Era mais um dia de aula em Nova York, e como sempre aconteciam, os alunos iam e vinham pelos corredores, como se fosse uma sincronia, mas com isso, Carla já estava acostumada.  Sempre foi tímida apesar da popularidade, falava com todos como de costume, mas sempre com algum vazio dentro de si, que nunca conseguira explicar.

            Carly sempre vestia roupas escuras, mesmo quando o calor é intenso.  Seus cabelos eram pretos, com algumas mechas roxas nas pontas, e apesar de ser fria, seus olhos azuis brilhavam profundamente, como se chamassem atenção para si. E sua pele era tão clara que parecia papel, como costumava dizer. Morava numa pequena casa ali perto, com sua mãe e seu irmão caçula, e embora não desse bem com sua mãe, a amava intensamente.

            Ela sempre sentava atrás nas aulas, não gostava quando os professores lhe chamavam para algo, isso a incomodava de alguma forma. Seus amigos a acompanhavam e sempre se sentavam próximos, mas enquanto eles conversavam sobre os finais de semanas, ou algo de especial, ou até mesmo besteiras e palhaçadas, ela ficava pensando em como se tornou tão conhecida assim. Talvez pela perspicaz ou então, por sua extrema maturidade em relação a tudo. Ela era assim, e ninguém podia negar.

            Do outro lado da sala, havia um menino. Seu nome é Scott, ele era tipo nerd. Suas roupas eram meio ridículas, como o próprio dizia. Não tinha muita afinidade para escolher suas vestes, ao contrário de Carla ou até mesmo boa vontade. Seus cabelos eram castanhos e bagunçados, seus olhos cor mel eram vibrantes e sua pele amorenada. Apesar de seu físico ser um pouco fora do comum, o garoto tinha uma boa personalidade: era inteligente, ajudava as pessoas e fazia trabalhos beneficentes fora do colégio, além de praticar atividade física.

            Morava com seus pais num pequeno apartamento, não tinha irmãos porque não gostava de dividir as coisas e sua mãe sabia disso. Scott sempre ficava na frente, respondia a todas as perguntas, deixando os colegas com inveja. Odiava o fato de parecer o único no planeta a querer ter uma boa vida, mas às vezes ignorava sem saber o porquê.

            Ele era completamente diferente de Carla.

            Certo dia, a professora de ciências os incentivou a participar da tradicional Feira de Ciências da escola, e Scott foi logo se aprimorando. As escolhas para duplas seriam idealizadas pela mesma, a fim de deixar a turma um pouco mais entrosada aos outros alunos, com capacidades diferentes e opiniões diversas.

            Ela começou a anunciar os pares e uma surpresa inesperada aconteceu.

            -Rafaela e Filipe; Vicky e Ashley; Scott e Carla...

            -O que – berrou Carly – Professora eu exijo que a senhora...

            -Ele é um bom aluno, e você precisa de nota, então eu acho melhor você se conformar – interveio a professora. Embora Carly pensasse em responder, ela não o fez. Com medo. Simplesmente se sentou e prestou atenção nas aulas seguintes.

            No final das aulas, Scott veio falar com Carla. Não gostava de deixar tudo pra depois. Nunca gostou. Embora certas vezes fosse necessário.

            -Eu e você. Depois da aula. Amanhã. Traga tudo que puder sobre o assunto. – e saiu.

            Carly ficou paralisada, pensando em talvez não trazer nada pra deixar esse metido de cara amanhã.

            Mas ela não podia fazer isso. Não mesmo.

            O dia começou apressado, e embora Carla não tivesse esquecido as pesquisas, ou algum outro trabalho, ela estava nervosa. E Scott, bem, nunca ligou pra esse tipo de coisa, sempre fazia tudo certo, esperando agradar o máximo.

            As aulas se passaram, como disse, foi um dia apressado. Já era hora do almoço, hora de se reunirem na biblioteca.

            Carla chegou antes de Scott, que veio bebendo uma refrigerante Coca e sem querer, derramou bruscamente em sua roupa, fazendo Carly soltar uma tremenda gargalhada.

            -Ah, por favor.

            -Você ta muito engraçado. Acredite

            -É, acho que posso ter uma idéia. –ele disse. Carla parou de rir.

            -Por que você sempre tem que ser assim?

            -Assim como?

            -Você tem resposta pra tudo, sempre foi certinho e não se diverte, pelo menos uma vez na vida. Admita isso é engraçado, mas acho que você não enxerga.

            -E você? Sempre foi rebelde, nunca levou nada a sério. Esse trabalho é importante, ok? Devemos começar logo pra acabar logo. Mas você não pensa assim. Nunca pensou.

            -Olha o que eu faço ou deixo de fazer, não é...

            -O que está acontecendo aqui? – a mulher perguntou. Os dois hesitaram. – A biblioteca é um lugar que deve ser respeitado e pra se estudar. Não um lugar pra acontecer briga.

            -Desculpe – disseram em uníssono.

            A mulher saiu.

            -Esse realmente não é um lugar pra você – disse Scott.

            -Como assim?

            -Como disse a moça, é um lugar pra se estudar.

            O rosto de Carla passou do branco ao vermelho.

            -Olha, a gente se vê amanha. – e saiu furiosa.

Embora os dois estivessem estressados, perceberam o quanto isso era importante, e o sentimento de culpa começou a surgir. Queriam ligar um pro outro e pedir desculpas, e também se podiam recomeçar, mas isso não foi possível.

Não hoje.