Justum Pretium escrita por Diego Seta


Capítulo 1
Justum Pretium




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O desafio estava lançado. Ou melhor definindo, o desafio fora avidamente buscado e encontrado.

Dezenas de indivíduos ao longo dos séculos foram colocados à prova pela mesma finalidade, porém o juiz, o impositor dos obstáculos para o fim, desequilibra o balanço de uma provação já dificultosa por natureza.

Não era possível a respiração. Hirako se esforçava fervorosamente, contudo quando mais empenho em afogar seus pulmões em ar, menos atingia este fim.

A confusão fez com que o Shinigami em reflexo tentasse cambalear para frente. Surpreendido ficou, quanto percebeu ter-se movido para trás e caído ao chão espalhafatosamente.

O impacto teria feito com que o pouco ar que lhe remanescia fosse expelido. O efeito foi contrário, e os pulmões se encheram. No momento no qual percebeu que inalar tornou-se exalar, o jovem Shinigami reparou que não estava enxergando.

Tentou levantar sua mão direita aos aparentemente debilitados olhos. Sua mão fez força contra o chão, como se estivesse abaixando.

“O problema é pior do que pensei” – disse em reprovação. Percebeu que sua boca, língua e cordas vocais fizeram esforço para dar dicção contrária ao que pensava em dizer.

“Desgraçada...Inverteu a fala, mas eu entendo, porque minha audição também está invertida” – concluiu agilmente Hirako.

O teste a princípio, já traria insanidade em razão da comunicação, caso a mente fosse destreinada. Shinji se entendia, mas qualquer ouvinte além de si mesmo, perceberia o incompreensível estado inverso no qual sua fala estava.

O jovem em teste entendera o funcionamento daquela provação. A gravidade era muito maior se comparada àquela que vitimava seus inimigos, com a primeira liberação de Sakanade. Os comandos que seu cérebro enviava ao corpo estavam invertidos.

“Então para enxergar, eu preciso cerrar os olhos” – pronunciou enquanto agia.

Uma densa esfera negra ao céu propagava escuridão no campo. A diferença era pouca.

Não havia como estipular quanto tempo decorreu. Hirako contemplava deitado aquela indescritível figura digna do fim, e no meio tempo movimentava em treino seu corpo.

Inverter a percepção é uma coisa difícil, se adaptar à necessidade de inversão de todos os comandos cerebrais voluntários ao corpo era de imensurável dificuldade.

Era um processo de reeducação cerebral. Após muito experimentar, o Shinigami se ergue debilmente. Percebera que suas articulações, músculos, nervos, estavam debilitados, seu corpo que tanto tempo ficara em repouso, estava inesperadamente em atrofia.

“Sombras se tornaram luzes..E luzes se tornaram sombras...” – percebera o Shinigami, agora que tinha uma visão melhor. E em realidade, tudo que deveria ser sombra, estava iluminado como luz.

A dor veio de repente. Todo aquele psicodelismo bicolor dificultou a resposta de Hirako, que não percebeu o atacante, até ter uma Zanpakutou encravada na parte inferior de seu dorso.

“Levou semanas! Shinji, você me entedia!” – Uma bela, embora estridente voz pôde ser ouvida muitos metro acima do ferido.

“Sua criatura traiçoeira, esse seu teste é a coisa mais estúpida que já vi” – Hirako perdera o controle, tentava retirar a Zanpakutou de seu ferimento, mas a dor lhe causava confusão e acabava não conseguindo mandar as mensagens inversas ao seu corpo.

“Deixa de justificar sua burrice. Agora venha aqui em cima e me pegue, claro que vai levar mais um mês, do jeito que você está” – brigou a Entidade. Hirako comandou o abrir de seus olhos e deixou de ver.

A dor lhe dificultava tudo, mas precisava ser superada. Separando-se daquela dor, conseguiu reestabelecer sua neutralidade de raciocínio.

“Cale essa boca! Não me subestime!” – o Shinigami em um impulso retira a Zanpakutou de seu corpo, e decola em direção da Entidade.

Sua velocidade sequer se aproximava da habitual. Enquanto trafegava sentindo aquele vento

de escuridão, o sangue de seu ferimento chovia no ambiente.

Hirako percebeu que o sangue continuava quente. E lá estava Sakanade. As chances de acertá-la com um golpe, considerando a velocidade da Entidade, e o estado de Hirako eram diminutas. 

Através de um ímpeto final, o Shinigami ergueu sua Zanpakutou e aproveitando-se da velocidade do golpe de investida, desferiu um golpe. Não fora perfeito, e sim desajeitado. A adversidade da inversão ainda lhe pesava.

“Longe do ideal. Mas aceitável.” – Sakanade contemplou, detendo o golpe com uma das mãos.

“Você...Não inverteu tudo...Não é?” – Hirako estava quase desmaiando.

“Shinji. A dor é algo universal e irreversível.“ – finalizou a Entidade, mesclando uma vez mais com a Zanpakutou.


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