Depois de ouvir aquela declaração, o Taylor carinhosamente a abraçou e não disse uma palavra. Os dois permaneceram assim por um tempo. Ele tentando organizar seus pensamentos. Ela tentando adivinhar o que se passava na cabeça dele.

Ambos estavam muito confusos com tudo que havia acontecido até aquele momento. Finalmente a maluquinha resolveu falar, e desaninhando a cabeça dos ombros de Tay, o olhou:

- Desculpe, eu sei que não devia falar essas coisas para você, afinal fizemos um trato onde a cláusula amor não estava escrita nem nas linhas miúdas. – ela começou a conversa com lágrimas de vergonha.

- Desde o inicio eu sabia que você era um cara comprometido. – Kate continuou e tentou estudar as feições de Taylor numa busca desesperada por algo que indicasse que se pedisse ele ficaria com ela. Mas as feições dele nada diziam a não ser que ele estava muito pesaroso por tudo que estava acontecendo. – Mas não pude controlar o que a cada momento eu ia sentindo por você à medida que íamos nos tornando mais próximos.

Um silêncio novamente, Taylor ainda pensava no que dizer, ele se sentia culpado, afinal topara o desafio. E tinha o fator “eu também” que dificultava tudo, afinal o encontro com Kate também o afetara, embora ele não soubesse o quanto, sabia que algo havia mudado dentro de si também. No entanto a mudez dele estava deixando a garota do tênis amarelo em uma agonia infinita.

- Você não vai dizer nada? – ela perguntou em uma tentativa aflita de acabar com o silêncio dele.

- Não tenho nada para dizer. – ele disse e a puxou para mais um abraço.

A maluquinha interpretou aquela falta de palavras de Taylor a uma partida perdida. Talvez fosse pedir demais dele que decidisse ali naquele momento o que ele queria. Pois Kate sentia no seu intimo que nem ele estava tão seguro assim sobre seu relacionamento com Melissa. Ela se soltou dele.

- Se você não tem nada a dizer, eu simplesmente acho que realmente é melhor a gente se separar... Não faz mais sentido algum estarmos juntos, uma vez que eu violei uma regra do nosso trato, e não tenho mais como te acompanhar até Dublin sem que a cada momento eu não deseje ardentemente que você me ame tanto quanto eu amo você. Não vai mais dar certo! Ficarmos juntos agora, representa um sofrimento que eu não vou suportar Taylor. - Ela disse em meio a um pranto.

            Ele a fitou longamente sem nada dizer, e naquele momento não havia nada mais angustiante para a Kate do que ver os olhos azuis dele fixos nela sem nada revelar. Ele suspirou longamente e olhou para a janela, a paisagem corria, e ele continuava olhando como se tivesse esperança de que as palavras que quisesse dizer fossem entrar como por encanto da janela para sua boca. Ainda mudo, ele passou as mãos nos cabelos dela olhando para o movimento que fazia, para em seguida olha-la e finalmente deixar soar o som da sua voz.

            - Não Kate. Não antes de eu descobrir o que eu sinto por você. – Ele disse e olhou no fundo dos olhos dela.

            Ela mal pode acreditar naquelas palavras. Elas eram mais que do que ela esperava ouvir dele depois de tanto silêncio. Sem se conter ela perguntou:

            - Você sente algo por mim? – Kate tinha um sorriso tímido no rosto. De repente uma pontinha de esperança apareceu e inundou seu coração já quase despedaçado.

            - Claro, eu sou humano. Não sou uma máquina que liga e desliga com o simples apertar de um botão. – ele falou incrédulo e até mesmo espantado com a pergunta dela. – Ou você acha mesmo que eu acreditei naquele papo de que duas pessoas podem conviver intimamente como a gente e não rolar nada? Eu nunca acreditei nisso Kate, nunca..

            Aquela revelação nua e crua deixou a Kate atônita, pois se ele se arriscara num jogo como aquele onde ele sabia que tudo podia acontecer, era por algum motivo.

            - Então por que você topou? – Agora era ela que não estava acreditando no que ouvia.

            - Por que eu sempre acreditei em sentimentos verdadeiros. – ele falou com um olhar perdido além do horizonte. – Pode parecer piegas o que eu vou dizer, mas eu sempre soube que eu só amaria uma única mulher na vida. Mas eu não tinha certeza se essa mulher, era a Melissa.

            Os olhos da Kate brilharam.

            - E então apareceu você, com esse tênis amarelo ridículo. – ele começou a rir – E me fez parar e perceber muitas coisas que eu ainda não tinha percebido. E agora não me sinto mais tão seguro a respeito de meus sentimentos por Melissa. Eu preciso descobrir isso antes de dar um passo tão importante como o casamento. – Ele a olhou de novo. – Idiota isso não?

            - Não, Não... é completamente compreensível. – ela falou limpando as lágrimas de felicidade.

            Ficou um silêncio entre os dois e então a Kate perguntou.

            - E como você pretende descobrir se é comigo que você quer ficar?

            - Eu não sei... – ele falou sinceramente. – Só sei que se você me deixar agora, eu jamais vou descobrir isso.

            E os dois se beijaram longamente. Um beijo calmo como se quisessem guardar na memória a doce lembrança daquele momento. Quando o beijo acabou Taylor segurou o rosto delicado de Kate entre as mãos:

            - Vamos descer em Belfest como tínhamos combinado? – ele perguntou.

            Ela baixou os olhos como se quisesse fugir e esconder a real resposta que queria dar.

            - Não sei Tay, eu tenho medo de me machucar? – ela disse.

            Ele sabia que ela estava certa, continuar juntos tanto podia dar certo e fazer com que no fim Taylor ficasse com Kate como também podia dar errado e ele acabar no altar com Melissa.

            - Você nunca vai descobrir se não tentar. – ele falou.

            - Não é fácil como você pensa! Se as coisas não derem certo, você tem Melissa. E eu Tay? O que sobra para mim? – ela perguntou aflita.

            - Eu não sei Kate! Tudo o que eu te peço, é que você arrisque. Um dia você me pediu isso, e aqui estou eu. Agora é minha vez de te pedir. E seu sim é a coisa que eu mais espero agora.

            A garota do tênis amarelo ficou calada e pensativa por um tempo, organizando os pensamentos e logo em seguida falou.

            - Não sei Taylor, às vezes eu acho que se fosse para gostar de mim e ficar comigo você já saberia. – Ela disse sinceramente.

            - Você acha mesmo isso? – ele falou sério. – Acha mesmo que é fácil para eu desistir de uma relação de anos bem resolvida por causa de um dia com uma garota? Você no meu lugar já saberia? Desculpe Kate, mas isso não é uma história da carochinha, isso é vida real. E infelizmente na vida real eu não sei muito sobre você e você sobre mim. Eu também tenho muito a perder, não posso ser leviano e deixar Melissa para mais tarde me arrepender.

            - Eu entendo Tay. Entendo que deve ser difícil jogar tudo fora assim. – Kate começou a ver o lado dele também.

            - Eu preciso de mais um tempo com você para ter certeza! – ele falou. – E Kate, talvez você também precise de um tempo comigo para saber se não está enganada com seus sentimentos. Só mais um dia, não é tanto assim o que estou te pedindo.

            A Kate ficou muda e entendeu que Taylor também tinha um conflito grande dentro de si para resolver, mas ela realmente não sabia o que dizer. Era óbvio que queria ficar com ele, mas ela não sabia se poderia suportar uma separação depois disso, para ela estava claro que amava Taylor. E pela primeira vez em muito tempo a ousadia da garota do tênis amarelo estava reprimida, logo a dela, uma aventureira de carteirinha que sempre levara tudo como uma brincadeira, que se mostrava destemida e que repudiava todos que seguiam padrões de comportamento pela simples covardia de ousar. Agora ela era prisioneira de todas as concepções que abominava. Prisioneira do próprio medo de se atrever a fazer algo, de arriscar-se mais ainda e perder tudo.

             - Eu quero ficar sozinha um pouco, preciso muito pensar a respeito de tudo isso que você me disse.

            - Tudo bem. – ele disse. – Acho mesmo que nós dois precisamos pensar um pouco. Eu vou voltar lá para frente, e vou torcer para que você desça comigo em Belfest.

            Ele se levantou deu dois passos e voltou para ela.

            - Faça o que achar melhor. – E lhe deu um beijo na testa e voltou para a poltrona que antes estava sentando, deixando Cate com seus pensamentos.

            Ela estava tão confusa. Havia aberto seu coração e por mais ridículo que pudesse parecer, ela tinha esperanças de que Taylor também sentisse o mesmo. Mas em vez disso, ele só demonstrou que ainda não havia se decidido. Valia a pena ela ficar mais um dia com ele e correr o risco de ao fim dessa aventura perde-lo para sempre, amando-o quem sabe, ainda mais?

            - Mas e se ele também descobrir que me ama? – ela perguntou para si em voz alta.

            Havia entusiasmo em sua voz, para em seguida, vir uma frase melancólica.

            Não. Se ele me amasse já saberia. Ou não? Oh Deus, o que eu faço?

            Eram tantas as dúvidas, tantos planos, tanta coisa para avaliar. Ela encostou o rosto na janela e ficou olhando a paisagem que corria frente a sua vista, fechou os olhos e rememorou como um filme, todos os momentos que havia passado ao lado de Taylor. Foram tantas as vezes que ela fez isso sem perceber que de cansaço e sem chegar à conclusão nenhuma ela adormeceu.

           Um tempo depois, Taylor voltou para junto dela, e tocou levemente seu braço.

           - Kate, Kate... estamos chegando a Belfest. – ele disse docemente para acordá-la.

           Ela acordou assustada. Como podia ter dormido com o seu destino em jogo.

           - Acho que dormi um pouco. – Ela disse esfregando os olhos e aflita por ainda não ter uma resposta.

           - Percebi. – ele disse sério. – Você já decidiu o que vai fazer? Já sabe se quer descer aqui comigo, ou vai continuar a viagem?

           Por ter adormecido, Kate não pensou ao certo o que queria fazer. Mas naquele instante algo disse que ela deveria ser racional e pela primeira vez na vida a garota do tênis amarelo deixou a impulsividade de lado.

           - Eu vou continuar! Me desculpe. Não consigo arriscar mais que isso. – Ela respondeu triste.

           Taylor respirou fundo.

           - Tem certeza?

           - Tenho. Vai ser melhor para mim e para você. Quero guardar as doces lembranças que passamos juntos, é melhor do que no futuro odiar você por me deixar...

           - Você ainda não sabe se vou te deixar! – ele disse.

           - Pode ser, Tay. Mas... – ela baixou os olhos. – Não estou com coragem de ir em frente e pagar para ver.

           - Compreendo Kate. – ele disse. – Talvez o Taylor antes de conhecer você achasse certa essa atitude, mas agora.

           - Agora???

           - Agora é diferente! Você mudou isso em mim... E acho que pode mudar mais se quiser... eu quero muito que você vá comigo até Dublin.

           - E como eu vou ficar se você disser ao final da viagem que é com a Melissa que você quer ficar.

           - Você vai ficar triste, talvez magoada, com raiva... Mas eu tenho certeza que feliz por ter tentado.

           A Kate baixou a cabeça com vergonha. Pela primeira vez na vida ela não tinha coragem de ir mais além do que já havia ido. E Taylor entendeu a mensagem.

           - Tudo bem então. – ele estava realmente triste. – Não quero forçar você a nada. Você é uma garota incrível. Merece ser feliz. Espero que você compreenda e me desculpe por não ter a resposta que você tanto queria agora. Infelizmente talvez nós dois nunca venhamos a tê-la. – ele disse sinceramente e lhe deu um último beijo antes de se virar e sumir pelos vagões do trem.

           Kate ficou a olhar a silhueta do Tay até sumir.

           - Espero ter feito à coisa certa! – Ela pensou.

           Trinta minutos depois, ela observava Taylor descendo na estação de Belfest e saindo da plataforma. Naquele instante sentiu o peito apertar, pouco tempo depois o trem seguiu viagem.