Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 8
Dentro ou fora


Notas iniciais do capítulo

Os Outros se reunem na sala do jornal e Kiba é colocado contra a parede.



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Depois de toda aquela agitação no campo, a escola estava praticamente deserta. Não havia nenhum aluno. Apenas alguns professores apareciam de vez em quando pelos corredores, indo sempre na direção da sala da diretora. As aulas foram suspensas depois que a polícia baixou por lá, mas não por determinação da diretora, mas por "decisão" dos alunos. E acredito que os professores tenham gostado da ideia. Não havia clima para aulas. Se antes da briga os alunos só falavam daquilo, depois da briga seria impossível controlar todo mundo.

Outra sala bastante movimentada foi a do jornal da escola. Shino estava radiante. Parecia que ele tinha ganhado um prêmio pelo qual ele havia esperado a vida toda. Sério, ele estava feliz, como se algo bom tivesse acontecido e não… aquele espetáculo de merda.

 Às vezes eu me pergunto se existe algum tipo de imunidade para o Shino. Ele é um cara muito chato, ele fala com todo mundo como se fosse superior, e por todo mundo, eu quero dizer isso mesmo, não tem ninguém para quem ele baixe a cabeça. E, no entanto, ninguém persegue ele. Sabe? Temos dois grupos no colégio, conhecidos basicamente por isso, por perseguir alunos, intimidar, agredir, humilhar etc. Como é possível que o Shino passe por toda essa galera sem um olho roxo? Não que eu esteja desejando que isso aconteça, mas sendo honesto… às vezes dá vontade de eu mesmo fazer isso. Só uma vez. Só para ele saber que tem alguém que faria isso. Tudo o que eu vejo é um ou outro olhar torto e nada mais.

Pensando bem, acho que eu sei o motivo. E eu acho que Shino tentou me dar uma dica sobre isso hoje:

“Famílias desestruturadas, históricos complicados. Ela sabe de onde eles vêm e o porquê dessa briga ter começado”.

Droga, como eu sou burro! É óbvio que ele sabe!

*

— Ele é sempre assim? — perguntou Hinata, quando Shino saiu da sala.

— Assim como? — perguntou Tenten, num tom irritado.

— Chato, estúpido, antissocial — interveio Naruto, trazendo a atenção de Tenten para ele. — Qual é, todo mundo sabe que o Shino é um pouco...

— Destemperado — ajudou Chouji.

— Insuportável — completou Shikamaru, rindo. — Tenten… vamos só admitir um fato incontestável. Todos nós pensamos isso pelo menos umas vinte vezes por dia.

Isso fez todos rirem, menos Tenten, que olhava para Hinata com antipatia e não costumava participar das zoações contra Shino.

— Não liga para ele, Hinata — disse Kiba. — Quando eu cheguei aqui, eu era o alvo predileto dele.

— É mesmo… O que você faz aqui mesmo, Kiba? — perguntou Tenten, com ironia. — A garota nova pelo menos faz parte do jornal, agora — e acrescentou, com sarcasmo: — aparentemente — pontuou. — No entanto, você está sempre aqui, está sempre com a gente, mas continua dizendo que não faz parte d’Os Outros.

Kiba olhou para ela, sentindo-se um pouco injustiçado com a acusação.

— Isso não é verdade.

— Não? — Tenten cruzou os braços, desafiando-o a explicar.

— Shino vive me pedindo ajuda em um monte de merda que nem chega nos ouvidos de vocês — defendeu-se Kiba, agora também irritado. — Desde apurar fatos, pesquisar umas merdas que eu nem sei para quê serve, carregar essas tranqueiras de vocês pra cima e pra baixo, ajudar na diagramação do texto, na depuração do áudio, na edição de vídeo…

— Nem eu sabia disso — comentou Naruto, surpreso.

— Pois é! — exclamou Kiba. — Eu ajudo, só não fico espalhando isso por aí porque…

— Porque você tem vergonha da gente — acusou Tenten.

Kiba respirou fundo, olhando para Naruto, como se procurasse por ajuda.

— Tenten — começou Naruto. — Dá um tempo, tá parecendo o Shino.

— E qual é o problema? — retrucou ela. — Seja sincero, Kiba. Se o Gaara te chamasse de volta para os Impopulares… você iria?

Kiba se levantou, dando alguns passos na direção da garota e apontando o dedo para o rosto dela. Seu rosto estava vermelho e sua expressão era uma mistura de orgulho ferido e decepção. Naruto empurrou a cadeira para trás, preparando-se para segurá-lo, se isso fosse necessário.

— Escuta uma coisa, Tenten — começou Kiba, nervoso. — Eu nunca vou voltar para os Impopulares, não importa as circunstâncias. Mesmo assim, eu não devo a você, nem a ninguém, qualquer explicação sobre as minhas escolhas. Eu sou leal a quem é leal a mim, isso tudo o que você precisa saber.

Essa resposta surpreendeu Naruto. Até aquele momento, ele achava que Kiba não se assumia como “membro” daquele grupo porque talvez ainda guardasse alguma esperança de ser chamado de volta para os Impopulares. Nessa hipótese, Naruto não o julgava. Ele já tinha admitido para si mesmo que, no lugar do amigo, não faria diferente. Porém, Kiba devia saber que não havia mais espaço para ele ao lado de Gaara, pois Sai tinha ocupado sua posição com maestria.

Antes que Tenten conseguisse responder ao discurso de Kiba, Shino voltou para a sala, acompanhado por Lee, que parecia cansado e encostou no batente da porta, com uma expressão desinteressada.

— Shikamaru, preciso que você venha com a gente — chamou Shino, ignorando a tensão no ambiente.

— Ir com vocês onde? — perguntou Shikamaru, mas Shino já estava saindo de novo.

Todos ficaram em silêncio depois que os três garotos saíram. Kiba, em particular, estava grato pela interrupção. Naruto indicou uma cadeira vazia ao lado dele e o garoto se sentou ali, com os braços cruzados, encarando Tenten com raiva. A garota apenas voltou a trabalhar, deixando o assunto de lado, como se nada tivesse acontecido.

Enquanto fez parte dos Impopulares, Kiba era igual aos outros companheiros de grupo: chato, metido e implicava com qualquer um que por acaso aparecesse em seu caminho, dissesse algo errado ou que simplesmente olhasse em sua direção de um jeito estranho. Seu alvo predileto era Ukon, irmão gêmeo de Sakon e que havia sido expulso da escola ao ser pego roubando provas.

Naruto havia conversado com Kiba sobre aquela época, que era antecessora à sua chegada ao colégio. Kiba explicou que os seus problemas nos Impopulares começaram justamente quando eles estavam no meio de uma “trégua” com os Populares, por causa do campeonato estadual de futebol estudantil. Como o time era formado por integrantes de ambos os grupos, não valia a pena deixar a rivalidade de fora dos campos influenciasse nos resultados dos jogos. Esse acordo vinha dando certo, até que o time começou a perder e um começou a acusar o outro. Pelas costas, claro. No entanto, Kiba nunca gostou de bancar o falso. O que ele tinha que dizer, dizia logo, na cara, sem pena. Dessa forma, no dia que Ukon perdeu um gol que fácil, Kiba partiu para cima dele, nos vestiários.

O resultado, então, foi desastroso. O time da escola começou a cair na classificação, ficando fora das quartas de final. Logo, a culpa pela derrota caiu sobre os ombros de Kiba, que tinha “quebrado o acordo com os Populares”. Ele acabou ficando marcado no grupo de Gaara e qualquer coisa que ele fizesse, depois disso, era motivo para desconfiança. O restante dos alunos também começou a olhar para ele como se o acusassem de ser o único responsável pela derrota de Konoha no campeonato.

A expulsão definitiva aconteceu depois de outra briga, dessa vez com alguém dos próprios Impopulares, Sai, que estava crescendo rapidamente dentro da hierarquia do grupo. Em questão de meses, Sai já tinha conquistado a mesma posição de destaque que o próprio Kiba tinha se “esforçado” para conseguir. O que significava uma ameaça, afinal, Gaara estava demonstrando cada vez mais confiança no novato, ao mesmo tempo em que começava a ignorar Kiba. Para ajudar, nem ele, nem Sai, faziam questão de fingir que se davam bem.

Quando isso chegou aos ouvidos dos rivais, e portanto, de toda a escola começou-se a dizer que os Impopulares estavam em crise, que Gaara não tinha mais liderança. Foi um prato cheio para os Populares. Mas Gaara não gostou nada disso. Kiba foi rebaixado. Até então, Kiba estava saindo com uma menina dos Impopulares, chamada Tayuya. Porém, ela também acabou decidindo ir para o lado do “vencedor”. Como era de se esperar, Kiba virou piada para toda a escola.

Em uma festa na casa de Sai, para a qual Kiba não tinha sido convidado, ele resolveu tomar satisfação. Gaara ficou furioso, porque aquela era a prova de que a instabilidade nos Impopulares não era só boato. Ele decidiu por se livrar do problema, expulsando Kiba de vez, e o resto era história.

— O que são Os Outros? — perguntou Hinata, baixinho, para Naruto e Kiba, depois de terminar de passar a limpo o que Shino tinha lhe pedido, e levantado para sentar perto das únicas pessoas, ali, que estavam sendo legais com ela.

— Nós — respondeu Naruto, fazendo um gesto para indicar as pessoas na sala. — Impressionada?

— Muito — ela riu, sem saber se devia levar aquilo a sério.

Kiba relaxou um pouco e tentou explicar.

— O pessoal daqui do jornal são alguns dos poucos alunos que não fazem parte nem dos Populares, nem dos Impopulares, que são os grupos que estavam brigando hoje lá no campo.

— Populares e Impopulares? — Hinata conteve um sorriso, que não passou despercebido pelos garotos.

— Não é tão original — disse Naruto, rindo. — Mas Os Outros também não é. Por aqui o humor é baseado mais na ironia da obviedade.

— Percebi — respondeu Hinata.

— O que você precisa saber — continuou Kiba — é que Os Populares são liderados pelo Sasuke Uchiha…

— O moreno que se acha perigoso — acrescentou Naruto.

— E os Impopulares, pelo Gaara Sabaku…

— O ruivo com cara de assassino.

A risada de Chouji ecoou pela sala, revelando que todos ali conseguiam ouvir o que eles estavam conversando. Mesmo Tenten acabou sorrindo com as descrições de Naruto, melhorando um pouco o clima.

Depois de um tempo, Shino, Shikamaru e Lee voltaram. Eles estavam animados, agora, com o que quer que tivessem ido fazer. Cada um foi para uma mesa e começou a trabalhar no que tinham. Shino sentou-se, ainda um vestígio de sorriso em seu rosto.

— Então… — disse Tenten, olhando-o. — Onde vocês estavam?

— Fomos até a delegacia — foi Lee quem respondeu. — Está a maior confusão por lá!

— Gaara e Sasuke estão jogando a culpa um no outro — acrescentou Shikamaru, rindo.

— O Iruka foi para lá também, por causa do Neji — disse Lee. — Ele está muito bravo. Quase sobrou para a gente.

— Mas o melhor de tudo — Shikamaru virou-se para os companheiros — foram os irmãos do Gaara e do Sasuke! Kankuro e Itachi estavam lá, mas não fizeram nada pelos dois.

— Os dois não queriam a ajuda deles — corrigiu Shino. — Parece que eles não se dão bem — disse, olhando para Naruto. — Quem diria?

— Não é para menos — disse Naruto, encarando-o. — Itachi e Sasuke não se falam há anos, a mesma coisa com Gaara e o irmão dele. Desde que eles saíram da cidade, para fazer sabe-se lá o quê na capital.

— Por que eles se falam? — perguntou Tenten. — E por que as duas famílias?

— Mais importante — disse Kiba — como você sabe disso?

— Ele tem as fontes dele — respondeu Shino, fazendo todos olharem para ele. — Mas, nós temos que resolver uma coisa, antes de mais nada.

— O quê? — perguntaram Chouji, Naruto e Kiba, ao mesmo tempo.

— Hinata — Shino olhou para a menina, que se encolheu um pouco. — Pode dar um tempinho pra gente, é rápido.

A menina se levantou e saiu da sala depressa. Naruto viu a menina sair e então olhou para Kiba, adivinhando sobre o quê se tratava aquilo. Por um lado, estava irritado pela situação, parecia que estavam encurralando o garoto e forçando-o a fazer algo que ele não queria. Por outro lado, bem, se isso fizesse todos ali se sentirem melhor com a presença de Kiba, que aquilo acabasse logo.

— O Shikamaru me contou o que vocês estavam conversando antes — disse Shino, calmo e sério. — O que aconteceu hoje lá fora foi uma prova de que as coisas nesse colégio estão descontroladas. Um bando de baderneiro faz o que bem entende, nossa diretora não tem pulso firme suficiente para colocar esses caras no lugar deles. E eu acredito que a gente pode fazer disso a nossa missão — Shino fez uma pausa, fitando Kiba, estudando-o. — Você não é obrigado a fazer parte disso — Kiba soltou um riso curto, debochado. — Mas eu gostaria que estivesse do nosso lado.

— Você entende — começou Kiba, devagar — que tentar formar um outro grupo, não vai mudar nada, não é? Vocês têm boas intenções, eu sei disso, mas isso não torna vocês diferentes.

Shino passou uma mão pela boca, pensando no que Kiba estava dizendo.

— Você tem sido uma grande ajuda aqui — disse ele. — A gente só quer que você se sinta realmente parte de alguma coisa de novo, parte do que nós estamos tentando fazer aqui.

— Que é?

— Sobreviver a essa escola — respondeu Shino. — E ajudar quem precisa da gente.

— Eu não sei — disse Kiba. — Eu já fiz parte de um grupo antes e sei como é ser usado e descartado…

— Nós não somos com eles — disse Shikamaru, mas Kiba o olhou com descrença.

— Você pode garantir isso, Shikamaru? — Kiba fez uma pausa, pensando em como os fazia entender. — Os Impopulares não surgiram como um grupo de baderneiros, não era sobre enfrentar o Sasuke, não era sobre seguir um líder. Essa besteira toda não existia. Isso foi surgindo com o tempo, porque subiu na nossa cabeça. Vocês podem ser melhores do que eles agora, mas e depois?

— Se você estiver com a gente — interveio Tenten — podemos fazer diferente.

— Vocês já se chamam de “Os Outros” — comentou Kiba, com ironia. — Esse é um apelido que eles deram, para caçoar de vocês.

— A gente ressignificou — disse Shino.

Kiba pensou no pedido que eles estavam fazendo. Eles o tinham acolhido, quando ninguém mais o queria, quando ele estava na pior e eles não precisavam ter feito nada disso. Respirou fundo.

— Tudo bem — disse. — Onde eu assino?


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Notas finais do capítulo

(Editado em 19/03/2024)



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