Abra sua boca.

Ora, vamos! Abra logo!

Você não vai precisar da língua mesmo. Não poderá mais usá-la depois de morto.

Não ligue para o sangue que espirra. Ignore-o.

Ele já tem atenção demais por minha parte. Escoro-o com as mãos, e o vermelho escorre entre os dedos. Meus olhos enchem-se de lágrimas.

É a última vez. A última vez em que matarei alguém aqui. Tem que ser tudo perfeito.

E a faca entra fundo em seu ombro, para sair rapidamente, fazendo o sangue espirrar e manchar minhas roupas. O rubro em minha pele, o rubro em minha camisa. O rubro em minha alma.

Talvez toda a raiva que eu sinta tenha sido descarregada nesse tempo em que aqui me mantive. Talvez não. E eu tenho que fazê-lo antes de ir!

Desesperada, desço minha faca sobre seu peito, fazendo rasgos longos e profundos.

Apenas depois de um tempo percebo que você já morreu. Babava sangue, e os sons que emitia passaram despercebidos aos meus ouvidos.

Suspirei, fitando-o o corpo que acabara de matar e os outros que estavam à volta.

Lentamente, levantei-me. As lágrimas, por fim, escorreram.

Eu estava indo embora. Eu, a maior assassina da história bruxa – o aborto que só conheciam pelos assassinatos.

Caminhando, olhei pra trás uma última vez. Despedi-me.

Despedi-me dos mortos. Despedi-me do sangue. Despedi-me de meus ideais naquele lugar.

Oh não, eu não iria deixar de ser o que era! O sangue continuaria sendo meu maior vício. Mas não lá, no local que tantas vezes chamei de lar.

Finalmente, fui embora. Dei as costas à minha última chacina.