Zhou Mi inclinou-se, mãos apoiadas sobre a porta à sua frente, aquela tábua de madeira tão solene que constituía o único obstáculo entre cumprir o que prometera a si mesmo e superar o medo que o estava paralisando naquele momento ou recuar e continuar a carregar aquele fardo que lhe pesava toneladas; entretanto, se ele era capaz de enumerar mais de uma alternativa, não significa minimamente que ele podia contar com uma opção além daquela pela qual ele estava parado, ofegante, à porta do quarto de Kyuhyun.

Zhou Mi riu de si mesmo, considerando o quão ridícula toda a situação era, ele tampouco deveria ter qualquer receio, fosse ruim, fosse boa, ele não estaria por perto para ver qual seria a reação do maknae, ele apenas jogaria a carta no colo de seu dongsaeng, e correria léguas, correria até que não lhe restassem mais forças.

As poucas linhas continham uma verdade que por tantos meses ele tentara manter fora do alcance de qualquer um e então não era como se ele pudesse evitar, mas seu segredo o havia tragado, dominado como o faz um mau, impiedoso senhor a seu servo. Zhou Mi, de repente, viu-se subjugado por Kyuhyun, e não foi preciso que o mais novo lhe encostasse um dedo. Zhou Mi fora nocauteado, e era tão deprimente, nem ao menos um beijo daqueles lábios fora experimentado, ou um contato mais íntimo do que os que eles já estavam acostumados a ter, não houvera nada de concreto.

Todavia, o seu sentimento tornara-se, sim, palpável – real a esse ponto. Plenamente real.

Zhou Mi puxava o ar para seus pulmões e esse o preenchia, e não era loucura, era loucura...? Ele se sentia invadido, pois o oxigênio que circulava em seu interior era nada além que o mesmo oxigênio que alimentava seu Kui Xian e não porque fosse realmente o mesmo, como se ele fosse compartilhado ou bobagem do tipo, e sim porque era a mesma coisa. Se não houvesse mais nada, pelo menos isso eles tinham em comum: ambos precisavam de oxigênio. E era estúpido esmiuçar cada semelhança entre eles, mas isso era o que Zhou Mi não cansava de fazer.

E além do que tinham em comum, Zhou Mi, por exemplo, quando tocava no console de Kyuhyun e ele... Oh Deus~! Ele não devia se comportar como uma pré-adolescente obsessiva e histérica, mas aquele singelo toque lhe dava a impressão – era tão patético – de que ali havia células mortas, algo que pertencia a Kyuhyun, não importava o que fosse, e passar os dedos naquela superfície era como absorver um pouco dele, tê-lo para si por um instante fugaz, porém embriagante.

Pois suas sensações eram intensas, aquela paixão havia se mostrado tão concreta que não havia espaço para dúvidas ou questionamentos, e fora assim desde que Zhou Mi tomara consciência dela. Guardar tudo isso para si mesmo, era um ato insano, quase suicida. E Zhou Mi chegara a seu limite.

Rodou a maçaneta, empurrando a porta suavemente. Kyuhyun estava lá, como esperado, notebook sobre as pernas dobradas uma sobre a outra e completamente imerso em seu jogo. Zhou Mi subitamente viu sua parca coragem se esvair. Num gesto nervoso, ele atirou o envelope já um tanto amassado sobre o colo de Kyuhyun e saiu aos tropeços, sem dizer palavra.

X

Kyuhyun segurou o envelope, deslacrando-o, cheio de interesse. Lá dentro, havia uma folha com poucas linhas rabiscadas, a maior parte do papel estava em branco. Sua curiosidade o impeliu a devorar o bilhete em questão de segundos.

E ele sorriu após ler. O que estava escrito ali soava como música a seus ouvidos. Melhor, como a voz melodiosa de Zhou Mi quando este lhe falava ou sussurrava ou cantava ou emitia qualquer som.

Zhou Mi...

Nada era mais apaixonante.