\t\t  Acordei com o barulho estridente do meu despertador. Eram 7:00h da manhã. Senti que havia algo de especial naquele dia, mas não lembrava o que. Virei para o lado e dormi de novo

\t\t  - DAFNE ACORDA! SÃO 11:00H DA MANHÃ! VOCÊ VAI SE ATRASAR.

\t\t  Acordei, meio zonza ainda e olhei ao redor do meu quarto. PUTZ! A viagem! Levantei correndo, desnorteada sem saber pra onde ir e....POF! Cai de cara em uma pilha de malas no meio do meu quarto. Ótimo, tudo que eu precisava era de um nariz sangrando. Fui ao banheiro e me encarei durante alguns minutos. O nariz todo vermelho de sangue estava maior do que de costume. Qualquer um que me olhasse poderia perceber minhas origens gregas. Cabelos pretos, longos e cacheados, olhos azuis da cor do céu grego e um senhor nariz. Já havia me acostumado com todas essas características, mas mesmo assim me sentia deslocada nos EUA. Meu pai é grego e minha mãe americana, mas parece que puxei somente ao meu pai. Quando entrei para faculdade de letras, a convivência melhorou muito, mas não ficou excelente. Por causa disso, me dediquei 100% aos meus estudos. Minha formação em Mitologia Grega não foi uma surpresa para os meus pais, pois acredite se quiser, aprendi a falar grego ainda no ensino médio. Por causa desse meu envolvimento com a língua grega, meu sonho sempre foi morar na Grécia, onde eu sei que as minhas raízes culturais não iriam ser um problema (obviamente).

\t\t  Agora, recém-formada, meu sonho estava se tornando realidade. Morar na Grécia! Meus pais só haviam concordando com essa idéia pois iriam passar algum tempo no Brasil fazendo uma pesquisa na Floresta Amazônica sobre a proliferação de insetos (que assunto interessante!!!) e não tinham como me levar. Por isso, lá estava eu, pronta para ir morar com meus avós em uma cidade totalmente desconhecida.

\t\t  A despedida não foi tão melosa quanto eu imaginava que seria. Meus pais conseguiram se controlar (pelo menos na maior parte do tempo) e se despediram de mim rapidamente, pois iriam embarcar para o Brasil naquele mesmo dia. Tudo pronto para embarcar e lá vou eu! Eu e mais os Estados Unidos inteiro estávamos naquele avião!! Tomei um susto ao ver o tamanho da fila para embarque. Porém, o susto maior foi, acredito eu, da aeromoça que ficou pelo menos uns 15 minutos encarando o tufo de algodão que eu havia colocado em meu nariz.

\t\t  Apesar de tranqüila com a viagem, tive pesadelos dignos de uma crise de pânico. Estava em uma rua deserta, com várias casas antigas ao meu redor e ao fundo um mar muito azul. O sol batia em minha face e eu podia senti-lo como se aquilo fosse real. Olhei para o mar e vi que sua cor tinha mudado de azul turquesa para vermelho sangue. A água começou a se mexer revoltosamente e então, algo que eu só havia visto em livros, emergiu dela. Era Poseidon. Já tinha o visto em livros, mas só consegui identificá-lo pelo tridente. Grande, de cor esverdeada e de olhos vermelhos, Poseidon parecia prestes a dar um fim ao mundo. Sentia o chão tremendo à medida que ele vinha andando em minha direção. Não conseguia me mexer, mas não por medo, mas por sentir que ele queria apenas conversar comigo (até parece!!!). Fechei os olhos e quando os abri, ele estava a um palmo de mim. Sentia meu coração bater. Ele se abaixou e começou a falar em grego antigo: “Cumpra com as responsabilidades que lhe forem passadas. Não se desvie do que lhe for ordenado.” Fechei os olhos novamente e quando os abri, me deparei com uma imensidão de nuvens.