A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa


Capítulo 2
Descoberta




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Enquanto eu andava pelos corredores do hospital para fazer o primeiro exame, exame de sangue (que pavor, eu estava pressentindo que ia fazer pirraça), algo estava me incomodando. E um machucado meio recente estava doendo bastante, particularmente falando. Minha perna ardia bastante, e parecia queimar por causa de uma perfuração recente. Trakinagens minhas? Não, não. Trakinagens comigo de uma pessoa cujo nome começa com J e termina com ASMINE VILLEGAS cujo eu era amigo.

O quê houve, você pergunta. O que aconteceu foi que eu estava no hospital por causa de uma torção no joelho, eu torci meu joelho no meio do show, enquanto eu dançava, depois da apresentação fui levado para o hospital e fiquei com Jasmine sozinho no consultório. Erro. Ela simplesmente estava vendo uma agulha de anestesia, daí ela do nada enfiou aquela coisa na minha perna! Alguém entende?!

Mas o pior é que aquela agulha já tinha sido usada, o que me deixou com maus pressentimentos. Sei lá, vai que acontecia alguma coisa?

Mas, voltando, e adiantando para o bendito exame de sangue:

– Justin Bieber? O famoso? – Um enfermeiro (existia?) disse. Sorri, dizendo "Moi- Même" e me sentei na cadeira que tinha lá, receoso.

– Isso vai doer? – Perguntei. Risos abafados de todos que estavam no laboratório.

– Um garoto de 15 anos que anda pelo mundo inteiro tem medo de injeção? – A médica- chefe falou.

– Qual é o problema? – Perguntei.

– Nenhum, nenhum. Agora, estenda o braço. – Ela orientou. Tá, fiz o que ela mandou, mas, quando vi aquela agulha afiada na mão dela...

– Vou ter que usar essa budega afiada aí?! – Eu perguntei.

– É o padrão... Qual o problema? – Ela respondeu. Arregalei os olhos quando ela perguntou aquilo e tive vontade de fazer um escarcéu e fugir de lá naquele segundo. Mas eu só recolhi o braço e disse que não ia fazer aquilo. Recolhi e travei, digo. Tentei até fazer o exame, juro, eu me sujava de medo, mas tava tentando, mas, hehe...I'm a dramatic boy... E fiz mais birra ainda. Sério, tiveram que chamar um mutirão de enfermeiros fortões pra me segurar.

– Justin, Justin, você tem 15 anos! Ainda tem medo de agulha?! – A médica chefe disse, com a agulha na mão.

– Tenho! Me cago! E admito! – Gritei, com os homens quase quebrando meu braço, para me colocar na posição certa.

– A minha irmã é muito fã sua... Espere só eu contar que Justin Bieber fez birra no exame de sangue... – Um dos enfermeiros mais fortões que estava segurando meu braço disse.

Você não faria isso... – Disse, com uma voz de ira.

– Faria sim, quer apostar? Ou faz o exame ou conto pra ela e ponho na internet! – Ele disse. Que bellissimo jeito de convencer um garoto famoso de 15 anos que se caga de medo de agulhas e seringas a fazer o exame de sangue... Ameace queimar a reputação dele! Simples!

– Ok, ok, eu faço. Mas fica entre a gente o que aconteceu aqui! – Eu disse.

– Claro. – A enfermeira disse. Fechei os olhos por alguns segundos.

– Quando vai começar? – Perguntei, ainda de olhos fechados.

– Já acabei. – A mesma médica respondeu.

Ok. Eu sou um medroso assumido, e fresco.

– Já? – Perguntei. A mesma doutora colocou um algodão aonde estava saindo um fiapinho de sangue. – Eu paguei um King- Kong aqui, né?

– Pagou. – Ela respondeu, rindo. – Mas vai ficar em off. – Ela fez aspas com os dedos. Me levantei e pûs meu casaco. Qualé, podia ser o Havaí, mas estava frio, eram 7 da manhã! – O resultado sai daqui a uma hora.

– Ok. Uma?! – Perguntei. Tanto tempo?

– É, demoram para analisar. – Ela respondeu, num riso.

– Ah... – Murmurei. Pra mim tanto faz, sempre acaba em Burguer King. Eu sempre faço uma boquinha, hahaha.

Saí da sala e vi minha mãe me esperando. Rindo.

– O quê foi aquilo? – Ela me perguntou.

– Aquilo o quê? Você ouviu?

– Só que você morre de medo de agulhas. – Ela disse, entre risos.

– Foi só um contra- tempo... – Eu murmurei, cruzando os braços, me emburrando. Eu estava birrento mesmo. Fui com minha mãe fazer outros exames: Visão, audição, etc, etc, etc... Os resultados de tudo eu iria saber com a clínica- geral, um tempinho depois. Depois de fazer tudo, fiquei sentado na sala de espera, tirei fotos, cantarolei uma música para uma menina e dei autógrafos. Ah, e dei o meu boné para a Claire, uma fã minha, que me deixou bastante surpreso. Quer dizer, ela tinha AIDS desde quando nasceu, e tinha 11 anos de idade.

Aids... Eu nunca tirei meu tempo pra saber direito o que era... Só sabia que era uma doença que matava muitas pessoas. Bom, só soube disso por quê mês passado áquele, eu fiz um show para angariar fundos para instituições que cuidam de pessoas soropositivas. Fiquei conversando com aquela menina até a chamarem, daí ela se levantou e foi com a mãe até o consultório. Eu me sentei direito novamente e esperei. Quando me chamaram, me levantei e fui com a minha mãe para o consultório.

– Bom dia. – Disse para a doutora que estava sentada na cadeira. Ela me cumprimentou, cumprimentou minha mãe, e disse para mim:

– Você é Justin Bieber, não é? Minha filha adora suas músicas!

– Mesmo? Que bom! – Falei, sorrindo, deixando minha birra de lado. E então comecei a consulta com a médica. Primeiro de tudo, check- in. Aquelas coisas que você faz desde que vai no pediatra. Depois ela foi falando o resultado dos exames um a um. Eu não prestei atenção em nenhum, pra mim estava tudo bem, eu achava que, se eu estivesse feliz e confiasse em Deus, como sempre confiei, nada de ruim aconteceria.

– O exame de sangue deu um resultado sério. – A médica disse, de repente. Me sobressaltei e olhei para ela.

– O quê deu? – Minha mãe perguntou.

– Eu sei que é duro, mas... – A médica começou.

– Mas... – Falei.

– Justin é HIV positivo... – A doutora terminou.

– Positivo? – Pattie disse. – Quer dizer Aids?

– Sim. Eu sinto muito. – A médica disse, num tom triste. Arregalei os olhos. Só podia ser brincadeira.

– Mas... Como? Eu sou virgem, não sou? – Eu perguntei.

– Não existe só esse tipo de contágio. – Ela explicou. Depois disse que dava pra ser contaminado com sangue, vacinas, e também pelo jeito que eu estava falando. Eu pensava que era só daquele jeito.

– É de muito tempo? – Minha mãe disse.

– Uma semana e meia, mais ou menos. – A médica respondeu. Arregalei os olhos. Eu sabia COMO eu tinha me contaminado. Ao menos, achava que sim.

– Eu sei como eu peguei... – Eu murmurei.

– Com contato com sangue? – Ela perguntou.

– Não. Com uma agulha. – Eu falei. Meu primeiro pensamento: Eu vou matar a Jasmine por ela ter enfiado aquele troço em mim.

Não, não fazia sentido; Eu estava escondendo alguma coisa. Não me lembrava direito de alguma coisa, tinha sido outro motivo. Mas eu tentei convencer a mim mesmo que era por causa daquilo mesmo. De certa forma, eu estava mesmo com raiva de Jasmine...

– Já temos a causa... – A mulher disse. Olhei para baixo e perguntei:

– Isso tem cura? – Diz que sim, diz que tem...

Se existe, é desconhecida. – Ela disse. Meu mundo caiu. Não era possível, não era!

Fiquei sem ação, minha respiração ficou agitada. Mamãe me abraçou, e eu fiquei totalmente mudo. Ela falou que ia ficar tudo bem, mas eu tive que duvidar daquilo. Não soltei mais nenhuma palavra naquela manhã, até chegar no carro da minha mãe, algum tempo depois. Aquela notícia estava me corroendo por dentro. Peguei meu notebook e fiz o que era o mais óbvio:

São 11 da manhã agora, nesse instante, e eu acabei de descobrir que estou com AIDS. É, é muito estranho. Mas eu estou. E a primeira coisa a fazer é me matar me cuidar. Foi isso que a médica disse. Ela também me entregou alguns folhetos sobre isso, estou lendo um agora. Metade dessa lista enorme eu não faço, e o resto nunca fiz e nem quero fazer. Outras são coisas do tipo: "Quê? Se pega Aids assim?!". Tipo, injeção eu faço pirraça, fujo de exames de sangue, tenho pacto de pureza... E não toco em sangue, me faz passar mal! Não me chame de fresco!

A minha mãe? Bom, ela é a única que sabe. Quer dizer, agora ela está falando para o meu padrasto Scooter. Nem imagino como ele vai reagir... Só sei que eu estou triste. E com medo. Um medo que nunca senti antes. Medo do tipo:

"E se eu morrer?

O que vai ser da minha família?

Dos meus pais?

Da Jazzy e do Jaxon?

Da Erin e do Scooter?

Dos meus amigos, das minhas fãs?"

Escrever isso só está piorando minha situação, eu acho que se eu continuar eu vou começar a chorar que nem um bebê...

Salvei o que estava escrito e abri o Google. Digitei "AIDS", e pûs pra pesquisar. Cliquei num site sobre isso e comecei a ler.

– Justin, está com fome? – Minha mãe perguntou. Interrompi a leitura e olhei para ela.

– Hum?

– Fome. Está com fome? – Ela perguntou. Pra ser sincero estava. Fiquei em jejum o dia anterior inteiro pra fazer aquele bendito exame de sangue.

– Não. – Falei. Nisso meu estômago deu o maior roncadão. Denunciado pelo próprio estômago. Ótimo. Meu corpo costumava me pregar peças e me denunciar mesmo... 

– Mesmo? - Minha mãe brincou.

– Tá, estou... – Confessei. Paramos numa lanchonete e eu fiz uma boquinha, mergulhado na tristeza. Enquanto eu comia o sanduíche de frango que comprei, minha mãe me perguntou:

– Você está bem?

– Quê?

– É bem duro saber que tem AIDS. Sei disso por quê uma amiga minha descobriu que tinha, antes mesmo de você pensar em existir. – Ela riu. Olhei para meu sanduíche e fiquei pensativo.

– Se você está sentindo algo, pode contar para mim. – Ela continuou. Suspirei e disse:

– Se eu sinto alguma coisa? Posso ser sincero?

– Claro.

– Eu não sei o que eu sinto. Parece... Tudo caiu! – Falei. – É... Eu não sei mais se vou viver!

Eu estava sendo sincero, sem filtros, como nunca fui antes. Minha mãe segurou minhas mãos e me fez soltar o sanduíche, e me deixou apoiar minha cabeça em seu ombro.

– Um pouco mais e você vai ficar bem. Acredite. – Ela disse. Não deixei de ter minhas dúvidas, afinal, Aids era fatal. Eu sei que estava sendo um pouco melodramático, mas era a mera verdade.

– Tem certeza? – Perguntei.

– Sou sua mãe. Acha que eu iria deixar algo acontecer com você? – Ela perguntou.

Assenti em sinal negativo, e ela me abraçou. Um abraço confortador, daqueles do tipo "Eu não sei como você está se sentindo, mas eu continuo amando você, você tem um ombro amigo em mim". Não daqueles de pessoas falsas que dizem "Eu sei como se sente", mas não fazem ideia do que você está passando, e que só te deixa pior ainda. Não me contive e me permiti que algumas lágrimas escorressem por meu rosto. Nã lembrava a última vez que eu havia chorado. Apertei os olhos, daí comecei a soluçar. A lanchonete estava vazia, então eu não estava me preocupando com coisas do tipo "Vão tirar fotos de mim!", "Vão me chamar de gay por chorar!" e "Não quero que uma belieber me veja chorando".



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Notas finais do capítulo

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