Pele Branca, Rosa Vermelha escrita por aki_kun


Capítulo 1
Pele branca, rosa vermelha




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Éramos um belo casal.

Você, sempre usando roupas cheias de babados...

Seus maravilhosos vestidos, que encantavam a natureza.

A brisa girava ao seu redor, levando as pétalas,

que rodiavam seu rosto, tocavam sua pele,

pele branca,

e pareciam entrar em harmonia com seus olhos,

que maravilhosos olhos,

aqueles olhos azuis, da cor do mais bonito céu.

Eu não merecia você,

gostava de me vestir de forma pesada,

talvez eu fosse um atentado aos olhos alheios.

Minhas roupas pretas e rasgadas por todos os lados,

meu olhar deprimido, enfeitado com uma pesada sombra,

minha cabeça cabisbaixa.

Foi assim que você me encontrou, cabisbaixo,

mas você disse que eu ficaria mais bonito feliz.

Eu estava sentado no banco da praça, sem rumo,

e você parou em minha frente, segurando meu rosto com as duas mãos.

O ergueu lentamente, até que eu fitasse seus olhos,

me perdendo neles nesse momento. Me desesperei.

Você, ao contrário, apenas sorriu, com seus lábios vermelhos,

eu não entendi a princípio aquilo tudo.

Você selou minha testa com um beijo estalado,

eu fechei os olhos nesse momento.

Eu, a princípio estava meio assustado com sua presença.

Você ficou conversando comigo a tarde toda.

Ao fim do dia, eu ria, como nunca.

Não acreditaria se não tivesse passado aquela tarde contigo.

Você ria ao meu ritmo, com uma harmonia intensa.

Eu me perdia nos traços de seu rosto o tempo todo.

A noite finalmente chegou, e eu precisei me despedir de você.

Dei um beijo na sua mão, um pouco gelada,

era como se eu beijasse a neve de tão branca.

Você mais uma vez acariciou meu rosto, e saiu correndo pra casa.

No outro dia, nos encontramos no mesmo lugar.

Brincamos pelo parque, eu corria atrás de você, sorrindo o tempo todo.

A chuva nos agraciou naquela tarde,

e mesmo assim, corremos para lá e para cá, junto de algumas crianças.

A chuva era um pouco forte, mas não era o suficiente para nos parar.

Continuamos durante muito tempo nos divertindo ao ar livre.

Meus olhos castanhos, bem abertos,

eram bem bonitos quando não estavam borrados, foi o que você disse.

A chuva se intensificou.

Você roubou meu casaco, saiu correndo pela calçada.

Eu corri atrás de você, sorrindo,

mas arregalei meus olhos segundos depois, desesperado.

Tentei gritar, não consegui.

Você olhava para trás e sorria, e quando me viu gritar, já era tarde.

Eu a vi ser atingida pelo carro que perdeu o controle.

O motorista, assustado, tirou o carro do lugar e fugiu.

Eu corri mais uma vez, assustado,

e me abaixei quando cheguei perto.

Envolvi seus ombros com um dos braços, e passei a outra mão por sua cabeça.

Percebi ela ser pintada em um tom vermelho.

Meus olhos lacrimejaram como nunca. Antigamente eu chorava, sem motivos,

e agora eu choro por seu sangue que tingia seus cabelos loiros.

Eu a abracei cuidadosamente contra meu corpo, gritando por socorro.

Algumas pessoas olhavam em volta, curiosas, assustadas.

Uma delas, ao telefone, chamava a ambulância.

Todos estavam tristes, é verdade.

Eu acariciei seu rosto, sujando inevitavelmente o mesmo com o vermelho verdadeiro.

Seu rosto era como uma tela a ser pintada, completamente em branco,

era como se seus traços se perdessem,

eu precisava traçá-los novamente, mas não sabia como.

Você aos poucos foi abrindo os olhos, ao sentir minhas mãos quentes no seu rosto,

e então fez um breve esforço, segurando uma das mãos.

Entrelaçei meus dedos com os seus, as lágrimas não paravam, por mais que você pedisse.

Você apenas sorria. Não conseguia chorar. De alguma forma, seus traços foram redesenhados.

Eu realmente tentei sorrir pra você, mas foi só porque você pediu,

e disse que ficaria tudo bem. Você sussurrou "Eu te amo".

Eu nunca havia ouvido essa frase antes, e novamente as lágrimas rolaram,

quando seus olhos aos poucos foram se fechando.

A ambulância chegou.

Eles a tiraram dos meus braços, dizendo que precisavam cuidar de você.

Eu resisti um pouco, mesmo sabendo que era necessário,

mas entreguei-a para eles, limpando o rosto com as mãos.

A chuva havia cessado.

Sem rumo, sentei no banco da praça que nos encontramos, segurando o celular, apreensivo.

"Me ligue logo, Me ligue logo!!" Eu gritava para mim mesmo.

Em vão.

Eu a visitei no hospital, seu rosto era branco como a neve.

Mas era um branco sem vida. Diferente do que eu sempre via em seu rosto.

Eu mordi meu lábio inferior, não queria chorar,

não queria enfraquecer na sua frente.

Não teve jeito.

Dois dias depois, seu velório estava acontecendo.

Eu era desconhecido entre todos os parentes que choravam.

Minha cabeça, cabisbaixa, não pôde olhar nenhum deles.

Cheguei perto de você.

Um fino véu cobria seu corpo.

Suas mãos estavam juntas em frente ao seu corpo,

você era uma maravilhosa obra de arte.

Eu depositei uma rosa vermelha entre suas mãos,

e rezei para que deixassem a rosa com você, o tempo todo.

O tempo todo.

Eu deixei o local, olhando para a frente.

Caminhei lentamente até o fim do mirante.

Pude voar.

A brisa me carregou, me carregou até o meu amor.

Me espere, eu estou chegando.


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