Ah, agora estava claro porque Percy e a garota não simpatizaram ao primeiro instante. Era aquela coisa desagradável que havia em todos os filhos de Ares e os olhos cheios de raiva.

- Algumas criaturas mágicas estão ajudando os hindus a raptar meios sangues que ainda nem sabem que o são. Os deuses hindus dizem a eles o que são e fazem com que eles acreditem que foram abandonados e enganados. – continuou Sally. – treinam eles e seus poderes e os mantêm presos em um calabouço bem escondido na cordilheira do Himalaia.

- O que? Mas são apenas crianças! – exclamou Percy.

- É, mas eles não estão escolhendo crianças quaisquer. Eles dão preferência aos filhos de Hécate e Ares. Esses semideuses têm um potencial especial. Você pode imaginar uma criança de Hécate que não saiba direito canalizar todo seu poder de magia. A raiva que eles alimentam faz com que esses poderes se multipliquem em força. O mesmo para os filhos de Ares, com toda sua habilidade e sede de batalhas.

- E como você foi parar lá? Certamente você já sabia que era filha de Ares. - perguntou Nico.

- E você acha que só por isso semideuses que sabem quem são seus pais não se sentem traídos?

Percy estava decepcionado. Com tudo o que pedira aos deuses quando salvou o Olímpo as coisas ainda davam errado pelos mesmos motivos. Eles continuavam imaginando que haviam sido traídos e abandonados, ou que foram reconhecidos por seus pais celestiais apenas porque eles tinham essa obrigação.

- Mas eu não preciso dizer isso a vocês. Aposto que vocês tiveram os mesmo problemas que qualquer um de nós.

“Na verdade não”, pensou Percy “Qualquer um de vocês não fez parte de uma batalha épica entre deuses e titãs por ser o escolhido de uma profecia.”. Cada vez ele gostava menos dela.

- Há vários outros como eu. Mas eu fiquei sabendo da profecia sobre isso e fiquei assustada. Nós todos estávamos lá para sermos simples fantoches daqueles indianos. Qualquer coisa que tivéssemos passado por sermos filhos de deuses era melhor do que ser explorado por aqueles deuses esquisitos. Eu tentei convencer parte deles de que era voltar era a melhor escolha. Eu consegui salvar algumas crianças, a cada quinze dias eu as trazia por essa passagem, mas me descobriram e eu tive que fugir definitivamente. Eles fecharam essa entrada, mas eu sei que há mais quatro.

- Vocês só estão sendo treinados para isso?

- Não, também estavam planejando algo grande na Grécia. Inclusive, há uma entrada lá.

- Em Delfos? – perguntou Annabeth.

- É, exatamente. Eles nunca disseram sobre a profecia, mas mandavam grupos em busca de uma moça. Agora eu sei quem ela é.

- Eles estão procurando Áster com os poderes mágicos dos filhos de Hécate! Por isso eles nos encontraram tão rápido, por isso já sabiam como chantagear Áster. Eles têm montado armadilhas ao redor do Acampamento, assim saberiam quando alguém saísse dos limites da proteção. E, pelo visto, agora eles também descobriram sobre a Lança de Aquiles.

Os olhos de Sally brilharam.

- Então é a Lança de Aquiles que eles estão procurando na Grécia?

- É, mas só Áster, a garota da profecia pode tirá-la de lá. –respondeu Nico.

Todos ouviram um zunido e o barulho de algo espetando um tronco de árvore. A bochecha de Nico ardia e algo quente escorria. Sally ficou pálida ao ver o sangue escorrendo no rosto dele. De repente os quatro se jogaram ao chão, quando uma saraivada de flechas veio da montanha.

- A passagem não estava fechada? – gritou Nico enquanto eles engatinhavam para a floresta.

- Eles deviam estar escondidos! – respondeu Sally.

Percy pôde perceber que algumas flechas, ao cair no chão se transformavam em gravetos. Ele logo entendeu que era algum tipo de feitiço.

- Subam no Elvys! – gritou Annabeth – Vamos voltar para o acampamento!

Todos se agarraram ao cão como puderam. Quando reapareceram na colina, um pouco antes dos limites de proteção, três semideuses ainda estavam em seu encalço. Eles também podiam viajar nas sombras, mas pareciam bem mais cansados.

Nico empurrou Sally para cima de Elvys.

- Segura firme. Vá até a Casa Grande. Quando chegar lá, diga a Quíron, o centauro, que estamos em conflito aqui.

Ela abriu a boca para responder, mas ele bateu nas costas do Cão e ele saiu em disparada.

Então os três se viraram para encarar os semideuses que os seguiram até ali.