Fate - Fantasy escrita por Goldfield, Otoshi


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Observações:

1 – Esta fic é uma parceria entre Goldfield e Otoshi, e trata-se da adaptação de um RPG de fórum. Dêem créditos a ambos nos comentários.

2 – Por ser baseada num RPG ainda em andamento, os capítulos podem tardar um pouco.

3 - URL do Fórum: http://fatefantasy.freeforum-hosting.com/



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Prólogo

Um clarão... E ele sente seu corpo se materializar. Abre os olhos lentamente, seu corpo captando a mudança de ambiente, que parecia trazida por uma agitada brisa. Um jovem humano estava à sua frente, encarando-o. Observando o local, o recém-materializado indivíduo percebe se encontrar em um quarto todo preto, com símbolos estranhos pintados no chão e velas com caveiras. Algo no mínimo perturbador. O rapaz se vestia inteiramente de negro, quase camuflado em meio ao aspecto do cômodo.

- Diga-me, ó espírito das trevas! – o garoto em questão exclama, olhos arregalados. – Qual é seu nome? Veio responder ao meu chamado?

Saladino olha com estranheza o local e sua aparência. Durante sua vida já presenciara cenas de intensas brutalidade e confronto, e não poderia dizer que aquelas representações o agradavam - mesmo sendo um incrível combatente em luta, se a situação o requeresse. Passando os olhos pelo ambiente e então fitando aquele que aparentemente o invocara, como estava pré-disposto pelas regras da Guerra do Cálice Sagrado, o guerreiro árabe perguntou, pensando que a aparência do indivíduo se aproximava, em muito, da de um hediondo Hassassin:

- És tu meu mestre, sombrio artífice?

O jovem ri-se, cheio de regozijo:

- Mestre, ele me chamou de MESTRE!

Reparando mais no local, Saladino vê cruzes invertidas e símbolos que os antigos Cruzados usavam para designar Baphomet. Aparelhos estranhos também estavam espalhados pelo quarto. O rapaz voltou a falar, quase clamando:

- Diga-me, demônio servo, diga-me teu nome!

Um tanto incomodado pela aparente petulância e inexperiência de seu mestre, Saladino sente-se ainda mais incomodado pelo uso, por parte de seu interlocutor, da palavra "demônio". Seres vis que haviam tentado os profetas do passado, inimigos da religião, da fé. Criaturas malignas que traziam dor e desespero ao mundo desde sua criação. Ao ser referido de tal maneira, o cavaleiro não pôde conter sua irritação:

- Minha honra impede que eu lance de imediato a lâmina de meu sabre sobre sua garganta, meu mestre, pois só poderia fazê-lo após devidas explicações. Por que me chamas de demônio? Quem pensa ser eu? Sou Saladino. alā ad-Dīn. Campeão da fé em Allah, o Cavaleiro do Egito. Se pensas ser eu um demônio, então só podes constituir criatura associada a um e representante daquilo que sempre combati!

O jovem, atônito, pega então um grosso livro de capa dura e o folheia, confuso. Diz em seguida:

- Isso tá errado... Tem algo muito estranho acontecendo aqui. Allah? Em nome de Satã, como isso é possível?

Ele fecha o livro e acrescenta:

- Hehe, tanto faz, Saladino. Vai conceder a mim o meu pedido?

Saladino começa a ficar impaciente – algo difícil de lhe acontecer, e que o jovem diante de si lograra desencadear. Respirou fundo, passou uma das mãos pela bainha que abrigava sua cimitarra, e, procurando acima de tudo manter a calma, falou pausadamente, para que seu mestre viesse a compreendê-lo bem:

- Não sou um demônio, nem qualquer tipo de entidade que concede desejos como o gênio das lendas da Arábia antiga. Sou um servo, um espírito heróico por ti invocado graças à sua habilidade como mago e ao poder concedido pelo Cálice Sagrado. Caso tenha me invocado por engano ou com outros propósitos, peço então que abra mão de seus feitiços de comando e deixe que eu procure outro mestre, já que tenho interesse em alguém que lute na Guerra do Cálice, e eu próprio possuo o desejo que quero efetuar à divina peça. Agora, caso teime em me denominar "demônio" e insista que eu realize seus intentos sombrios, ainda mais clamando o nome desse que é o senhor de toda a maldade, serei obrigado a me livrar de meu atual mestre à força! O cavaleiro tinha a esperança de que suas palavras surtissem efeito e que realmente não tivesse necessidade de subjugar pela violência aquele rapaz que, apesar de vil, parecia acima de tudo desorientado.

- Espera aí então, ô tio barbudo – protestou o jovem – Ta falando do quê? Tá escrito que eu ia invocar um demônio do oitavo círculo, a fim de que ele me concedesse um desejo! E... Feitiços de comando? Do que está falando? Claramente ele não sabia do que se tratava, mas mostrava ganância em realizar um desejo.

Saladino cruzou os braços e tentou explicar:

- Olhe para sua mão direita. Nas costas dela existem agora algumas inscrições gravadas. Elas representam seus feitiços de comando, o meio para que eu e você, unidos, lutemos pelo Cálice Sagrado. Isto é, apenas se o quiseres. Como eu disse, caso não esteja interessado ou tenha outra coisa em mente, abra mão deles para que eu procure outro mestre. E não sou demônio nem nada parecido. Se continuar a insistir em assim me chamar, também provará de minha espada.

- Eu sinceramente acho que provar da espada de alguém é um ato muito gay – o garoto respondeu com zombaria, enquanto olhava a própria mão. – Legal essa marca... Então, como você disse? Cálice Sagrado? Quer dizer o Santo Graal?

Saladino tentava manter sua paciência. A situação ao menos melhorara ligeiramente: não fora chamado de demônio naquela última fala. Apesar de não fazer idéia do que poderia significar o termo "gay". Na verdade o mesmo lhe lembrava Guy de Lusignan, o antigo rei cristão de Jerusalém, e perguntou-se se, àquela época, tornara-se insulto referir-se ao nome do rei devido à derrota que sofrera pelas mãos do próprio Saladino. Ignorando isso e mantendo os braços cruzados, o árabe disse a seu dificultoso mestre:

- Sim, o Cálice Sagrado, também conhecido por Graal. Esse em questão, porém, não é o recipiente que colheu o sangue do profeta cristão durante seu suposto martírio. É um item mais antigo e mais poderoso, e alguns dizem que ele representa a própria "verdade", o sentido de nossa peregrinação neste mundo. O cálice que concede qualquer desejo ao mestre e ao servo que restarem, após a eliminação dos outros seis...

- Quer dizer que eu vou ganhar o direito de ter um desejo meu concedido após eliminar outros seres? DEMAIS! Hey, cara... Pode contar comigo pra essa parada aí. Seremos os campeões. Saladino pôde sentir uma considerável energia emanando de seu mestre, poder o suficiente para lhe conceder habilidades dignas de uma boa guerra.

Ainda com os braços cruzados, o árabe suspira, ainda achando seu mestre muito instável e imprevisível. De certa forma, ele lhe lembrava Reinald de Chatillon. Esperava que isso não criasse problemas. Porém acreditava, acima de tudo, que pessoas poderiam melhorar. Presenciara isso muito em guerras. E talvez a Guerra do Cálice Sagrado amadurecesse aquele rapaz...

- Espero que não seja uma guerra muito longa... – o cavaleiro murmurou consigo mesmo.

- Prazer, Saladino. Meu nome é Henrik Schwartz. Espero que possamos esmagar alguns otários juntos. O jovem estendia a mão, com uma expressão cordial. Podia-se ouvir um sino tocando ao longe, informando aos cristãos ser seis horas, ou seja, a hora da missa.

"Schwartz"? Tal nome remetia muito a europeus, principalmente aos da região do Sacro Império. Frederico Barba Ruiva. Se aquele mestre possuísse metade da bravura que tal homem tivera, a ponto de acabar morrendo em sua peregrinação até a Terra Santa, então seriam bons aliados. Sorrindo, Saladino também estendeu sua mão direita, segurando a do rapaz num sincero cumprimento. Então lhe disse:

- Pois bem, Henrik. A partir deste momento eu serei sua espada. Alláh Akbar!

- LEGAL. Bom... Por onde começamos?

Da janela podia-se ver um suntuoso templo, com torres gigantescas e paredes colossais. Talvez dali batessem os sinos, como Saladino logo deduziu. Um tanto confuso e curioso, resolveu primeiramente perguntar a seu mestre:

- Perdoe a ignorância de minha parte, mas onde estamos?

- Alemanha... Ah, você não deve conhecer... Me siga, vou te mostrar um mapa. O garoto sai do cômodo por uma porta, que dava acesso a um corredor. Lá fora o aspecto da casa parecia totalmente diferente: paredes cor de creme, móveis simples e arrumados, diferente do aspecto de pedaço infernal que o quarto de Henrik ostentava.

Saladino acompanha o rapaz, intrigado. Aquela época parecia ser bem mais avançada no tempo em relação à sua de origem, então precisaria de várias explicações. E saber o que era "Alemanha" parecia ser uma delas. No entanto, deduzindo que seu mestre era um descendente dos germanos de outrora devido a seu nome, era de se presumir se tratar da nação onde um dia pisara Frederico Barba Ruiva. Continuando a acompanhar Henrik, o cavaleiro estava ansioso pelo mapa.

O jovem entra em uma espécie de escritório, onde se encontra uma escrivaninha com um computador, dezenas de livros e um grande armário. Esse aposento é bem mais iluminado do que o outro. Ele mexe no armário, abrindo-o e desorganizando tudo o que estava lá dentro. Até que, enfim, respira aliviado ao achar um grande rolo de papel. Tira-o de dentro do armário e abre-o sobre a escrivaninha, revelando um grande mapa. Ele aponta para um território escrito Alemanha, na Europa. Antigo território germânico, como Saladino bem sabia.

O árabe viu-se vislumbrado diante do mapa. Era um grande entusiasta da arte cartográfica, e sempre apreciara as representações territoriais que alguns de seus melhores peritos no ofício lhe haviam feito em vida. No entanto, a profusão de nomes, pontos e linhas sobre o papel o deixaram confuso. Aquilo aparentava ser uma tremenda desordem. Um tanto incomodado, indagou ao jovem:

- Onde na Alemanha nos encontramos, mais precisamente?

- Estamos bem aqui, em Barmen! – aponta o jovem para um estado na costa oeste alemã. – Cidade do afamado Friedrich Engels, que você provavelmente não conhece. Mas se quiser conhecer, tenho aqui na estante alguns livros sobre ele.

Parecia ser sem dúvida algo interessante, mas infelizmente não havia tempo. Erguendo a cabeça e levando uma de suas mãos novamente até sua bainha, Saladino disse:

- Temos assuntos mais importantes a tratar. Como você não me invocou tendo em vista a Guerra do Cálice Sagrado, é preciso que você visite o árbitro do confronto para que ele lhe forneça maiores explicações. Em toda guerra deste tipo há algum, geralmente um membro do clero católico, até onde sei. Há alguma igreja isolada nesta cidade? Algum local sagrado desse tipo? São geralmente as áreas neutras em que esses árbitros permanecem e que recebem os mestres derrotados, para que eles não sejam mortos pelos demais.

- Tem uma igreja aqui perto... – replicou o garoto. – Mas eu duvido que Pietr, o amigo do povo, saiba algo sobre isso.

- Pietr? – Saladino achou aquele nome deveras estranho. – Bem, os mestres não devem expor seus servos a outras pessoas, nem estas podem presenciar lutas entre servos. Portanto preciso que você pesquise sobre o árbitro residente nesta cidade para que, com certeza de ser ele, possamos sair para vê-lo. Aliás, você mora com mais alguém nesta casa?

- Meus pais. Mas eles estão viajando. Tempo o suficiente pra preparar esse feitiço que tava em um grimório velho que eu achei. Minha mãe é católica fervorosa e odeia esse tipo de coisa. Quanto ao árbitro... Talvez eu possa pesquisar algo sobre isso na Internet.

Uma católica fervorosa? Talvez isso causasse problemas. Era incrível como Saladino tentava sempre fugir de conflitos, mas estes aparentavam insistir em persegui-lo. Não pestanejou; expôs de uma vez ao rapaz sua opinião sobre o caso:

- Haverá problemas se seus pais me virem, e acredito que eu, como um servo, terei problemas em conviver com estas pessoas. Melhor seria se você pudesse se mudar para alguma outra morada, ao menos até que a guerra termine. E o que é Internet?

- Me mudar daqui? Acredite, estou tentando há anos. Internet... Bom... Internet é uma rede mundial de computadores, que são máquinas que computam dados a partir de descargas elétricas e... Bom, o que importa é que funciona e que eu posso descobrir quase qualquer coisa com ela.

Olhando melhor para o garoto, de um cômodo mais iluminado, Saladino pôde ver com clareza sua aparência. Estatura média, pele muito pálida, cabelos negros lisos dispostos numa franja transversal sobre sua testa. Possuía na boca algo como pequenos objetos de metal lhe atravessando os lábios – algo que ao árabe parecia doloroso e um tanto estranho, apesar de lembrar adornos cerimoniais ou coisa parecida. Se estivesse melhor informado a respeito daquela época, saberia tratar-se de piercings. Vestia trajes pretos, compostos de uma camisa com dizeres nela gravados em branco numa caligrafia estranha e uma espécie de manta cobrindo-lhe as costas, o que, àquela época, era chamado de “jaqueta”. As pernas eram cobertas por calças na mesma tonalidade e os pés calçavam sapatos estranhos possuindo igual aspecto.

Henrik sentou-se na cadeira da escrivaninha e apertou um botão presente numa insuspeita caixa de metal. Seguiram-se alguns estranhos barulhos, quando luzes se acenderam e imagens apareceram em uma caixa maior, à frente do jovem. Ele parecia olhar aquilo como trivialidade. Saladino, no entanto, ficou surpreso com o dispositivo. Em sua época aquilo não passaria de mágica, feitiçaria, porém parecia que o conhecimento dos homens, àquela época, destruíra as barreiras que diferenciavam antes claramente magia de invenção. De qualquer modo, ainda que não entendesse como a tal Internet funcionava (apesar de interpretá-la como uma versão moderna das "bolas de cristal"), ela poderia ser útil na descoberta da área neutra da Guerra do Cálice naquela cidade. Assim, o herói árabe pôs-se a aguardar.

- Olha, quem diria, um e-mail – exclamou o rapaz após algum tempo. – Associação Mágica. Nunca ouvi falar.

Ao ler a mensagem, mandada por alguém em nome da tal Associação Mágica, o jovem pôde compreender melhor a dimensão da Guerra do Graal. Em dois dias, teria que estar embarcando para Munique, onde se encontraria com o primeiro mestre, e lá deveria realizar a primeira eliminação. Ficaria hospedado em um hotel, por conta da mesma Associação. As passagens já estavam compradas no nome dele. O remetente desejava boa sorte.

Saladino também leu a mensagem e compreendeu que deveriam partir o quanto antes. O jovem teria de encontrar uma maneira de burlar o controle paterno e partir até a dita cidade de Munique. O cavaleiro árabe, por sua vez, achava-se sempre pronto para o combate. Encontrava-se disposto a tudo pelo Graal.

- Creio que esta Associação é o grupo que coordena a guerra... – falou ele, pensativo. –Então eles realmente tinham consciência de que você me invocaria. Bom, partamos então o quanto antes. Vejo que és um mago inexperiente e o prana para me manter neste mundo não durará para sempre...

- Inexperiente? HAH! Tá maluco? Invoco coisas do nada desde criança. Não me leve a mal, mas faço inveja em muito marmanjo barbado da seita. O jovem parecia confiante em suas palavras. Saladino pôde sentir energia mágica suficiente emanando do garoto.

- Hum... – Saladino coçou sua barba, satisfeito. De fato, aquele jovem parecia mesmo poderoso. – Pois bem. Como pretende ir até Munique? Há algum meio de viagem mágico neste presente? E ah, como um espírito heróico, posso me ocultar dos demais através de minha forma espiritual. Creio que será prudente em nossa viagem.

- Muito prudente até. Nós vamos voando. Em uma máquina. Você vai adorar. E, devido a certas características do seu tipo étnico, teríamos problemas mesmo se o vestíssemos com roupas de hoje em dia. Existe certa tensão por aqui contra os povos árabes e do Oriente Médio. E você faz bem esse tipo étnico, guerreiro do Egito. Mas, diga-me... Se existe uma batalha de tão grande dimensão, e se você se diz um guerreiro, quais são suas habilidades?

Saladino ouviu atentamente a extensa fala de seu mestre, e acabou respondendo de forma ponderada, parte por parte:

- Voando? Isso me lembra os tapetes mágicos das lendas antigas, mas como este mundo desenvolveu tantos prodígios, creio ser algo natural a vocês... Quanto à hostilidade entre seu povo e o meu, que você define como "tipo étnico", é natural, afinal nunca houve paz entre as religiões de Allah e Jesus, e é natural pensar que elas continuariam se digladiando por séculos e séculos. Ficarei invisível aos olhares de terceiros, sendo assim.

Quanto à última questão, o cavaleiro respirou fundo antes de responder:

- Defendê-lo-ei e lutarei por nossos interesses com minha fiel cimitarra, meu mestre. Além dela, conto com minha habilidade de dialogar com o inimigo, evitando muitas vezes combates desnecessários e desgastantes, e as bençãos de Allah, que sempre auxilia aqueles que o honram. Pelas palavras do Profeta, a vitória será nossa!

- Hum, OK – assentiu Henrik, convencido. – Dá pra ganhar fácil. São divindades poderosas às quais nós servimos. Mas, então... O que pretende fazer enquanto não voamos? Ah, meus pais voltam amanhã.

Saladino suspirou e respondeu:

- Se eles se encontram ausentes, então é o momento perfeito para que iniciemos a viagem. Assim não precisará confrontar-se com a opinião deles diretamente. Prepare suas coisas, deixe uma mensagem cordial a eles, e vamos!

- Nossa viagem está marcada para daqui a dois dias. Não podemos sair ainda, se formos respeitar a decisão da Associação lá! – argumentou o garoto.

O árabe coçou a barba. A decisão da tal Associação prejudicava a dinâmica da guerra. Mas teria de arcar com isso. Pensativo, falou então:

- Permanecerei em minha forma invisível, mas seus pais suspeitarão se o flagrarem falando sozinho. Aliás, pensa numa justificativa para dar a eles a respeito de sua viagem?

- Hum... Posso dizer que é uma viagem com os amigos do colégio. Sempre caem! – o jovem ri-se.

- Hum... – Saladino deu um sutil sorriso. – Bem, acho que pode dar certo. Agora me diga: quais os seus conhecimentos sobre magia? O que você consegue fazer? O cavaleiro tinha esperanças de que seu mestre fosse forte assim como seu prana aparentava.

- In-vo-car – o garoto parecia bastante ansioso. – Pode dizer. Qualquer coisa. Vai, fala!

- Hum... – murmurando novamente, Saladino aparentava ter um pouco de temor e desconfiança. – Água. Água gelada.

O garoto fecha os olhos. O ambiente em volta de si começa a escurecer bruscamente, a energia mágica da atmosfera passando a ser concentrada na figura de Henrik. Parecia que toda a luz estava sendo roubada para ele. Ele abre a boca e uma voz mais grossa e rouca pronuncia:

- Im Namen Baal buchstabieren Sie die Form, die meinen Verstand imprägniert. Daß mein Wille gebildet wird. (Em nome de Baal, conjuro a forma que impregna minha mente. Que minha vontade seja feita).

A luz volta ao seu devido lugar. Caem, repentinamente, duas gotas de sangue dos olhos do garoto, que despencam sobre chão e se transformam em um copo de vidro com água. Ele abre os olhos, pega o recipiente e o oferece a Saladino.

O árabe assistiu a tudo de forma atônita. Magias em língua germânica, aquilo era novo para ele. As palavras tinham um tom imponente, até um pouco agressivo. No entanto, era certo que o prana do garoto era bem alto. O efeito causado ao redor com a conjuração deixou isso bem claro. Sorrindo, Saladino apanhou o copo de água e sorveu o líquido em temperatura baixa que lhe era tão difícil de se conseguir nas areais do deserto. Mas algo o deixara curioso quanto à habilidade de seu mestre... "Baal". Ele pronunciara mesmo aquele nome? De qualquer modo, convinha tirar a dúvida:

- Você por acaso clamou pelo antigo deus fenício? Baal? É que antes invocou Satã... Não dou crédito a nenhuma dessas divindades infiéis, e creio que seu poder possa ter outras origens, mas... Você segue alguma delas em específico?

- O cristianismo demonizou todos os antigos deuses – Henrik protestou de forma veemente. – O próprio Satã tem características de deuses antigos. Acreditamos que se o cristianismo é o fim da magia, o seu contrário é o ápice da mesma. Assim funcionam nossas conjurações.

A voz do garoto continuava grossa e rouca. Sua expressão mudara bruscamente...

Saladino não concordava totalmente com aquelas palavras, porém tinha de reconhecer que faziam sentido. Além do mais, sua fé nada falava sobre o Graal, e o artefato já demonstrara claramente seu poder. Pensou em não mais questionar as habilidades mágicas do garoto, ao menos por enquanto. Já estava satisfeito com o que vira:

- Compreendi.

E, de repente, um calafrio propagou-se pelo corpo invocado do cavaleiro árabe quando ele ouviu:

- Este corpo terá muito a nos oferecer no futuro...

O garoto continuava a falar naquela estranha voz, que agora apresentava mais um timbre, como num uníssono; ele olhava a si mesmo com um sorriso que não poderia ser natural à sua face.

- Sabe, ficamos felizes de ter com quem conversar. Normalmente quando estamos por aqui ficamos solitários. Temos sede de estar nos pensamentos e corpos de mortais de novo. Mais um timbre se juntava ao coro de vozes, que agora riam de maneira confusa e estridente.

O servo, que antes só achara estranho o tom de voz alterado do garoto (e acreditara se dar devido à magia que usava), agora ficava realmente preocupado. Algum tipo de entidade parecia ter se apossado do rapaz. Ele ouvira muitas histórias a respeito quando criança. Gênios malignos, espíritos traiçoeiros e caóticos. Respirando fundo, viu que a situação exigia extremo tato, tentando em seguida se comunicar com o que quer que fosse:

- Com quem eu falo?

- Com quem você quer falar, espírito por nós comandado? – rebateu o coro sinistro.

- Com as entidades que tomaram o corpo desse jovem! – Saladino rebateu firme.

- Somos muitos, somos todos. Somos pesadelos, sonhos, vontades e desenganos. Esperamos muito até este momento. Temos um desejo que o Graal pode realizar. Você irá nos auxiliar nesse propósito. Nosso pacto ainda está de pé e firme.

O cavaleiro árabe viu-se então numa situação difícil. A presença ali era claramente maligna e distorcida. Uma afronta a Allah. Pior: manifestava-se no garoto quando ele utilizava magia, apossando-se de seu corpo covardemente. Mesmo aquilo indo contra sua honra, não havia muito que Saladino pudesse fazer no momento. Aqueles gênios simplesmente usariam seus feitiços de comando contra ele caso tentasse reagir. Tudo que poderia fazer, então, seria acatar... Mas não eternamente. Ao longo daquela guerra, ele agiria contra aqueles espíritos... Ele livraria a alma de seu mestre!

- Compreendi.

- Que bom que compreendeu. Que Allah seja louvado.

A última frase seguiu-se de uma risada de um coro de vozes grotescamente grande, que foi reduzindo sua potência, num rallentando, até se tornar um chiado. O corpo do garoto foi então ao chão, inconsciente.

Saladino movimentou-se assim que o garoto desmaiou, adiantando-se em relação a ele e apanhando seu corpo com as mãos antes que viesse a chocar-se com as tábuas do assoalho. Com o rapaz em seus braços, passou alguns instantes fitando-lhe as feições suadas antes de murmurar:

- Aasef...

Em seguida olhou ao redor, seus olhos parando em cima do outro copo de água sobre o chão. Levando uma das mãos às vestes, Saladino apanhou um pequeno pedaço de pano que trazia consigo, umedeceu-o na água gelada e passou-o de leve sobre a testa de seu mestre, na esperança que acordasse.

O garoto respirava fracamente, mas, ao ouvir o pedido de desculpas, sorriu de uma maneira sinistra. Sua prana parecia ter aumentado e ficado mais pesada.

- Obrigado, Saladino. Sua voz saía doce, mas fraca e desafinada.

Tinha aberto os olhos, que, arregalados, demonstravam trauma e uma aflição agressiva.

- Isso nunca aconteceu comigo antes – explicou Henrik. – Ainda mais por uma coisa tão banal. A voz continuava a mesma, como se fosse natural.

Preocupado, e ao mesmo tempo aliviado por ver que o garoto recobrara sua consciência – sendo ele mesmo – Saladino fez questão de salientar: - Tome muito cuidado ao conjurar, daqui em diante. Essas entidades não podem dominá-lo com tamanha facilidade. Isso prejudicará nosso desempenho na guerra, e, acima de tudo, pode afetá-lo de maneira irreversível. Somando coragem, o cavaleiro complementou, desejando entender o que ocorria com o rapaz:

- Conte-me... Como começou a utilizar magia? Quem o ensinou? De que forma?

- Não me ensinaram. As coisas foram acontecendo de tal forma, que quando menos percebi, eu fazia magia. Sempre tive facilidade e interesse. E foi quase natural entrar para minha seita. Por que o interesse?

- Hum...

Apesar de não falar em voz alta, o repentino progresso do rapaz em magia parecia estar diretamente atrelado aos estranhos espíritos malignos que há pouco o haviam dominado. Guardaria tal opinião para si, por enquanto. Agiria no momento certo.

- Apenas curiosidade... – falou o árabe. – Bem, o que quer fazer enquanto seus pais não chegam?

- Talvez te mostrar a cidade, ou treinar situações de combate, para que nós estejamos familiarizados quando for o momento de batalhar.

Saladino gostou da idéia: - Creio que possamos fazer ambos. Mas não demoremos muito: nós dois precisamos descansar também, para repor nossas energias. Tem alguma sugestão de lugar para visitarmos antes? O árabe realmente não tinha nenhuma preferência. Tudo ali era novo para si.

- Podemos ir treinar em um lugar que eu gosto de ir pra praticar magia e relaxar. Aprecio-o muito por sua discrição e distância de olhares curiosos.

- Se é discreto e você está a ele habituado, me parece bom. Vamos! – o cavaleiro aceitou num sorriso.

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Nome: Saladino (alā ad-Dīn Yūsuf ibn Ayyūb)

Classe: Saber

Mestre: Henrik Schwartz.

Aparência: Com uma característica aparência de homem do Oriente Próximo, Saladino possui pele morena, cabelos e barbas crespos e negros, e grossas sobrancelhas. Porte forte, porém não muito. Estatura média. Raramente é visto sem seu turbante e seu traje composto de armadura de cota de malha, cobrindo uma veste fina e maleável composta de raros tecidos do Oriente. Traz junto a si, também, suas duas armas principais: uma mortal e afiada cimitarra com cabo cravejado de jóias e uma adaga igualmente ornamentada oculta junto a uma de suas pernas.

História: Nasceu em Tikrit, atual Iraque, em 1138 d.C.

Em 1175 foi nomeado vizir do Egito, após ter empreendido valorosa campanha para unificar a região e restaurar nela a predominância do islamismo sunita. Nos anos seguintes também uniu e submeteu a Síria e a Mesopotâmia.

Nesse período, junto à costa do Mediterrâneo, na região da Palestina, sustentavam-se os frágeis reinos cristãos fundados pelos combatentes europeus ao término da Primeira Cruzada. Recusou-se a atacar tais territórios antes de consolidar seu domínio sobre a Síria. Durante tal empreitada, Saladino inclusive sofreu um atentado por parte do sombrio grupo de assassinos do Ismaili, o Hashshashin, que falhou em tirar-lhe a vida.

Apesar de manter relativa paz com os estados cruzados, Saladino chegou a travar com seus cavaleiros algumas escaramuças, das quais quase sempre saía vitorioso. Em 1177, porém, na Batalha de Montgisard, foi batido pelos cristãos, obrigado a assinar com eles trégua que durou até 1179.

Teve início então um período de sucessivas vitórias de Saladino, geralmente retaliando ataques a rotas comerciais e locais islâmicos sagrados desferidos pelo obstinado cavaleiro francês Reinald de Chatillon. A situação culminou na Batalha de Hattin, em julho de 1187, quando Saladino bateu os exércitos cruzados, condenando a existência do Reino de Jerusalém, e sendo Chatillon preso e executado.

Em outubro do mesmo ano, as tropas de Saladino cercaram a cidade de Jerusalém. Através de negociações com Balian de Ibelin, a anistia da maior parte da população da cidade foi garantida e a mesma escoltada em segurança até o litoral, a Cidade Santa sendo tomada, assim, sem banho de sangue.

A queda do Reino de Jerusalém serviu de estopim à Terceira Cruzada. Mais soberanos europeus rumaram para a Palestina objetivando liberar os locais sagrados ao cristianismo, entre os quais o rei inglês Ricardo Coração de Leão. Acre foi retomada, os exércitos cristãos travando grandes batalhas com os de Saladino. Este continuava a se mostrar, entretanto, um exímio estrategista e um impecável cavaleiro. Respeitava seus rivais, principalmente o rei Ricardo, inclusive lhe enviando um médico em dada ocasião e dois cavalos em outra, quando o inglês perdera o seu. Em meio ao conflito naquelas terras, Saladino quase sempre se mostrava mais sensato e ponderado que os comandantes inimigos.

Em 1192, Saladino e Ricardo chegaram a um consenso quanto a Jerusalém: a cidade continuaria nas mãos dos muçulmanos, mas estaria aberta às peregrinações cristãs. Pouco depois Saladino faleceu em Damasco, 1193. Não havia recursos suficientes para seu funeral: ele doara tudo à caridade.

Apesar de estar situado num cenário de guerra santa e batalhas muitas vezes de grande selvageria, Saladino mostrou-se, até o fim de sua vida, um honrado cavaleiro.

Habilidades:

FANTASMAS NOBRES:

Conceito: "Cavaleiro do Egito" - Nenhum servo pode atacá-lo sem antes conversar, enquanto a energia mágica de Saladino agüentar manter ativa a habilidade.

RANK A

Físico: "Flagelo dos Infiéis" - Sua cimitarra lhe concede habilidade e força maiores quando Saladino confronta servos cristãos.

RANK C

HABILIDADES COMUNS:

Resistência Mágica: Não pode cancelar magias, mas seus efeitos tem menores conseqüências sobre o servo.

RANK E

Carisma: Habilidoso em comandar exércitos e inspirar coragem.

RANK B

Táticas Militares: Exímio estrategista militar.

RANK A

Proteção de Allah: Allah protege Saladino quando ele clama por seu nome, especialmente segundos antes de ficar inconsciente, tomando seu corpo e utilizando habilidades supremas.

RANK A

Salah: Quando Saladino reza a Allah pelo menos vinte e cinco minutos por dia, em cinco momentos diferentes, recebe bônus em combate e uma clareza de pensamentos melhor.

RANK C


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