Hiro estava sentado no chão da sala, rodeado por jornais, todos abertos nas páginas de classificados, alguns com círculos vermelhos desenhados. 

— O que o Hiro-kun tá fazendo? – Yui inclinou-se levemente na direção de Hiro.

— Procurando um apartamento... – ele respondeu sem levantar os olhos do jornal que tinha em mãos.

— Kakoii! – os olhinhos de Yui brilharam – posso ajudar?

—Claro! – Hiro sentou-se um pouco mais pro lado, dando espaço para ela. Yui sentou-se bem ao lado dele, deixando-o um pouco constrangido.

Os dois passaram boa parte da tarde olhando os classificados. Os apartamentos que estavam dentro do orçamento de Hiro foram assinalados e até alguns que não estavam, como uma mansão de três andares, com oito quartos, uma piscina olímpica e garagem para dez carros que Yui circulou, porque achou grande e bonita. Hiro não gostou muito por que lembrava muito a sua antiga casa, e também por que o salário que ganhava na sorveteria não pagava nem mesmo a manutenção da piscina.

— Hmm... Hiro-kun... pra quem são esses apartamentos? – Yui perguntou, virando a cabeça para o lado com um dedo no queixo.

“Que...fofa...!”

—B-bem...são para mim... eu... – Hiro respondeu, corado.

—Não sabia que íamos nos mudar – disse Yui pensativa e confusa.

— Não vamos... anh... eu vou ir...sozinho...

Lágrimas se formaram no canto dos olhos de Yui rapidamente. Hiro sentiu seu coração apertar ao perceber que tinha feito Yui chorar. Queria abraçar-lhe... mas ela foi mais rápida.

—Você não pode ir embora – soluçou Yui, encharcando a camiseta de Hiro. Ele estava envergonhado, mas mesmo assim envolveu Yui em seus braços, trazendo ela para mais perto de si – Hiro-kun faz parte da minha família...famílias não se separam.

Yui levantou a cabeça, fitando Hiro com os olhos úmidos brilhando. Ele levou sua mão ao rosto dela, secando suavemente suas lágrimas.

—Eu não vou embora! Eu venho aqui todos os dias se você quiser... eu vou ficar naquele apartamento que fica mas perto daqui e nós vamos nos ver sempre. Eu prometo!

—Promete? – indagou com a voz abafada, fazendo beicinho.

—Sim, eu prometo!

Yui se aconchegou mais no colo de Hiro, e poucos segundos depois ela já estava dormindo. Hiro apenas a observava, enquanto acariciava seus cabelos. Logo ele também pegou no sono, aquecido por Yui, e embalado por sua respiração ritmada.

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—Já está pronta, Onee-chan? – Ui gritou do andar de baixo.

—Haaai – Yui gritou em resposta. Pouco tempo depois ela descia as escadas, com cuidado para não levar bronca, trazendo consigo uma grande mala cor-de-rosa bebê.

Ela iria a um acampamento de música com suas colegas de clube na última semana de férias. Estava animada, mas triste, por que quando voltasse, Hiro-kun já não estaria mais morando com ela. Como ela só conseguia sentir uma coisa de cada vez, o que predominava era a expectativa da viagem.

Despediu-se da irmã, e saltou nos braços de Hiro, abraçando-o com entusiasmo.

—Vou sentir saudades! – ela falou, próximo ao ouvido de Hiro, fazendo-o arrepiar sem querer.

—Eu também vou sentir muito a sua falta, Hirasawa-san...

Yui se afastou, ainda segurando Hiro pelos ombros. Ele fez uma expressão que acreditava ser furiosa, mas era apenas um daqueles beicinhos fofos que faziam Hiro se derreter por dentro.

— Você me chamou do que? Ah! Hiro-kun, eu sou sua amiga não sou? Você tem que me chamar de Yui! Y-U-I. Vê? Não é difícil.

—T-tudo bem... Yui-chan – Hiro disse, olhando para baixo, tentando esconder o rosto vermelho. Yui também corou ao ouvir seu nome sendo dito por ele. Envolveu seus braços ao redor de Hiro novamente, sorrindo. Nunca pensou que fosse ficar tão feliz por uma coisa boba como essa. Seu coração até estava um pouco acelerado!

Depois de ouvir as recomendações de “tome banho direitinho”, e “não dê bola para estranhos” de Ui, Yui seguiu feliz rumo a estação de trem para encontrar suas amigas e a professora. Hiro queria acompanha-la, mas tinha que trabalhar, e a sorveteria ficava na direção contrária.

Hiro seguiu desanimado para o trabalho. Já não tinha mais motivo para ficar empolgado em trabalhar, já que Yui não apareceria para tomar o seu sorvete de sempre.

Os dias passaram lenta e tediosamente para Hiro. Ele já estava no seu apartamento novo, e terminava de arrumar as ultimas coisas. Ele não tinha muitos objetos pessoais, tudo o que tinha levado foram as roupas do Sr. Hirasawa que Ui havia oferecido, alguns utensílios domésticos e de higiene, e um ursinho de pelúcia que Yui havia lhe dado, dizendo que era para ele não se sentir solitário. O apartamento já era mobiliado, apenas com o necessário. Um banheiro pequeno, com uma banheira, a cozinha, com um balcão, um fogão e a geladeira, um kotatsu na sala e uma pequena TV. O quarto era vazio, e Hiro dormia no futon, que guardava logo ao acordar. Apenas o necessário. Hiro gostava disso.

Mal podia esperar por Yui, para ela vir visitá-lo na nova casa. Ela estava fazendo muita, muita falta. Muito mais do que ele podia imaginar, ou suportar. Nada mais tinha a mesma graça sem ela por perto... o trabalho, o jantar com Ui, a caminhada na pracinha... Talvez ele estivesse exagerando, afinal ela voltaria em poucos dias, mas ele havia se acostumado com a constante presença da garota em sua vida...

Sentia saudades de vê-la pela manhã, desejando um bom dia, com o rosto sujo de arroz... e de vê-la na sorveteria, desejando um bom trabalho, com o rosto sujo de sorvete... e durante a noite, desejando bons sonhos, com o rosto sujo de pasta de dente, sempre com aquele brilhante sorriso...

Balançou a cabeça com força. “Acho que acabei me viciando...” repreendeu-se em pensamento. Deitou no futon, ainda sentindo aquele vazio preenchendo seu coração.

Adormeceu sorrindo, lembrando de Yui, e imaginando que tinha ela perto de si, ao alcance das mãos em um lugar onde ele podia vigiá-la e protegê-la.

— Yui...chan...