Capítulo 2 - Uma Questão de Perspectiva

O avião se inclinou, mergulhando como um foguete em direção ao mar azul escuro. Demi Lovato fechou os olhos desejando com todas as suas forças que o avião voltasse a subir, mas era uma batalha perdida, a lei da gravidade é invencível.

De olhos fechados, a queda rápida em direção ao oceano parecia acontecer em câmera lenta para a garota. Com a diminuição brusca de altitude e pressão, os gritos apavorados agora podiam ser escutados novamente. Vozes harmoniosas de cantores internacionais estavam distorcidas em gritos agudos e desafinados de desespero. Então veio um estrondo alto, a fuselagem do avião havia finalmente atingido o mar, formando ondas altas ao seu redor.

Demi sentiu seu corpo ser jogado para trás, sua cabeça atingiu o encosto da poltrona com muita força e ela perdeu momentaneamente os sentidos.

Algo muito gelado tocou seus dedos. Ela abriu os olhos, recobrando os sentidos com a sensação. Seu braços e pernas pendiam para frente, ela estava presa somente pelo cinto de segurança. Ainda desorientada percebeu que o gelo que havia tocado seus dedos estendidos vinha da água que invadia rapidamente a cabine. Ouviu um clique ao seu lado, Selena havia soltado o cinto de segurança na ânsia de não se afogar e caiu por cima das poltronas a frente. Não houve tempo para maiores reações, em poucos segundos o avião estava completamente submerso.

A água gelada logo se tornou a menor de suas preocupações. Demi não havia respirado fundo, não havia prendido sua respiração antes de afundar e agora precisava desesperadamente de oxigênio. Tinha que sair dali, arregalou os olhos tentando enxergar alguma coisa através da penumbra do oceano. A água salgada queimou sua vista, mas ela não tinha escolha.

Conseguiu se soltar do cinto de segurança e tentou nadar pra longe dali, no entanto seu corpo se chocou com um objeto que boiava. Ela olhou pra baixo e reconheceu Selena desacordada, a perna dela estava torcida em um ângulo anormal. O reflexo de Demi foi gritar e ela se arrependeu imediatamente, porque uma golfada de água salgada invadiu suas vias áreas, agora tudo ardia violentamente.

Ela agarrou a mão da amiga e começou a nadar, tentando sair da cabine que continuava a afundar lentamente no oceano. E se alguém estivesse precisando de ajuda? Podia sentir outras pessoas se movimentando desorientadas. Olhou para trás, decidida a voltar, mas uma pontada latejou em sua cabeça, estava tonta, precisava respirar ou iria desmaiar a qualquer momento. Bateu as pernas com força e conseguiu sair da cabine.

Nadar para cima, era só isso que tinha que fazer. No entanto, o peso de carregar Selena, a ardência em seus olhos e garganta, a tontura, estava tornando esse ato quase impossível. Não ia conseguir, simplesmente não ia dar.

Nadou mais alguns mestros. Estava tão perto. Já podia ver a claridade do Sol em cima da água, que brilhava despreocupado ignorando a tragédia.

Não ia conseguir.

Era o fim.

-------------------------------

Justin tirou a cabeça da água em um movimento brusco. Inalou com força o ar ao seu redor, inspirando e expirando rapidamente, seu corpo tremia. Havia conseguido prender bastante a respiração antes de afundar, talvez por isso tivesse conseguido se livrar da cabine mais rápido do que a maioria dos passageiros. Ouviu dois barulhos na água e percebeu que eram Chaz e Ryan. Não disse nada, não havia tempo, havia muito a ser feito. Puxou o ar novamente e mergulhou, nadando determinado em direção ao fundo do oceano.

Bastou apenas alguns segundos embaixo da água para que ele visse dois vultos. Selena e Demi, boiando sem rumo e de forma apática. Nadou em direção a elas, mas dois pares de mãos chegaram antes, Chaz e Ryan já estavam puxando Selena, que estava mais perto, para fora da água. Justin alcançou Demi, passou o braço ao redor da cintura dela e começou a nadar para cima. A cabeça dela pendeu para trás e ele pode ver os olhos dela abertos, vidrados e vazios. A pele pálida, como se ela fosse uma estátua de cera.

Justin pensou que ela provavelmente já estava morta, mas a idéia era tão absurda, tão fora de contexto que ele sentiu um impulso enorme de fazer alguma coisa. Parou de nadar, segurou o rosto dela com as mãos e soprou com força todo o ar que restava em seus pulmões para dentro dos lábios imóveis da garota.

Ele afastou o rosto e a encarou, procurando por algum resultado. Se assustou quando de repente os olhos castanhos vazios entraram em foco, se mexendo nervosos e em seguida se fixando no rosto dele, como numa tentativa de reconhecê-lo.

Era tudo que ele precisava, voltou a nadar a segurando pela cintura e logo estavam com as cabeças fora da água.

----------------------------

Quando o avião mergulhou no oceano Miley se sentiu extremamente sortuda apesar da situação. Isso porque o avião havia caído de maneira não uniforme, a parte da direita havia batido primeiro na água e afundado primeiro também. Ela que estava na parte esquerda não só sofreu menos impacto como teve tempo para raciocinar, localizar uma saída e prender a respiração.

Seu plano de fuga teria corrido bem, se não fosse um pequeno detalhe, na verdade um grande detalhe. Uma coluna de ferro super pesada havia se soltado da estrutura do avião e pressionado três dos passageiros: os gêmeos Sprouse e Taylor Swift.

Sean Kingston estava dando uma de herói e agarrou a mão de Miley impedindo que ela saísse do avião, pedindo a ela ajuda para puxar a coluna. Ela tentou, de verdade, mas em poucos segundos a falta de oxigênio estava insuportável. Ela acenou os braços para Sean e depois apontou a própria garganta. Ele deu a ela um olhar de súplica, de cortar o coração, mas não havia nada que Miley pudesse fazer, ela não pretendia morrer ali.

Sean também sentia os efeitos da falta de oxigênio, mas não podia desistir. Olhou para baixo, os olhinhos azuis de Taylor estavam concentrados numa expressão de esforço enquanto ela empurrava a barra de cima para baixo. Dylan estava desacordado desde a turbulência e Cole embora estivesse imóvel e com os braços presos, movia seus olhos rapidamente tentanto buscar alguma solução.

Em um dos fortes puxões que deu Sean sentiu algo bater em seu pé, uma barra de ferro comprida e resistente. Uma idéia lhe ocorreu, ele pegou a barra e a posicionou como uma alavanca na coluna, em poucos segundos a coluna se moveu e eles estavam livres.

Sean ajudou o grupo a sair do avião por um rombo que havia sido formado na lateral durante a queda. Nadaram para cima enquanto puxavam Dylan, não era uma tarefa fácil, mas finalmente todos emergiram na superfície.

------------------------

- Achei! Achei! - gritou Chaz que boiava a uma certa distância dos outros passageiros.

- Traz pra cá! - berrou Justin.

Quando Chaz se aproximou estendeu a Justin o pacote laranja quadrado. Justin havia assistido vídeos suficientes em suas milhares de viagens de avião e sabia que aquilo com certeza era um bote. Ele arrancou o lacre que prendia uma pequena corda e a puxou, fazendo com que o bote inflasse rapidamente.

- Uhul! - gritou Ryan animado.

- Viu? Vai ficar tudo bem - disse Demi para Selena.

As duas estavam em cima de um pedaço dos destroços. Demi estava sentada observando os três meninos na água e Selena estava deitada, não parava de chorar, seu joelho estava virado para o lado e sua perna torcida em um ângulo estranho, definitivamente quebrada.

Justin havia colocado as duas ali onde estavam esperando, depois de uma massagem cardíaca Selena também acordou e cuspiu água para todo lado. Ela era a única ferida de verdade, os outros estavam somente assustados e abalados.

Depois de alguns minutos os cinco estavam no bote, que boiava a derivada enquanto as ondas batiam com força contra ele.

- E agora? O que vamos fazer? - perguntou Demi.

- Tem alguma coisa se mexendo ali! - disse Ryan indicando um ponto próximo no oceano.

- Acho que é o Sean! Tem mais gente ali! Vamos! - exclamou Justin.

Não havia remos, eles usaram as mãos e pedaços de metal que haviam se soltado do avião. Se aproximaram dos outros sobreviventes. Dylan foi o primeiro a ser acomodado no bote redondo e largo. Chaz que havia sido escoteiro tentou reanimá-lo fazendo os procedimentos várias vezes. Taylor, Sean e Cole subiram em seguida, todos ansiosos por alguma reação de Dylan.

- Chaz... ele não, acho melhor parar - disse Ryan já convencido.

Chaz sentiu o pulso dele, nada. Tentou sentir algum sinal de respiração, nada. Olhou para Cole meio nervoso, não havia nada que ele pudesse fazer.

- Ah não! - gritou Cole  - Continue tentando! Continue tentando!

Um silêncio se instalou no bote, Demi sentiu lágrimas se formarem em seus olhos enquanto ela observava Chaz lutar inutilmente sobre o corpo sem vida de Dylan. Por que aquilo estava acontecendo com eles?!

- Eiiii! - gritou uma voz assustando o grupo - Aqui!

- É a Miley! - falou Taylor reconhecendo a voz.

- Cara, eu sinto muito - disse Chaz para Cole, finalmente desistindo.

Cole não respondeu, apenas relaxou o corpo e se jogou contra a borda do bote. Sua boca escancarada numa expressão de pavor, como se alguma parte dele tivesse sido amputada de forma cruel. Justin ajudou Miley a subir no bote, ela tossiu algumas vezes, parecia ter engolido água no processo. Então, tudo aconteceu rápido demais...

Cole levantou e avançou na direção dela. Todos estavam tão fragilizados que não houve tempo para reação. Foi como se o punho fechado de Cole atingisse a lateral do rosto de Miley em câmera lenta. Ela que havia acabado de subir, se desiquilibrou e caiu novamente na água.

- Cole! - repreendeu Justin horrorizado.

Mas o garoto não lhe deu atenção e pulou na água atrás de Miley. A garota ainda estava alisando o rosto, tentando entender o que havia acontecido quando sentiu Cole empurrar sua cabeça para baixo da água. Ela lutava tentando se livrar dele e respirar, mas a ira havia lhe dado uma força indescutível.

- É tudo culpa sua! - berrava Cole entre lágrimas - Você fez ele se levantar! Você  se recusou a ajudar, foi embora salvar sua pele e largou ele para morrer! Você deixou ele morrer!

Chaz, Ryan e Justin pularam na água e conseguiram afastar Cole da garota. Ela nadou até o bote tossindo e Sean a ajudou a subir. Depois os garotos subiram, rodeando Cole, caso ele tivesse outro ataque explosivo.

Miley sentou perto de Sean amedrontada e acuada com o ataque repentino. Quando percebeu a presença de Cole, ela olhou pra Justin como se ele a houvesse traído:

- Você vai deixar ele ficar aqui?! Esse desquiquilibrado tentou me matar! Ele é perigoso!

- Você matou o Dylan! Sua assassina! Vou mandar você pro inferno, que é o seu lugar - gritou Cole tentando avançar na garota enquanto Ryan e Chaz o seguravam.

- PAREM COM ISSO! - berrou Justin irritado - Ninguém tem culpa de nada disso, o avião caiu, não é culpa nossa!

- O que aconteceu com Dylan foi terrível, mas precisamos nos preocupar conosco também, estamos no meio do nada e a Selena está machucada - disse Demi.

- Ótimo! Vocês vão ficar sentados ignorando que o corpo do meu irmão está bem aqui - disse Cole e apontou para Dylan, Miley olhou para o corpo pela primeira vez desde que havia entrado no bote e sentiu como se fosse vomitar.

- Cole, ninguém está ignorando isso, mas pare e pense, afogar a Miley não vai trazer o Dylan de volta - disse Taylor tentando apaziguar a situação. Cole se calou e sentou novamente inconformado, não chorava, parecia incapaz de acreditar.

A noite caiu rapidamente, a lua surgiu no céu e embora fosse difícil de enxergar, uma luz prateata refletia na água e nos passageiros do bote. Estavam a deriva a horas, olhando costantemente para o céu a procura de algum helicoptero, algum tipo de resgate e nada, só havia o céu estrelado.

Justin respirou fundo e olhou ao redor, o mar se estendia infinito em todas as direções. Ele havia visto uma ilha na direção norte mais cedo, mas agora era impossível enxerga-la.

- Estou com tanta sede - disse Taylor.

- É, está pior porque ingerimos água salgada.

- Não podemos ficar aqui até o resgate aparecer. E se eles demorarem? - perguntou Demi.

- Não vão demorar - disse Miley confiante.

- E se demorarem? - insistiu Demi.

- Podemos esperar amanhecer e procurar algum suprimento nos destroços do avião, com certeza havia água e comida - sugeriu Justin.

- Eu acho que os suprimentos ficavam na parte da frente do avião, onde as aeromoças estavam. E aquela cabine se soltou antes de caírmos, não temos idéia de onde ela está, pode estar a quilômetros de distância - concluiu Chaz.

- Eu vi uma ilha mais cedo, na direção norte, podemos tentar chegar lá - sugeriu Justin - Com certeza deve ter uma fonte de água doce. Podemos beber um pouco de água e esperar o resgate lá.

- Ah não! Eu me recuso a bancar a náufraga com vocês - falou Miley.

- Não é uma brincadeira Miley, o resgate pode vir hoje, amanhã, daqui a uma semana ou um mês. Não podemos ficar parados aqui ou morreremos antes que eles tenham uma chance de nos salvar - disse Demi.

Uma onda forte bateu no bote logo em seguida, molhando parcialmente os passageiros, isso pareceu alertá-los do perigo e encerrar o assunto. Os que tinham forças começaram a remar em direção ao norte.

Selena havia parado de chorar, agora olhava para o céu estrelado tentando adormecer e se anestesiar um pouco da dor lancinante que sentia em sua perna. Cole não despregava os olhos do corpo de Dylan, como se esperasse que o irmão fosse despertar a qualquer momento. O restante remava em silêncio, todos perplexos pela sequência trágica de acontecimentos.

Demi começou a reviver o dia em sua cabeça, como estava se sentindo triste no avião, como pensou inicialmente que era apenas uma turbulência boba. As rachaduras na lataria, o silêncio no vácuo, depois os gritos, o mergulho desesperado no oceano, a falta de ar, o esforço para tentar se salvar com Selena e por fim a sensação de que não conseguiria. Ela havia tido certeza de que estava morrendo, cada célula do seu corpo adormecida pela falta de ar e de repente um sopro de vida a acordou.

Uma sensação incrível de renascer, talvez realmente tivesse ressucitado, parecia ser apenas uma questão de perspectiva. Ela se lembrava claramente da primeira coisa que viu, um par de doces olhos cor de mel.

Justin a havia salvado, ela não sabia como, mas ele havia conseguido. Olhou pra frente, onde ele remava a alguns centímetros dela e disse meio baixo para que somente ele a ouvisse:

- Justin... - chamou ela fazendo ele se virar em sua direção - Obrigada, pelo que você fez hoje, por me salvar.

O garoto abriu um sorriso sincero e Demi o achou bonito pela primeira vez. Selena costumava fazer comentários frequentes sobre a aparência dele, mas Demi o achava simplesmente comum. No entanto, agora ela podia perceber, não era gritante, era uma beleza sutil, seus traços combinavam de um jeito perfeito.

- Obrigada por ter sobrevivido - disse ele com a voz grave ainda sorrindo e voltou a remar em silêncio.

----------------------------------

~~ No próximo capítulo: A caixa preta é humana. O que aconteceu com a outra metade do avião. Ryan tem vocação para enfermeiro. Taylor é especialista em cocos. Justin quer tirar o seu da reta. E uma misteriosa sobrevivente dá as caras na Ilha.

~~ Quer ler um trecho exclusivo do próximo capítulo? Basta fazer uma recomendação pra essa fanfic ; )

- Uma recomendação = Todos os trechos exclusivos até o final da fanfic.

- Quem já mandou uma vez, não precisa mandar novamente para receber outro trecho (claro que recomendações são sempre bem vindas^^)

- Trechos enviados por mensagem privada.

DEIXEM REVIEWS^^

e muitas estrelinhaaas!