O Lago escrita por Ravennah


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fic. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/103368/chapter/1

      Baile de Formatura. A maior bobeira, na opinião de Bree Coopley. Era para ser algo romântico e bonito, que marcasse o fim dos dias escolares, o fim da própria escola. Mas a realidade, pelo menos em seu colégio, era que nos bailes de formatura não havia nada de bom: todos ficavam bêbados e drogados, gritando e fazendo a maior algazarra, as meninas vomitavam nos próprios vestidos enquanto seus pares as traiam com as melhores amigas.

     Pelo menos isso não era problema para ela, que não tinha par.

     Tinha sido convencida a ir ao baile por sua mãe e sua melhor amiga, que a fizeram prender os cabelos castanhos em um coque, colocar um vestido preto comprido, simples, passar delineador em seus belos olhos azuis - sua melhor característica - e uma sandália de salto agulha para ir a aquela reuniãozinha de adolescentes.

     Courtney, sua melhor e mais avoada amiga, se aproximou com um sorriso no rosto, acompanhada de seu namorado Kenny. Courtney estava linda, Bree soube reconhecer isso. Sempre soube, na verdade, pois a amiga era linda desde que nascera. Usava um vestido vermelho sangue, um pouco acima do joelho, bordado a fios prateados e com um senhor decote. Usava um sapato scarpin também vermelho que reluzia a luz do salão. Seus cabelos artificialmente loiros - Bree era a única que sabia que na verdade Courtney era mais morena que a Whitney Houston - estavam soltos pelos ombros e sem nenhum enfeite, esperando pela coroa de rainha do baile que com certeza ela ganharia. Seus olhos castanhos estavam muito bem pintados e seus lábios preenchidos por um batom vermelhíssimo.

    Kenny também estava muito... elegante. Usava o habitual terno preto com gravata delineando seus belos e fartos músculos ganhos nos treinos de futebol americano e seus cabelos loiros estavam puxados para trás com gel.

    Em suma: os dois estavam perfeitos.

    -Hey, B.! Você está muito parada! Levanta! - disse Courtney, com a voz alterada pelo álcóol.

    -Court, você andou bebendo, certo? - Bree perguntou fazendo a amiga rir.

    -Ouviu, Ken? Ela perguntou se bebemos! - Courtney disse novamente.

    -Courtney...

    -"Courtney" nada. - sua amiga disse. - Precisamos achar alguém para você dançar. Já sei! STEVE! - ela gritou sem cerimônia, enquanto se afastava e começava a procurar o tal Steve por todo o salão, sempre gritando seu nome. E Kenny, como um bom capacho, a seguiu. 

     Bree pensou em ir embora. Mas Courtney iria ficar realmente brava com ela se Bree se fosse antes que ela fosse coroada. Resolveu esperar mais um pouco então e apoiou sua cabeça na mesa, olhando pela grande vitraça que ficava ao lado de sua mesa. Era quase insuportável permanecer naquele ambiente. Bree fechou os olhos, tentando bloquear o som da música de quinta e dos berros. Pensou ser a única sóbria naquele salão.

    -BREE! - ouviu Courtney novamente e abriu os olhos. Ela estava acompanhada de um menino de olhos inchados e cabelo escuro, que olhava Bree com desinteresse. - Este é o Steven. Steve, essa é minha beeest B.

     -Oi. - Bree acenou preguiçosamente com a cabeça. - Court, quanto tempo falta para a coroação?

     -Se acalma, falta pouco, ok? Relaxa na bolacha. - Courtney disse e riu com o comentário. - O Steve quer te chamar para dançar.

     -Não, não quer. - Bree disse. Por que iria querer? Ela era Bree, a esquisitona da sala. Ela era até um pouco atraente, mas não tinha nenhuma característica em especial. Não era a mais engraçada, nem a que tinha mais seio ou mais traseiro, não era a mais inteligente nem a mais burra. Era só a Bree. A simples e meio esquisita Bree, que não falava com quase ninguém, ficava em silêncio durante todas as aulas, nunca ia para baladas e sempre recusava convites para encontros. A única coisa realmente diferente em Bree eram seus olhos: duas belas pedras azuis, de um tom nunca visto antes. - Ele só está aqui porque você pediu.

      -Err... - Courtney começou.

     -Claro que não, gata. - Steve disse sorrindo. Bree se surpreendeu. - Vamos dançar, Breetney.

     -Meu nome não é "Breetney". - Bree disse com uma careta.

     -Mas...

     -Senhoritas e Senhoritos... - a coordenadora Lucie Sullivan subiu ao palco, e as luzes se focaram nela. - Está na hora de anunciar o rei e a rainha do baile.

     -É o meu momento! Ah, meu deus! Silêncio! - Courtney disse, sorrindo. - Só para conferir, votou em mim, né, B.?

     -Claro que sim, Court. - Bree disse suspirando.

     -E o rei do baile é... - Lucie fez suspense enquanto abria um envelopinho de seda. - Kenny Hiverton! Suba ao palco, por favor, Kenny.

     Todos aplaudiram enquanto Ken subia ao palco, menos Bree que estava entediada demais.

     -E a rainha é...

     "Nem imagino" pensou Bree, sentindo um gosto amargo na boca.

      -Courtney Villages!

      Mais uma vez aplausos, enquanto Courtney gritava e dava pulinhos até o palco. Bree desejou que pelo menos daquela vez fosse diferente. Que algo legal acontecesse. Mas sabia que era em vão.

     -Muito obrigada, mesmo! - Courtney dizia no microfone, derramando lágrimas de mentira. Lucie colocou uma coroinha dourada em sua cabeça e ela desceu do palco, de mãos dadas com Kenny. Eles foram até a mesa de Bree, o baile já estava quase acabando e mais dois casais se juntaram a eles: Mandy & Trevor e Abbey & Mike. 

     Bree estava quase dormindo, sentada excluída, no canto vazio da mesa. Apenas ouvia a conversa de bêbados fluindo entre eles.

    -Sabe o que eu soube? - perguntou Mandy, sorrindo. - Tem um lago aqui perto. Muito maneiro.    

    Bree sempre se perguntara porque haviam escolhido aquele salão para a formatura, no meio do nada, perto de uma floresta. Não parecia surpresa haver um lago ali perto.

     -É o Lago Rochanne . - disse Mike, com ar de suspense. - É muito conhecido por aqui. Mas fica dentro de uma gruta que dizem ser amaldiçoada. Dizem que quem entra na gruta não sai de lá... vivo.

     -Cara... vamos. - disse Trevor. - Estão esperando o que?

     -Para onde? - perguntou Courtney confusa.

     -Para o lago. Vamos provar que nós voltamos... vivos. - disse Trevor com uma gargalhada.

     -Eu não sei não... - murmurou Abbey. No fim, todos descidiram que iriam e Courtney arrastara uma Bree sonolenta e irritada com ela. Bree chingava Courtney de modos muito feios em pensamento, enquanto entravam todos no SUV de Mike.

    Bree ficou quieta, esmagada entre Trevor e Kenny, que a esta altura já estava muito chapado.

    Eles foram adentrando cada vez mais na floresta, até que o carro não conseguisse mais passar pela mata densa e escura.

    -Acho melhor desistirmos. - Bree se pronunciou pela primeira vez. - Ninguém sabe como chegar a gruta.

     E ninguém deu atenção para ela. Todos desceram do SUV e começaram a andar, cada menina colada em seu par e Steve tentando agarrar Bree.

     -Mike... estou com medo. - disse Abbey. Quase não havia luz ali no meio e o frio de Abbey e Courtney - que usavam os vestidos mais curtos - era muito perceptível. Courtney se agarrou a Kenny em certo momento, quando um corvo passou fazendo um barulho estranho.

      -Mike... - Abbey murmurou novamente, gemendo.

      -Calma, Abbey! Deixe de ser medrosa. - disse Mandy, rindo.

     -Amanda, nós estamos em uma floresta escura no meio da noite! Eu tenho motivos. - Abbey reclamou.

      -Chega. - Bree gritou, com raiva. - Estou voltando. E não me siga, Courtney.

      Ela não estava nem aí se eles queriam achar um lago idiota. Só queria chegar de volta no salão, já estava cansada das folhas pinicando e as corujas piando. Sem dar ouvidos a Courtney, trilhou uma rota que imaginou que a levaria de volta ao SUV. Mas não. Começou a ficar desesperada, não ouvia nem via ninguém, apenas a floresta medonha.

      Bree tirou o sapato de salto e começou a andar descalça, mesmo que os galhos machucassem seu pé era melhor assim. Achou ver algo reluzindo, não muito longe dali, e jogou o sapato no chão, correndo em direção do que quer que fosse. 

      -Court? É você?! - gritou seguindo a luz. Então parou bruscamente. Estava em frente a uma gruta, uma gruta úmida e perfeitamente encurvada e profunda. E a luz que vira... vinha de um lago reluzente e prateado que se encontrava um pouco a dentro da gruta.

     -Não pode ser... - Bree murmurou, adentrando a gruta. Ela sentou na beira do lago e começou a passar o dedo na água cristalina. Sentiu frio, muito frio... Ela viu algo saindo do escuro da gruta. Parecia uma cobra ou algo do tipo. Não reagiu, deixou a cobra passeando pelo lago, sem nunca encostar na água.

    -Ei. O que está fazendo aqui? - ouviu alguém perguntar. Se virou e viu que era um garoto realmente lindo, alto, de cabelos preto-azulados enrolados nas pontas que caíam até o queixo e olhos de um verde penetrante. Usava uma camisa solta branca e uma calça branca social, estava descalço.

    -Eu... me perdi. - respondeu Bree encarando seus olhos elétricos.

    -Na floresta, creio. - disse ele.

    -Sim. - disse Bree, encantada. - Eu... eu estava com meus amigos.

    -Sei. - ele disse sentando-se ao seu lado. Parecia brilhar refletido ao lago.

    -Qual é seu nome? - ele perguntou.

    -Bree. - ela respondeu. - Bree Coopley.

    Ela ficou tão encantada, que nem percebeu o quanto aquilo parecia estranho. Um garoto pálido e lindo aparecer assim numa noite sombria. E ela nem perguntara seu nome.

     -Você parece jovem Bree. - ele disse.

     -E sou. - Bree sorriu. - Tenho dezoito anos. Você também parece jovem.

     -Oh, mas sou velho. Mais velho do que você possa imaginar. - ele disse. Bree riu.

     -Sabe, Bree... poderíamos nadar. - ele disse com um olhar sugestivo.

     -Não sei... Ok. É, ok. Vamos. - Bree disse sorrindo. O garoto tirou sua blusa, enquanto Bree entrou com o vestido.

     -Está frio. - Bree murmurou. - Vamos sair...?

     -Não, Bree. Fiqueimos mais um pouco.

      Bree concordou com a cabeça e nadou um pouco. O garoto só sorria, encostado na margem e a olhando misteriosamente.

      -Sabe, Bree... - ele começou. - Seus olhos são realmente lindos. - foi quando Bree começou a perceber algo estranho. A cobra, a bela cobra preta que vira antes estava passando em volta do menino. Estava se pendurando em seus ombros. 

     -O que...

     -Tão lindos... que, sabe, - ele disse acariciando a cobra. Ela se soltou de seus braços e passou a flutuar na água, na direção de Bree. - Que não posso deixá-los viver.

     -O que você disse?

     -Já sentiu isso, Bree? Como se algo fosse belo de mais para estar vivo?

     Bree olhou em volta. A cobra estava se aproximando.

     -Quem é você?

     -Eu? Eu sou um anjo, Bree. - ele disse.

     Finalmente a cobra chegou até ela. Calma e sedutoramente ela envolveu seu braço e então, a picou, bem na clavícula. Bree gritou. E então, arfante, com o corpo latejando e a visão turva por causa do veneno, perguntou:

      -Como assim um anjo?! Anjos são bons.

      O menino olhou para ela. E então, se aproximando lentamente, sussurrou:

      -Sou um anjo da morte.

     E então tudo ficou preto. 

      


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Lago" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.