Depois do ocorrido no lago, o único assunto que se comentava em Hogwarts era o fato de Victor Krum teve de pular nas águas geladas e completar a tarefa que Dimitri deveria ter executado. A príncipio, Betty Braithwaite narrara tudo de maneira estranhamente imparcial, quase como as notícias deveriam ter sido desde o começo, mas algumas colunas mais tarde ela assumira seu tom zombeteiro e sarcástico de sempre.

Depois de patrulhar cuidadosamente o perímetro do labirinto e os terrenos ao redor da escola, o pequeno grupo de aurores formado por Mina Michaels, Terrence D'Auberville e David Twinkle retornou ao interior do castelo. Depois de instalados confortavelmente na sala dos professores, todos dividiam um caldeirão fumegante de chocolate quando o professor Hunt-Hutchley adentrou o recinto.

_ Mina, posso ter uma palavrinha com você? _Ele a chamou na porta. Deixando sua caneca sobre a mesa, a auror o acompanhou. Mina e Nathanial haviam estudado na mesma época em Hogwarts, mas durante anos ambos exerceram funções bastante diferentes dos postos que ocupavam agora.

_ E então? O que aconteceu, Nate? _ Ambos sempre foram muito ligados, mas nunca chegaram a professar os sentimentos que nutriam um pelo outro.

_ Eu andei ouvindo pelos corredores algumas coisas que espero que me esclareça, Mina.

_ O que ouviu?

_ Dizem por aí que a Betty foi demitida. Você está sabendo de alguma coisa?

_ Na verdade, estou sim. Parece que o Ministro em pessoa enviou uma carta ao editor chefe do Profeta dizendo que não iria mais tolerar os disparates que ela escrevia.

_ Então era por isso que ela escreveu aquelas colunas todas bonitinhas... Ainda devia ter alguma esperança de não ir parar no olho da rua.

_ Provavelmente, mas depois que viu o emprego ir pro brejo, ela voltou a escrever, digamos, normalmente. _ Mina riu debochada.

_ Mas se ela foi mandada embora, porque o Profeta ainda está publicando as colunas?

_ Meu chefe comentou que está no contrato dela, terminar a cobertura do Tribruxo.

_ Entendi...

_ Mas está um frio nessa escola que eu não estou entendendo...

_ Logo estamos em junho e essa neve maldita vai parar de cair... _ E assim, eles seguiram pelo castelo, conversando sobre trivialidades.

No quarto/ dormitório, Fleur e Ariel conversavam sobre pequenos problemas do dia a dia, como pragas domésticas, quando Victor entrou com o que parecia ser um estrondoso problema amassado na mão. O búlgaro atirou sobre a própria cama o exemplar do Profeta Diário que estivera lendo minutos atrás. Bufando, ele se sentou na cadeira próxima à janela e baixou a cabeça.

_ Victor, o que foi? _ Ariel se aproximou e lhe tocou o ombro direito. Sem responder ou levantar a cabeça, ele apenas apontou para o jornal.

A edição daquele dia trazia na matéria central, uma enorme foto de Victor e Ariel abraçados no deck de madeira da segunda tarefa do Tribruxo, e abaixo dela os tradicionais dizeres:

Há algo de podre no reino da magia.

Por Betty Braithwaite.

O romance que pareceu ter invadido as terras de Hogwarts durante o Baile de Inverno está finalmente dando lugar à intriga que é a sua verdadeira face. Há apenas uns poucos dias, a espirituosa senhorita Ariel Diggory, que não possui nenhum atributo de abobalhada, provocou o que costuma-se chamar de incidente emocional internacional.

Durante a segunda tarefa do Torneio Tribruxo, onde as atenções de todos deveriam estar voltadas aos campeões, eis que nossa jovem egressa de Sonserina roubou a cena ao protagonizar um vergonhoso triângulo amoroso com antigo campeão de Durmstrang, Victor Krum e o atual, Dimitri Ilianov. Dizem as más línguas, que a dita cuja era para Dimitri uma pessoa de valor inestimável.

E o que dizer de nosso adorado apanhador búlgaro, que já foi rejeitado por uma aluna de Hogwarts na última edição do Torneio? A garota na ocasião era Hermione Jean Granger, que estava de caso com “o eleito” Harry Potter e segundo fontes hoje namora um certo Ronald Weasley. Pobre Victor... Saiba que seus fãs pelo mundo torcem para que não caia mais nas garras de jovens aproveitadoras como as senhoritas Granger e Diggory.

Ariel permaneceu estática após ler o que Betty tinha escrito. Jamais, em toda a sua vida, alguém a insultara tanto. Ela sabia que muitos sequer a consideravam uma pessoa de bem, mas ser chamada de aproveitadora, numa coluna lida por quase todos os bruxos e bruxas do Reino Unido era como ser comensal da morte em plena caça aos reincidentes.

_ Eu não posso acreditarr nisso... _ Fleur falou depois de longos minutos de silêncio entre todos.

Sem dizer uma só palavra, Ariel remexeu no malão e tirou de lá um pedaço de pergaminho, pena e tinteiro. Escreveu uma curta mensagem e saiu rumo ao corujal.

Menos de duas horas depois, uma coruja muito cinzenta pousou no parapeito da janela de Cybelle Peltier.

_ Duncan... Temos problemas!! Corre aqui.

O loiro Duncan Ingleby correu ao aposento onde sua namorada Cybelle chamava.

_ O que foi? O que aconteceu?

Cybelle e Duncan eram os melhores amigos de Ariel na época de Hogwarts, sendo ele um sonserino bastante desligado das coisas e ela, uma aluna de Corvinal extremamente esforçada com seus estudos. Depois de formados em Hogwarts, Cybelle e Duncan finalmente engataram o namoro, que já vinha desde os primeiros anos deles na escola.

_ Olhe isso. Mutter acabou de entregar._ Cybelle estendeu a ele o pedaço de pergaminho que dizia assim:

Queridos Duncan e Cybelle, não posso explicar muito agora, mas pelo amor de Merlin, venham para Hogwarts com urgência. Preciso de vocês aqui.

Com carinho,

Ariel.

_ Pode ir arrumando as malas, querida. Não vamos mais precisar acompanhar o Tribruxo pelo jornal. _ Duncan riu-se. O trio tão unido que eram há anos atrás voltaria a se ver, e voltaria a ser em Hogwarts.