A Minha Sexta-feira 13. escrita por LucyEngels


Capítulo 4
Perifericamente.


Notas iniciais do capítulo

=D no komento!



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Fechei os olhos, senti-me adormecendo. Um sono leve e calmo me atingiu. Onde iríamos ficava do outro lado da cidade, então demoraríamos alguns minutos dentro do metrô. O cheiro que exalava de Robert deixava-me entorpecida, e esse era o motivo da maioria dos meus adormecimentos quando eu estava com ele. O cheiro me acalmava, e eu enfim descansava aliviada. Dormia em seus braços sem pensar no depois, nas horas que passavam, simplesmente nada.

Quando estava perto da nossa decida, ele me acordou, acariciando meu rosto e sussurrando “Está chegando, minha querida...”; ”Acorda, minha bela adormecida...”. Eu não queria acordar de jeito nenhum, queria continuar ali ouvindo ele falar palavras doces com aquela voz tão singela. Minha vontade era de roubar suas cordas vocais pra mim... Mas aí eu nunca mais poderia ouvi-las novamente, então era melhor deixá-las lá, e não querer acordar para poder prolongar aquela voz linda que tentava me despertar gentilmente.

– Robert, vamos dar a volta no metrô? – Falei, levantando enfim, meu rosto, à olhar para ele – Só assim conversamos em paz, ou então eu continuo dormindo aqui no seu colo quente... – Cara de manha.

– Oh, minha querida, podemos sim fazer isso... Só que mais tarde... – A voz gentil se prolongando, deixando-me tentada a agarrá-lo ali mesmo – Ou outro dia... Prometo que faremos outro dia, mas agora eu preciso comer... – Continuou, roçando seus dedos nos meus cabelos.

– Tens razão... – Eu às vezes esquecia que ele era humano, e que eu também era metade humana – Vamos... – Levantei, sem vontade alguma de soltá-lo, forçadamente, e me espreguicei.

A estação estava também lotada, e cheia de gente de todos os tipos, algumas me davam água na boca, mas o momento era inoportuno. Fomos direto para o Habbibs que ficava perto. Recordei-me da primeira vez que eu quis trazê-lo aqui, ele me olhou confuso e perguntou: “ – Mas tem tantos Habbibs por perto, em cada esquina, por que logo o de lá?” , respondi apenas com um “Confie em mim e fique quieto...” bem descontraído, ele sorriu e não se opôs. Ele confiava muito em mim, eu tinha medo de poder decepcioná-lo por isso. Eu não sou perfeita, nunca fui, e nunca serei...

Eu não comia carne, odiava. Se fosse pra eu comer, seria carne humana já que eu me alimento de seu sangue, o que eu também não faria. Comer carne humana estava fora dos meus princípios, fora de cogitação, de jeito nenhum, ou qualquer outro tipo de carne. Pedi três pasteis de Belém, duas limonadas e uma banana split com seis bolas diferentes além das caldas de menta e chocolate. Eu também odiava refrigerante, ou qualquer tipo de bebida. Ingeri-los só causava celulite e dor de estômago nas garotas humanas.

Eu nem percebi o quanto ele comeu, só devorei tudo em “dois tempos”, e fiquei satisfeita, apesar de ainda sentir falta do sangue. Como eu poderei passar a noite com Robert se eu precisava me alimentar? Eu devia ter pensado nisso antes de fazer a proposta que eu tenho certeza que ele vai aceitar...

“Você sai pra caçar enquanto ele dorme, Bárbara...” –Misahel irritado com a minha falta de planejamento.

“É mesmo... Mas eu não posso deixá-lo sozinho, desprotegido, só porque meu corpo precisa de certas necessidades...”

“Não vai acontecer nada com seu humano, Bárbara, ele estará num quarto de hotel! Oh, Céus!” – exclamou mais irritado ainda. Eu sorri e ignorei-o, apesar dele ter razão. Nada aconteceria! Não hoje...

Assim que saímos de lá, fomos andar um pouco por uma praça que ficava numa das avenidas principais daqui do bairro. Lá tinha grandes árvores, um lago com peixes, uma gruta, e ao lado uma pinacoteca. Esta estava fechada, mas era um dos caminhos que eu faria para levá-lo no meu lugar preferido de toda a cidade.

– Bárbara, eu estava pensando... – Começou Robert. Eu sabia que quando ele vinha com esse tom, ele iria tocar em algum ponto delicado – Você nunca me falou sobre seu criador...

Parei de andar e me apoiei à ponte do viaduto, olhando as luzes dos carros que passavam lá em baixo. Misahel dava gargalhadas ao meu lado “Só quero ver o que você vai falar pra ele... Você não mente pra ele, não é? HAHAHAHAHAHAHAHA...”, que ódio dele.

– Se não quiser falar sobre isso, tudo bem... Eu só queria saber mais sobre seu passado, já que eu te conheço tanto... Suas mil faces, mil expressões, sei ler todas elas... – Disse Robert, olhando diretamente para o meu rosto.

“Coitado, Bárbara... HAHAHAHAHA... Melhor você dizer a verdade de uma vez...”

– Tudo bem, eu vou te contar... Mas não hoje... Não quero estragar o momento falando daquele ser desprezível... É um assunto muito delicado, e acho que é informação de mais pra você absorver... – “Mais desculpas...” – Hoje, será tudo perfeito... – cheguei perto, entrelacei meus braços em seu pescoço e beijei-o.

– Vamos agora? – ainda entrelaçada nele, propus.

– Sim, vamos, minha querida... – beijou-me novamente.

Ficamos mais alguns minutos no viaduto, e logo após fomos andando e conversando até a pinacoteca. No lugar mais escuro que tinha por lá, fiquei invisível e, por conseguinte também o fiz ficar, segurei em sua cintura e saltei com ele para cima do teto. Entre outros saltos, subidas, decidas, chegamos ao prédio mais alto da cidade, onde eu ficava por horas vagando em pensamentos.

Sentamos na caixa d’água, e lá ficamos conversando abraçados. O frio era excruciante, o vento ensurdecedor. Contudo, a paz e o sentimento de liberdade que sentíamos quando ali estávamos, passava por cima de qualquer outra coisa que sentíamos de ruim. Todas essas luzes que passavam no horizonte, outras paradas mais ao longe, e quase podíamos ver as estrelas no céu.

Deci da caixa d’água e fiquei rodopiando no vento, com os braços abertos. Robert me olhava sorrindo quando voltei a olhá-lo. Fiz um gesto para que se aproximasse, mas ele recusou, “Deixe-me apenas ter o prazer de te observar... Não há nada melhor pra mim...”, disse. Com aquele vento todo, eu não ouviria se fosse humana, mas como eu não era podíamos nos comunicar sem problemas. Tirei meu sobretudo e joguei para ele, ele o vestiu. Minha metade vampira fazia com que minha resistência ao frio fosse maior. Continuei rodopiando, com os olhos fechados em direção ao céu e os braços abertos. Eu poderia voar se quisesse. Fui para beirada do prédio e continuei com os braços abertos, mas a altura nunca me deixou confortável e me dava tonturas, dependendo do lugar, então me afastei.

Sentei-me novamente ao lado de Robert, em seu lado esquerdo mais precisamente. Ele pôs os dedos das extremidades de sua mão esquerda no meu pescoço – mínimo e polegar – fazendo meu coração disparar. Seus dedos estavam frios, mas não tanto quanto poderia estar, então seu calor foi transmitindo as correntes elétricas de sempre. Pude sentir seu coração batendo em minhas veias que também pulsavam desesperadamente. Eu queria testá-lo, fazê-lo sentir o mesmo que eu sentia quando ele me tocava, ou até mais. Queria na verdade me vingar dele, com amor claro. Sorri ao pensar nisso, e logo tivera uma idéia.

Tirei sua mão do meu pescoço e a coloquei na minha cintura, vire-me para ele e peguei sua mão direita. Meus olhos brilharam ao ver suas veias azuis em seu pulso pálido. Seu coração começou a acelerar-se, o que me deu mais vontade de continuar. Encostei meu nariz  em seu pulso e fechei os olhos para sentir mais profundamente seu cheiro que rapidamente tomava conta do meu ser. A sede que me queimava a garganta agravou-se, e doeu com mais afinco, a dor mais prazerosa que eu poderia sentir. Seu coração enfim disparou, mas não era o bastante pra mim, então abri minhas presas e olhei-o nos olhos com meus olhos vermelhos, ainda segurando seu pulso em minhas duas mãos.

–Posso? – Eu queria provocá-lo, pois eu sabia que era aquilo que ele queria que eu fizesse: Tomar seu sangue.

–P-Pode... – respondeu, nervoso. Seu coração batia descompassadamente. Sorri satisfeita, eu sabia que ele queria tornar-se parte de mim.

Com a boca entreaberta e um tanto ofegante, cheirei mais uma vez o aroma doce de seu pulso, em êxtase. O mundo parou pra mim naquele momento, e eu tive que me conter para não atacá-lo realmente. Dois seres parados no frio, dois corações descompassados. Arrisquei olhá-lo, ele parecia sério, mas eu sabia que por dentro ele não estava tão indiferente.

Meus lábios tocaram a pele do seu pulso, e senti o sangue correndo tão perto, dando-me água na boca e uma vontade enorme de continuar, mas eu apenas beijei delicadamente o local. Beijei mais uma vez, e outra... Na quarta vez, reprimi minhas presas, abracei-o, juntei seus braços em volta do meu corpo e voltei à olhar o horizonte.

Perifericamente, percebi que ele olhava diretamente para mim, sem entender o que havia acontecido. Por dentro eu estava morrendo de rir daquela expressão, mas por fora eu estava séria, como se não fosse a minha intenção mordê-lo quando perguntei se “podia”. Ele que entendeu errado, claro. Ele me olhava atônito, confuso, mas sua respiração e seus batimentos foram aos poucos se estabilizando, enquanto os minutos se passavam.

Enfim, ele respirou fundo, abraçou-me forte e disse:

– Você é maluca, garota... – Sorriu.

– Eu sei, meu amor...



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Notas finais do capítulo

...xD'



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