8 Cartas para Você escrita por NoOdle


Capítulo 18
Ultimo - Uma carta para você


Notas iniciais do capítulo

Gente... esse é o ultimo caítulo...
nossa, foi tão perfeito escrever com vocês me apoiando, lendo e comentando!! Devo tudo á vocês e à um amigo, Renan, à quem dedico esta história;

"Dedico esta história a uma pessoa que me ensinou que não importa o que fazemos, o que somos e o que escolhemos; nunca estaremos sozinho. Obrigada, Renan!"

Mas agradeço tudo que vocês fizeram, todos que acompanharam e acompanham até agora... Espero que o final seja satisfatório, sei lá, as vezes vai ver eu nao escrevo bem O_O'
hahahahaha

adorei estar com vocês!!!
agora apresento-lhes:
"The last one"
"Uma carta para você" (ou: "Nunca mais" - fiquei em duvida haha)

=Have Fun=
*have the last fun*
NoOdle :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/107857/chapter/18

“Oi pai

Sim, infelizmente o tempo passou. As folhas do chorinho raspam levemente minha perna, estou sozinha finalmente. Ainda continuo em minha imaginação, mas pedi para Marcos (o ‘você mais novo’) me deixar em paz por alguns minutos.

É... Estou segurando as cartas em minha mão. Decidi escrever para você um pouco antes deu começar a lê-las, assim posso ter um mais de coragem.

Ok.... vou abrir todas de uma vez. Folhear um pouco, quem sabe.”

Isabela colocou novamente a caneta preta no meio do caderninho e olhou os envelopes fechados e carimbados em sua mão, indecisa. A única luz vinha de um pequeno lampião ao seu lado, cujo fogo estava a se apagar. Fechou os olhos e, sem ao menos pensar, rasgou a borda de todas as cartas de uma só vez.

Respirou fundo, extremamente fraca e ofegante. Ainda estava com fome, sua barriga roncava loucamente e os braços trêmulos mostravam o desespero da garota em continuar respirando.

Arrumou as folhas em sua mão, nem querendo saber se estavam mesmo em ordem.

Seus olhos correram a primeira, começou a ler de vagar, identificando a própria letra.

“Oi pai

Aqui está tudo bem, você saiu semana passada para a guerra, hoje é sexta feira e já sinto sua falta. Todos aqui estão bem, também, o que poderia acontecer de mais em uma semana?

É que eu achei que você poderia ficar entediado aí quando não está cuidando dos feridos, então decidi que vou escrever todo final de semana para você. Se prepare, as cartas chegarão em grande número, ein?

Mas tomara que não, assim, eu quero que você volte logo... Sim, pouquíssimo tempo que saiu já te quero de volta!

Um beijão, se cuida, viu??

                         Para sempre sua Bela.”

Isabela ofegou, deixando algumas lágrimas escorrerem. Não sabia se estava mais emocionada ao lembrar da partida do pai ou com a tanta fome, que a deixava quase mole.

O vento que veio de fora da árvore fez o lampião vacilar mais uma vez, ela segurou forte, mudando para a próxima. Leu lentamente, pausando em alguns erros de português que percebera que tinha, rindo um pouco com sigo mesma.

“Oi pai

Olha, agora já são duas semanas! Quem você pensa que é para passar duas semanas fora, ein? Hahaha, estou brincando.

A mamãe tá meio preocupada com o que vamos comer. Eu também ficaria, é claro, agora só temos o pouco salário dela... Mas você vai ver!! Vou arrumar um trabalho!

Estou com saudades, muitas, viu? Trate de voltar logo! Ah, e quero ver se começo a fazer piano, mesmo que seja escondido... Mas não conte para a mamãe!

Um beijão, te amo!!

                                  Para sempre sua Isa.”

Mais lágrimas escorreram do olho da menina. Lembrou-se do piano, como sentia falta dele. Lembrou de Júlia e de... Nem se atrevia a pensar no nome ‘dele’, a saudade quase a matava.

A fraqueza a inundou, a escuridão voltava. Passou a mão pela barriga; aquela dor era imensa.

Úlcera. Ela bem que poderia estar com úlcera. O ácido não tinha nada para corroer, estava corroendo a parede do estômago.

O vento passou mais uma vez e, ao invés da vela vacilar dentro do objeto foi o próprio lampião que começou a sumir. O desespero pulsou pelo coração dela, não queria voltar para o mundo real novamente.

“Oi pai

Acho que as coisas vão mais ou menos. Tivemos que vender nossas camas, agora estamos dormindo em colchões, mas não passamos fome. Por que você ainda não voltou?

Precisamos de você... Ah, minha tinta está acabando novamente, portanto serei breve. Fiz um teste para piano ontem, mas não sei se passei, é um concurso difícil. Talvez em um mês vão me dar a resposta...

Ok, te vejo em breve! Se cuide, tá? Um beijão!

                     Para sempre sua Iss.”

As mãos de Isabela tremeram, agora estava de volta à realidade. Era escura, era fria, a noite estava mais gelada do que nunca. A terra úmida em seu chão, a mão suja amassava todas as folhas em seus dedos.

Mas dessa vez o escuro da realidade estava diferente, estava pior. Sentia sua vida sumindo.

“Oi pai

Hoje eu...”

Seus olhos embaçaram, ela se encostou ao tronco da árvore. Não conseguia ler, tudo parecia pior do que imaginava. Seria a morte chegando? Estivera tanto tempo presa em sua imaginação que não percebera que estava morrendo?

“Oi pai”

“Oi pai”

“Oi pai”

Não aguentava mais ver a própria letra, não aguentava pensar à cada carta que o que escrevera fora em vão, que seu pai nunca recebeu nada. As lágrimas rolavam sem seu consentimento, roçando o rosto magro e sujo da menina.

Até que ela parou. O coração bateu mais rápido, os olhos embaçados quase não entendendo o que estava vendo.

Uma letra diferente, uma curta carta, uma esperança no meio do fio da morte. Chegou a folha mais para o rosto, enquanto a outra mão passava pelo próprio braço ossudo.

“Minha querida Isa, Bela, Belinha, Iss, Isabela, minha querida filha.

Recebi suas duas primeiras carinhas! Não pude responder tão rapidamente porque há muitos feridos aqui. Mas fique tranquila, mandei de volta para você dar uma olhada – como sei que gosta de fazer.

Também estou com saudades, querida, e não se preocupe, vou voltar assim que tiver chance. É que todos precisam de mim aqui...

Mande um beijo para a mamãe, o Jonas e a Bárbara! Um especial para você, saiba que sempre terá um super lugar no meu coração. Te amo muito, querida!

Cuide de todos por mim, e boa sorte no piano!

                             Papai”

Os braços escorregaram ao lado de seu corpo, as cartas voaram para fora do chorinho. Só mais uma lágrima escorreu, agora estava totalmente sozinha.

Ele tinha respondido. Ele tinha lido, ele realmente leu duas cartas ao menos.

Todas suas forças diziam para ela levantar e ir correndo para casa, tinha que fazer o que seu pai pedira: cuidar de sua família. Mas a mesma força de querer não era a que podia; estava morrendo.

O vento bateu novamente em seu cabelo enquanto ela parara de respirar. Sorriu um pouco, fechando os olhos, se sentindo extremamente feliz.

Se aquela era a morte estava feliz em tê-la. Se aquele era o fim, era o fim perfeito.

Tentou desgrudar-se mais uma vez da árvore, talvez ficar perto de sua casa para sua mãe encontrar seu corpo, mas nem ao menos força para isso tinha.

Respirou mais uma vez, fechando fortemente os olhos. Tossiu um pouco, meio zonza.

“ISABELA!” Ouviu alguém gritar lá de fora e pôde perceber algumas luzes por debaixo de suas pálpebras. “ISABELA!!!” Continuou a grossa voz, provavelmente procurando-a.

Ela queria poder gritar de volta, gritar em resposta. Queria poder avisar que estava ali, pedir por socorro. Mas não tinha chance, era agora que ia embora para sempre.

Deixou a cabeça cair para o lado, sentindo mais um frio. Ouviu as folhas do chorinho se afastarem, sentiu um vulto grande e musculoso pegando-a. Respirou mais uma vez, os olhos fechados, deixando este homem pega-la no colo.

“Fique calma, querida.” Falou a voz. “Eu estou aqui, não vou te abandonar. Nunca mais.”

Isabela sorriu, conseguindo escorregar o braço pelo pescoço do pai.

“Nunca mais.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

e aí, gostaram?
sim, a carta estava errada, não era o pai dela que tinha morrido :)

valeu a pena?
ou ler tudo foi uma perda de tempo?
o.-

amo vocês!!!!!!!
beijos, até a próxima história...!

Com carinho;
NoOdle :)

.x.x.x.x.x.x.x. Mari Beneti .x.x.x.x.x.x.x.x.