O Violino e a Rosa escrita por Didi8Dedos


Capítulo 2
CAPÍTULO DOIS




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/105157/chapter/2

O RISO NAQUELA NOITE era a arma perfeita de conquista para as jovens solteiras porque havia um grande contingente de oficiais desimpedidos no salão da casa do almirante Kipling. Mas apesar de serem formosas e virtuosas, as jovens não eram de todo a atração principal, a condessa de Norwich, assim que apareceu no hall, causou tal alvoroço nos oficiais que angariou para si, além de atenção, um punhado de inimigas. Mas a condessa não era mulher de se preocupar com inimizades, tolerava displicências e mordacidades mais do que qualquer um naquela sala, mais até do que o odioso comandante Hartcher.

Jake sorriu ao abraçar Jack e sentiu-se envergonhado ao cumprimentar a esposa dele, mas pouco depois, com um pouco de álcool correndo por seu cérebro, se soltou e até ousou contar uma piada. A mãe dele, Janet, completamente emocionada e orgulhosa, não saía de perto do filho, na intenção de ouvir todos os elogios que lhe eram dados. Mas a certa altura, depois que um alto e elegante comerciante a convidou para uma dança, a atenção de Janet alternou de foco.

O alvoroço chegou até o grupo em que Jack Aubrey estava. Kipling acabara de se juntar a eles e mal sorrira até aquele instante, quando a condessa de Norwich estendeu a mão enluvada para ele, cumprimentando-o copiosamente. O perfume dela avançou sobre os demais e Sophia Aubrey desviou o olhar para Meg Hartcher, que sorriu atenta à condessa.

— Espero que não tenha cancelado outro de seus importantes compromissos por minha causa, minha cara condessa - sorriu abobado o almirante Kipling.

— De modo algum. Há algumas pessoas que eu desejava há muito ver, como por exemplo, Janet Jankins - e a condessa olhou ao longe -, mas presumo que hoje não seja uma boa noite para colocarmos a conversa em dia. Ela parece... bem ocupada.

— Então irei apresentar à senhora uma pessoa em especial - disse Jack, estendendo a mão para ela e cumprimentando-a. A condessa tomou a mão dele, apertando-a, e depois a de Sophia Aubrey, que a fitou com olhos cinzentos.

— Nosso médico de bordo e o comandante de mar e guerra... - Jack mal terminou de falar e um alto homem de cabelos avermelhados deu um passo à frente.

— Muito prazer, doutor - a condessa estendeu a mão para o mono. - Que impressionante um médico se tornar comandante. Geralmente as duas funções estão longe de...

— Oh, não - Jack Aubrey gargalhou alto. - Não, não, cara condessa. Este é o doutor Maturin, nosso médico. E este aqui - Jack postou a mão sobre o ombro de um belo e jovem homem - é o comandante Jake Jankins, que a propósito, é filho de sua amiga Janet.

Depois de soltar a mão de Stephen Maturin e fitar o jovem chamado Jankins, a tom de surpresa na face da condessa não pôde ser disfarçado. E muito menos disfarce teve a paralisação e o silêncio de Jake, que estava estupefato perante a beleza da importante mulher. As mãos de ambos se cumprimentaram de leve e permaneceram unidas até que o pigarro de Jack se fez ouvir.

— É um prazer, honorável senhora.

A condessa riu alto.

— Há muito tempo que não ouço tal pronome - brincou divertida. - Então, finalmente, conheço o filho de Jan. Ora, ora, vejam só!

— Espero que não tenha se decepcionado - Jake disse, erguendo uma das sobrancelhas. Pareceu a Jack Aubrey que o jovem amigo perdera totalmente a timidez naquele momento.

— Não, não, muito pelo contrário, não poderia esperar por menos. Mas preciso lhe perguntar, comandante Jankins, andou esbarrando em mais alguém pelas ruas depois daquele dia?

— Vossa graça, a senhora pode rir de um pobre coitado como eu, mas acreditando em mim, já é o bastante. Juro que não perturbei outra pessoa sequer.

— É bom mesmo, comandante, o senhor se acostumar com a vida em terra firme, porque existem cidades muito mais populosas que Portsmouth, nas quais, com certeza, o senhor poderia se perder.

— A senhora graceja porque conhece esses lugares desde sempre - ele se fez de coitado, mas também brincando, e os dois riram juntos.

Os dentes brancos de Jake Jankins atraíram em muito a atenção da condessa porque mostrava o quão cuidadoso e asseado era consigo mesmo, uma raridade entre os homens, em especial entre os homens do mar.

— A senhora me concede esta dança? - interrompeu Jack Aubrey, estendendo a mão para a condessa.

— Mas é claro - ela afirmou sem pestanejar, e tomando o braço de Jack, seguiu-o até o centro do salão.

Jack Aubrey a conduzia com nenhum outro homem na dança, ele era ótimo dançarino, mas a condessa sentia certa frieza provinda dele. Os toques em sua mão e em sua cintura eram fortes e repletos de ordens. A certa altura, ela interrompeu-lhe os movimentos e o fitou com desaprovação.

— Comandante Aubrey, o que está acontecendo?

Prevendo que aquele ato arrebataria toda atenção para eles, Jack sorriu e estendeu a mão indicando a saída lateral. Quando já a sós, afastados do barulho, a condessa quis saber o motivo da dança quase descontrolada, mas para Jack não havia explicação plausível, não quando ele não poderia confessar os listáveis porquês.

— Acho que bebi demais - disse ele simplesmente, fitando um casal que ria alto logo adiante. - Perdoe-me.

— É melhor voltarmos ou sua esposa achará que você não lhe dispensa a atenção adequada.

Fitaram-se por alguns instantes, Jack tentado a responder, mas o tempo decorreu levando consigo a coragem de lançar palavras que talvez pudessem estragar por definitivo o momento. Voltaram para a roda de conversa e Sophia Aubrey enroscou-se rapidamente ao braço no do marido, mostrando à condessa quem era a verdadeira dona daquele coração. Mas Jake Jankins, alheio a qualquer picuinha que pudesse estar acontecendo, tomou a mão da condessa e conduziu-a para uma animada dança, e depois daquela para outra e mais outra. E assim, noite adentro, ele dançou e prendeu a atenção da mulher mais formidável no salão.

A manhã de segunda-feira despontou anuviada, mas era de grande importância para os oficiais da marinha mercante, porque zarpariam com uma valiosa carga em direção à Hastings, onde o duque os esperava com grande interesse. A escolta ficaria a cargo de naus da Marinha Real, e a escolha dos postos de comando deixou alguns homens muito satisfeitos, especialmente Jake Jankins, que amava o mar, mas estava mais do que feliz em permanecer em terra ao lado da mãe e podendo passar mais tempo com a condessa de Norwich.

Por outro lado, Jack Aubrey estava desgostoso e decepcionado, não com a marinha ou com seus comandantes, mas consigo mesmo e com o que vivenciava naquele momento. Reencontrar Gussie o tinha tirado de seu centro e vê-la como uma condessa o deixara transtornado. Queria dizer a ela o quão feliz estava por saber que ela passava bem, por saber que ela conseguira contornar a desgraça que a assolara quando o pai morrera, mas tudo o que conseguira fazer quando a encontrara fora tratá-la de forma desapropriada e displicente. Bem, vira-a por duas vezes apenas, mas em ambas sentira como se fosse engasgar, como se as palavras que deveriam ser ditas não quisessem sair. Pior ainda era Jake Jankins que primeiramente lhe roubara a nau de guerra e agora tentava roubar-lhe Gussie. E foi pensando na condessa que Jack Aubrey partiu com o resto da escolta rumo a Hastings.

Aquela semana chuvosa de abril foi a melhor semana da vida de Jake Jankins. Ele encontrara a mulher de sua vida e criara um forte laço de amizade com ela, apesar de ansiar bem mais do que tê-la como amiga. Feliz mesmo estava Janet que via o envolvimento do filho com a condessa como uma grande chance dele se sobressair ainda mais na Marinha Real. Ela observava os dois conversarem durante quase todas as tardes no solário, sobre a beleza da vida, os lugares pelo mundo afora a serem descobertos, sobre o que mais se poderia fazer em incansáveis tardes chuvosas como aquelas. Os três jantaram juntos todas as noites, em algumas delas em companhia dos Kipling. E assistiram a três óperas, no camarote principal, onde a condessa se emocionara e recebera como alento o lenço impecavelmente limpo de Jake para secar as doces lágrimas de contentamento por uma peça tão bem interpretada.

Com a tarde de sábado veio o tramontana e também a frota da marinha mercante e sua escolta, quase se arrastando para alcançar o ancoradouro. Um navio havia sido afundado, outros dois foram parcialmente danificados, um deles era a chalupa Sophie, e seu comandante parecia desvairado, tamanha sua ira. Diziam os marujos da Sophie que fora uma maré de azar, que nada tinha dado certo desde a saída do porto. Aubrey não queria dar ouvido a tais especulações, mas sabia que não entrara de corpo e alma naquela missão. Seu tempo e pensamento não partiram junto a ele e a escolta, mas permaneceram fincados no chalé sobre a colina a leste, onde a condessa de Norwich pousava como se nada jamais houvesse ocorrido entre eles. Foi pensando nisso que pisou em terra e desviou dos oficiais superiores, indo entregar em mãos os relatórios de viagem e o diário de bordo ao almirante Kipling. Depois, sem parar para a costumeira conversa e bebida na taverna de Lil Woods, seguiu direto para casa. Lá chegando, trancou-se em seu escritório e tomou toda a garrafa de uísque que estava escondida na última gaveta de sua escrivaninha.

As batidas insistentes da esposa à porta o estavam tirando do sério, e ele sabia que se não tomasse uma atitude logo, a bebida o levaria a exagerar em seus atos. Abriu a porta com certa fúria, mas arrependeu-se em seguida, ao ver a expressão de medo e assombro no rosto de Sophia.

— Eu so... so... somente queria saber o que você deseja comer.

— Não precisa se preocupar com isso - ele murmurou fitando a barra do vestido dela. - Preciso sair. Voltarei tarde...

— Jack, eu nem ao menos lhe dei as boas vindas.

Boas vindas. Ela queria lhe dar boas vindas e ele apenas pensando na maldita condessa.

— Façamos o seguinte - Jack disse, segurando o queixo dela, quando eu voltar, você me dá as boas vindas, está bem?

Ela sorriu um sorriso iluminado e a consciência de Jack quebrou-se em mil pedaços. Ele tornou a fechar a porta e se encostou a ela, os olhos vertendo lágrimas e as mãos nos cabelos. Precisava falar com Gussie, precisava saber o que ela sentia, o que ela pensava. Não interessava a resposta. Apenas precisava saber alguma...

Jack pensou em sair com a mesma roupa que chegara, mas isso somente atrairia atenção para si, e não queria chamar a atenção de ninguém a não ser da condessa. Vestiu uma calça qualquer e trocou o paletó, e saiu para a noite fresca.

Encontrou duas ou três pessoas que o pararam para conversar, queriam lhe dar condolências pela perda quase total da Sophie, não se importou em falar com eles, eram moradores da região, nada tinham haver com o mar. Contudo, mais adiante, perto da saída leste, um taberneiro lhe chamou, oferecendo uma bebida, era pai de um dos tenentes que Jack havia treinado, e ele estava feliz porque o filho subira de posto junto à tripulação do comandante Jankins. Foi naquele momento que tudo começou a desmoronar, a culpa tinha que ser de Jake Jankins, não restava dúvidas.

— O senhor pode nem estar sabendo ainda, já que chegou não faz muito tempo... - o homem lhe serviu outro caneco de cerveja, era um dinamarquês alto e peludo. - Acredito que meu filho irá se dar muito bem nas mãos de Jankins. Não que ele seja um grande capitão como o senhor, comandante Aubrey. Mas ao que parece - e o homenzarrão baixou a voz, como se isso fosse possível - é que o comandante Jankins está firmando laços com a condessa de Norwich.

Jack engasgou e espirrou cerveja para tudo quanto era lado.

— Os dois passaram a semana toda juntos. Eu sei o que digo e o que vejo. Não tem como sair do chalé sem passar por aqui... e tenho uma ótima vista da rua - completou, dando uma piscadela.

Jack, ainda tossindo, pagou pela cerveja, mesmo o dinamarquês insistindo que era por conta da casa, e saiu para a noite novamente. Para não ser visto, deu a volta na taverna, pulou o muro e por entre casinhas minúsculas chegou ao terreno do chalé. Subiu a leve encosta e pôde vislumbrar luzes ao longo do solário. Ah, se Jankins estivesse lá, chutaria o traseiro do moleque até sangrar. Mas a condessa estava sozinha, lendo algum livro, esticada no enorme sofá. Jack hesitou, escondendo-se atrás dos arbustos e correu para a capela, onde se sentou diante do altar e fixou olhar no Cristo crucificado, que à luz das velas, parecia tremular.

— Quem é você? - a voz suave o tirou do transe com o redentor, fazendo-o perceber que permanecera ali mais tempo do que deveria. Jack se virou para os fundos da capela, sem nada dizer, e baixou a cabeça, numa pequena reverência. - Não me ouviu? Quem é você? E o que quer aqui?

— Perdoe-me, vossa graça - ele tentou disfarçar a voz e caminhando de ré, tencionou rumar pela saída dos fundos.

— Jack? - a voz dela ecoou, fazendo o corpo dele parar de súbito, quase sem controle. - Jack, é você?

— Eu... eu...

— O que está fazendo aqui?

— Eu...

Ela fechou as portas da capela por dentro e pegando uma vela ao lado da porta, caminhou na direção dele.

— Você está cheirando a álcool - murmurou ao parar ao lado dele. - Está tudo bem?

— Ah... está. Eu só... só...

— Você deve ir para casa, Jack. Onde está sua esposa que o deixa sair desse jeito?

— Não fale mal de Sophia! - ele ergueu a voz, fazendo-a se afastar.

— Bem se vê que ela não toma conta de você mesmo. Caso contrário não estaria na casa de outra mulher - rosnou baixinho com aquela afronta.

Jack demorou a aceitar que aquela mulher que acabara de lhe responder era Gussie, porque antigamente ela não usaria daqueles modos.

— Eu só... só

— Sim, sim. Isso eu já sei. Você só... só... - ironizou ela. - É melhor ir embora antes que alguém o veja aqui. Não quero complicação com ninguém, está me entendendo? - ela lhe deu as costas.

— Espere - Jack a impediu, segurando-a pelo pulso.

Agora estavam à meia luz, as velas do altar de pedidos pareciam ter dobrado a claridade, e fitaram-se como se tivesse sido a primeira vez naqueles anos todos. A condessa estava maravilhosa, parecia não ter envelhecido nada. Jack, no entanto, estava desleixado naquele momento.

— Eu precisava falar com você, Gussie.

Ela sorriu com o canto da boca e tocou a mão com a qual ele segurava seu pulso.

— Quando a vi no salão foi como se... como se tivéssemos voltado ao passado. Eu jamais pensei que a veria novamente. Eu jamais pensei que você...

— Que eu estivesse bem? Que eu pudesse ser bem sucedida?

Jack soltou o pulso dela, sua mão parecia ter se queimado.

— Você...

— Vá para casa, Jack - ela virou de costas para ele. - Volte aqui quando estiver sóbrio e durante o dia. Venha no domingo.

— Não. Espere. O domingo está longe.

— E lhe dará bastante tempo para pensar sobre o que realmente deseja me dizer.

— Eu somente desejo conversar com você. Saber como passou esses anos todos.

Um nó se formou na garganta dela e talvez Jack tivesse percebido a tristeza nos olhos, toldados pela pouca luz.

— Pois então volte, você e sua esposa, no domingo, para um chá - completou ainda de costas.

— Certo então - respondeu suspirando.

A condessa deixou a capela sem olhar para trás, ao contrário de Jack, que passou o caminho todo observando por sobre o ombro o chalé que jamais lhe fora precioso.

Ao chegar a casa, naquela madrugada, encontrou a esposa adormecida sobre os lençóis. Os pés dela estavam gelados e ela se abraçara em si mesma para tentar se aquecer, na esperança de que o marido chegasse logo. Jack sorriu, acariciou-lhe os pés e beijou os cabelos dela, que cheiravam a jasmim. Ela abriu lentamente os olhos e sorriu ao vê-lo, enlaçando-o carinhosamente com os braços e puxando-o sobre seu corpo.

Jack não conseguiu dormir, sentou-se diante da porta da sacada e pôs-se a observar as estrelas, que lentamente perdiam seu brilho para o sol.

— Meu querido, você ainda está aí? - perguntou Sophia, abraçando o marido por trás.

A consciência de Jack novamente o alfinetava, ele passara a madrugada toda pensando em Gussie e desejava infinitamente que fosse ela a abraçá-lo naquele instante.

— Eu vou tomar um café forte e dar uma volta pelo jardim. Talvez eu vá até a cidade...

— Posso acompanhá-lo, se quiser.

— Você é quem sabe, minha cara. Mas tenha a certeza de que não serei boa companhia.

— Jack, meu amor, você sempre é a melhor companhia. Está apenas inconformado com o que aconteceu. Mas acredite, meu amor, tudo irá se resolver - ela o beijou na bochecha e saiu para preparar um bom desjejum.

Os dois saíram juntos para a cidade e lá, enquanto Sophia comprava chapéus, Jack conversava com alguns oficiais. No entanto, ele nem se aproximou do cais, não queria ter de lidar com as informações desastrosas da Sophie. A senhora Hartcher os convidou para o lanche e passaram a tarde em companhia dela, e à noite foram assistir a ópera. Mas Jack não poderia precisar qual era, porque sua atenção estava restritamente fixada na primeira cabina adiante do palco, onde a condessa de Norwich sorria alegremente para o duque e para o jovem comandante Jankins.

— Jack! Jack querido!

— Sim?! - ele perguntou desorientado.

— Vamos embora. Você está dormindo sentando - murmurou Sophia.

— Oh, não, não. Seria inconveniente sair no meio da apresentação.

— Não fará diferença, meu querido. A ópera está divina e ninguém sentirá nossa falta. Venha, vamos descansar. Você está exausto.

Jack concordou sem argumentar. Adormeceu logo ao jogar-se na cama.

Na tarde do sábado, assim que Sophia chegou da cidade, onde ia bordar com as demais mulheres na casa da senhora Hartcher, Jack a chamou até a biblioteca.

— A condessa nos convidou para um chá amanhã à tarde.

— Ela esteve aqui? - quis saber, preocupada.

— Não, não. Um serviçal dela entregou um bilhete.

— E onde está? - pediu eufórica.

Jack quase se embasbacou ao responder.

— Por aí. Não lembro. Apenas o li...

Sophia olhou em volta, como se pudesse encontrar o bilhete, mas logo em seguida, correu para seu quarto, indo verificar se precisava comprar um vestido melhor para tomar aquele chá.

À tarde de domingo veio a galope, como se ela precisasse acontecer para que o mundo pudesse seguir seu curso. A carruagem dos Aubrey foi recebida por serviçais impecavelmente vestidos. Sophia pensou em se tratar de uma afronta, uma demonstração de quanto poderia e quanto conseguiria a condessa, se assim ela desejasse. Mas na verdade, tinha ouvido a senhora Jankins falar sobre o perfeccionismo da nobre.

Entraram no belo chalé, agora totalmente redecorado.

— Ela pediu permissão para fazer isso? - cochichou Sophia no ouvido de Jack, mas ele não ouviu.

— Senhora Aubrey - sorriu a condessa, estendendo a mão. - Como está? Que vestido maravilhoso! - Então ela se voltou para Jack. - Comandante Aubrey, que bom que respondeu ao meu convite. Venham.

Entraram na sala de chá, que ficava no solário e se surpreenderam.

— Espero que não se incomodem, convidei o comandante Jankins para se juntar a nós.

Sophia soltou um risinho, estava satisfeita. Jack, no entanto, parecia furioso.

— Jack - cumprimentou Jake Jankins. - Senhora Aubrey.

— Jake - quase rosnou para o amigo.

— É bom revê-lo, comandante Jankins - Sophia cumprimentou-o sorridente.

— Vamos nos sentar, por favor? - pediu a condessa.

Os assuntos durante o chá variaram entre a ópera da noite passada e as próximas obrigações em alto-mar. Mas foi inevitável que a conversa chegasse à chalupa Sophie, e Jack se viu compelido a responder e detalhar certas respostas. Por fim, o comandante Jankins convidou a condessa para um passeio no parque, ao qual ela aceitou com prazer, mas antes, precisava tratar de assuntos financeiros com Jack Aubrey, o que levou Jake a acompanhar a senhora Aubrey até os arredores do jardim, aonde os esperariam para o passeio.

— Eu gostaria de ficar um pouco mais em seu chalé, se me permitir...

— Não faço objeção - respondeu ele com certa pressa, observando Jankins pela janela.

— Com medo que Jankins roube o coração de sua esposa, Jack?

— O que ele está fazendo aqui? Achei que seríamos apenas nós.

— Eu, você e sua esposa? Ora, Jack, que egoísta - ela foi sarcástica.

— Por que age assim? Por que me desafia a todo instante?

— Eu o desafio? - ela inquiriu sorrindo. - É melhor irmos lá para fora...

— Não poderemos conversar lá! - ele pareceu ansioso e quase histérico.

— Mas o que você deseja tanto saber que sua esposa não possa?

Permaneceram por um longo tempo de fitando, Jack não entendia onde ela queria chegar.

— Vamos passear e eu lhe contarei como foi a minha vida.

Chegaram ao jardim, onde a condessa enlaçou o braço ao de Jake e deu início à caminhada.

— Talvez seja um pouco tedioso para você, senhora Aubrey, conhecer um pouco da história de minha vida, mas para o Jack aqui não é. Faz tempo que não nos falamos e ele sempre foi um grande amigo. Sempre compartilhávamos nossas desventuras...

Jack sorriu, cabisbaixo.

A condessa começou falando sobre o marido, que morrera dois anos depois de casarem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Violino e a Rosa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.