Ela não estava entendendo mais nada. Continuava a olhar para Kisshu. 

                        Antes seus olhos eram quase hipnóticos, mas agora tinham mudado por completo. Eles a miravam com uma ar de diversão. Pareciam se deliciar em ver a expressão de dúvida e desentendimento que preenchia rosto de Ichigo.

                        "Kisshu... Mas o que você quer dizer com isso?" Perguntou ela. 

                        "Você não entendeu?" Perguntou ele ainda sorrindo para ela. Realmente estava achando graça daquilo tudo. "Acorda, Ichigo."

                        Ela não entendia ainda. Ele começou a rir. 

                        "Saí de cima de mim." Falou ela empurrando para o lado. 

                        Kisshu caiu no chão e, por incrível que pareça, não tentou segurá-la.

                        "Vai á algum lugar?" Perguntou ele.

                        "Sim. Para casa." Respondeu ela andando até a porta. "Fique aí se quiser, mas saiba que para mim... Tanto faz. Não me importo."

                        "Que mudança, hein?" Falou ele levantando lentamente do chão. 

                        "Ah, vai incomodar outra pessoa." Falou ela. 

                        Ichigo virou a maçaneta da sala, mas a porta não abria. Ela tentou fazer força, empurrar, puxar... Mas não conseguiu abri-la de jeito nenhum. Ela virou-se para olhar Kisshu, que já estava em pé.

                        "Achou mesmo que eu ia deixar você sair assim tão fácil?" Questionou ele e depois soltou um risinho. "Não mesmo."

                        "Kisshu, o que você fez? Por que não consigo abrir a porta?" Perguntou ela.

                        "Não percebeu ainda? Bem... Se não notou agora, não notará depois." Falou ele. "Então, Ichigo, me diga. O que eu farei agora?"

                        Ele parecia estar esperando ordens dela, mas Ichigo não pensava em dizer nada. Ela ficou em silêncio só esperando pelo próximo movimento do alien. Kisshu olhava para ela com um olhar curioso, quando, de repente, esse mudou. Ele agora parecia ter decidido o que fazer.

                        "Certo, então." Assentiu ele.

                        "Mas... Mas eu não disse nada." Falou Ichigo.

                        "Aqui está a chave da porta." Falou ele levantado a chave para que ela pudesse ver. "Vê? É uma chave."

                        "Você está com algum problema por acaso?! Eu sei o que é uma chave." Reclamou ela. "Agora me entregue!"

                        "Não." Respondeu ele.

                        "Não?" Repetiu ela piscando os olhos. "Kisshu... Abra essa porta agora mesmo! Quero ir para casa!"

                        "Não mesmo. Não vou deixar você ir." Falou ele.

                        "Kisshu!" Protestou ela. "O que deu em você?"

                        "Sinto muito. Ordens superiores." Ele encolheu o ombros, e fez uma cara de arrependimento.

                        "Ordens superiores...?! Corta essa! Ou você me entrega isso agora, ou eu vou aí e pego de você á força!" Ameaçou Ichigo e ele sorriu.

                        "Se é assim que quer... Venha." Falou ele encolhendo os ombros novamente.

                        Ichigo começou a correr em sua direção. Ela deu um chute nele, mas Kisshu conseguiu se esquivar antes que fosse acertado. Ichigo não se deu por vencida. Continuou chutando e dando socos no alien, mas ele sempre se esquivava de seus ataques.

                        “Kisshu!!” Exclamou ela. “Quero ir para casa!”

                        “Sinto muito.” Ele resumiu-se a dizer só isso.

                        “Escuta, seu...!” Mas ela parou de falar assim que ouviu um barulho estranho vindo da porta. “Tem... Alguém aqui?”

                        Ela parou e virou-se para a porta. A maçaneta se mexia lentamente. Kisshu aproveitou-se da situação. Ele estava atrás de Ichigo, e chegou bem perto de sua orelha para sussurrar.

                        “Ichigo... Acho que pode ser um fantasma.” Sussurrou ele.

                        Aquelas palavras foram suficientes para fazer com que todo o corpo dela ficasse gelado. Seu rosto estava branco de medo, e suas orelhas e rabo de gato soltaram.

                        “Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Fantasmas não! Não! Eu morro de medo de fantasmas!!” Ela começou a berrar e correr em círculos.

                        Por fim pulou nos braços de Kisshu, mas sem parar de gritar. Ele, por sua vez, ficou simplesmente parado, resumindo-se a encarar sua Koneko-chan branca de medo.

                        A porta finalmente se abriu. Ichigo estava a ponto de ter uma parada cardíaca, quando eles dois notaram que não era um fantasma, e sim, Puddin.

                        “Pu-Puddin?!” Exclamou ela. “O que você está fazendo aqui na minha escola?!”

                        “Fiquei sabendo que você está de castigo! Eu quero ajudar!!” Comemorou a pequena mew mew.

                        “Puddin... Não fui eu quem ficou de castigo. Foi o Kisshu.” Falou Ichigo lançando um olhar de raiva para ele. Agora tinha se lembrado do porque de estar irritada com ele.

                        “Não foi isso que a professora disse. Eu vou te ajudar!!” Anunciou ela.

                        “Ajudar em que?” Perguntou ela. “Não tem nada para você fazer.”

         “Ajudar!!” Exclamou Puddin e começou a pular pela sala fazendo uma enorme bagunça. “Ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar, ajudar!!!”

                        Ela não parava quieta nem um segundo. Ichigo não estava entendendo muito bem o que ela estava fazendo. Alguma coisa naquela cena não fazia sentido.

                        Puddin falou que iria ajudar, mas ela estava só pulando de mesa em mesa para bagunçar mais ainda a sala.

                        “Pare com isso!” Pediu Ichigo. “Está desarrumando a sala inteira!”

                        Mas não parecia ouvir. Ela virou-se para Kisshu, que continuava logo atrás dela. Ela a encarava com um ar de felicidade. Parecia contente por estar vendo aquilo tudo.

                        “Kisshu... Não vai fazer nada?” Perguntou ela preocupada.

                        “Ah, Ichigo... Acorda.” Falou ele revirando os olhos.

                        “Idiota! Pare de repetir isso!” Reclamou ela.

                        “Puddin!” Chamou alguém na porta, e Ichigo pode ver que era Taruto com uma roupa de noivo.

                        “O que?” Perguntou Puddin.

                        “Por que está demorando tanto? Esqueceu que vamos no casar?!” Reclamou ele.

                        “É verdade! Tinha esquecido!” Puddin desceu da mesa.

                        “Casar?!” Exclamou Ichigo. “Como assim?! Só podem estar brincando!!”

                        “Claro que não, sua velha!” Disse Taruto mal-humorado. “Estamos indo agora.”

                        “Desculpe, Ichigo!” Disse Puddin. “Acho que vai ter que arrumar tudo sozinha. Ah! E não se esqueça de limpar o quadro!”

                        “Puddin!!” Ichigo tentou chamá-la de volta, mas ela se teletransportou junto a Taruto.

                        Nesse momento as palavras que estavam escritas em giz no quadro negro começaram a voar em direção á Ichigo. Elas cercaram-na e estavam se chocando contra a pobre gatinha que começava a se encolher no chão.

                        “Kisshu! Socorro!” Exclamou ela.

                        Kisshu abaixou-se e olhou para ela de perto repetindo.

                        “Ichigo... Acorda.” Falava ele.

                        Ichigo caiu no chão. Ela olhou em volta. Seu quarto estava começando a ficar claro por causa do Sol. Era manhã.

                        Ela soltou um suspiro de alívio. Tudo aquilo não tinha passado de um pesadelo. Um pesadelo muito estranho. Na verdade, um pesadelo tremendamente estranho. Ela levantou-se com calam e ajeitou sua postura. Tinha caído de costas no chão.

                        “Os aliens estudando comigo?” Falou ela consigo mesma. “Que ridículo...”

                        Ela olhou para o relógio.

                        “Estou atrasada!!!” Exclamou ela correndo para vestir o uniforme.