Silêncio do Olhar escrita por Dumpling


Capítulo 4
O mundo te esperando




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Capítulo 4 .O Mundo te esperando

Ok. Ninguém é perfeito, e a perfeição repugna-me.

É mais fácil errar e aprender.

Ter um pouco de juízo e precisão só disso depende.

E do sorriso que se mantém.

De que vale um sorriso se o que apetece é chorar?

Ah… Lembrei… - Para fazer os outros alegres.

E assim era. Sempre. O sorriso estúpido que eu insistia em manter só para me suster em não chorar, para ouvir os desabafos e dar os conselhos…

Pensar nos outros sempre primeiro…

Agora ia deixar de ser assim. Com um filho para cuidar iria tudo mudar. Eu não queria… só queria mesmo acabar com isto.

E ir para Cambridge para longe de todos fazia-me triste mas tinha de ser assim, era a única desculpa e a única solução possível que encontrava. E o Mundo assim parecia fazer mais sentido.

Vinha-me à cabeça uma das palavras que ele sempre tencionava em me deixar em rosas, todas as que me deixava, todos os dias, mas esta especialmente:

'Hoje mais do que nunca senti tua falta. Falta dos teus OLHOS, Falta dos meus OLHOS nos teus. Falta do teu OLHAR, Falta da alegria no meu OLHAR.

As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um OLHAR. É no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos. Há momentos na vida, em que se deveria calar e deixar que o silêncio falasse ao coração, pois há emoções que as palavras não sabem traduzir! Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade.'

Com saudade.

O teu, até ao dia em que deixares de me querer, Darien.

A minha mãe desperta-me dos meus pensamentos ao descer as escadas com os sapatos de salto alto.

- Então filhota? Pronta.

- Mais que pronta.

- Tomaste os comprimidos para o enjoo?

- Sim.

Antes de viajar fui ao médico. Com o bebé precisava de saber que precauções tomar. Tive de inventar uma gastroenterite até para as desconfianças da minha mãe, preocupando-se sempre se tinha tomado tudo direitinho. Mas eu não levava alguma coisa…

As despedidas já feitas e um sorriso na cara. Aquele. Para manter longe as preocupações.

As lágrimas pu-las de parte. Não queria ver a minha mãe chorar com o namorado ao pé eu também nem me sentia bem à vontade.

O avião só chegaria dentro de 10 minutos então sentei-me numa mesa ali perto a beber café. Definitivamente tinha de largar aquele vício. De 6 cafés ao dia baixei para 4 por ordem do médico mas naquele dia já era o 7º café. Descobri ao ver um homem escrever o que me esqueci… o meu diário!

Quando acabei, saí, olhei para o meu lado e vi-o ali…

Como é que ele sabia? O que estaria ele ali a fazer?

Ele encarou-me com aqueles azuis profundos. O porte atlético movimentava-se na perfeição dentro daquele fato sem gravata. Aproximou-se.

- Porque não me disseste?

- O quê Darien?

- Estás a fugir… e eu sei do que é. Mas queria ouvir da tua boca.

- Não estou a fugir de nada. Vou estudar para fora, mais nada.

Virei costas e ele agarrou-me pelo pulso.

- O que é Darien?

- Quero a verdade. Mas quero ouvi-la da tua boca.

- Não há nada a dizer.

Ele aí alterou-se.

- Quando pretendias dizer-me que vou ser pai?! Quando já tivesses em Cambridge?

- O qu…

- Nada Serena! Vais me perguntar quem disse?! Pois. O médico que te tem atendido, sabes quem é?

- Se-sei ma-mas…

- Mas o quê?! Ele diz-me "Parabéns pelo bebé mas já sei que a Serena vai estudar para Cambridge, também vais?"

- Dare…

- Tudo isto de uma vez. Na minha cabeça. E eu a tentar meter na cabeça… Porque me evitavas? Tinha todo o direito a saber que ia ser pai!

- Não vais…

- Serena…

- Não vais… Não vais ser pai.

- E a tua barriga é o quê?

- Tu não vais ser pai.

- Traíste-me… era por isso que me evitavas. Como pudeste?

- Dare…

Eu tentei pegar-lhe o braço mas sabia que era tarde.

- Desaparece! Ah. Esquece! JÁ O VAIS FAZER! Passa bem com esse gajo!

No meio da multidão desapareceu.

Eu não podia dizer mais nada… e talvez a ideia de o ter traído fosse melhor para ele ultrapassar a dor.

Não podia ficar com um homem bom demais para mim a quem amo tanto. Ele não merecia isto…

Então aí sim. Desapareci. E quem me dera que fosse para sempre.

Mas sempre me dei conta que sou demasiado fraca para acabar comigo mesma.

Demasiado fraca.

Perdi-me em pensamentos, e quando me encontrei já tinha chegado a Cambridge.

O apartamento que eu tinha em Cambridge era muito bom. Na realidade, melhor do que pensei.

Com tanta despesa para a minha mãe, a faculdade privada da minha irmã e ela deu-me algo tão bom assim…

Tinha 1 quarto bem grande pintado de branco com os móveis castanhos-escuros e toda a decoração levemente em beije com alguns quadros lindos em amarelo. Quando abri o guarda-roupa, havia uma portinha com uma casa de banho que tinha uma enorme banheira de hidromassagem. Um sonho. Uma sala em castanho com sofás brancos, uma cozinha com uma ilha como sempre tinha sonhado… bem… tudo perfeito.

O que não era perfeito era a solidão que aos poucos me atingia. Cada parte de mim.

A saudade da minha mãe que todos os dias me ligava preocupada era grande. E também me preocupei em como ela podia pagar tudo aquilo. Mas ela disse-me que ali era tudo mais barato e que nem pagava uma grande renda. Aliviou-me um pouco…

Passava os dias ali em casa.

Já 2 meses se tinham passado e só saia para as consultas.

A minha mãe chegou a contactar com uma tia minha de França, secretamente, compraram-me um carro nos meus 16 anos. Ela veio-me entregar a Cambridge.

Evitava ver a minha tia por muito que ela tentasse vir. Não sei porquê gostou muito de mim e queria muito ver-me e que eu fosse a França visitá-la.

Já estava de 5 meses e a barriga notava-se imenso.

O médico dizia que eu precisava de muito mais repouso mas não entendia bem… eu já passava o dia em casa. Embora ele dissesse que não acreditava, era a verdade.

Não sabia o que fazer mas a adopção parecia-me a opção mais viável. Podia dar direito a um casal com condições de ter um filho…

A gravidez sendo de alto risco necessitava de vários cuidados e eu tinha realmente cuidado.

Não por vontade… porque por mim nunca estaria grávida… mas porque as dores eram intensas e eu não aguentava tanto…

- Sim mãe, está tudo óptimo.

- Andas a alimentar-te como deve ser?

- Sim mãe, até demais.

- Sim filha que chata que a mãe é não é?

- Chatíssima!

- Olha, a Setsuna está aqui e diz que precisa falar contigo.

A Setsuna sempre me foi leal… Não era como as outras…

- Olá Sere! Como te estás a dar por aí?

- Tudo óptimo e aí?

- Também… podes estar descansada com tudo. Penso que as guerras terminaram um tempo… há 2 dias que nada acontece mas as meninas têm-se safado… Serenity tem intervindo quando pode.

- Ainda bem. Eu não poderia continuar. Quem sabe um dia…

- Tu és necessária… Mas por enquanto o futuro importa mais. Mas bem… precisei apenas de aqui vir buscar os teus uniformes, a escola pediu.

- Estás à vontade. Obrigada Setsuna.

- Nada querida. Um beijinho.

- Outro.

Só aí me lembrei do meu diário… Como me pude eu esquecer?!

Eu só esperava que a minha mãe não lesse…

Ia de novo na minha rotina… ultimamente, como estava de 5 meses, tinha de ir ao médico mais frequentemente.

Era super irritante olharem a minha barriga. Toda a mulher no hospital me olhava e fazia aquele olhar de pena.

Estava tudo bem, e dali a um mês, eu iria fazer aulas de preparação pré-parto. O médico logo me disse para eu não me sentir mal pois em Inglaterra muitas mulheres são solteiras e são mães.

Mas quando cheguei a casa tive uma surpresa.

Ali estavam rosas, velas e um cartão perto de tudo:

Amor,

Eu errei. Perdoa-me. Só soube agora que tinhas sido agredida.

Não acredito que te tenhas afastado assim de mim… És demasiado importante para eu continuar sem ti.

Sinto-me vazio.

Precipitei-me.

Mas vim hoje para aqui pedir-te o meu perdão.

Por favor, vem ter comigo ao parque da Universidade. Na ponte.

Espero por ti. Nem que seja para me dizeres 'odeio-te'.

Amo-te. Hoje e Sempre.

O teu.

Darien.

Ele ali. A pedir perdão.

Demasiado para a minha cabeça… Mas eu tinha de ir.

Eu também o amava e custava me olhar o anel todos os dias e saber que não me justifiquei a quem o merecia.

Eu fui…

Mas o que encontrei não foi Darien.

O meu agressor estava ali.

- Então princesa… pensavas que escapavas?

- Co-como sabias?!

- Ora… não interessa.

- Mas…

- Nada! Hm… a menina fugiu porque está grávida. Será esse bebé do príncipe?

Eu não disse nada. Apenas medo e arrepios assolavam o meu corpo de novo.

- Não dizes nada?

- Por favor… deixa-me.

- Não me apetece.

Ele começou a agarrar-me pelo braço e senti lágrimas a escorrer na minha face.

- Vens comigo princesa.

- Não vou contigo a lado nenhum. Não te conheço.

- Pois eu conheço-te… e muito bem… e dá-me uma ligeira impressão que esse bebé é meu. Algo me trouxe aqui. Algo mais forte que o teu cheiro.

- Larga-me por favor… Eu não contei nada a ninguém.

- Eu sei. Tens sido uma linda menina. Mas tens de ir comigo.

- Por favor não… Não…

Ele já me tinha puxado para dentro de um carro.

Podia-me considerar fraca naquela altura. Só me sentia cada vez mais e mais fraca.

- Vou levar-te ao meu hotel. Quero-te mostrar o cristal negro e mostrar-te como posso destruir o teu cristal prateado. E não só… O mundo.

- Quê?

- Portanto tu é que escolhes. Ou eu arranco o carro e mostro-te o que pretendo ou pego já no teu cristal prateado e destruo tudo.

Eu sabia que sem o cristal dourado de Darien ele não poderia destruir a terra, porém, podia destruir o meu reinado de Cristal Tóquio. Mas eu não sabia o poder do cristal de que ele falava…

- Leva-me.

- Boa escolha.

Ele arrancou. Lembro-me de pensar se aquele ser seria humano… sim… era. Só assim poderia engravidar-me. Podia ter poderes mas era humano…

Lembro-me dele me começar a tocar na perna… no peito.

- Desejo-te.

E depois a última coisa que me lembro: daqueles olhos na minha frente e da sua boca a tentar-me beijar.

Quando acordei já ali não tinha aqueles olhos na minha frente.

Apenas conseguia ver distorcido e a cabeça doía-me tanto que voltei a adormecer…

\t   

Enquanto isso…

- Darien, tens de ler isto. É sobre a Serena.

- Não quero saber de nada que tenha a ver com essa gaja. Traiu-me! Portanto Setsuna, podes dar meia volta e sair de minha casa se vieste para isso. Não quero saber de uma miúda que engravida de outro e nem coragem tem para me enfrentar!

- DARIEN! Ouve-me! É um diário que ela escrevia! Encontrei-o em casa dela hoje. Tens de a ajudar.

- Como assim ajudar?

Setsuna abriu uma página e leu:

"Depois do sonho, o pesadelo… Amo o Dare como nunca amei ninguém, e não conheço amor mais forte que o dele.

Mas agora… A angústia é grande. Ele liga-me umas 100xs ao dia mas eu não posso… não mereço o amor dele.

Só sinto nojo no corpo.

Depois de o Darien me ter pedido em casamento no caminho encontro o meu pesadelo que todas as noites me tem atormentado.

Eu e o Dare sempre fizemos amor com protecção e nunca tinha acontecido nada… e caso tivesse eu o sentia.

Este bebé não é fruto do nosso amor. E a minha maior angústia é essa…

É fruto do nojo, de um estupro… de um homem que se aproveitou num momento de alegria.

E dói.

Não posso tê-lo. É um homem demais para mim… me dá demasiado amor e o seu carinho não tem medida.

Mas ao olhar este anel eu penso… ele não merece sofrer.

Seria o ultimo a merecê-lo.

De telemóvel na mão pela centésima vez hoje… pela centésima vez penso o mesmo… 'ele não merece esta dor'

E assim caio nas lágrimas.

Um bebé indesejado, é tudo o que tenho agora para amar.

Finalmente depois de tanto tempo consegui escrever… mas expressar-me ainda custa."

Darien já tinha lágrimas nos olhos e sentara-se no sofá.

- Já sabias disto Setsuna?

- Não. Só hoje vi o diário.

- Eu tenho de ir ter com ela. Já.

Aos poucos conseguia abrir os olhos mas nunca conseguia ver nitidamente.

Decidi então cair no sono…

Quando voltei a acordar, tinha uns olhos azuis escuros grudados em mim.

- Sere… acordas-te! Amor… como estás?! Como te sentes?!

- Quem és? Larga-me! Onde estou?

- Serena…?


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Notas finais do capítulo

Só porque sei que há quem leia... 2 Caps ^^ Beijinhos. Ja ne.



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