Platônico escrita por kushina-san


Capítulo 1
O ABC do Amor


Notas iniciais do capítulo

Este é um presente que eu fiz para minha prima Uchiha-sakura. Aishiteru.



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- Muito bem! Ou isso acabou ou fiquei louco! – exclama ele erguendo-se da cadeira.

Há três horas tentávamos terminar aquele trabalho. Meu projeto trimestral de sociologia, finalmente acabou. Depois de meses de puro trabalho, criou-se muito mais que um simples projeto. Dentro de mim, cresceu uma admiração inexplicável pelo garoto do terceiro ano na minha frente.

Observei-o mais uma vez. Seus cabelos negros e ondulados contrastavam com sua pele clara ao mesmo tempo em que combinavam com seus olhos, igualmente escuros. Seus gestos, suas palavras, suas mãos enquanto organizava a idéia, colocando-a no papel, faziam-no parecer ainda mais perfeito. Um ser perfeito. Eu estava apaixonada.

Ele me olhava com um sorriso no rosto.

- Você não está feliz de ter se livrado disso?

Eu ri. Ele sempre me divertia.

- É claro... – abaixei o olhar, não estava a fim de começar a babar ali.

Ele pegou as páginas recém impressas para o que, em minha opinião, foi uma tentativa de grampeá-las. Só uma tentativa, já que aquelas folhas estavam cada vez mais bagunçadas. Antes de o desastre acontecer, eu peguei aquilo de suas mãos.

- Ei!

- Eu mesma faço isso, você é bem desorganizado.

- Então é assim que você agradece quem fez o seu trabalho?

- Correção: ajudou-me a fazer. E eu fico muito grata. De verdade. Não teria conseguido sem você.

Ele sorriu meio encabulado. Aquilo era encantador.

Lembro-me da vez que nos conhecemos, naquela manhã chuvosa de inverno. Uma saída de aula. Eu, com um monte de casacos e livros, muito atrapalhada tentando equilibrar mais um guarda-chuva nas mãos. Acabei por derrubar tudo no chão, empoçado de lama e sujeira. Enfim, uma novata pagando mico. Um prato cheio para qualquer veterano. No meio de risos e deboches, tentando recuperar algo daquilo que um dia fora meu material, já encharcada dos pés à cabeça, uma mão me ajudou.

Olhei para cima e me deparei com um par de olhos meio ansiosos, com certa raiva daquela situação. Não sei explicar muito bem, mas acredito que foi aí que começou.

- Você está bem? – ele parecia realmente sincero com aquilo. Foi a primeira vez que eu me deixei levar pelo seu olhar.

Apenas balancei positivamente a cabeça em resposta. Peguei o último livro de suas mãos, murmurei um obrigado, já que minha voz resolveu falhar e fui para casa. Sem coragem nem ao menos de perguntar seu nome, durante todo o trajeto não pude esquecer aquilo. Hoje eu sei que naquele momento eu havia me apaixonado.

No outro dia soube que depois que eu fui embora houve uma briga entre esse garoto e outro que estava entre o grupo que tirou com a minha cara. Dizem que ele bateu porque falaram um monte de besteira de nós, que incluíam obscenidades e colocava minha decência a prova.

- Não gosto de pessoas que se acham. Apenas me irritei demais – é o que ele me diz hoje sobre esse assunto.

Vi ele por mais uns dias na escola, descobri seu nome e sua classe. Ficava procurando-o durante o recreio e sempre me postava num local onde pudesse admirá-lo secretamente. Sempre que ele se aproximava demais, apesar de não perceber minha presença, meu ar faltava e eu voltava ofegando para a sala de aula.

Não sabia com clareza as coisas que aconteciam comigo, e a única pessoa que sabia de tudo isso, por algum acaso, era minha prima. Mas nesse momento ela estava longe.

“Por que você não puxa pelo menos papo com ele?”, falava ela como se fosse o ser mais entendido do sexo oposto.

Ela até tinha razão, mas e a vergonha? Tinha certeza de que nunca conseguiria mais do que ficar admirando ele até aquele dia.

Uma manhã, dessa vez de sol, eu resolvo mudar meu caminho tradicional até a escola. De repente, eu sinto uma mão em meu ombro, viro imediatamente. Vejo-o sorrindo. Meu queixo deve ter caído.

Ele falou algumas coisas, mas eu não ouvi, estava em transe. Só lembro-me da hora que ele parou, me olhou e retirou os fones dos meus ouvidos.

- Você está bem?

- Você só sabe falar isso? – recordei-me de como respirar para respondê-lo.

Ele se afastou com meu comentário. Aí eu percebi que fui mal educada.

- Me desculpe, eu... – “pensei que estava tendo uma visão”, claro que não falei isso.

- Você... É aquela garota que eu ajudei outro dia.

- Desculpe pelo transtorno que aquilo causou.

- Ele estava merecendo faz tempo.

Sorri. Envergonhada é claro.

- Eu moro aqui – ele me disse puxando papo. Olhei pra trás, a casa dele era como ele. Eu nunca mais faria outro caminho até a escola.

A partir daí nos encontramos todos os dias de manhã para ir à escola. À medida que o tempo passava, fui perdendo a timidez e me tornei sua amiga. Melhor amiga, de acordo com ele.

Por longos oito meses eu ouvi seus desabafos e brincadeiras. Ele não era como os outros garotos de sua idade, parecia mais retraído, mais simples, mas simpático, não se achava na frente dos amigos e muito menos saía só para ver quantas garotas beijava. Contava-me tudo o que lhe acontecia, até aquilo que lhe era constrangedor.

Mas nada foi mais triste do que quando minha prima disse que viria me visitar. Fiquei, como sempre, muito entusiasmada. Quando ela chegou, conversamos muito. Disse a ela que eu tinha que apresentá-la a ele. Naquele mesmo dia fui até sua casa, apresentei os dois e ela me deu uma piscadela. Eu ri internamente.

- Ele é realmente um gatinho – ela me falava depois – você sabe escolher hein?!

Tornamo-nos um trio. Pelo tempo que ela pode ficar, estávamos sempre juntos. Saíamos juntos e ríamos até quando jogávamos algum jogo de cartas.

“Porque você não se declara logo?”, ela me dizia à noite, quando eu ficava lhe contando do meu amor antes de dormir.

Não sei. Eu tinha medo, vergonha, receio de que ele não correspondesse e não quisesse nem mais minha amizade.

“A vida é feita de riscos. Essa é sua hora de arriscar”, ela ponderava. Mas até mesmo ela, que se dizia desiludida com o amor, por já ter sofrido demais com isso, se deixou levar.

Foi numa dessas festas que nós fomos. Aniversário de um amigo dele, eu não conhecia. Quando o olhei, achei-o engraçado, fazia piadas e era até mesmo bonito. Mas tinha certo ar de prepotência que eu não engoli. Obviamente, como descobri depois, minha prima deve ter uma quedinha por homens assim.

Eu me lembro que bebi um pouco a mais naquela noite. Perdi-me da minha prima, sabe-se lá como. Queria lhe dizer que queria contar para ele de meus sentimentos. A avistei tendo um “encontro” com o aniversariante.

Depois de colocar meu queixo pro lugar, resolvi procurar ele e dizer-lhe de uma vez o que tanto queria.

Quando o achei, ele veio ao meu encontro com um sorriso lindo no rosto.

- Tenho uma coisa pra te dizer – falamos juntos, rimos um pouco até encontrarmos um lugar melhor pra conversarmos.

- Fale você primeiro – ele me disse.

- Não, pode ser você – respondi encabulada.

Meu pior erro.

- Bem... – ele olhou ao redor pra ver se ninguém ouvia – eu não queria que ela soubesse...

- Ela quem?

- Sua prima.

Imagine-me com uma incógnita na cabeça.

- O que tem ela?

- É que... Você não pode contar pra ela! Eu não conseguiria mais olhá-la! – ele parecia meio desesperado.

Um arrepio passou pelo meu corpo e eu já não sorria.

- Desembuche.

- Eu... Estou gostando dela.

Foi como se um tsunami tivesse me atingido, tamanha era a pressão dentro de minha cabeça.

- Eu não sei o que fazer – ele dizia. Mal sabia que muito menos eu saberia!

- Desculpe, eu tenho que ir – foi a única coisa que eu pude lhe dizer, antes de sair correndo daquele lugar, daquela festa. Na rua, as lágrimas brotavam sem piedade, sem que eu pudesse controlar.  Voltei pra casa, deitei na cama e aquela noite foi terrível.

Acordei no outro dia com minha prima do meu lado, me dizendo que o café já estava na mesa. Olhar pra ela me fez trazer a tona tudo o que havia acontecido, vertendo mais dor. Mas controlei. Disse que já iria me levantar.

Ela não saiu do meu quarto. Perguntou-me porque não tinha a esperado para voltar para casa, que apenas viu o momento que eu sai correndo da festa.

- Ele foi atrás de você, eu o chamei e ele me viu com o amigo dele. Ele fez uma cara de dar medo e foi embora também. Você se declarou pra ele? O que aconteceu?

- Não me declarei e não aconteceu nada – respondi com almofadas no rosto. Então ele foi atrás de mim e desistiu quando te viu com outro, né? Decidi não começar a pensar coisas ruins dela. Não agora.

- Ele tem o melhor beijo que eu já provei...

- QUEM? – perguntei me levantando abruptamente da cama.

- Ué, o aniversariante. Você não me viu com ele?

Apenas voltei a me deitar. Ressaca de álcool e dor fazia minha cabeça girar.

- Vocês ficaram?

- Se eu disse que o beijo dele é bom, sim.

- Tá. To lerda hoje.

A senti se deitando do meu lado, na cama. Sua voz soou melodiosa e romântica quando voltou a falar.

- Ele disse que vai me ligar, que vai manter contato mesmo eu morando em outra cidade. O que você acha, pode dar certo?

Eu fiquei muda.

- É... Quem sabe. Mas a entendida de assuntos românticos aqui não é você?

Ela bufou e saiu do quarto.

- E não demore muito para se levantar que o café vai esfriar.

Eu ri. Quando fiquei sozinha novamente, o sorriso se desfez. Analisei todas as informações. Estava quase dormindo de novo quando me dei conta. Ele gosta da minha prima que gosta do seu amigo. E ele ainda os viu juntos. Levantei imediatamente da cama e fui à casa dele.

Pouco tempo depois minha prima se foi, declarando para todos que deixaria uma parte de seu coração aqui. Mal sabia ela que dois corações partidos também. Todo dia eu ia vê-lo, conversar com ele e dar-lhe todo apoio. Ele até chorou em meus braços por causa dela. Mas decidiu que não lhe contaria nada.

- Eu não quero estragar a felicidade dela, mesmo que seja com um cara como aquele – ele me dizia enquanto seus olhos me diziam ao contrário. À noite, era minha vez de chorar. Sozinha, para as paredes, com o travesseiro para abafar.

Logo após tudo isso, quando as coisas começaram a se estabilizar e voltar tudo ao normal, eu recebi o trabalho final de sociologia. Ele prontamente me disse que ajudava, alegando que já havia feito quando estava no primeiro ano, como eu.

Em troca eu teria que ir à sua formatura.

- Como se isso fosse difícil – eu lhe disse.

- Mas como minha acompanhante.

Eu me virei pra ele.

- E as garotas de sua turma?

- Um bando de esnobes!

Eu ri. Aceitei, é claro. Mas meu coração machucado já não acelerava com a idéia. Sabia que era só amizade que teria dele.

E aqui estamos nós, na casa dele terminando o meu trabalho. Eu preciso entregá-lo na manhã seguinte.

- Sabe do que eu estou me lembrando agora? – me perguntou com um olhar nostálgico, provavelmente como o meu.

- Não? – sim, foi uma resposta cínica.

- Você não chegou a me dizer o que queria naquele dia da festa.

Gelei. Mas logo relaxei para que ele não percebesse.

- Não era importante.

- E se eu tentar adivinhar?

Ri.

- Não adivinha nem se quisesse.

- Hum... – murmura ele pensando – e se fosse “eu te amo”?

Eu, que estava arrumando minhas coisas, estaquei. Apenas o olhei. Devia ter de tudo naquele olhar. Dúvida, medo, surpresa e até mesmo uma interrogação.

- Sua prima. Não me agüentei e contei tudo para ela.

Larguei involuntariamente o que eu tinha na mão.

- Ela me contou tudo. O grande mal entendido. Disse que tinha que ligar pra você, perguntar se estava bem, que provavelmente você estava sofrendo.

Ficamos em silêncio. Nenhum dos dois se atreveu a levantar o olhar.

- E eu aqui, te contando minhas mágoas... Pensando que era o único que sofria.

Fiz meu corpo voltar à vida. Em silêncio, terminei de arrumar meu material. Coloquei a mochila nas costas. Sai. Não tinha nada a ser dito.

Cheguei ao portão o mais rápido que pude, fui abrir a porta e senti um braço me puxar. O impacto fez minhas coisas caírem, como da primeira vez que nos vimos.

- Por que foge? – sua voz estava suave, pude até mesmo sentir seu hálito de tão perto que ficamos.

- Porque eu não sei o que fazer.

- Me diga aquilo que queria me dizer naquela noite.

Abri a boca e nada saiu. Por fim, eu não teria coragem. Que grande idiota!

Ele soltou meu braço, colocando os dele ao redor dos meus, olhava para baixo.

- Eu quero que seja minha acompanhante de verdade. No baile.

- Eu te amo – fiz minha voz voltar.

Ele me olhou, sorriu por um segundo e colou seus lábios nos meus.

Meu primeiro beijo. Apenas fechei os olhos e deixei-me sentir tudo aquilo que suprimia há tanto tempo.

Músicas passaram na minha cabeça, até a idéia dele me amar. Então eu retribuí seus beijos.

Meu celular tocou. Sinal de mensagem.

“Ele veio aqui só pra pedir permissão para os meus pais para me namorar. O “quem sabe” deu certo. Te amo, sua prima.

Obs: tomara que ele já tenha se declarado.”

Mas nada no mundo me faria soltá-lo para ver quem mandara.

Everybody's hurt somebody before Todo mundo já machucou alguém Everybody's been wound by somebody before Todo mundo já foi machucado por alguém You can change, but you'll always come back for more Você pode melhorar, mas sempre vai voltar para mais It's a game and we're all just victims of love É um jogo e todos estamos voltados a sermos vítimas do amor Don't try to fight it Não tente lutar You can't decide it Você não pode decidir

(Victims of Love – Good Charlotte)


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Notas finais do capítulo

Essa história nasceu de um sonho baseado em um triângulo amoroso real. Tomara que eu tenha conseguido passar para a escrita certos sentimentos que eu vi e senti de perto.

Ah! Obrigado M. pela sua ajuda na realização dessa fic.

Mereço reviews?
Kisses, ja ne. Kushina-san.



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