O Dia que não Terminou escrita por Lara Boger


Capítulo 5
A descoberta de um rosto




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“Ela está aqui...”, pensou num frenesi que não soube que existia. Se antes tinha confiança absoluta de seu talento e mais ainda a certeza da vitória, todas elas se dissiparam. A provável presença da garota sem rosto fez com que algo mudasse. Como iria procurá-la se estivesse no tatame? Não podia perder aquela luta. Já era mais que um torneio: era a chance de impressioná-la, de chamar sua atenção... de simplesmente vê-la.

Nunca houve uma luta tão nervosa em sua vida.

Ao ser chamado, sentiu um frio na barriga. Achou que nunca fosse passar, mas corajosamente entrou no tatame, tentando ignorar aquele nervosismo que só teve quando era criança, um principiante. O adversário estava a sua frente, com rosto compenetrado, a expressão de bom humor permanente parecia ter se escondido em algum lugar. Por um momento reconheceu-se naquele momento de pura absorção na luta.

De acordo com o locutor, seu nome era Jason Lee Scott. Não houve um currículo em sua apresentação, mas de qualquer modo resolveu não subestimá-lo. Antes que fosse formalizada uma apresentação dos adversários olhou para a platéia, procurando a garota. Apenas uma tentativa inútil de encontrá-la em poucos segundos, mas não obteve sucesso. Em nenhuma de suas olhadas encontrou alguém que ao menos pudesse ter os cabelos parecidos, o único elemento pelo qual poderia identificá-la. Sendo assim o nervosismo aumentou: sabia que mesmo se perdesse teria a sua atenção pelo simples fato de estar no tatame sendo adversário de um amigo, ou de seu namorado... mas queria vencer para impressioná-la.

Uma apresentação formal, um se curvando para o outro. O olhar compenetrado de Jason Lee Scott. Será que ele era bom? Um campeão? Parecia ser, não podia ignorar o porte de atleta. Ouvindo a reação da torcida, não podia imaginar que fosse um amador. No mínimo ele deveria ser um daqueles que tem projetos de ser profissional ou candidato a bolsas em universidade. Se este era o seu nível, não poderia mesmo ignorá-lo.

- Lutem! – gritou o juiz.

E assim começaram. Chutes, investidas, tentativas de soco. Algumas com sucesso e outras não, como em toda luta normal. De início, tenso, Tommy acabou baixando sua guarda e apanhando pouco mais do que estava acostumado, mas logo uma repentina raiva de si mesmo por ter vacilado fez com que reagisse e o derrubasse, retomando o controle que costumava ter em tudo que participava.

Não pôde dizer que foi uma luta fácil. Talvez pudesse dizer o mesmo para ambos os lados. Estava demorando muito tempo, mais do que estava acostumado... e sabendo que seria tão ou mais difícil quanto imaginara, colocou mais de sua força e de sua perícia em cada golpe. Um pouco mais de determinação... mais do que tivera em suas últimas lutas. E foi desse jeito que derrotou-o.

Assim que viu o juiz dar-lhe a vitória, Tommy comemorou discretamente. Não queria ser expansivo, por mais que sentisse que aquela fosse a ocasião para sê-lo, já que dera o primeiro passo para seu grande plano de popularidade e se superara fora de seu “habitat”... mas não era isso que importava. Não queria comemorar e parecer presunçoso aos olhos dela... não era isso que precisava. E seu prêmio maior não seria aquele troféu... seria poder vê-la. Simplesmente isso... e foi o que aconteceu.

- Tudo bem, “Jase”? – ela veio, não do público, mas de um outro lado, diretamente para o adversário, sem sequer um olhar em outra direção sem parecer se importar com o mau resultado.

Era magra, usava mais ou menos o que parecia ser a moda: uma calça alta, marrom e amarela de listras finas, blusa e jaquetinha amarelas, uma boina escondendo um pouco o que poderia identificá-la, mas não a ponto de não poder saber que se tratava de quem procurou há muito tempo. Gestos suaves mas decididos, rosto delicado mas de traços marcantes e olhos puxados. Uma bela oriental com ares pacíficos e rosto de anjo.


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