Verdade e Consequências escrita por Lara Boger


Capítulo 1
Sintomas


Notas iniciais do capítulo

Para que o leitor entenda melhor a história, leia isto antes. São as chaves para uma compreensão imediata das situações descritas.

A fic se passa cerca de quatro ou cinco meses depois do episódio “Always a Chance”, de Power Rangers Turbo, onde Adam morfa com uma moeda do poder quebrada. Ao fazer isso, ele correu o risco de ser destruído instantaneamente porque as moedas usavam muito da energia do próprio portador. Sem energia da câmara de poder, a moeda ( da época mighty morphing ) usou a energia vital de Adam.

Nas minhas histórias, costumo colocar Cassie ( ranger rosa turbo/space ) como irmã mais nova de Adam. Apesar dessas mudanças, o perfil dela permanece inalterado.

Adam está em Nova York, treinando na equipe de artes marciais Golden Phoenix, disputando uma vaga definitiva num estágio que costuma durar um ano, ou um ano e meio.



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- Mais força!

Dentro daquele ginásio diversos sons ecoavam. Vozes e ruídos enchiam aquele espaço, fazendo tudo parecer uma confusão infernal. Mas em meio a toda cacofonia apenas uma delas conseguia se sobressair.

- Mais alto!

A voz de Gregory Baxter.

- Gire o corpo!

Gregory Baxter era o treinador do Golden Phoenix, uma das mais importantes equipes de luta do país. O dono do santuário onde todos queriam entrar. Todos ali tinham esse objetivo. Onde estavam era uma espécie de portal, um lugar onde era feita a filtragem: um lugar inflexível, cheio de regras onde o tempo não passava d não havia nada senão artes marciais. A este teste poucos resistiam, poucos iam adiante. Só os melhores passavam para a almejada academia, tornando-se um atleta, um verdadeiro integrante daquela equipe.

- A defesa! Levante os braços! – gritava Baxter, observando os dois rapazes que se enfrentavam no tatame – As costas!

Aquela era uma seqüência de chutes rápidos. No tatame os dois pareciam cansados, mas concentrados. A luta durou ainda mais alguns segundos até um deles ser atingido no peito e cair.

- Park! O que é isso?! Por acaso está dormindo?!

O rapaz sentou, com a mão no peito e uma expressão de dor enquanto tentava normalizar a respiração.

- Precisa se concentrar, garoto! Desse jeito qualquer um te derruba!

- Desculpe – ele disse, em voz baixa ainda com a mão no local onde fora atingido.

O treinador observou-o atentamente, suspirando enquanto o oponente estendeu a mão, ajudando o rapaz a levantar, percebendo-o franzir o rosto ao se movimentar, algo que não era comum em Adam.

- Melhor ir para a enfermaria. – disse, tentando disfarçar a preocupação.

- Foi só um mau jeito.

- Certeza?

Balançou a cabeça, indicando que sim.

- Então senta ali e descansa.

Obedeceu. Saiu do tatame e sentou-se num banco enquanto um outro tomava seu lugar no treino. Enxugou o suor do rosto com uma toalha e ficou olhando para o chão. Aquele não era um bom dia. Não estava conseguindo se concentrar... se estivesse num dia normal não teria levado um golpe daqueles. Cometera um erro primário... os berros do treinador não tinham sido a toa. Normalmente não cometeria um erro daqueles, mas sentia-se cansado. Sono, dores no corpo... normal quando se estava naquele ritmo de treinamento. Já estava acostumado a lidar com isso, era recorrente, embora sentisse nos últimos dias que precisava se esforçar cada vez mais. O cansaço vinha se tornando o maior problema durante grande parte do tempo.

Levantou-se, indo para o vestiário, pensando que poderia melhorar se lavasse o rosto. Encarou- se no espelho: rosto pálido, mas nada que pudesse impressioná-lo. Seu último exame de sangue – rotina no lugar onde estava – acusara anemia. Problema considerado trivial e que já estava sendo tratado com nutricionistas. Ainda não tinham repetido esse exame, mas pelo que estava sentindo não esperava que o resultado fosse diferente. Sua palidez era recorrente nos últimos tempos.

Lavou o rosto na ilusão de que iria melhorar, mas apenas sentiu-se mais cansado. A água fria pouco teve o efeito que pensou, e sem disposição para continuar encarando seu reflexo pálido decidiu sair do vestiário... mas conforme se aproximava da porta sentia o corpo pesar.

De volta a área do treinamento, sentou-se novamente, pior do que quando saíra. Aparentemente não tinham dado por sua falta. Ainda ficou sentado por alguns minutos, tentando se recuperar do mal estar, até ser chamado por Baxter.

- Como está a dor agora?

- Melhor.

- Acha que dá pra voltar?

Meneou a cabeça indicando que sim. Levantou-se e voltou para o tatame. Com uma saudação rápida começaram a lutar. Golpes de perna e saltos que Adam executava, mas com dificuldades. Aquilo parecia custar uma força que não tinha. Seu esforço durou até sentir-se como se sua respiração tivesse parado e sua pouca disposição evaporasse. A visão escureceu e não sentiu mais nada, por um tempo que não pareceu maior do que poucos segundos.

- Park... Park... está me ouvindo?

Não soube quanto tempo se passou, mas quando acordou, viu-se deitado em uma maca na enfermaria.

- O que houve? – perguntou Adam, confuso e com uma voz diferente.

- Sou eu quem pergunto. – Baxter perguntou, impaciente. – Você desmaiou no tatame.

- Ele está com febre. – disse uma outra voz masculina pouco mais grave e calma, o médico Arthur Dovner – O que sentiu antes de desmaiar?

- Cansaço, tontura...

- Mais alguma coisa?

- Não. – respondeu, não parecendo muito disposto ao interrogatório.

- E como se sente agora?

- Cansado.

Baxter agora dava as primeiras mostras de preocupação, embora se esforçasse para contê-las. Há muito tempo um aluno não ficava doente, e quando algo acontecia era motivo de grande alarme.

- Baxter, acho melhor levá-lo ao hospital. Isso não é da minha alçada. Com certeza vão pedir mais exames... os últimos não servirão pra muita coisa.

- Como assim? Por que não?

E começaram uma conversa entre eles, da qual Adam não parecia ser um convidado apesar de ser o assunto. De qualquer modo ele não fazia qualquer questão de participar. Ouvir era o bastante já que eles não faziam qualquer tentativa de diminuir o tom de voz.

- Esses exames serão considerados antigos por qualquer médico que examinar. Além disso preciso de auxílio para o diagnóstico.

- Ok, faremos isso. – virou-se para Adam – É, garoto, acho que você vai dar um passeio. – disse-lhe tentando descontrair e evitar a palavra “hospital”. Por algum motivo, seus atletas pareciam temer muito aquela palavra.

- Agora?

- Quanto antes, melhor. – respondeu Dovner – Consegue levantar?

- Acho que sim.

Sentou-se na maca e depois desceu. Sentiu o cansaço bater imediatamente mas não disse nada. Limitou-se a ouvir uma breve discussão entre médico e treinador sobre quem deveria acompanhá-lo. No fim, estava na sala de espera do consultório, aguardando ser chamado enquanto Dovner – vencedor da disputa – ao seu lado, tinha nas mãos um envelope com seus exames anteriores.

Durante a consulta respondera as mesmas perguntas da enfermaria do ginásio. As mesmas poucas palavras. Também fora examinado da mesma forma. Quando finalmente saíram, tinham nas mãos um pedido para novo exame de sangue, além de uma recomendação de repouso.

- Senhor, recomendo que esse exame seja feito o quanto antes. – advertiu o medico que lhe atendera.

- Cuidarei disso. – Dovner garantiu.

A advertência foi levada a sério, pois pouco depois de saírem do hospital, dois ou três telefonemas resolveram o problema.

- Como se sente agora?

- Cansado.

- Quando chegarmos, vai poder descansar a vontade. É bom aproveitar porque vai acordar bem cedo amanhã pra fazer esse exame.

- Foram bem rápidos nisso.

- Saúde em primeiro lugar, garoto. A maioria de vocês deixou casa e família para vir treinar. É o mínimo que podemos oferecer.

Suspirou e olhou para fora observando a paisagem, que mais pareciam vultos coloridos devido a velocidade do carro. Sabia que teria um dia completamente inútil e que talvez durasse até o resultado deste exame estar pronto. No fundo pensava no que poderia ser e não esperava por boas notícias se seus últimos pensamentos estivessem corretos. Tinha esperança de que estivessem, mas sabia que precisava pensar em tudo. Os dias poderiam ser tranqüilos? Não sabia, mas esperava poder fazê-los passar de alguma forma mais suave.

Ao chegar, Dovner endossou o repouso, recomendando que ficasse em seu alojamento até que alguém lhe chamasse para as refeições. E foi desse jeito que passou o resto daquele dia.

Na manhã seguinte, acordou cedo e foi fazer o exame, mas agora acompanhado por Baxter. Tudo muito rápido e sem complicações, mas sob olhar atento e vigilante de seu treinador. Na certa estava sendo avaliado dos pés a cabeça... e a mesma atenção ocorreu quando voltaram ao ginásio e foi novamente “interrogado” e examinado. Dovner constatou, sem demonstrações de alarme, palidez e febre baixa.

- Bom, já que o resultado sai daqui a três dias, e a consulta vai ser logo no dia seguinte, achamos que será melhor que continue de repouso.

- Aproveite esse tempo e durma: isso que o que todo mundo aqui quer mas não pode.

Era uma piada, e Adam limitou-se a rir e acatar aquela ordem. Sabia que estava despertando preocupação pois Baxter não deixava ninguém sem treinar a menos que fosse por algo muito sério, ou uma desculpa excelente. Não sabia qual o seu caso, mas achou melhor nem tentar saber. Simplesmente obedeceu, saindo da enfermaria direto para o alojamento.

Durante aqueles dias necessários para o resultado sair, procurou formas de fazer o tempo passar mais depressa e da forma mais normal possível: lia, ouvia música, dormia, assistia o treinamento dos amigos. Era bastante tedioso, mas facilmente superado. O chato era o desconforto causado por olhares preocupados... todos pareciam ter um cuidado a mais com ele, perguntando como se sentia a cada momento. Suas respostas eram sempre as mesmas: “tudo bem”, “não, não estou sentindo nada”. Ninguém precisava saber que estava cansado ou que tinha fortes dores de cabeça. Não podia tomar remédios por causa do risco de doping, então não iria adiantar nada admitir. Ficava quieto então. O único sintoma perceptível era a febre: baixa, mas ainda assim febre. Mas não iria morrer por omitir isso.

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Noite, do segundo para o terceiro dia.

- O que está havendo?

- Não sabemos direito, o Park não está bem. Ele ta com febre alta, delirando...

Um telefonema durante a madrugada tirou Dovner da cama, fazendo com que em poucos minutos estivesse atravessando os corredores a passos largos a caminho dos alojamentos. A voz aflita de Baxter do outro lado o assustou e quando o viu soube que não era alarde sem motivo: a pele queimava em febre, tão alta que viu-o muito próximo de ter convulsões... o nariz com um pequeno filete de sangue.

- Ele precisa ir para o hospital.- decretou, taxativo.

E assim foi feito. Não chamaram ambulância, temendo que talvez demorassem e o alarme que isso poderia provocar. Com a garantia de Dovner de que aquilo não lhe traria mais riscos, colocaram-no dentro do carro em direção ao mesmo hospital onde fora examinado na primeira vez, afinal tinham convênio para os atletas. Adam foi levado, Dovner foi tentar obter notícias enquanto não restava a Baxter mais do que a sala de espera.

Algum tempo se passou, até que finalmente algo fosse dito.

- Que diabos está havendo, Dovner? Que demora é essa? – Baxter estava muito bravo.

- Fique calmo porque seus gritos não valem nada aqui. – advertiu, num tom ameaçador, embora isso não fosse de sua índole. – Ele teve febre muito alta, chegou a ter convulsões, mas agora a temperatura abaixou.

- E como o garoto está?

- Cansado, acabou dormindo. Perguntei se podemos levá-lo de volta, mas acham melhor que passe a noite aqui em observação.

- Certo. – fez uma pausa, procurando um tom mais calmo – Seja franco comigo, Dovner: o que acha que ele tem?

- Sinceramente, não sei. Não acho certo fazer especulações sem ao menos um exame nas mãos. Vamos ter alguma idéia amanhã.

- A consulta não estava marcada pra depois de amanhã?

- O doutor mudou de idéia. Preferiu ser mais rápido.

- Ótimo.

Com um rápido combinado, ficou decidido que Dovner passaria a noite ali. Como era médico, poderia entender melhor algo que acontecesse a mais com Adam, mas no momento da consulta, Baxter fazia questão de estar presente. Não queria estar longe quando algo que julgava ser tão importante acontecesse. Dovner sentiu que ele realmente estava preocupado, mas não podia deixar que Baxter fizesse o costumeiro papel do treinador mal educado onde não podia, onde não era assim que as coisas funcionavam.

Entrou no quarto e ficou em silêncio absoluto para não incomodá-lo. Imaginou que deveria estar muito cansado devido à crise e que o sono viria na hora certa. Aproveitou para observá-lo: respiração leve, rosto pálido. Não sabia do que se tratava, mas não esperava algo simples. Não podia dizer isso, mas talvez pudesse imaginar um diagnóstico. Seria muito arriscado e pedante de sua parte, por isso preferia aguardar e deixar suas prováveis certezas para uma hora mais adequada: quando o garoto acordasse, Baxter estivesse presente e o médico com todos os exames necessários para algo acertado e comprovado.


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Notas finais do capítulo

Por favor, gente: mandem REVIEWS!!!!!! (elogios ou críticas construtivas, please!)