Você me perdoa? – Ele sorriu torto para mim e colocou a mão na minha cabeça, bagunçando meu cabelo.

-Claro que perdôo. – Sorri e nos abraçamos. Eu estava enganado quando disse para Katy que Scooter não era meu pai. Que ele não me amava. A prova estava bem naquele momento, bem minha frente. Scooter tinha salvado a minha vida, se não fosse por ele eu estaria lá até agora, morto. A palavra Anjo ainda estava na minha cabeça.

Quando nos soltamos, ele me perguntou se eu estava com fome. Assenti, e ele disse que iria comprar algo para eu comer. Quando ele ia sair, falei:

-Espera! – Scooter se virou. – Obrigado.

-Por...

-Obrigado por ter me salvado, sabe, lá no rio... Eu ia morrer se você não aparecesse, eu devo a minha vida a você...

-Poupe-se de agradecimentos. E... Praticamente a culpa é minha. Eu comecei tudo isso. Eu te magoei. E... É só o meu dever. Sou seu quase pai, não é mesmo? – Sorri e ele saiu.


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Notas finais do capítulo

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