O Dia que não Terminou escrita por Lara Boger


Capítulo 1
Lembranças e Lágrimas


Notas iniciais do capítulo

Fic meio (totalmente) dramática. Está aqui postada a meu bel-prazer podendo ter mudanças de condução e narrativa a qualquer momento...



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Noite

Na animada Nova York o movimento parecia não acabar nunca. Festas, reuniões, ruas sempre com gente não importava a hora. Era uma cidade cosmopolita, e por definição uma cidade jovem. Tudo era som, luz, cor e diversão. Uma festa que nunca acabava.

Apesar de achar isso, havia sempre alguém solitário. Escondido por trás das paredes de um apartamento estava um deles. Era um rapaz alto, de cabelos e olhos escuros. Parecia concentrado, em meio a livros e papéis. Para ele a solidão parecia uma escolha própria e qualquer um que o visse diria que estava concentrado em cumprir suas responsabilidades típicas de universitário. Ele não parecia feliz com isso, esse mesmo qualquer um poderia pensar que ninguém estaria feliz dentro de casa com uma festa rolando do lado de fora.

Aparentando chateação, ele levantou da cadeira e foi até a cozinha. Abriu a geladeira e pegou uma garrafa d´água. Bebeu dali mesmo, demorando-se mais do que pensou no que deveria ser apenas um gole.

“Isso deveria ser uma cerveja”, ele pensou, com olhos escuros parecendo sombrios. Seus traços do rosto, firmes e bem masculinos estavam endurecidos. Não estava acostumado a beber. Não gostava de álcool, mas naquele momento sentia-se mal para se concentrar nesses detalhes que pareciam pequenos. Estava mal, sentia-se mal, e queria aliviar essa sensação de tristeza que lhe tomava um tempo precioso. Precisava se concentrar: estava prestes a fazer provas, precisava entregar um trabalho importante... Não tinha um minuto a perder.

Sentou-se novamente, disposto a se concentrar nos papéis espalhados pela mesa, nos livros abertos, na tela do computador bem a sua frente, nas suas anotações escritas de forma apressada em um caderno qualquer. Digitou algumas palavras, mexeu naqueles papéis, consultou alguns dos livros, num ímpeto que durou poucos minutos pois logo recostou-se na cadeira, jogando a cabeça para o alto como se procurasse por algo maior, que não estivesse ao alcance dos simples terrenos. Como se fizesse uma prece.

“Deus... preciso tirar isso da minha cabeça... preciso tira-la da minha cabeça...”

Repetia isso como se fosse um mantra. Ela estava ali. Depois de anos ela estava ali de novo, não fisicamente. Mas de modo muito mais poderoso: as lembranças. Ela estava em seus pensamentos. Na verdade ela nunca estivera longe. Todos os dias em que se sentira longe eram um sonho. Ela sempre estivera muito perto, como se soubesse de todos os seus passos. Como se em tudo que dissesse respeito a sua vida, ela fosse onipresente.

Era uma lembrança boa, mas que o torturava. Invocava sentimentos de traição e culpa, com o quais ainda não conseguia lidar. Não que fosse culpa dela. Pelo contrário, ela nunca fora culpada de nada... mas os atos que ele mesmo cometera foram os responsáveis pelos acontecimentos de sua vida.

“Você não pode guardar isso pra sempre. É pesado demais. Desabafe!”. Foi um pensamento que ecoou de forma repentina, como se fosse uma ordem. O rapaz tentou ignorar isso, mas sua sobriedade indesejada não conseguiu suportar a dor. Após vários, longos e tortuosos minutos, resolveu obedecer. Aquele era um sinal? Era ela querendo que ele fizesse isso?

“Ela tem um jeito todo especial de convencer os outros a fazer o que ela quer... sempre teve.”

Fosse como fosse, por mais doloroso e triste que pudesse ser, faria isso. Fosse um sinal dela ou não, talvez fosse uma forma de aliviar o seu desespero. Nunca mais falara disso. Negava-se ate mesmo a pensar em contar a alguém. Segredos demais, pessoal demais. Pouquíssimas pessoas sabiam disso, e nenhuma delas poderia ser seu confidente. Seu melhor amigo estava longe demais. Teria que fazer isso sozinho.

“Sozinho não.” pensou, “Ela está aqui”.

Com uma braçada afastou todos os livros e papéis de sua frente. Pela primeira vez depois de tudo iria encarar aquela história, com toda a sobriedade que poderia esperar do atleta que sempre fora. Sem nada para suspender seu estado de lucidez e consciência e que o fizesse fugir. Pela primeira vez, de cara limpa e sozinho ele iria encarar o que lhe afligia há anos.

Um caderno, uma caneta. Era tudo o que precisava. Pegou-os rapidamente, preparando-se para o momento que tanto temera. Sem pensar, começou a escrever, apressadamente, derramando as palavras numa caligrafia que talvez mal poderia entender depois. A tinta preta de sua caneta transformando rapidamente a brancura das folhas vazias... escrevendo para ele mesmo. Uma carta desesperada para ele mesmo. Marcas ficariam naquele papel: seu psicológico, o suor de suas mãos, algumas palavras borradas devido a prováveis lágrimas, inevitáveis a cada segundo pensando nela... mas não importava.

“Por você, Trini... é por você...”

E assim começou.


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Notas finais do capítulo

A quem possa interessar ou tenha percebido: eu nunca gostei do Tommy e nem da Kimberly... mas AMO a Trini.



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