Everything escrita por Anny Taisho


Capítulo 1
Everything




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 Everything

Ela era um poço de contradições, e ele, sempre compreendia tudo. Ele era o seu tudo.

I can be an asshole of the grandest kind

(Posso ser uma idiota das grandes)

I can withhold like it's going out of style

(Posso me fechar como já não se faz mais)

I can be the moodiest baby and you've never met anyone who is as negative as I am sometimes

(Posso ser a criança mais temperamental e você nunca conheceu ninguém é tão negativo quanto, às vezes, eu sou)

I am the wisest woman you’ve ever met

(Eu sou a mulher mais sábia que você já conheceu)

I am the kindest soul with whom you’ve connected

(Eu sou a alma mais amável com a qual você já teve contato)

I have the bravest heart that you’ve ever seen

(Eu tenho o coração mais valente que você já viu)

And you’ve never met anyone who is as positive as I am sometimes

(E você nunca conheceu ninguém tão positivo quanto, às vezes, eu sou.)

Shunsui estava prestes a perder a razão. Não entendia como alguém era capaz de ser tão... Tão contraditória. Isso mesmo, caros leitores e leitoras, o motivo do tomento do capitão do Hachi Bantai era uma mulher, o que se pensarem com calma, não é a notícia mais espantosa. Afinal, Shunsui Kyouraku é um grande admirador da graça e beleza feminina.

Lá estava o homem, deitado sobre um telhado qualquer com seu fiel companheiro, o chapéu de palha, sobre a face impedindo que o sol lhe incomodasse. Desde que ela entrara na sua vida tudo havia ficado de pernas para o ar, todas as suas convicções seculares jogadas ao vento.

Sempre levou a vida da maneira que gostava, apesar de sua família não ser exatamente a favor, mas o que fazer? Não se pode agradar a todos. Era incrível que ninguém compreendesse sua fascinação pelo belo, pelos prazeres que a vida tinha a oferecer. E qual melhor exemplo de beleza e prazer que se podia encontrar na natureza que não fosse uma mulher?

Se as pessoas parassem para pensar, tudo girava em torno das damas. As mais antigas civilizações eram fascinadas pela figura feminina. Apesar de subjugarem, a mulher sempre foi o começo e o fim de tudo. Da mesma maneira que são capazes de levar um homem aos céus, podem condená-lo as profundezas do inferno.

E assim, em sua longa existência, conheceu e teve incontáveis mulheres. Altas, baixas, brancas, negras, morenas, loiras, japonesas, americanas... De todas as nacionalidades, conheceu aquelas que eram extrovertidas, e também as demasiadamente tímidas, as nervosas, as selvagens, as delicadas... Todas, todas, todas e no final, seus olhos, mente e pensamentos pararam sobre uma única e justo a mais complicada de todas: Ise Nanao.

You see everything

(Você enxerga tudo)

You see every part

(Você enxerga cada detalhe)

You see all my light

(Você enxerga toda minha luz)

And you love my dark

(E você ama minha escuridão)

You dig everything

(Você entende tudo)

Of which I'm ashamed

(De que eu tenho vergonha)

There's not anything to which you can't relate

(Não há nada com que você não se identifique)

And you're still here

(E você continua aqui)

Nanao estava sentada perto da janela, tinha se dado alguns minutos de folga, olhava as flores de cereja que se desprendiam uma a uma da árvore tendo desabrochado a apenas uma semana, era tão belas e ao mesmo tempo tão efêmeras. Era estranho ver algo assim em Soul Society onde tudo é eterno.

Eternidade era um conceito tão usado pelos humanos, oh criaturas inocentes, o que sabem eles sobre tal conceito sendo tão efêmeros? Ela sim, podia falar sobre eternidade, como qualquer outro shinigami ou alma desencarnada que tinha algum tempo além da compreensão humana de existência.

A fukutaisho era muito inteligente, gostava de saber que tinha a resposta para quase tudo o que lhe fosse perguntado, mas agora ela punha essa suposta superioridade a prova, desde que seu coração passou a viver a beira de um colapso, desde que um frio passou a lhe subir a espinha ao ouvir uma voz, desde que ele entrou em seu coração sem permissão...

Sempre fora senhora de si e de seus sentimentos, mas agora vivia com a dúvida em seu encalço, com a vergonha lhe deixando corada, com o medo fazendo ninho dentro de sua alma e coração...

E mesmo assim, ele sempre compreendia tudo. Olhava-a nos olhos e via sua alma, não completa porque isso não podia permitir jamais. Existem coisas que não devem ser do conhecimento de ninguém, nem de si própria.

Como alguém podia ver todas as incertezas e medos de um ser e não sair correndo? Era quase como ele se identificasse com tudo o que via, Nanao chegava a pensar que ele via muito mais do que ela achava que deixava-o ver.

Não era certo! Não era normal! Não era nada do que estava acostumada!

Céus! Tantas palavras para no fim Shunsui entender tudo com apenas um olhar e sair dizendo sem palavras que sempre estaria ali.

I blame everyone else not my own partaking

(Eu culpo a todas as pessoas, menos a mim mesma)

My passive aggressiveness can be devastating

(Minha agressividade passiva pode ser devastadora)

I'm terrified and mistrusting

(Eu sou assustada e desconfiada)

And you've never met anyone who is as closed down as I am sometimes

(E você nunca conheceu ninguém tão fechado quanto, às vezes, eu sou)

Louca. Completamente desequilibrada. E o pior, não é o tipo de insana que se pode perceber apenas ao olhar. Nem de longe qualquer pessoa julgaria a Ise como louca, mas ela é. Sempre põe a culpa de tudo o que acontece com si mesma nos outros.

É incapaz de ver o que está a frente de seus olhos, sempre se defendendo de um inimigo invisível e criado que torna a mulher devastadora, com sua língua ferina e o maldito livro que sempre usa como escudo e arma.

Tantas vezes tentou quebrar aquela barreira, tantas vezes tentou mostrar que não era necessário aquele medo e desconfiança, mas nunca conseguia sucesso. Nanao sempre corria na hora “H”, nunca o deixava desvendar completamente sua alma.

Tinha chegado tão perto naquela noite, por algumas horas, haviam se esquecido das relações profissionais, dos medos, das desconfianças, das palavras agressivas... Nanao havia se aberto como um livro, objeto tão estimado pela moça.

Mas do nada foi contra tudo o que Kyouraku acreditava que ter conseguido, saiu correndo, ele bem que podia correr atrás dela, só que não adiantava... Ela tinha se fechado, de novo.

Aquela criatura ainda conseguiria fazê-lo perder a sanidade. Será que não via que tudo o que ele queria era uma chance de entendê-la melhor, mais do que já entendia, para poder fazê-la esquecer de tudo e simplesmente deixar acontecer?

XxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXFlash Back onXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXx

You see everything

(Você enxerga tudo)

You see every part

(Você enxerga cada detalhe)

You see all my light

(Você enxerga toda minha luz)

And you love my dark

(E você ama minha escuridão)

You dig everything

(Você entende tudo)

Of which I'm ashamed

(De que eu tenho vergonha)

There's not anything to which you can't relate

(Não há nada com que você não se identifique)

And you're still here

(E você continua aqui)

Era começo de manhã quando Kyouraku chegou ao Bantai, o que não era exatamente uma coisa comum, mas que tinha explicação: Yamamoto Soutaicho havia avisado que não toleraria que mais uma vez a papelada do Hachi Bantai fosse entregue depois do prazo. E agora, em cima do prazo de entrega, ele tinha que assinar toda a papelada.

Teria feito isso no dia anterior se Rangiku-san não tivesse aparecido juntamente com Kira e Hisagi e o chamado para comemorarem o aniversário da mesma. Como ele poderia ignorar uma data tão importante de uma companheira de sakê? E isso lhe lembrara uma coisa, Nanao-chan tinha ignorado o aniversário da amiga e esse pedira para dizer que ficou chateada.

Ao sair na tarde anterior, a Tenente estava tão compenetrada em seu serviço que era perigoso nem ter ouvido os amigos a chamarem! Ele já tinha avisado que esse vício que ela tinha por trabalho acabaria mal.

E qual não foi sua surpresa ao vê-la em sua escrivaninha ao adentrar o escritório? E não por sua presença e sim por ela estar adormecida sobre os papéis.

- Nanao-chan...

A voz saiu num sussurro, mas foi o suficiente para ele constatar que ela estava profundamente adormecida, o que queria dizer que nem para casa ela fora no dia anterior! Essa Nanao-chan... Como podia ser ligada ao trabalho a ponto de adormecer sobre a papelada toda torta?! Pensou em acordá-la... Mas espantou o pensamento ao se aproximar e ver a face serena que a mesma ostentava. Não podia atrapalhar o sono de sua ninfa da primavera. Teve uma idéia melhor, cuidadosamente tirou sua Fukutaisho da cadeira pegando-a no colo e levando para o sofá da sala que dividiam.

Aquela era a primeira vez que chegava tão perto da moça sem levar um tapa ou uma livrada, o corpo era pequenino e delicado, podia carregá-la com um único braço facilmente, a pele de tom claro emanava um calor que fez o capitão arrepiar-se, respiração pausada...

Colocou-a sobre o sofá retirando-lhe as sandálias, os óculos e o prendedor de cabelo. Retirou o Haori nacarado que usava e jogou sobre o corpo que jazia adormecido, estava uma manhã deveras fria para meados de Janeiro. Olhou-a dormir por mais um tempo e depois foi para os seus papéis, tinha um prazo apertado a cumprir.

. . .

Já era quase duas da tarde quando Kyouraku notou mudança no estado da moça, depois de quase ter sido acordada por uma entrada brusca do terceiro posto ele tinha deixado claro que se sua Nanao-chan acordasse por algum motivo que não fosse natural a coisa ficaria muito feia por ali, ela começou a se mexer e de repente ergueu o tronco bruscamente.

- Ah...?! O que?? Os papéis!! Onde estou??

Ela olhava aflita para os lados tentando se situar, a última coisa da qual se lembrava era de estar lendo/assinando/separando relatórios que devia ser entregues até as dezoito horas do dia seguinte, era tarde, estava com os olhos pesados, cansada e não podia parar... E céus! Ainda tinha o aniversário da Rangiku-san! Que horas eram??

- Boa tarde, Nanao-chan. Dormiu bem? – Shunsui estava em sua mesa com uma caneta entre os dedos –

- Boa tarde, Taisho... – ela notou o que disse – Como é? Boa tarde?O que o senhor está fazendo aqui? Não tinha ido com o Kira e o Hisagi-san?

- ele riu – Isso foi ontem, querida Nanao-chan, você apagou de cansaço aqui no escritório...

- O que?? Mas e os papéis? E o aniversário da Rangiku-san? Meu Deus!? – nesse instante ela percebe seus cabelos caindo sobre a face e a visão embaçada, sem contar que alguma coisa lhe cobria as pernas – O que significa isso...?!

- Eu não quis acordá-la, dormia tão profundamente... Agora é melhor ir para casa tomar um bom banho e comer alguma coisa, está muito pálida, não deve estar se alimentando direito!

- Não, não... Temos que terminar esses relatórios! O senhor disse ‘boa tarde’? Que horas são?

- Agora... – ele olha – Duas horas em ponto!

- O QUE?? SÓ QUATRO HORAS PARA ENTREGAR OS REATÓRIOS? POR QUE ME DEIXOU DORMIR TANTO??

- Calma, minha Nanao-chan, o que já estava separado já foi assinado e despachado, só faltam esses aqui...  – ele aponta para dois relatórios que só faltava assinar – Prontinho! Acabei! Tatsufusa-kun!!!

Logo o rapaz aparece a porta perguntando o que seu capitão queria.

- Pode levar isso aqui para o Yama-jiji? – ele indica a pilha de folhas – E depois está dispensado.

- Hai, Kyouraku taisho! – o rapaz pega as pilhas – Boa tarde, Ise-fukutaisho. – ele se retira –

- Viu? Não há motivo para tanto estresse, não dei minha palavra de que tudo estaria pronto com folga?

- Certo... – ela suspira – Acho que é melhor eu ir para casa...

A Ise fica sentada como se ainda não tivesse assimilado totalmente os fatos sob o olhar penetrante de seu capitão.

- Minha Nanao-chan fica ainda mais linda com os cabelos soltos, deveria usá-los assim mais vezes! – ele sorria bobo –

- Estou aqui para trabalhar, não para ser bonita, Taisho!

Dito isso a moça levantou-se procurando suas coisas. Precisava ir para casa, se toda a papelada estava entregue também tiraria o resto do dia de folga, estava precisando mesmo descansar. Era humana afinal.

- Sua frieza me machuca, Nanao-chan... Meu coração ainda não vai agüentar tanto maltrato! Por que não comemos alguma coisa juntos para reparar o dano?

- Nem pensar. – disse a mulher decidida –

- O que é isso? Não confia em mim, querida...

- Não confio mesmo! Agora, com licença!

- Cruel, Nanao-chan, cruel... Não precisa me tratar assim!

Ótimo! Agora ele ficou magoado! Fala sério! Ela estava cansada, meio dolorida pela noite fora de sua cama, com um pedido de desculpa monstro para fazer a amiga Rangiku, e ele fazendo ceninha!

- Desculpe, taisho... Só estou um pouco cansada ainda...

- Tudo bem! O que posso fazer se minha cruel Nanao-chan me trata com tamanho descaso e desconfiança?

Ela suspira, iria se arrepender do que pretendia fazer, mas se não fizesse não teria paz. Não era uma criatura que aturava peso de consciência, mesmo que não fizesse por onde tê-lo. E também, era só um almoço, não podia ser tão ruim.

Não era como se Kyouraku fosse agarrá-la e forçar algo, sabia que apesar de bastante abusado, ele ainda tinha algum respeito e juízo. Só teria de aturar alguma cantada boba e pequenas investidas de seu chefe.

- Okay, eu aceito o convite, mas em um lugar onde ninguém possa nos ver juntos!

- Tens vergonha de mim, cruel Nanao-chan?

- Não, apenas quero evitar um falatório desnecessário! E não ouse sair por ali espalhando mentiras!

- Claro, claro... Sua vontade para mim é uma ordem! Ninguém precisa saber!

- Vou em casa tomar um banho e me trocar, o que vai ser?

- Hum... – ele ficou alguns segundos pensativo antes de abrir um sorriso bobo – Eu passo para te buscar! É surpresa!

- Olha lá em Taisho! Não quero ser obrigada a tomar medidas drásticas em relação ao senhor! – ela se referia ao seu fiel companheiro livro que acabaria enterrado na cabeça de Kyouraku caso ele abusasse da sorte –

- Nunca, minha doce Nanao-chan! Tudo o que eu fizer com você será com seu mais sincero consentimento.

A moça fica um pouco corada, mas dá as costas e sai da sala. Ele era incorrigível.

XxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXFlash back offXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXx

What I resist persists and speaks louder than I know

(Aquilo a que eu resisto persiste e fala mais alto do que eu imagino)

What I resist you love no matter how low or high I go

(Aquilo a que eu resisto, você ama, não importa o que eu faça)

Nanao não conseguia parar de pensar em Shunsui, parecia que o mundo conspirava contra ela. Todas as boas lembranças daquela noite brincavam dentro de sua cabeça. Aquele homem sabia ser conquistador quando queria, o mais perfeito cavalheiro, o príncipe encantado...

Não. Príncipe não. Kyouraku não era perfeito como os príncipes das histórias infantis, era muito melhor justamente por ter inúmeros defeitos. Afinal, se só houvessem virtudes não haveria graça, nada se sobressairia já que seria impecavelmente perfeito.

A Ise negava o quanto amava aquele homem até para si mesma, apesar de seu coração gritar o contrário. Eram tão diferentes... Não fazia qualquer sentido ficarem juntos, sem dizer que os amores de Shunsui eram fugazes como fogueiras, no auge poderiam queimar até o céu, mas conforme o tempo passava as chamas iam diminuindo até não passarem de inofensivas brasas.

E como se não bastasse aquele turbilhão de sentimentos que atormentava a mente da pobre Fukutaisho, Shunsui fazia o que de pior poderia fazer, entendia tudo e amava tudo aquilo que ela queria e insistia em rejeitar.

- Já passaram das seis, minha Nanao-chan não deveria estar aqui. – a Ise deu um pulo, não havia escutado a entrada do dono daquela voz –

- Taisho...?! – a morena ajeitou os óculos sobre a face – O senhor me assustou.

- Mas você também estava no mundo da lua, posso saber no que pensava tão compenetradamente?

- Em nada... Em tudo... No que não entendo.

- Às vezes é preciso simplesmente apreciar, porque ao tentar entender pode-se romper o encanto.

- Eu não consigo viver assim, tudo tem e precisa de uma explicação lógica.

- Associar um cheiro a um momento. Uma sensação e um pressentimento. Um gosto a uma lembrança... Nada disso teria graça se houvesse uma explicação lógica, mecânica.

- Na verdade, Taisho, isso acontece devido a capacidade do cérebro de associar um acontecimento bom a algo que ajudou na liberação de neurotransmissores responsáveis pelo prazer. E sobre a sensação, nada mais é do que o instinto de sobrevivência. Se você estiver no octogésimo distrito de Rukongai a noite, não irá sentir-se à vontade... No entanto, se for a um campo de flores num bosque vai sentir-se bem, terá o pressentimento de que algo bom pode acontecer.

Uma risada sonora ecoou pela sala, o capitão do Hachi bantai não acreditou no que tinha acabado de ouvir, só podia ser alguma piada.

- Você ouviu o que disse, Nanao-chan? – ele sorriu – Eu acho que não, isso só pode ser um discurso decorado.

- O senhor quer que eu traga as revistas cientificas em que li sobre, ou mesmo os livros?

- Você pensa nos seus neurotransmissores quando recebe um abraço acolhedor? Ou quando come alguma comida que te lembra uma situação engraçada? Ou então quando beija apaixonadamente alguém de sua estima?

A Ise estava sem palavras.

- Isso... Isso... Isso não quer dizer que os neurotransmissores não estejam lá.

- E eu não disse o contrário, disse apenas que não é necessário conhecer isso para poder sentir. E se fosse só isso, garanto que muita gente não teria sentimento algum.

Por que raios seus coração estava quase entrando em colapso e sua respiração ficando tão difícil? Por que tudo o que ele dizia era a mais bela e profunda verdade? Por que tudo o que queria era sentir o calor daqueles lábios grossos sobre os seus?

Tudo. Todas as suas convicções estavam sendo enxovalhadas por um furacão de incompreensíveis sentimentos sem pé nem cabeça.

XxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXFlashback onXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxXxX

I'm the funniest woman that you've ever known

(Eu sou a mulher mais engraçada que você já conheceu)

I am the dullest woman that you've ever known

(Eu sou a mulher mais estúpida que você já conheceu)

I'm the most gorgeous woman that you've ever known

(Eu sou a mulher mais bonita que você já conheceu)

And you've never met anyone

(E você nunca conheceu ninguém que seja tanto)

Who is as everything as I am sometimes

(Quanto, às vezes, eu sou)

Nanao estava a porta de sua residência esperando que Shunsui aparecesse. A morena não sabia o motivo, mas tinha a impressão de que não deveria estar fazendo aquilo. Aquela voz chata que todo mundo tem dentro da cabeça, dizia a Fukutaisho do Hachi Bantai que ela deveria fugir enquanto tinha chance.

O que realmente não soava mal, afinal, ela estava baixando a guarda para Shunsui Kyouraku e isso poderia ser letal. Bem, não estava sentindo nem sinal da reiatsu dele, o que indicava que ele deveria estar MUITO longe, ainda havia tempo para ocultar a própria e se esconder em algum lugar de Soul Society.

- Correr ou não correr... Eis a questão... – o capitão já estava demorando demais, poderia alegar que fora deixada plantada – Isso, Nanao, bata o pé e diga que ficou profundamente ofendida... E... Kuso... – ela passa a mãos sobre os cabelos que estavam soltos quase puxando-os – Onde é que eu estava com a cabeça quando aceitei essa loucura??

A morena começou a caminhar de um lado para o outro, estava prestes a ficar louca, sua mente dizia que deveria se mexer e sumir até o sol nascer, mas seu corpo não obedecia, o máximo que fazia era ficar andando de um lado para o outro como um idiota.

Muitas coisas passavam pela mente da Ise, tantas que ela não notou a chegada de Kyouraku. O shinigami pulou do telhado parando, literalmente, a frente de sua companheira. Essa que quase caiu para trás, tamanho o susto.

- Boa noite, Nanao-chan. – soltou ele ostentando a face boba de costume –

- Ta... Taisho!? – ela levou a mão direita sobre o coração que quase abrira um buraco no peito para saltar fora do corpo de sua dona – O... O senhor me assustou.

- Desculpe, não foi minha intenção assustar a minha linda Nanao-chan. Eu acho que ela precisa de um abraço para me perdoar!

- Nem vem!? – a morena se esquivou da investida de seu capitão, fazendo-o quase acertar a cara na porta, sorte que o Taicho tinha um excelente reflexo – Não seja inconveniente, Kyouraku-taisho.

- Certo, certo... – Shunsui coça a cabeça – Mas era só um abraço, não precisava ter agido assim...

Ele não terminou a frase, simplesmente deixou as palavras incompletas, estava admirando a beleza da jovem a sua frente. Os cabelos negros caiam sobre os ombros como uma cortina de cetim emoldurando o rosto delicado e destacando ainda mais os olhos azuis quase púrpuros. A yukata era de seda violeta totalmente bordada com pontos finos e caia como uma luva sobre o corpo mimoso de Nanao. A pele pálida como uma porcelana fina ficava levemente a mostra na região do pescoço e descia em um delicadíssimo “v” e naquele colo alvo havia uma correntinha prateada com um pingente que ele não conseguia identificar.

Em seus mais de três séculos de existência jamais tinha visto uma mulher tão bela. Ela era sua musa...

- Taisho? – ela ergueu uma das sobrancelhas – Taisho, o senhor está bem?

Kyouraku chacoalhou a cabeça e abriu um sorriso bobo, tinha ficado tão fascinado por sua bela Nanao que perdera a noção de tempo, espaço, lugar...

- Vamos então, Nanao-chan?

A Ise desceu o olhar sobre seu capitão notando que além de usar um kimono que não era o uniforme de shinigami, ele trazia uma cesta de palha, como de um piquenique, em uma das mãos.

- O que vamos fazer? – ela não iria a lugar nenhum com ele antes de saber exatamente o que ele estava aprontando - Vai ser um piquenique?

- É surpresa, minha musa, apenas suba nas minhas costas. – Shunsui virou de costas para a Ise abaixado-se um pouco –

- Como é?!

- Vamos, Nanao-chan! Eu vou levá-la!

- Eu não vou subir nas suas costas coisa nenhuma! Pode ir tirando o seu cavalinho da chuva!

A jovem Fukutaisho tinha uma das mãos na cintura e a outra fechada em punho com o dedo indicador em riste. De onde ele tirara aquela idéia de que ela aceitaria tal ato? Não o deixaria colocar as mãos em sua silhueta nem em Seireitei, nem em no mundo real! E ela também não pretendia ter nenhum contato físico com a silhueta máscula do capitão.

- Largue de bobeira, Nanao-chan. É que assim chegamos mais rápido...

- Eu também sei usar um shunpou! É só falar para onde vamos.

- Mas eu posso levar nós dois até o lugar que escolhi em um terço do tempo que nós dois, separadamente, demoraríamos para chegar.

- Não tem problema. O que são alguns minutos ou segundos a mais? E tem mais, e se o senhor me deixar cair? Ou se alguém vir?

Uma risada estrondosa invadiu os ouvidos da Ise.

- Ninguém nos verá e eu muito menos lhe deixarei cair, minha Nanao-chan duvida de minha capacidade física? Pois saiba que seu Shunsui-kun está na mais perfeita forma.

O capitão de longos cabelos castanhos ergue uma das mangas do Hakama que usava até o ombro e flexiona o braço de maneira que os músculos ficassem mais aparentes. Não era preciso dizer que aquela era uma bela visão. A pele morena, os pêlos, a circunferência formada...

Por alguns instantes, Nanao ficou sem saber o que dizer.

- Então, ainda desconfia da capacidade do seu Taisho, Nanao-chan? – Shunsui ostentava um sorriso vencedor nos lábios grossos, o que fez um rubor subir a face da Ise que se virou para evitar olhá-lo –

- No entanto, Taisho, a idade torna os ossos menos rígidos e os músculos menos elásticos, não quero ser acusada de ser a causa de abusar da capacidade física de um Taisho com problemas oriundos da idade!

É mais que claro que a idade de Shunsui pouco importava naquele momento, sem dizer que ele realmente estava muito bem, mas ela não iria admitir isso e muito menos sair por ai nas costas dele.

- Cruel, Nanao-chan... Cruel...

O moreno fez um bico para expressar sua tristeza ao ouvir o que sua linda musa dissera. Não que realmente ficasse chateado, apenas não perderia a chance de provar a ela que suas colocações absurdas estavam completamente equivocadas.

E num movimento que assustou a Ise, Shunsui a retirou do chão com apenas um braço. Sem dificuldade alguma.

- Me... Me ponha no chão, Taisho!

Novamente a risada grutal dele ecoou e assim ela foi devolvida a terra firme.

- Ainda duvida de mim, cruel Nanao-chan?

- Nós não sairemos daqui se não for da maneira que quer, não é? – ela ajeitou os óculos enquanto dizia isso –

- Certamente não.

- Então tá! Mas nada de gracinhas! E se me deixar cair eu presto uma queixa por lesão corporal!

- Não irá cair, bela Nanao-chan...

O moreno virou-se para ela e abaixou um pouco o corpo, coisa que não adiantou muito, a diferença de altura era bastante grande. Mas isso não foi empecilho, a morena colocou as mãos sobre os largos ombros masculinos pegando impulso para pular.

Kyouraku levou as mãos as juntas do joelho da Ise para dar segurança e ela passou os finos braços em volta do pescoço dele. Ela podia sentir de perto os músculos masculinos e sinceramente, não parecia que ele estava fazendo muito esforço.

- Segure-se.

E assim o shinigami deu um salto para cima de um telhado e começou assim a usar um Shunpou. Nossa! Realmente, Kyouraku usava muito melhor a técnica, aos olhos da vice-capitã, o mundo parecia um borrão. Nem o vento que esperava sentir parecia tocar sua pele, ou talvez fosse o calor que emanava da pele daquele que a carregava.

Para ele, era uma sensação ótima sentir sua Nanao-chan tão pertinho, a respiração perto de seu ouvido um pouco descompassada, a maneira com que ela travou os dedinhos em seu hakama pelo medo de cair...

Foram apenas alguns segundos, no entanto, segundos que levaram consigo sensações maravilhosas.

- Chegamos. – Shunsui soltou as pernas dela para que ela descesse – Eu não disse que chegaríamos mais rápido?

Só que a dama não ouviu. Ainda estava sob o torpor que o passeio lhe proporcionara. Ela teve medo de não conseguir ficar de pé sozinha...

Olhou para os lados tentando se localizar, estavam perto de uma grande cachoeira que ficava numa clareira. Provavelmente, a muitos quilômetros de distância de qualquer ser vivo e racional.

Não havia ali nenhum sinal de alguma preparação prévia, apenas a natureza simples. A grama verde, as águas que faziam barulho ao cair tocando outras águas ou pedras, as frondosas árvores que balançavam ao ritmo da brisa fria com folhas farfalhando... O céu estava limpo e repleto de pontos brilhantes, sendo a lua cheia o astro principal da noite iluminando o local.

- É... Lindo... – as palavras saíram da boca da dama perdidamente sem que a mesma notasse –

Kyouraku que estava alguns metros a frente estendendo a toalha e colocando o que trouxera para fora da cesta deu um pequeno sorriso, tinha um bom pressentimento em relação aquela noite.

- Então, está com fome, Nanao-chan?

- Hum...? Sim. – ela sorriu – Aqui é tão lindo, onde estamos?

- Sessenta quilômetros floresta a dentro... Ás vezes eu gosto de vir aqui de noite olhar as estrelas.

- Pensei que só gostasse de olhar outras coisas nos bares. – disse ela seca –

- Cruel, Nanao-chan.... Que imagem deturpada faz de mim. Eu sou um homem sensível.

- Claro, e eu sou uma samambaia africana! – a morena sentou-se em uma das pontas da toalha trazida por seu capitão –

- Então você é a samambaia africana mais linda que já vi. – ele sorriu deitando-se de lado com a cabeça apoiada sobre a mão –

- Baka! – a Ise estava sentada com as pernas juntas e de lado, e agora começava a olhar o que ele tinha trazido: maçãs, uvas, morangos, alguns pequenos sanduiches, uma pequena torta e uma garrafa que ela imaginou que continha sakê – Não vou beber sakê, Taisho.

- Aqui tem chá para você, minha garrafa de sakê está aqui... – ele levantou uma das mãos – Não seja tão desconfiada e me chame de Shunsui-kun, não tem mais ninguém aqui.

- Nem morta!

- Então pelo menos de Shunsui-san... Eu não gosto de ser tratado com tanta formalidade por minha querida, Nanao-chan, que a propósito não comeu nada ainda! – ele deu uma grande mordida em uma maçã vermelhinha e depois estendeu a Ise – Quer uma mordida?

- Mas o senhor é meu capitão, tenho que tratá-lo com a incumbência que o cargo demanda. – ela pega uma uva e leva a boca –

- Mas também somos amigos, não somos? E amigos se tratam com mais intimidade.

- Eu não quero ter intimidade nenhuma com o senhor, Taisho!? – a Ise estendeu a mão para servir-se com o chá –

- Sua rejeição a minha afeição magoa meu pobre coração... Não tem pena dele que ama e sempre é pisoteado por suas palavras ácidas?

- Ácido não pisoteia, corrói, Taisho.

- Me dê só um pouquinho de confiança, Nanao-chan querida... Eu juro que só quero o seu bem. Coma mais, está tão magrinha... Tem se alimentado direito?

- Eu não tenho cinco anos, Taisho!

- Então prova esse moranguinho... Está bem docinho. – ele esticou o braço até perto do rosto da Ise que receosa acabou por morder a fruta – Não está gostoso?

- Está sim. – ela sorriu –

- Como eu gostaria de ser esse morango... – um rubor subiu a face da dama quando o cavalheiro soltou a pérola e depois comeu o que restou da fruta – Aposto que os lábios da minha Nana-chan devem ter o mesmo gosto.

. . .

Depois de algum tempo, a jovem Fukutaisho acabou por abaixar um pouco a guarda e até rir das brincadeiras que seu capitão fazia. No final das contas, não estava sendo tão ruim assim, Até experimentar uma dose do sakê dele ela fez...

Comeram, guardaram as coisas de volta na cesta e ficaram deitados sobre a toalha para observar o céu límpido. Nenhum dos dois falava mais nada. Apenas olhavam os desenhos que as constelações formavam.

Apenas o som do farfalhar das folhas verdes quebrava o silêncio naquela noite límpida de brisa vinda do sul.

- O senhor vê? – ela aponta – Aquela ali é a constelação do arqueiro, sua flecha sempre aponta para o leste, dizem que sempre que você estiver perdido pode usar a direção de sua flecha para se guiar.

- Minha Nanao-chan é tão inteligente...

- E aquela ali é a constelação de Órion. A outra que está a direita, é a de Sagitário... – quando a Ise vira o rosto para olhar o lado vê que Shunsui estava deitado de lado com a cabeça sobre a mão olhando-a –

- T... Taisho!? O senhor não estava olhando as estrelas! – ela chega um pouco para o lado oposto ao parceiro – Eu aqui falando feito uma idiota e o senhor curtindo com a minha cara.

- Eu não estava curtindo com a cara da minha Nanao-chan, apenas aproveitando a oportunidade de olhá-la de pertinho e sentir seu perfume sem levar uma livrada, ou um tapa, ou qualquer outra técnica que você usa para me afastar. As estrelas eu posso ver depois...

Um rubor gigantesco subiu a face da Ise, tanto que ela sentou-se fazendo o haori rosado que ele jogara para protegê-la da brisa fria escorregasse para suas pernas. Ele era muito bobo, parecia até que gostava de deixá-la sem graça.

- Não diga besteiras, Taisho!

- Não é besteira, Lovely,você pode não acreditar, mas olhá-la é o que tornar o meu dia mais bonito. Minhas melhores noites de sono são aquelas em que sonho com você...

- Pare com isso! – ela ostentava uma face rosada – Va... Vamos falar de outra coisa?!

- Tudo o que minha Nana-chan desejar... Falaremos sobre o que?

- Que tal sobre como o senhor vai ser um Taisho bonzinho não me deixando maluca já que não assina os papéis?

- ele faz uma careta – Isso é chato demais...

- Claro, não é o senhor que vive a beira de uma crise de nervos. – resmungou a Ise –

A risada sonora de Shunsui sobrepõe-se aos sons da natureza que até o momento dominavam o ambiente, sua querida Nanao-chan era muito estressada, deveria relaxar mais. Nenhum dos dois disse mais nada, a mulher apenas deitou sobre a toalha, gesto repetido pela outra pessoa ali presente.

Nenhum dos dois soube quanto tempo passaram ali quietos, mas de repente Nanao notou que o ritmo da respiração do moreno caiu, estava tranqüila e os olhos cor de ébano cerrados. Ele tinha adormecido. Lembrava uma criança tamanha sua tranqüilidade.

Sendo assim, a moça virou-se de lado e apoiando a cabeça sobre a mão ficou a fitá-lo. Era tão lindo, mas isso não era nem de longe o que mais importava, Shunsui era o tipo de homem protetor – às vezes irritantemente demais – gentil, sábio – apesar de passar mais tempo do que deveria bêbado -, companheiro – era incapaz de abandonar um amigo.

Se a perfeição existe, ele seria a mesma... Para ela, pelo menos. Ela se perguntava se alguma das mulheres com quem ele dormia parava para olhá-lo dormir, sem malicia, só pelo prazer de sentir a serenidade que ele emanava...

Nanao podia passar cem anos ali que não se cansaria daquela cena, aquele curto momento valia muito mais do que todos os devaneios, a realidade era catastroficamente superior a qualquer fantasia.

O som da respiração longa, o cheiro da pele morena, o silêncio era tão superior que até as batidas rítmicas do coração masculino ela ouvia. Instintivamente, a moça começou a aproximar-se do corpo adormecido, queria tocar aquela pele para ter certeza de que era real.

Chegou pertinho e com a leveza de uma borboleta tocou a pele do rosto sereno, vendo forma-se, para seu susto – um sutil sorriso.

- Tai-sho..? – os olhos púrpuros arregalaram-se atrás das lentes –

- Shhh, Nanao-chan, apenas aproveite o momento.

Apesar de muito assustada, a Ise não se mexeu, o que deu ao capitão a oportunidade de puxá-la para perto de si fazendo-a deitar o corpo sobre seu tronco. Dessa maneira ele podia acariciar os delicados fios negros, a respiração da pequena estava tão irregular...

Ficaram assim durante alguns momentos até Nanao se levantar, mas não para sair dali, a morena sentou-se sobre seu abdome e pegou uma das mãos do capitão espalmando a própria sobre a dele. Uma diferença catastrófica.

Apesar de muitas pessoas acharem que Shunsui gostava de qualquer rabo de saia, o que não era de todo mentira, ele tinha uma certa preferência. O nobre capitão preferia as moças mais pequeninas, delicadas, meiguinhas. O tipo mulherão era muito atraente, no entanto não tinha a mesma graça de uma moça pequena que se perdia em seu abraço. Ukitake costumava dizer que seu amigo gostava de bibelôs.

E sua Nanao-chan se encaixava perfeitamente nesse perfil, apesar de ter uma personalidade forte que não gostava de mostrar fraqueza sendo protegida por ninguém, era uma ofensa para ela quando algum subordinado queria carregar alguma caixa que ela estava levando e parecia pesada, ela era pequenina, se encaixava perfeitamente em seu abraço.

Ele sorriu e fechou a mão mantendo a de sua Ise em seu contato. Parecia que ela finalmente estava derrubando as paredes que haviam construído em torno de seu coração para deixá-lo entrar e como era espaçoso, trataria de ocupar todo o espaço livre.

Shunsui sentou-se mantendo a Ise sobre seu colo.

- Minha Nanao-chan é tão linda... – ele sorriu acariciando a face delicada – Eu acho que vou acordar a qualquer momento e minha Nanao-chan não vai estar aqui...

O capitão se aproximou e uniu seus grossos lábios com os delicados da moça. Há quanto tempo esperava por aquele momento... O toque delicado e receoso que ao mesmo tempo entregava-se completamente. A boca de sua doce Ise tinha sabor de mel, nunca, jamais sua imaginação chegou minimamente perto do sabor que aqueles lábios tinham. Sem forçar demais a situação o capitão abriu caminho para sua língua faminta explorar toda a extensão da boca de Nanao, queria tirar dali todo o êxtase que sempre esperou e também passar para ela todo amor que sentia.

Precisava urgentemente convencê-la do quanto a amava. Queria acordar na mesma cama depois de uma longa e deliciosa noite de amor, queria voltar para casa e não estar mais sozinho, queria sentir-se amado por aquela que roubou seu coração.

E agora era o momento, estavam entregues naquele momento, apenas uma fração de segundo foi necessária para que ele visse naquelas piscinas azuis o que ela escondeu por tantos anos, Nanao agora era um livro aberto. Ele tinha finalmente atravessado todas as barreiras.

As pequenas mãos da fukutaisho se afundaram nos ombros largos de seu capitão enquanto ela sentia os braços fortes dele envolvendo-a como se temesse uma fuga.

Quando necessitaram de ar, abriram os olhos, se encararam fixamente e numa fração os olhos de mulher apaixonada se arregalaram como se ela tivesse acordado de um transe. E novamente Shunsui não conseguia ler mais nada. Nanao o empurrou com toda força que encontrou e saiu correndo como se estivesse sendo perseguida pelo pior dos inimigos.

Não adiantava nem ir atrás dela, novamente ela se tornara um livro fechado.

E uma pergunta ficou no ar: Do que ela tinha tanto medo?

XxXxXxXxxXxXxXXxXxXxXxXxXxXxFlash back offXxxXxxXxxXxXxXxXxXxXxXxXxX

You see everything

(Você enxerga tudo)

You see every part

(você enxerga cada detalhe)

You see all my light

(Você enxerga toda minha luz)

And you love my dark

(E você ama minha escuridão)

You dig everything

(Você entende tudo)

Of which I'm ashamed

(de que eu tenho vergonha)

There's not anything to which you can't relate

(Não há nada com que você não se identifique)

And you're still here

(E você continua aqui...)

Estavam frente a frente. Shunsui olhava para sua Nanao-chan procurando a resposta para tanta resistência. Ela sabia que seria só ela, que ele jamais olharia para o lado enquanto estivesse com ela... Ise Nanao era o centro de seu mundo.

- Por que rejeita tanto o meu amor, Nanao?  - ele perguntou com uma voz macia, queria mesmo entender –

- Eu não rejeito seu amor porque esse não existe. – disse a mulher estóica –

- Você sabe que isso não é verdade e que suas palavras me machucam... Pare de colocar impedimentos que só nos fazem sofrer. – Shunsui tentou tocar o rosto da Ise, mas ela não permitiu –

- Você sabe que não me ama, Kyouraku-san, quem seus olhos vêem quando me olham não sou eu! E mesmo que por alguma brincadeira do destino fosse verdade... Não seria certo, não seria direito!

A jovem fukutaisho suspirou pesadamente, infelizmente aquela era sua realidade. Os olhos que a conheciam tão bem e viam através de sua alma... Talvez fossem meio míopes.

- Como não, Nanao-chan?? Quem meus olhos vêem é minha linda Nanao... Não temos motivos para ter vergonha do nosso amor.

- Você amava a Lisa-fukutaisho, como pode agora virar e dizer que m ama dessa maneira? Somos parecidas e talvez por isso o senhor tenha ficado confuso... Eu sei que o senhor se apegou muito a mim porque eu era mais o deixava perto dela, mas eu não sou a Lisa! Não sou!

Shunsui naquele instante ficou confuso, era esse o medo de sua Ise? Nanao temia não passar de uma lembrança do passado? Será que ela não conseguia ver que o amor que ele sentia por ela era puro? Ele tinha amado muito Lisa, mas infelizmente ela morrera e a vida depois desse golpe lhe presenteou com sua doce Nanao.

- Como seria se ela ainda estivesse viva? Como seria se ela não tivesse morrido? Me diga?? Que direito eu tenho de usurpar um lugar que nunca seria meu? Você não ama a mim e sim a semelhança! E mesmo que não fosse assim... Eu jamais poderia traí-la dessa maneira.

- Lisa-chan morreu, Nanao! Você não está usurpando o lugar de ninguém!

- Qual seria o meu lugar nessa história se ela ainda estivesse viva? Você não me amaria se ela inda estivesse aqui!! E nós dois sabemos que os vaizards agora são aliados da Soul Society... Eu não posso estar no caminho de ninguém!

Então no final, tudo se resumia aquilo?  Nanao renegaria todo aquele amor que ele tinha para lhe oferecer por causa de um medo bobo e sem fundamento, por uma lealdade desmedida a alguém que já não pertencia aquele mundo? Aquilo não era certo! Não mesmo! Ele sabia muito bem quem era a dona de seu coração.

Amou Lisa demais, não negava isso, mas isso havia sido há tempo demais... Mais de um século. Sofreu como um louco quando descobriu que não voltaria a ter nunca mais seu amor nos braços, mas isso não queria dizer que ele morrera ali. Por muitos anos tentou se consolar com o sake e com as mulheres... Sem sucesso, a única hora que seu coração dilacerado tinha um instante de acalento era quando estava perto da pequena e ainda tão criança Nanao.

Ele não sabia o que responder quanto a questão de se caso ela estivesse viva, mas isso não estava acontecendo, nem viria a acontecer. E se a vida estava os colocando juntos era por algum motivo, o destino sabe ser caprichoso quando está entediado...

Não seria capaz de viver mais sem sua Nanao!

- Eu amo Nanao Ise, menina que se tornou mulher perante meus olhos... O passado não deve ser esquecido, mas não se vive dele. Entenda que não está roubando o lugar de ninguém... O lugar que ocupa no meu coração você ganhou por mérito próprio e não o teria se não fosse para acontecer!

- Eu não posso trair Lisa-fukutaisho assim... Você não sabe o que quer! Ainda não assimilou o fato dela estar viva de alguma maneira naquela forma de Vaizard!

Kyouraku pegou o rosto de sua Ise entre suas mãos grandes fazendo-a encará-lo, precisava fazê-la entender que Lisa era parte do passado e que ela sim era seu presente e futuro.

- Eu não senti nada ao ver aquela mulher, Nanao-chan... Aquilo era só um corpo com um rosto conhecido, a Lisa que nós dois amamos morreu a muito tempo... – o capitão abraçou a morena -  Os vaizards não passam de corpos sem alma, pelo menos as de quem são parecidos, a partir do momento que a linha entre o shinigami e holow é cruzada... Alguma coisa se perde e no caso daqueles que pertenceram a Soul Society perde-se o ideal a que defendiam, os amores que aqui viviam... A essência! A mulher que eu amei a muito tempo não existe mais e uma imagem jamais me iludirá!

- Taisho...

- Eu amo a menina que dormiu tantas vezes no meu colo enquanto ouvia histórias... Muito mesmo! Eu a conheço melhor que ela mesma e posso garantir que meu amor é verdadeiro.

- Eu não posso! Não posso!!

- Pode sim! Basta apagar essas besteiras de sua mente! Entenda de uma vez Nanao, você não está roubando o lugar de ninguém! Esse lugar é seu e de mais ninguém!

- Eu... Eu... Eu... Não...

- Eu te amo, Nanao-chan... Não negues mais, nenhum de nós agüenta mais viver sem o outro! Vou esperar o tempo que for necessário, mas não vejo motivos para sofrermos com a espera, não vou forçar mais essa situação...

Shunsui olhou doloridamente para a Ise e soltou o delicado rosto. Não podia mais com a negação dela, enquanto Nanao não fosse capaz de enxergar tudo o que estava jogando fora, não aceitaria aquele amor.

E ele estaria esperando esse momento, não importava se seriam dias, semanas, meses, anos, décadas... Ou até mesmo a eternidade. Não importava o tempo que ela levaria... No final ele estaria pronto para recebê-la.

And You’re still here...

(E você continua aqui...)

- Shunsui...

Tudo o que ele ouviu foi essa frase, logo em seguida, sentindo um rosto afundar contra suas costas. Um par de braços o enlaçou-o para não soltar mais...

Ela era realmente a mulher mais linda, temperamental, esperta, inteligente... Que ele já conheceu. Mas também ela era a mulher mais infantil, burra, cabeça dura... Que ele já conheceu. Nanao era um poço de contradições, mas ele amava tudo, superava tudo e no final sempre estaria de braços abertos para recebê-la.

Owari...

Oi amoreeeeeeeeeeeeeeeeeeees!!! Eu sei que deveria estar trabalhando nas minhas long, mas essa é uma fic antiga que resolvi terminar!! Presente para minha miga, Rangiku-chan! Finalmente postei!!!

Espero que gostem e comentem!!

kiss kiss

Anny Taisho


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