Murtagh demorou em dormir aquela noite, apesar da tentativa de hospitalidade, aquele lugar não era confortável e o deixava inquieto. Havia acabado de pegar no sono quando escutou o trinco de sua cela e apesar de seu instinto o mandar se levantar para verificar quem era o invasor seu faro foi mais rápido e o aroma que sentiu o acalmou e lhe trouxe uma sensação inexplicável de tranqüilidade. O cheiro suave e amadeirado da moça tomou toda a cela enquanto ela caminhava, quase deslizava, atravessando o pequeno espaço entre a porta e o leito, ela o observou por alguns instantes antes de tocá-lo com sua mão tão macia quanto sua voz, o toque era quente e trêmulo, nervoso, o que fez Murtagh estremecer e assustou a garota. Ele se virou e segurou a mão dela, ela se assustou, mas segurou o grito quando notou o meio sorriso e o olhar confortador no olho do outro, sorriu também timidamente.  Ele soltou seu braço, com certo receio, mas ela não fez menção de ir embora e contrariando qualquer regra que poderia existir fechou a porta e seguiu para perto do rapaz sentado na cama, seu olhar era um misto de confusão, alegria e talvez um pouco de medo.

Nenhum dos dois jamais poderia negar o que vinha acontecendo entre eles, desde a chegada de Murtagh mesmo o abismo existente entre os dois não foi o suficiente para separá-los. Nem a falta de palavras conseguiu tornar-se um obstáculo elas eram desnecessárias. Comunicavam-se por olhares e por sorrisos, poucos deles, mas suficientes.

Novamente não se fez necessário o uso de nenhuma palavra, ela sentou-se ao lado dele e tocou seu rosto, todo o seu corpo tremia como se guardasse algo que queria desesperadamente sair, como se soubesse que aquele era o momento que sempre esperou com tanta urgência. Murtagh sentiu seu corpo inteiro pedir por ela e por mais que conseguisse não quis manter o controle. A cada segundo os dois corpos se aproximavam mais, se atraíam como ímãs. Uma parte de Murtagh sabia que fazer aquilo era suicídio, mas nunca se sentiu tão bem em ir de encontro ao fim.

Ele não conseguiu dormir mais aquela noite, contentou-se em passar o tempo observando a linda garota que dormia como um bebê em seus braços, ela era incrivelmente bonita como ele nunca havia visto, naqueles tempos difíceis. E tão delicada ao mesmo tempo em que era forte rápida e astuciosa. Ele queria guardar cada momento daquilo no lugar mais seguro de sua mente, pois temia que talvez ele fosse o último. A garota se mexeu graciosamente e se ajeitou ainda adormecida, em seu braço e ele acariciou o seu rosto com o máximo de cuidado que conseguiu.