Porto Solidão escrita por Robson Moura


Capítulo 2
Da história, do encontro, do beijo.




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Autor: Robin Severus;

Título: Porto Solidão;

Capa: Capa Harry: ( http: / / ./4106/5090894199_a57ebb6f57_z .jpg ) | Capa Draco: ( http: / / ./4113/5091493788_e987171cb6_z .jpg )

Ship: Draco Malfoy & Hermione Granger ;

Gênero: UA ( UNIVERSO ALTERNATIVO) ;

Classificação: M

Disclaimer: alguns personagens, lugares e citações pertencem a J.K Rowling, Scholastic Books, Bloomsbury Publishing, Editora Rocco ou Warner Bros. Entertainment. Essa fic não possui fins lucrativos.

I


A porta da varanda foi aberta e ele saiu. Era um rapaz alto e magro, tinha cabelos louros, quase brancos, e um rosto fino. Vestia roupas cinza escuras iguais aos seus olhos e trazia embaixo do braço um velho diário com capa de couro e fivela de prata. Sentou-se em uma das cadeiras e observou uma pequena marcha de pessoas que trajavam preto e carregavam pequenos sírios. À frente do grupo, dois homens pálidos carregavam um pequeno caixão branco. Entre os choros e murmúrios, podiam-se ouvir as palavras do velho padre.

Ele observou o pequeno grupo entrar no cemitério, acompanhou durante minutos todo o enterro. Somente quando duas pessoas continuaram ali, paradas diante da pequena lápide coberta de sírios e arranjos de tulipas brancas, decidiu levantar-se e ir até eles. Desceu as escadas e atravessou o velho portão branco, depois de alguns passos ele já estava prostrado diante daquela lápide. A fotografia em preto e branco presa à pedra era de uma menininha de cabelos cacheados e sorriso tímido

– Era filha dos Hackman. – disse um homem magro e franzino. – É o terceiro filho que eles perdem.

– O que aconteceu? – perguntou o rapaz.

– Morreu afogada. Brincava perto da praia, a babá se distraiu e então...

O homem soltou um longo suspiro. A mulher que estava ao seu lado, com os olhos inchados e vermelhos, assuou o nariz em um lenço bege e arrumou os cabelos que escorregavam para seu rosto.

– A culpa é do mar. Ele leva nossos filhos, maridos e esposas. – disse a mulher. – E você sabe disso. – terminou, fitando o homem.

O loiro voltou-se para a lápide e examinou a foto. Conhecia a criança, já a vira uma vez com seus pais, donos do armazém que existia no vilarejo. O senhor e a senhora Hackman tinham três filhos. O primogênito foi seu colega de classe e tinha sido encontrado enforcado um dia antes de seu décimo oitavo aniversário. A filha do meio morrera há dois meses; tinha saído para brincar e não voltou. Seu corpo foi achado semanas depois, boiando perto do porto. Isso fez com que a antiga crença de que o "mar não devolvia seus mortos" fosse quebrada.

Ele era escritor, e talvez tivesse achado uma história. Há anos não escrevia algo novo. Seu último livro fora bem recebido, pessoas de outras cidades vinham até ele para conhecê-lo. Quando escrevia, mandava seus manuscritos para um amigo distante que os lia e depois os mandava de volta com suas sugestões. Assim que terminava uma obra, arrumava as malas e ia para a cidade em busca de publicá-la.

Viveu toda sua infância e o começo de sua adolescência naquele lugar. Sua família era rica, de modo que estudou fora. Conheceu vários lugares e pessoas famosas, se envolveu com filósofos, escritores e todos os tipos de artistas burgueses. Era verdade que no início ele havia estranhado a ausência dos pais, sempre teve o que quis, todas suas vontades e mimos eram feitos. Ele poderia ter morado fora, ter vivido longe de toda aquela gente que o achava esnobe e arrogante, o que não deixava de ser verdade.

No entanto, em um outono ele teve de voltar ao lugar onde nascera. Seu pai não estava bem de saúde e a morte dele foi a sua sentença. Ficou aprisionado naquela vila, acompanhado de sua inconsolável mãe e de pessoas que julgava monótonas e vazias. Pela manhã tomava café com sua mãe e depois do almoço tocava o velho piano. Ele definitivamente não nascera para a música, mas por insistência de sua genitora passou a ter aulas de violino e piano. A música não o completava, tampouco o fazia bem.

Tentou a pintura e os desenhos, mas não obteve sucesso. Um dia, lera um dos romances de Charlies Dickens e achou sua vocação. Ele achou nas palavras o seu esconderijo, comprou um diário e passou a escrever ali todos os seus devaneios e vontades de um menino de doze anos. Quando se tornou um pouco mais maduro, passou a escrever outras coisas. Os devaneios de menino deram espaço a pensamentos mais reflexivos, passou a enxergar o universo e as pessoas ao seu redor de outra forma. Ainda achava todos daquela ilha monótonos e vazios, exceto uma pessoa...

E esta pessoa foi aquela que o inspirou em seus contos, que mais tarde serviram de alento para seu primeiro romance. Aquela que o fez odiar e gostar ao mesmo tempo, que de início era visto como uma inimizade e que depois tornou-se sua melhor amiga. Ele foi quem o fez perder a cabeça e escrever mil páginas sobre sentimentos, dúvidas e questionamentos.

II


"Espere. Você não vê meu coração na minha manga? Ele está ai há dias, esperando por você para abri-lo."

Adele, Best for last

Deixou de lado os pensamentos e viu-se sozinho naquele cemitério. Pegou o diário e o abriu, anotou alguns rabiscos de idéias que surgiram em sua cabeça. Levantou-se ao terinar e, ao virar de costas para ir em direção à saída, viu que ele estava lá.

Não soube como reagir, já fazia tempo que não o via. Por incrível que parecesse, ele havia esquecido suas feições? Draco tentou esconder um sorriso de satisfação, mas falhou. Os olhos verdes fitavam-no atentamente. Ficaram parados, mudos. Ele engoliu em seco enquanto sentia o poder das esmeraldas. O outro sorriu, veio a passos largos em sua direção e estendeu a mão.

– Oi. – disse o moreno, enquanto esperava Draco cumprimentá-lo.

O loiro não respondeu e nem o cumprimentou de imediato, esperou alguns segundos e retribuiu o cumprimento. Ficou uns segundos a mais apertando a mão do moreno enquanto o encarava, como se o que ele visse ali fosse uma peça pregada pela sua cabeça.

– Oi... Harry. – respondeu Draco por fim.

– É bom ver você novamente. – disse o moreno sorrindo.

Draco apertava com força o diário e continuava a encarar Harry, que parecia bem mais adulto. O loiro o fitava minuciosamente, de modo que pudesse prestar atenção em cada detalhe desse novo Harry, que daquele garoto do passado mantinha apenas os cabelos bagunçados e os olhos verdes iguais a esmeraldas. Harry continuou:

– Você não tem idéia dos lugares que eu conheci. Você iria adorar...

– Seu sonho se realizou, não? – perguntou cortante. – Ir para fora daqui, conhecer novos lugares... Você saiu daqui um menino e voltou...

– Um oficial da marinha. – completou Harry.

Caminharam juntos até a casa de Draco enquanto conversavam. Cinco anos tinham se passado, se separaram ainda jovens. O moreno havia achado a oportunidade de sair daquele lugar e realizar o sonho de se tornar um marinheiro ou coisa do tipo. Nem o loiro foi motivo forte o suficiente para mantê-lo ali, nem mesmo os amigos de infância. Harry partira numa noite qualquer, certo de que a decisão que tinha tomado era a adequada.

Decisão que tinha se tornado fácil, afinal ele não tinha família, perdera os pais quando ainda era um bebê. "Afogados", era o que os seus tios detestáveis respondiam quando o Harry mais menino perguntava, mas aos onze anos descobriu pela boca de uma velha a verdade. "Eles foram mortos. Assassinados. E o culpado sumiu. Impune... Essa gente tem mania de culpar o mar, entende? Preferem que seus segredos se percam nele". Assassinados, houve momentos que aquela palavra o assustava. Ele pensava no que iria fazer se encontrasse o responsável por ter tirado sua família, o mataria, talvez, ou iria procurar uma forma de causar a mesma dor que sentiu durante anos.

Atravessaram o portão branco e seguiram para a varanda. Harry continuava falando de como havia sido a escola náutica e de suas aventuras pelo atlântico. Contou sobre sua viagem ao mediterrâneo e das ilhas paradisíacas que conhecera. Draco se sentou na cadeira de balanço, deixou o diário sobre uma mesinha e se voltou pra Harry. O moreno olhava a paisagem que há tempos não via. Do casarão podia-se ver toda a vila, desde o cemitério até o velho farol, que quando criança ouvia dizer que era o lugar mais assustador de todos.

– Quando você chegou? – perguntou o loiro.

– Ontem de madrugada. Eu ia voltar antes, mas tive uns assuntos para resolver.

– Você quer beber alguma coisa? – o loiro perguntou; Harry assentiu com um gesto. O loiro entrou e foi até a sala de estar em direção ao bar. Pegou uma garrafa de uísque e dois copos. Harry veio atrás com o diário de Draco em mãos.

– Você ainda escreve?

– Tento. Não tenho tido inspiração. Esse lugar não ajuda muito. – respondera, oferecendo um copo de uísque a Harry.

– E os poemas? – perguntou Harry fitando Draco. – Ainda continuam bons? Antes de partir, eu peguei alguns.

O loiro sorriu e pegou o diário. Abriu-o e folheou algumas páginas em busca de algum verso ou poema que tivesse escrito.

– Existem sonhos que me trazem angústias e dores profundas, como se fosse a corredeira de um rio... – começou Draco. – E elas me atravessam em pequenas ondas de calafrios, da mesma forma que filmes sentimentais me fazem recordar das coisas que me derrubam fácil... Desses casos cheios de amor barato, de primeiro beijo e outras coisas. Quando chove, eu sigo rezando pelo meu caminho, minhas preces são versos...

Estavam a alguns passos de distância, Harry se aproximou de Draco enquanto bebia e ouvia o loiro recitar os versos. Draco o observou por segundos e continuou:

– E quando olho o seu retrato, lembro que meu coração está partido, pois seu sopro me atravessou como buracos de balas, deixando lençóis manchados e uma alma em busca de mudança...

Ele não pôde terminar de ler o restante dos versos. Harry tirou o diário das mãos de Draco e colocou sobre a bancada do bar. O loiro engoliu em seco e sentiu a respiração ficar descompassada. Harry o abraçou e encostou o rosto no pescoço de Draco, sentindo o cheiro amargo de almíscar. Acariciou os cabelos de Draco e voltou a encarar o loiro, que tinha nos olhos cinza uma felicidade contida. Tocou sua face e lembrou-se da falta que sentiu daquele rapaz, que era o único que podia entendê-lo.

Beijaram-se. Harry empurrou Malfoy contra a bancada do bar, apertando forte seu rosto ao mesmo tempo em que sentia sua língua encostar-se à do loiro. Draco colou seu corpo no do moreno, enquanto ele beijava seu pescoço e, movido pela ansiedade, desabotoou o colete de Harry. Pararam por uns segundos e encararam-se, Draco sorriu e mordeu o lábio inferior do moreno. Um sorriso de satisfação no rosto de ambos, aquele era o verdadeiro cumprimento, não as palavras carregadas de segundas intenções.

– Atrapalho alguma coisa? – perguntou a moça de cabelos louros parada à porta. – Eu precisava falar com a sua mãe, Draco.

Os dois se separaram, Harry voltou-se para o bar e pegou o copo de uísque e fingiu beber um gole, enquanto sentia suas bochechas corarem.

– Está na estufa. – disse o loiro normal.

A moça, que se mantinha impassível, apenas assentiu e fitou Harry. Não dirigiu mais nenhuma palavra a Draco e seguiu até a estufa.

III


Astoria seguiu pelo corredor até a cozinha, parou e encostou-se à bancada de madeira, sua respiração era rápida. Apertou forte o lenço que trazia enquanto repassava a cena que acabara de ver. O garoto órfão da rua baixa voltara para perder a cabeça de Draco. Astoria sentiu vontade de chorar.

– Não posso... – disse baixo.

A loira seguiu para a estufa, onde estava Narcisa Malfoy. A moça empurrou a porta devagar, a mãe de Draco estava sentada em um banco e podava um ramo de plantas. Tinha os cabelos dourados presos em um coque e trajava um vestido preto. Vestia-se assim, em um luto fechado desde a morte do marido.

A estufa não era tão grande, mas coberta por flores e orquídeas exóticas de todas as cores. E Narcisa cuidava daquele lugar todos os dias, acordava cedo e, após fazer sua toalete da manhã, ia para lá e ficava durante horas, aquilo era uma maneira de se manter ocupada.

– Quando ele chegou? – perguntou Astoria.

Narcisa cortou um galho da planta e fitou a loira.

– Quem? – perguntou ela.

– Potter. Ele está lá na sala com Draco.

– Eu não sabia... Não sei. Estou mais surpresa que você. – respondeu e voltou a sua tarefa. – Você não veio aqui por isso, veio?

Astoria parecia surpresa com a reação de Narcisa. A loira engoliu em seco e tirou do bolso da saia um envelope.

– Não. Mamãe pediu para que eu convidasse a senhora para a festa de bodas de ouro dela e de papai.

– Perdeu seu tempo minha cara, você sabe muito bem que eu não vou mais para essas festas.

– Eu sei. Mas não seria muito, insistir que a senhora fosse. Desde que seu marido morreu, a senhora se trancou nessa casa.

Narcisa voltou a fitar Astoria.

– É uma questão de respeito. Quando você se casar, vai aprender isso.

– "Se" eu casar... – respondeu a loira com certa amargura. – Não sei nem se vou ficar noiva do seu filho.

– Você tem de ter paciência.

– Paciência? Como eu posso ter paciência? Já se passaram quatro anos e nada desse pedido. – A loira caminhou em direção a um ramo de rosas e as fitou. – Ele não fala comigo, me ignora... Antes era diferente, eu tinha certo contato com o Draco, mas agora... Posso jurar que ele me odeia.

– Isso não é verdade. Você sabe como Draco é.

– Se a senhora pelo menos me ajudasse...

Narcisa se levantou e foi até uma bacia de prata com água, que estava sobre a mesa. A mulher lavou as mãos e as enxugou em uma toalha.

–Isso não é assunto meu, Astoria. Draco já é um homem e toma suas próprias decisões. Não cabe a mim interferir nelas.

Astoria se revoltou e pediu como numa súplica para que a mãe do rapaz a ajudasse.

– Você pode fazer isso. Você é a única pessoa que Draco escuta, se você pedisse ou o aconselhasse... Já seria uma boa coisa. Por favor, Cissy, eu preciso que ele faça o pedido.

IV


– Você acha que ela nos viu? – perguntou Harry.

Draco sorriu e voltou a beber o uísque.

– Não. Acho que não.

– Quem é ela? – perguntou Harry, e o tom de curiosidade era visível.

– Minha possível noiva.

– Hum... E você acha que ela vai agüentar alguém chato e esnobe como você?

Harry riu e terminou de tomar sua bebida.

– E então? Que outras histórias você tem pra me contar? – perguntou o loiro.

– Eu acho que você já sabe, não?

O loiro não entendeu a pergunta.

– Você não recebeu as minhas cartas? – esclareceu Harry, e seu tom era sério.

Draco discordou.

– Não. Não recebi nenhuma carta sua. Eu deveria?

Harry riu, como se aquilo não fosse possível. Desde quando chegara à escola, a cada fim do mês escrevia uma carta para Draco e os outros amigos, contando tudo o que havia acontecido,.. Uma carta por mês durante aqueles cinco anos.

– E então? Que outras histórias você tem pra me contar? – perguntou o loiro.

– Eu acho que você já sabe não?

O loiro não entendeu a pergunta.

– Você não recebeu as minhas cartas? – esclareceu Harry, e seu tom era sério.

Draco discordou.

– Não. Não recebi nenhuma carta sua. Eu deveria?

Harry riu, como se aquilo não fosse possível. Desde quando chegara à escola, a cada fim do mês, escrevia uma carta para Draco e os outros amigos, contando tudo o que havia acontecido, uma carta por mês durante esses cinco anos.

– Acho que o correio daqui não é muito bom, mas isso não tem problema. Nós podemos conversar sobre elas, e quem sabe uma de suas histórias pode servir para o meu novo livro.

Conversaram mais um tempo e se despediram. O moreno abraçou Draco e foi embora. O loiro acompanhou Harry com o olhar até ele sumir no fim da estrada que levava ao mercado.

NA: Primeiro capítulo postado e espero que tenham gostado ( ^^ ). Bem, vou falar um pouco sobre a fic: essa fic começou a ser escrita para um Chall HD do fórum 6v mestrado pela Dark no começo do ano, e se eu não me engano o chall tinha como tema uma música chamada Meditation ( que por sinal é linda) e o chall era focado no relacionamento deles. Ok ouvi a música e sonhei com a fic. Mas a fic acabou empacado e eu a deixei de lado e decidi voltar a escrever, mas dessa vez pro Projeto Sectumsempra de amor não dói. Pro chall eu havia escolhido o trecho: Amor verdadeiro não mente/ Não esconde e pro projeto, a razão escolhida foi: 41. Porque ninguém provoca no Harry o mesmo efeito que o Draco. E ninguém provoca no Draco o mesmo efeito que o Harry.

Esperem pelo próximo cap, que eu prometo que será postado em breve, ainda vou mandá-lo para betagem. Então até mais pessoas e espero reviews. Abraços!


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