Twisted Demon Opera escrita por Miojo-san


Capítulo 9
Dust in the Wind




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Kyrie estava a sós com Ayame no Devil May Cry de Fortune Island, tentava manter-se ocupada com afazeres domésticos na tentativa de não preocupar-se com a batalha que se desenrolava, mas o plano não estava dando muito certo. A oriental, em contrapartida, mergulhara na leitura de um livro que trouxera e parecia totalmente alheia à realidade, só parecia. Sua sensibilidade era extremamente elevada, era capaz de saber os resultados das lutas que ocorriam a vários quilômetros dali. Ela estava deitada em um dos dois sofás que havia no local, ainda com a saia branca e a blusa cor de rosa, as pernas desnudas esticadas sobre o braço do móvel, de modo que Kyrie não pôde deixar de notar o quão belo e delicado era o corpo da garota.

- Então, Julian está tomando conta de você. Quem diria que ele tinha esse lado paterno escondido! – disse Kyrie, sentando-se na beirada do sofá no qual Ayame estava deitada.

A oriental fechou o livro e sentou-se sobre suas pernas ao lado da namorada de Nero, fitando-a com os olhos amendoados.

- Ele está comigo desde que meus pais morreram. Eles eram amigos de Julian, e como ele fica se culpando pela morte deles, decidiu cuidar de mim. – explicou.

Kyrie apoiou o rosto em suas mãos, um olhar delicado era dirigido à Ayame, que corou um pouco e desviou os olhos.

- Você parece cansada, por que não dorme um pouco? – a voz da mais velha era extremamente gentil, um convite à Ayame, que cedeu e deitou-se no colo dela.

O cheiro da ex-sacerdotisa era adocicado, feminino, a garota sentiu-se confortável no colo macio da mais velha, fazia tempo que não dormir no colo de alguém.

- Sabe, Julian é bom comigo, mas não é consigo, ele se cobra demais e parece ter medo de se divertir. – desabafou a oriental – Ele simplesmente não descansa, se alimenta mal, e sempre esquece de fazer a barba.

- Ele ainda carrega as feridas da morte da esposa, você precisa dar tempo ao tempo, alguns machucados demoram muito para cicatrizarem. – Kyrie tinha um ar compreensivo, quase como se fosse uma mãe.

- Eu sei, queria apenas que ele fosse mais feliz... – o sono começava a sondar Ayame, que fechou os olhos e se aconchegou no colo da mais velha.

Logo a oriental dormia pacificamente, Kyrie acariciava-lhe os cabelos gentilmente, e também acabou perdendo a luta contra o sono.

Lady e Julian chegaram à Torre de Pandemonium sem grandes problemas, uma vez que grande parte dos demônios ficou com Nero e Dante. A Torre era, além de absurdamente alta, absurdamente sólida, um monumento de pedra negra que se erguia majestoso com várias torres menores que brotavam do eixo principal, como ramos em uma árvore.

- Aqui estamos. – disse o ex-professor, Clarent em mãos.

- Será que dividir tanto o grupo foi uma boa idéia? – inquiriu Lady.

- Sim, eu acho que foi. Os inimigos são vários, no final das contas, só podemos contar uns com os outros. – a resposta de Julian era relutante, mas que mais podiam fazer?

Adentraram a torre, chegando ao salão térreo, uma sala repleta de armaduras medievais anormalmente grandes e uma escadaria que levava ao próximo andar um velho tapete vermelho cobria o piso. Aquilo não cheirava bem à dupla, que logo se viu sendo atacada pelas armaduras, que começaram a se mover sozinhas, como se sob efeito de algum feitiço. Uma armadura veio na direção de Lady, brandindo um enorme machado de duas lâminas, mas foi rapidamente destruída pelo disparo da bazuca da garota; outra foi na direção de Julian, que a evitou com um rápido movimento dos pés e depois contra-atacou com Clarent.

Estavam em desvantagem numérica, havia pelo menos vinte “armaduras”, e eles eram apenas dois. Elas não eram, entretanto demônios, deveriam estar sendo controladas por alguma força maior na torre. Lady continuou combatendo-as, Julian, porém, subiu um trecho da escadaria e mergulhou uma das mãos no casaco, sacando vários papéis repletos de caracteres exóticos. Os pergaminhos voaram por toda a sala, fixando-se nas paredes e logo uma série de pulsações provenientes dos escritos inundou o ambiente, desmontando as armaduras.

A garota fitou o aliado, surpresa, recebendo em troca um sorriso confiante de Julian, que tinha a espada na cintura e as mãos no bolso. Fizera bem em se preparar para enfrentar magia negra, um dos inimigos era, afinal, o grande ocultista Walter Crowley.

- Em resumo, aquelas armaduras eram controladas por algum ritual. Eu simplesmente inundei a sala de outros feitiços, cortando a comunicação, algo como....congestionamento. – a voz do ex-professor era a de alguém que se sentia realizado.

Seguiram pelas escadarias, um andar após o outro. A Torre parecia funcionar com um misto de biblioteca e laboratório de ciências ocultas, com vários tomos, pergaminhos e frascos contendo criaturas bizarras. O cheiro de enxofre e podridão era insuportável, e aliado ao pó dos papéis, tornava a estadia nos recintos extremamente difícil, mas mesmo assim, tomavam tempo fazendo preparativos. Logo estavam no último andar, um salão repleto de vitrais, que destoava do resto das salas, o chão repleto de desenhos místicos. A iluminação era reforçada por vários castiçais, e uma confortável cadeira de leitura jazia encostada à parede oposta a escada. Na cadeira, Crowley sentava-se preguiçosamente, com um livro em mãos e uma bizarra espada de lâmina ondulada repousava encostada no braço do móvel.

- Ahn, vocês passaram pelas armaduras então....isso realmente é surpreendente. – o homem desviou lentamente os olhos do livro, voltando-os aos recém-chegados – Não me parece que lutaram com todas elas diretamente. – completou, ao analisar o estado dos invasores.

- Chega de conversa! – Lady bradou, sacando uma pistola e disparando em Crowley.

O dono do local, no entanto, sequer levantou-se da cadeira, deixou que as balas perpassassem seu corpo. Depois se ergueu com alguma dificuldade, tomando a espada com a mão esquerda e caminhando lentamente na direção da dupla de caçadores.

- Chumbo machuca, sim, mas esse corpo não é meu mesmo, não é um ferimento definitivo. – Crowley estava calmo, como se tivesse controle total da situação, e a verdade é que de fato o tinha.

O ocultista rapidamente correu na direção de Lady, acertando-lhe o ombro com sua Flamberge. A garota reagiu saltando para o lado e disparando com uma submetralhadora, mas os projéteis tiveram o mesmo efeito dos anteriores. Julian avançou contra Crowley, mas a lâmina do ex-professor foi repelida pela de seu oponente, que rapidamente afastou-se e atacou a garota humana novamente.

- Acabou pra você. Em uma briga entre dois dragões, pequenos pardais não se intrometem! – o aliada de Claudius ergueu Lady pelo pescoço, e arremessou-lhe vitral afora, estilhaçando a obra-de-arte em vidro.

- Lady! – Julian berrou, em vão, pois não teve tempo de resgatar a amiga, estava sendo atacado por Crowley.

- Pequeno Orfeu perdeu sua amada Eurídice e ficou desolado. Pegou sua harpa e desceu até o inferno, desejando resgatar sua amada! Mas que tristeza, quando pensaram que finalmente iam ficar juntos, a bela Eurídice é perdida para sempre. – Crowley tinha um tom absurdamente sarcástico na voz – Diga-me, pequeno Orfeu, como é perder duas vezes a mulher que ama, e ser condenado a viver para sempre?

- Seu filho da puta! – Julian estava totalmente alterado, pressionou o choque das lâminas com toda a força, forçando seu oponente a recuar vários passos.

O ex-professor tentou atingir seu oponente com uma estocada, mas sua lâmina foi defletida pela de seu adversário. Em termos de esgrima, Crowley e Julian eram igualmente habilidosos, de modo que o próximo ataque do aliado de Claudius, um corte na altura do pescoço, foi evitado pela hábil movimentação do londrino.

- Sabe de uma coisa, Julian? Eu tenho uma profunda admiração por você. Por várias vidas humanas, tentei criar um corpo que vivesse para sempre, em vão. Você conseguiu essa façanha em questão de poucos anos, um exemplo a ser seguido! – a ironia de Crowley irritava profundamente ao ex-professor, que avançou novamente, sem perceber a armadilha que disparava.

Julian pisou em um selo místico no chão que ativou uma série de explosões altamente poderosas, que teriam matado qualquer homem comum. O ex-professor foi obrigado a tomar sua forma demoníaca, as asas negras cobrindo-lhe o corpo e evitando grande parte do dano.

- Então, esta é a sua forma demoníaca? Verdadeiramente esplêndida!

- Algo me intriga...ao servir Claudius, Kojirou ganha quanta matança desejar, Helena encontra companhia, mas e você? O que faz você lutar pelo Filho de Mundus? – a voz de Julian, alterada pela transformação, fazia a pergunta parecer uma intimidação.

- Bom, já que você perguntou, eu ganho um corpo: o seu. Como disse, você conseguiu uma façanha. Tudo que devo fazer é matar você, e terei um corpo imortal. Aliás, com ele vou até poder abusar daquela sua aluninha japonesa!

Crowley parecia ensandecido, apoiava o rosto em uma das mãos enquanto ria loucamente, e Julian voou em sua direção, prestes a parti-lo no meio com Clarent, quando as almas que compunham a lâmina começaram a protestar. O caçador parou a poucos centímetros de seu adversário, a espada não baixava.

- O quê?! – Julian fitou sua arma, e depois aquilo que ela apontava: o teto do local estava repleto de mais selos místicos, ocultos pela escuridão.

O que Crowley precisamente desejava, percebeu o ex-professor, era que seu corpo fosse destruído. Isso iria ativar o feitiço de transmigração de alma e ele possuiria o corpo do londrino. Julian fitou seu oponente com profundo desprezo antes de tomar distância. Também tinha seus truques, cravou Clarent no chão, até que o cabo da arma tocasse as pedras, e assim ativou os explosivos que Lady plantara no teto do andar de baixo, que era, conseqüentemente, o piso do andar de cima.

Mais explosões ocorreram, fazendo com que os dois homens caíssem, andar após andar. Crowley chegou ao térreo quebrado, Julian, por outro lado, desceu lentamente com o auxílio de suas asas. Ao tocar o chão, retomou a forma humana. O ex-professor encarou seu oponente, destruído pela queda e pelas explosões.

- Você não merece sequer morrer pela minha lâmina, fique aí, e morra lentamente. – Julian disse, com frieza, enquanto dava as costas ao seu oponente.

Não, as coisas não podiam acabar daquele jeito, não para ele, Walter Crowley, que cruzara eras e mais eras pesquisando as Artes do Oculto. Ergueu-se com muita dificuldade, e correu na direção de Julian com Flamberge em punho, mas aquele era o andar térreo, o mesmo onde Julian destruíra as armaduras, estava repleto de feitiços do londrino. Crowley foi pego por uma armadilha mística, e teve o corpo incinerado pela purificação que veio a seguir, conseguiu, no entanto, arremessar sua arma como se fosse uma lança no oponente, ferindo-o.

Julian caiu de joelhos, sangrando, enquanto seu adversário perecia em meio às chamas, preso à armadilha. Flamberge estava cravada no nas costas do ex-professor, era o fim daquela batalha, para ambos: um morrera, o outro estava extremamente machucado. Lady aproximou-se correndo de seu aliado, dando-lhe apoio e deitando-o no chão, para que a arma de Crowley pudesse ser retirada.

- Lady?! Como você sobreviveu à queda? – inquiriu Julian, com dificuldades para respirar.

- Não é a primeira vez que me jogam do alto de uma torre, consegui usar meus equipamentos para me prender a uma das torres secundárias, mas agora, fique quietinho aí.

A garota humana removeu Flamberge das costas do ex-professor, e cobriu a região ferida com curativos e anti-sépticos. O pobre coitado gemeu de dor, como era possível que o curativo doesse mais que o ferimento?

- Se você fosse um humano comum, certamente morreria! E mesmo sendo quem você é, vai precisar de tempo para se recuperar totalmente, o ferimento foi profundo.

Julian apenas concordou, permanecendo deitado. Não teria mais meios de lutar com toda sua força naquela guerra, e sabia, graças a seus sentidos demoníacos, que Nero e Trish também estavam feridos e Lady jamais poderia entrar no palácio de Pandemonium devido à barreira do local. Agora, tudo estava nas mãos de Dante.


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