Eu prestava atenção a cada rosto, todos pareciam estar fazendo o mesmo. Na minha direita estava Onew, ele mastigava sem nenhuma emoção. Seguindo, à direita do Onew estava Taemin com os cotovelos sobre a bancada e o rosto espremido entre mãos, também não dava para saber o que ele estava sentindo; Anna estava com seu olhar de predadora, mas parecia que também não notara nada de suspeito; Key – que estava bem a minha frente, a direita de Anna – tapava a boca com as mãos fechadas em punho, seus olhos sorriam. Minho se mantinha relaxado sobre a cadeira, as mãos apoiadas na bancada e covinhas que acusavam explicitamente que ele escondia um riso; Sunie balançava os ombros rindo de boca fechada enquanto mastigava e Jong olhava para cada rosto com extrema atenção. Teve uma hora que ele segurou o meu queixo fazendo com que eu olhasse para ele já que eu só olhava para o Onew na esperança de que ele demonstrasse alguma emoção.

Meus olhos começaram a lacrimejar e tapei a boca com a mão. Eu vi o Key engolindo seu cupcake e soltando mais uma de suas risadas escandalosas.

– Quem? – perguntou Taemin.

Todos alternavam seus olhares entre mim e Key.

Eu comecei a gargalhar. Ninguém estava entendendo nada.

Key abaixou a cabeça e levantou a mão.

– Não – disse entre gargalhadas.

Todos começaram a rir junto com a gente. Não sabia se eles tinham entendido, ou se estava rindo das nossas risadas ridículas. Porque, cá entre nós, Key tem uma risada contagiante e, não quero me gabar, eu também.

– Quem inventou essa brincadeira? – indagou Key com um olhar acusatório entre mim, Sunie e Anna.

Anna apontou para mim. Sunie se dobrou de rir.

– Te amo, Ann – falei por ela ter me acusado tão indiscretamente.

Elas riram.

– Então é você mesmo – disse Key me chamando com o dedinho – Você inventou a brincadeira então você vai sofrer as conseqüências... Caramba! Eu mastiguei cravo! Você tem idéia do quanto isso é horrível!

– Você engoliu – ouvi Jong dizer.

– Eu engoli. Tentei disfarçar... – murmurou Key rindo – Acho que eu preciso de água com açúcar.

– Por que água com açúcar? – perguntei.

– Porque minha boca está ardendo e está amarga – Key abriu a porta da geladeira – Você não curti isso, né? – Ele se virou para mim.

Um silêncio pairou na cozinha por um longo segundo. Ainda bem que eu tenho a benção da pele morena. Se eu fosse amarelada que nem a Sunie ou branca que nem a Anna eu estaria com as bochechas totalmente vermelhas.

– O que foi isso? – Anna falou baixinho.

Todo mundo riu quebrando o silêncio e Key voltou a procurar uma garrafa d’água na geladeira. E eu estava mordendo o interior da minha bochecha. Caramba, caramba, CARAMBA!

Certo. O Key vem me mandando indiretas a semana toda. Mas hoje ele estava demais. Confesso que eu não sou a única a sofrer esses assédios verbais. Quer dizer, ontem mesmo a Anna foi vítima do Taemin. Como assim do Taemin? Sério, eu fiquei chocada com a cena. Anna é três anos mais velha que o Tae, e ela não suporta infantilidade, mas no caso do Taemin ela o achava...

– Fofo – disse Anna suspirando; faz quatro dias que ela vem dizendo isso antes de dormir.

Quer dizer, isso é bom! Nunca vi a Anna tão... alegre. Ela é sempre a responsável, a comprometida, e agora ela é a menina apaixonada. Apaixonada mesmo. Em todos os seis anos de amizade eu nunca vi a Anna suspirar por um garoto, tipo, o galã da escola, mas agora ela estava suspirando por um coreano! Três anos mais novo que ela! Bizarro.

E a Sunie, bom, ela suspira por qualquer cara que tenha o dom da beleza, mas eu a vi empalidecer – pálida que nem uma vela! – porque o Minho segurou a mão dela. Garanto que se ela tivesse passado pela mesma situação que eu hoje de manhã – no caso ela e o Minho – ela teria desmaiado.

– Então você gosta de brincar?

Eu olhei para o rosto do Key me questionando aonde ele queria chegar. A gente estava em completo silêncio até agora. Eu estava concentrada em enxugar os talheres e ele concentrado em ensaboar e enxaguar. Claro, eu não ia colocar as mãos no detergente de novo. Não sou do tipo nojenta e metida que nem as outras típicas garotas de Nova York, mas eu gosto de me cuidar – digo o mesmo pela Anna e Sunie –, e minhas unhas estavam corroídas e miúdas.

– Vamos brincar – Key largou a esponja dentro da pia.

– De quê? – perguntei sem muita empolgação. Eu realmente estava com medo do que ele ia falar.

– Pique-fruta – disse ele procurando não sei o que na cesta de frutas; provavelmente uma fruta, tá.

– Você não está dizendo isso literalmente, está? – Eu balançava o pano de prato distraidamente.

– Mais ou menos – Ele pegou um limão.

– Você tá de brincadeira, né?

Ele sorriu e pegou uma faca logo cortando o limão ao meio.

– A culpa não é minha se você tem má sorte – continuei falando, ele continuava com aquele sorrisinho cruel nos lábios sem me responder.

– Keeeey – resmunguei.

– Laranja – disse ele.

Eu bufei.

– Laranja e limão... – respondi sem pensar muito, voltando a enxugar a louça.

Key acomodou as duas bandas do limão em cima da bancada e voltou a lavar a louça.

– Laranja, limão e abacate – disse ele.

– Laranja, limão, abacate e... maçã.

– Laranja, limão, abacate, maçã e melancia – ele falava rápido.

– Laranja, limão... abacate, maçã, melancia e...

Droga! Uma Fruta! Porque toda vez que eu olhava para o Key tudo sumia da minha mente?

– E...

Qualquer fruta, caramba! Nossa! Como isso é ridículo! Eu não conseguia pensar, só conseguia ficar olhando para seu rosto de perfil enquanto ele lavava a louça. Tentava gravar cada traço de seu rosto, cada traço perfeito...

– Cinco... – ele começou a contar regressivamente – Quatro...

–... amora! – exclamei.

Ele soltou uma risada enquanto enxaguava o copo.

– Laranja, limão, maçã, melancia, amora e...

– Errou! – gritei jogando o pano de prato pro ar. – Você esqueceu o abacate, háhá.

Ele fez uma careta de revoltado.

– Hoje não é meu dia – resmungou ele com um sorriso de revolta no canto dos lábios.

Eu peguei uma banda do limão em cima da bancada.

– Abre a boca.

Ele mordeu os lábios antes de abrir a boca.

– Abre mais! E joga a cabeça pra trás em noventa graus.

Ele estava lacrimejando de tanto rir, então jogou a cabeça para trás e abriu a boca. E eu sem piedade espremi o limão na boca dele.

– Aaah – fez ele ainda com a boca aberta.

– Agüenta! Você que inventou a brincadeira então você que vai sofrer as conseqüências! – disse no mesmo tom que ele usou comigo há alguns minutos atrás.

Eu espremi apenas três gotas.

– Argh! – Key fez uma careta enquanto sentia o gosto do limão.

– Desta vez a culpa foi sua.

– Nunca mais brinco com você – disse com a voz embargada. O limão ainda fazia efeito. – Aaargh! Isso é horrível!

Eu não me agüentava mais em pé de tanto que eu ria. Mas ainda assim eu fui até a geladeira e peguei um copo d’água para ele.

– Passou? – perguntei quando ele já havia bebido a água toda do copo.

Ele assentiu mais calmo, os cantinhos de sua boca ainda estavam repuxados, não sabia se ele estava sorrindo ou se o limão ainda estava fazendo efeito. Sabe que até chupando limão ele ainda fica bonito?

Key voltou à louça.

– Laranja – comecei pegando o pano de prato de volta.

– Eu não vou mais brincar!

– Limão...

– To com trauma de limão.

Eu ri.

– ...abacate.

– Abacate é uma fruta maldita.

Eu soltei uma gargalhada, mas continuei:

– Maçã, melancia, amora e morango.

– Você gosta de morangos? – perguntou Key fechando a bica.

Finalmente a louça já havia acabado, mas eu ainda tinha alguns pratos para enxugar.

– Não muda de assunto – Bati com o pano de prato no braço dele.

Ele riu e se voltou para mim escorando-se na pia. Ele estava à pouquíssimos centímetros de mim, nossos braços quase se tocando enquanto eu enxugava os pratos.

– Ok. Laranja, limão, abacate... – Seus olhos encontraram os meus enquanto ele pensava na fruta seguinte. Desta vez eu não tive medo de sustentar seu olhar, não tive medo do que podia acontecer, ou... do que estava acontecendo.

Eu nunca me senti tão entorpecida. Nunca me senti tão fora de órbita. Nunca me senti tão dominada apenas por um olhar. Nunca me senti tão fraca. E também, nunca senti um beijo como o qual eu estava sentindo agora.

Diferente de seu ego e de toda a sua ironia seus lábios eram gentis. E isso realmente me surpreendeu.

Key levou sua mão a minha nuca e eu agarrei a sua cintura amassando sua camisa em minhas mãos. Porque eu sinceramente estava com medo de cair, ou de sair voando já que eu não sentia o chão sob meus pés.

– Gosta de limonada? – sussurrou ele em meus lábios.

Eu sorri.

– Adoro – sussurrei de volta.

E voltei a beijá-lo.