Eu estava sentada no chão de seu quarto, encostada na cama, falando comigo mesma.

Porque eu levo essa vidinha medíocre? Porque ninguém olha pra mim? Porque todas as minhas amigas têm paquerinhas e namorados e eu não?

Porque que comigo tem que ser diferente? Porque eu não posso ter uma família amável como a das outras pessoas?

Porque eu não posso ter um pai carinhoso que me ame? Ao invés de um pai que usa como objeto sexual todos os dias?

Quanto mais eu falava mais chorava, eu queria sumir, queria desaparecer, essa vida não era a que tinha escolhido.

- Manuela, vem jantar, o jantar tá na mesa. – ouvi minha mãe gritar.

- Já vou mãe – respondi limpando as lágrimas dos olhos e me preparando para descer.

- Como foi seu dia hoje? – pergunta minha mãe sorridente, ela sabia que era uma mãe ausente, mais se ela quisesse manter o nível de vida que ela e Manuela levavam, tinha que ser assim.

- Ah... Foi legal... – responde a menina forçando um sorriso.

- Que bom! Você sabe por onde seu pai anda Manu?

- Não mamãe... – aquela pergunta havia cortado meu coração... Eu tinha idéia de onde meu pai estava, ele estava em algum boteco, traindo minha mãe com qualquer biscate, para logo depois chegar em casa e me estuprar como sempre fazia.

- Ah... Então deixa.

Claro que minha mãe sabia o que meu pai estava fazendo, e ver o olhar triste de minha mãe era doloroso.

- Mamãe... Vou dormir... Aishiteru.

- Aishiterumo minha filha, dorme com Deus.

- Hai. – concordei e dei um longo abraço em minha mãe... Talvez o último que eu iria dar nela.

Levantei-me da mesa e fui pro meu quarto.

Sentei-me novamente no chão, e me encostei na cama, exatamente como estava à alguns minutos atrás.

Peguei a seringa que havia comprado na farmácia há algumas horas , tinham me dito que seringa com ar matava rapidamente e sem dor.
Encostei a agulha em minha veia, estava tentando reunir coragem... Sempre morri de medo de agulhas.

Finalmente crio coragem, e espeto minha veia, ainda tenho tempo de desistir, mais será que valeria a pena?

Começo a apertar o bulbo da seringa lentamente, sinto o ar entrando em minha veia e percorrendo a minha corrente sanguínea.

Minha vista começa a escurecer, e já não escuto a última batida de meu coração.

Sinto minha vida se esvaindo aos poucos, tento me arrepender, mais já é tarde de mais, a última cena que vejo, é a de minha mãe parada a porta chorando...