Depois de desligar o telefone, fui até o banheiro e joguei uma água no rosto. Já não bastava o idiota do Logan ter me feito mudar para cá, ele tinha que ficar me irritando nos meus sonhos também? Bufei e saí do banheiro, me joguei no sofá e fiquei olhando para porta. Tomei um susto quando minha mãe bateu na porta e me chamou para ir jantar, então levantei vagarosamente do sofá e saí do meu quarto, andando numa velocidade bem lenta, estava meio sonolenta ainda. Quando cheguei lá embaixo, todos estavam na sala de estar, inclusive o Logan.

- Você vai ir jantar fora assim? – minha mãe perguntou. Ah, tinha esquecido que não tínhamos comida em casa ainda, então balancei a cabeça negativamente e deixei minha mão no ar e voltei a subir as escadas. Quis dizer “Já volto”, mas não tive força de vontade suficiente. Entrei no meu quarto e fui direto para o banheiro. Lavei meu rosto jogando bastante água e escovei os dentes, fechei a porta do banheiro e depois a porta do armário. Peguei uma calça qualquer e uma blusa solta, porque ainda estava meio quente, e vesti as roupas rapidamente. Abri minha sapateira e coloquei o primeiro tênis que eu puxei da prateleira. Baguncei meu cabelo um pouco para ela ficar arrumado, então peguei o meu celular e saí do quarto, mas antes percebi que o quarto do lado do meu - que supostamente seria o escritório do meu padrasto – estava cheio de caixas e um violão, então presumi que aquele era o quarto do Logan. Bufei alto e desci as escadas rapidamente. Quando cheguei na sala, todos estavam nos mesmos lugares. Mamãe e McKayla estavam sentadas em um sofá, meu padrasto estava encostado no outro sofá e o Logan estava de pé, encostado na pilastra perto da porta. Quando cheguei na sala, ele foi a única pessoa que percebeu, mamãe estava muito envolvida na conversa com o Joe, meu padrasto. Eles estavam falando alguma coisa sobre o mercado imobiliário da Flórida. Eu queria atravessar a sala e matar o Logan asfixiado, mas invés disso eu apenas bati meu pé forte no último degrau da escada como se tivesse acabado de descer.

- Pronta? – meu padrasto perguntou e eu apenas concordei com a cabeça ainda olhando para o Logan. – Então vamos!

Ele levantou e pegou Kayla no colo, minha mãe foi ao lado do meu padrasto, eu saí logo atrás deles e Logan veio atrás de mim. Eu, mamãe, McKayla e Joe fomos em um carro e Logan foi em outro até o restaurante, pedimos a comida e antes mesmo que pudéssemos acabar de comer, McKayla já havia dormido e eu já tinha me irritado o suficiente com o meu padrasto. Queria pegar o carro e voltar para minha casa, minha verdadeira casa.

- Então, o que diz, Hay? – minha mãe perguntou encostando a mão dela no meu braço. Olhei para mesa e vi que todos me olhavam, esperando pela minha resposta. Me endireitei na cadeira e balancei minha cabeça devagar.
- O quê? – perguntei enquanto dava um gole na minha Coca.
- Você sair comigo hoje para esquecer temporariamente que você está infeliz. – Logan falou olhando para o prato com aquele jeito despretensioso de sempre. Eu apenas bufei.
- Logan, cale a boca. Quer saber, Christie? Talvez não seja a melhor alternativa, mesmo. – meu padrasto disse chamando o garçom. Eu sabia que ele só queria ficar sozinho com a minha mãe. Quando McKayla dorme, isso quer dizer sexo.
- Tudo bem, Joe, eu vou. – disse olhando para o Logan com uma sobrancelha levantada. Ele sabia que eu estava desafiando ele e sabia também que eu não estava afim de ficar em casa. Então ele se levantou e pegou o casaco que estava pendurado na cadeira.
- Então vamos, criança. – fiquei olhando para ele pensando em não ir e foder os planos do meu padrasto, mas coitada da minha mãe, né? Levantei da cadeira e vesti meu casaco. Resolvi esperar o idiota do Logan lá fora e me peguei pensando nos meus amigos novamente. Mamãe disse que eles poderiam vir nas férias da primavera, mas duvido que eles viriam. O idiota do Logan aparecendo já puxando meu braço em direção ao carro.

- Seu idiota, eu sei andar! – disse puxando meu braço e contornando o carro até chegar na porta do passageiro. Ele apoiou os braços em cima do carro e ficou me olhando. – Tem como você abrir a porta? Está frio. – reclamei colocando minhas mãos no bolso do casaco. Ele continuou me olhando, dessa vez ele tinha um sorriso no rosto. – O que foi?
- Você tem que prometer que não fará muitas perguntas.
- Porque eu faria? – disse arqueando as sobrancelhas.
- Prometa! – ele se desencostou do carro.
- Ok, tudo bem, eu prometo. – disse dando de ombros ainda sem entender porra nenhuma, mas foda-se, eu queria entrar no carro. Eles destravou as portas e eu entrei no carro imediatamente. Ele entrou logo depois e nós dois colocamos o cinto quase que ao mesmo tempo. Ele deu a partida e saiu cantando pneus.

Eu ainda não sabia o que estava fazendo, mas eu pensei que desde que eu sou nova aqui, eu posso ser quem eu quiser, e isso era legal. Eu estava tamborilando meus dedos na minha perna esquerda ao ritmo da música que ecoava alta das caixas de som quando Logan voltou com dois copos de bebida.

- Que... – mordi meu lábio inferior quando percebi o olhar de reprovação de Logan. Eu tinha prometido que não iria fazer perguntas, né, então resolvi disfarçar. – lugar legal.
- Sério? Lugar legal foi a melhor coisa que você poderia ter dito? – ele perguntou balançando a cabeça negativamente e então me ofereceu um dos copos.
- Bem, foi a melhor coisa que eu poderia ter tido que não me faria soar que nem uma idiota qualquer. – disse dando de ombros e logo em seguida dei um gole demorado na bebida que Logan tinha trazido.
- Missão cumprida sem algum sucesso, então. Pareceu bem idiota! – ele riu e um arrepio subiu pela minha espinha quando senti algo tocar minha nuca. Virei para trás um tanto rápido e vi um garoto magrelo, ruivo e bem branco então ele me abraçou pelo pescoço. Estava obviamente bêbado.
- Buuuujik, Logan. – ele disse alto e eu confirmei que ele estava bêbado pelo cheiro de bebida do seu hálito.
- Bujik, Rupert. – ele disse levantando o copo no ar, então Rupert virou e me deu um beijo na bochecha.
- Rupert Grint aos seus serviços, senhorita. – ele tentou fazer uma reverência, mas quase caiu, então Logan ajudou-o a ficar de pé. Rupert sussurrou algo no ouvido dele e saiu andando. Fiquei vendo ele ir enquanto se perdia no meio de tanta gente.
- Bujik? – disse rindo baixo.
- Ele acha que fala farsi.
- E o que ele sussurrou no seu ouvido foi em farsi ou em português? – dei um gole na minha bebida sem tirar os olhos dele. Ele não expressou nenhuma reação, como se já esperasse que eu perguntasse aquilo.
- O que eu disse sobre “sem perguntas”? – ele perguntou avançando um pouco em minha direção, então dei alguns passos para trás, mas senti a parede e me encostei na mesma.
- Tecnicamente, você disse “muitas perguntas”. – sorri ironicamente para ele então ele sorriu de volta, mas era um sorriso alegre, de verdade.

Momentos assim quase me faziam esquecer o que Logan tinha feito. Quase.