Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 16
Preparação. (editar)




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Preparação

 

A semana estava acabando. Estavam já no fim da tarde de sexta-feira. No dia seguinte Naruto teria que visitar os pais e, no domingo (seu estômago remexia sempre que pensava nisso) teria uma espécie de acerto de contas com seus dois ex-amigos. Ouvira Jiraya dizer uma vez que "ex-mulher" era para sempre, quando este se separara de Tsunade há sete anos. Será que, por essa perspectiva, "ex-amigos" também fossem para sempre?

Ele estava tão cansado de pensar nisso, que sentia-se aliviado e grato, sempre que tinha uma desculpa para pensar, falar ou fazer outra coisa. E, para isso, tinha a cooperação dos dois futuros novos casais d'Os Outros. Shino não se decidia se queria ou não ficar perto de Tenten. Quando estavam juntos, ele se afastava sem jeito. Quando estavam separados, ele se aproximava como quem não queria nada. Naruto estava começando agostar do casal e não era mais o único a reparar. Shikamaru, Lee, Chouji e Naruto, davam sempre um jeito de deixá-los juntos por mais tempo.

Quanto a Kiba, o garoto tornava-se aos poucos incapaz de perceber que Hinata não estava nem aí para ele. Grudava na garota, quase não a deixando ouvir as histórias do jornalista e exagerava no "bom mocismo". Sem perceber que Hinata por vezes sentia-se desconfortável, não lisonjeada, como com certeza era sua intenção. Em alguns momentos, na rara presença de Neji, Kiba "lembrava-se" de quem era o primo de Hinata e afastava-se sem demora. Ainda que aparentemente Neji não se importasse, Kiba não era tão burro a ponto de mexer com seu ex-colega de grupo ("ex-colega" também era para sempre?).

Naruto achava engraçado o modo como a inteligência ia e vinha em Kiba. Começava a achar que Hinata não fazia bem à mente do garoto. Sempre que estava com ela, Kiba tentava agir como uma pessoa que não era. Em outros momentos, quando Hinata conseguia se livrar dele (geralmente com a ajuda de Tenten), Kiba desanimava.

— Não sei mais o que faço, cara. - Disse Kiba, sentando-se ao lado de Naruto no sofá da sala, quando as meninas desapareceram no topo da escada.

— Por que não dá um tempo? - Aconselhou Naruto. - Está sufocando a menina. Não se esqueça que a Hinata é frágil. Pode acabar assustando.

Kiba fez um barulho indistinguível com a boca, parecendo impaciente.

— Acho que não tem nada que eu possa fazer.

— Por quê?

— Não sei. - Kiba deu de ombros. - Acho... Acho que ela está afim de outro.

Naruto, que assistia à televisão, olhou-o curioso.

— De quem?

Kiba hesitou, mas por fim disse apenas que não sabia quem era. Naruto suspirou, sem saber como ajudá-lo.

— Ainda acho que você tem que dar um tempo. Pelo menos para ela se acostumar com a ideia. Não acho que a Hinata seja do tipo que já tenha tido muitos namorados.

Kiba riu, especulando em seguida:

— Vai ver ela nem beijou ainda.

Naruto também riu, imaginando Hinata beijando algum garoto. Se aquilo fosse verdade, era pouco provável que alguém como ela se envolvesse com alguém como Kiba que, pelo que Naruto ouvia, era um dos mais instáveis nos namoros quando pertencia aos Impopulares. Hinata e Kiba eram simplesmente incompatíveis. Mas não seria Naruto a dizer isso a ele.

*

Sakura, que nos últimos dias não se sentia muito bem na República, começou a se recuperar, vendo que Naruto estava bem com seus novos amigos. Era tão estranho lembrar do tempo em que eles eram amigos, como se pudesse lembrar de outra vida. Uma vida de que gostava muito, mas que não teria de volta. Naruto evitava olhá-la na cara, embora às vezes ela tivesse certeza de que Naruto a olhava canto. Karin não falava com ela como antes, mas isso se devia ao fato de Sakura estar mais uma vez ignorando Sasuke. Karin não sabia do que havia entre eles, mas, quando os dois tinham suas brigas, ela preferia ficar do lado do moreno.

Sasuke também não insistia tentando puxar assunto com a amiga de cabelos exageradamente rosas. Pelo contrário, ele já aprendera há muito tempo que, nessas horas, era melhor não dizer nada e deixar que ela se "acalmasse". Mas dessa vez ele não tinha muita certeza de Sakura se acalmaria logo. Sempre que eles ficavam a sós, discutiam e ele ouvia algo novo dela, que geralmente não queria ouvir. Era como se ela esperasse cada nova oportunidade de falar mais alguma coisa, algo que não dissera ainda. Isso o irritava tanto! Por que Sakura não dizia tudo de uma vez? Se a incomodava tanto fazer parte dos  Populares, por que não saía? Era só dizer que não queria mais e estava acabado. Sem dramas e sem desculpas esfarrapadas. No entanto, uma parte dele sabia que apesar de tudo aquela garota o amava. Por mais que Gaara e Naruto ainda fossem importantes para Sakura, era ele, Sasuke, quem possuía seu coração.

— Sonhando acordado? - Perguntou Itachi, abrindo a porta do quarto do irmão mais novo.

— Sai daqui... - Reclamou Sasuke, continuando a encarar o teto.

Itachi não se mexeu, embora um pouco da esperança que tinha de ter um momento digno com seu irmão tivesse desaparecido.

— Vim te chamar para ir comigo...

— Não vou a lugar nenhum.

— Pensei que gostaria de sair um pouco deste quarto. Respirar ar puro...

— Errou.

— Sasuke...

— Itachi!

— Tem certeza que não quer? - Perguntou, com um último tom de esperança.

— Tenho.

Itachi fechou a porta do quarto de Sasuke, desanimado. Seria realmente muito difícil recuperar o que tinha perdido. Era a primeira vez que arrependia-se de ter saído de casa. O garoto tornara-se tão parecido com ele próprio, que Itachi sentia-se um idiota pelas coisas que fizera no seu tempo de escola. Nem seu pai estava tão arredio com ele quanto Sasuke. Na verdade, Fugaku demonstrara interesse em ter Itachi ajudando-o na oficina, mas o rapaz não queria isso. Estava decidido a ajustar as coisas e era isso que faria. Voltou a abrir a porta de Sasuke, que parecia novamente perdido em pensamentos.

— Não mandei você sair?

— E desde quando eu obedeço? Vai. Levanta. Você vem comigo.

— Não vou a lugar nenhum!

— Vai sim, deixa de frescura.

Itachi pegou um casaco para o irmão e atirou na cama, em cima do garoto. Esperou que Sasuke terminasse de encará-lo pasmo e colocasse o casaco e os dois desceram juntos para a garagem.

— Aonde você vai me levar?

— Entra no carro.

Sasuke não teve opção. Itachi abriu a porta para ele e o garoto entrou contrariado. Os dois foram para o centro da cidade, lugar em que Sasuke não ía há quase cinco anos. Poucas coisas tinham mudado por ali, mas nenhuma dessas mudanças foi realmente importante. Itachi parou o carro em frente a um prédio de três andares, numa rua movimentada e de classe média baixa. Sasuke observou o prédio. Era velho e as paredes gastas. As pessoas que estavam na entrada não pareciam os melhores vizinhos do mundo também.

— O que viemos fazer aqui?

— Já vai saber.

Os dois sairam do carro e subiram para o terceiro andar. Sasuke não teve uma impressão melhor de dentro do prédio. Piorava a cada segundo que estava ali e subir todos aqueles lances de escada não ajudavam muito na má impressão que teve do lugar. Quando chegaram ao último andar, Itachi parou em frente a uma porta vermelha e, ao invés de bater, enfiou a mão no bolso e tirou uma chave sem chaveiro de dentro dele. Sorrindo, disse algo que Sasuke estava começando a desconfiar.

— Morei aqui nos últimos anos.

Sasuke riu com deboche.

— Nesse lixeiro de três andares?

— É. Não é muito impressionante, mas...

— Impressionante é sim. - Contrapôs o garoto, sarcástico.

— Não por um lado bom... - Concordou Itachi abrindo a porta.

Assim como Sasuke esperava, não havia muitas coisas no apartamento de Itachi. Apenas algumas caixas largadas a um canto.

— Me ajude aqui. - Disse Itachi, apontando para a caixa maior.

— O que tem aí?

— Umas coisas do nosso pai.

— O que estava fazendo com elas?

— Guardando... Para que não se perdessem...

Sasuke fitou a caixa com desconfiança.

— O que tem aí dentro? - Perguntou novamente, ajudando Itachi a levantá-la.

— Eu já disse.

— Especificamente.

— Se quiser, abra e veja. - Itachi encarou o irmão, sério. Depois, voltou a colocar a caixa no chão para que Sasuke a abrisse.

O garoto não aguentou a curiosidade e logo puxou uma das abas da caixa. Havia alguns álbuns de fotos espalhados por ali. Pegou o primeiro deles.

— São fotos de quando nosso pai estava na escola... Com os amigos dele. - Explicou Itachi.

Na primeira foto, em preto e branco, Fugaku aparecia ao lado de outros sete adolescentes da mesma idade que ele, nos jardins de uma antiga escola que havia no centro. O Uchiha era um dos mais altos da turma, com cabelos negros quase alcançando seus ombros. Um sorriso estampava-se em seu rosto, como Sasuke não via há muito tempo. Fugaku não estava sozinho. Sasuke não sabia quem eram os outros garotos, mas dois deles chamaram a sua atenção. De cada lado de Fugaku, dois garotos sorriam da mesma forma, embora não olhassem para a câmera no momento da foto. O garoto à esquerda  era um pouco menor que Fugaku e o outro. Vestia roupas de aparência gasta, que lhe emprestavam um ar rebelde. À direita de Fugaku, um garoto loiro parecia ser o que mais se divertia com os amigos ao redor deles.

— Eles eram da sala do nosso pai. - Disse Itachi. - Esses são o Sabaku e o Namikaze. - Apontou para os dois garotos respectivamente.

Sasuke não disse nada. Viu sem interesse as outras fotos, mas deixou aquele álbum de lado, interessando-se por outro, de capa marrom. Itachi sentou-se em frente ao irmão e começou a mexer nas coisas da caixa também.

O álbum que Sasuke pegou trazia as primeiras fotos da oficina que os três amigos montaram. As cores da fotografia estavam um pouco desbotada. A parede em volta da oficina tinha um desenho de um tabuleiro de xadrez, misturando branco e preto. Os três estavam parados em frente à ela, sorrindo para a câmera, orgulhosos. Cada um estava com a mulher ao lado.

Sasuke passou para as outras fotos. Seu pai parecia outra pessoa, sorrindo, brincando, tirando fotos. Antes de guardar o álbum, Sasuke viu de relance uma foto jogada em baixo de um livro ou caderno de capa preta que Itachi acabara de puxar. Pegando a foto, Sasuke reparou que a foto estava rasgada. No fragmento que restara, Namikaze e Sabaku apareciam lado a lado, com dois bebês que não pareciam ter mais que alguns meses no colo.

— Por que o pai não guarda isso com ele? - Perguntou Sasuke, jogando a foto dentro da caixa, como se ela lhe ofendesse.

— Acho que ele não quer ficar com isso. - Disse Itachi, dando de ombros. - Antes de eu sair de casa, ele queria jogar essas fotos no lixo, queimá-las. Se livrar delas de alguma forma.

— E por que não fez isso?

— Não sei. - Itachi guardou o caderno dentro da caixa novamente e fechou as abas. - Mas, acho que é porque não ajudaria a esquecer o que passou. - Sasuke Levantou-se junto com o irmão. - Vamos levar isso para o carro.

— O que vai fazer com isso?

— Guardar em um lugar seguro.

*

Gaara acordou cedo no sábado, após ouvir os risos de Temari no quarto ao lado. Achava-a tão escandalosa que se irritava fácil com as atitudes da irmã. Por que era tão difícil ser um pouco mais discreta nas coisas que fazia e no modo como falava? Mas o pensamento em Temari não demorou muito. Logo, Gaara descobriu quem causara aqueles risos sonoros nela e isso irritou-o ainda mais. Levantou-se, então, e saiu do quarto. No corredor, encontrou Temari e Kankuro entre risos. Os dois fitaram-no.

— Bom dia! - Cumprimentou Kankuro. - Como vai, maninho?

— Oi, Gaara. Já acordou?

— Não!

Gaara passou por eles sem dizer mais nada, descendo para a cozinha. Sua mãe estava sentada na mesa posta para o café, fitando um ponto qualquer da janela, aparentemente perdida em pensamentos. Gaara passou por ela, dando-lhe um beijo na cabeça, entre os cabelos lisos e loiros, lavados naquela manhã.

— Bom dia, mãe.

— Hum...

O garoto abriu a geladeira e pegou uma jarra de suco de laranja que restara do dia anterior e um pedaço de pão puro e sentou-se ao lado da mulher. Sua mãe, quando o marido ainda vivia com eles, alternava momentos divertidos, de animação e tentativas de fazer piadas engraçadas com momentos de temperamento explosivo, quando via a casa desarrumada e não obedeciam as coisas que pediam. Era, também uma mulher muito religiosa. Desde que seu pai fora preso, no entanto, a mulher deixou de ser tudo isso e passou a ser apenas uma pessoa triste e sem ânimo. Passava a maior parte do tempo limpando a casa sem pedir por ajuda ou trancada no quarto, rezando por Kushina Uzumaki.

O primeiro sinal que Gaara e Temari tiveram de que ela ainda sabia o que estava acontecendo ao seu redor foi quando Kankuro voltou. A euforia de ver o filho mais velho voltar para a casa foi rapidamente substituída por uma raiva que consumiu a mulher. Kankurou levara horas para desculpar-se com a mãe, trancando-se no quarto junto com ela. Desde aquele dia, Gaara via as tentativas de Kankurou reconquistar a mãe, mas a mulher pouco percebia a presença de seus filhos.

 

*

 

Naruto foi sozinho ver os pais naquela manhã. Não queria tirar Iruka da cama tão cedo, depois daquela semana. O dono da República estava se esforçando para cuidar de todos e manter as coisas em ordem enquanto Shibi estivesse lá. Não seria Naruto que atrapalharia seu descanso merecido. Pegou um pouco do dinheiro que recebia de Jiraya e pegou um ônibus a alguns quarteirões da República para o hospital. A brisa da manhã ainda estava gelada e o sol ainda não aparecera sobre a neblina. Chegou cedo ao hospital. Dessa vez não havia flores na cabeceira de seu pai. O resto permanecia igual. Naruto atualizou o pai sobre os acontecimentos daquela semana, a ameaça de Sasuke, a aparente preocupação ou o que fosse de Gaara e o encontro que teriam no dia seguinte. Mas não se demorou por lá. Na recepção, perguntou a Ayame sobre quem mais visitava o quarto de Minato, mas ela não soube responder. Naruto era o único nos registros que visitava aquele quarto.

— E se não tiver nos registros?

— A única coisa que posso fazer é prometer que ficarei de olho nisso. - Garantiu a moça.

— Obrigada, Ayame. Vou falar para o Iruka passar aqui qualquer dia.

— Ah... Que isso, eu...

Naruto sorriu e piscou para a moça, que ficara vermelha.

— Eu sei...

Sobre o túmulo de Kushina havia um ramo de rosas vermelhas deitado. Todas ainda fechadas. Naruto não teve coragem de tirá-lo de lá. Ajoelhou-se e ficou calado por alguns minutos, observando a foto de sua mãe.

Às vezes Naruto se perguntava porque ainda fazia aquele ritual. Se em uma semana deixasse de ir ao hospital, na outra seu pai ainda estaria lá. Sua mãe nem que quissesse sairia de onde estava. Outras vezes, sentia-se a pior pessoa do mundo pensando nessas coisas e punia-se por pensar nelas.

*

Naruto passou a noite de sábado para domingo na casa de seus pais. Iruka não gostou muito da idéia, mas, com um hóspede a mais, não teve muita escolha. Pela primeira vez em dias, Naruto sentiu que fizera a escolha certa. Ficar um tempo sozinho consigo mesmo seria a melhor forma de não enlouquecer e não descontar em alguém que não mereceria. Além disso, aproveitou o fim de semana livre para dar um jeito na casa, tansferindo toda a agitação daquela semana para a casa.

Assim, no domingo, à hora marcada, estava pronto para o que viesse...


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