-... Droga.. Não vai dar tempo..arf..
Naquele momento o mundo parecia desabar em forma de chuva, enquanto eu, Gumi, corria como uma idiota, sozinha nas ruas dessa cidade podre.
Não nego que estou indo a esta ultima “missão” por interesse próprio. Não estou sendo paga com dinheiro dessa vez. Estou confusa com o que aquela maldita disse, mas a curiosidade fala mais alto. Tsc! Caí direitinho na conversa dela.

A curiosidade matou o gato... Miau...
- Você de novo?! Pare de falar na minha cabeça, já estou cheia de você!

O que você pode fazer, se somos uma só? Huhu.
- Cale a boca, eu não sou você. Com essa última missão eu posso finalmente me livrar de você, essa maldição que me persegue. - Sem perceber, eu estava parada no meio de uma rua deserta, ensopada da cabeça aos pés. Droga, minhas mãos começaram a tremer.

Miau...miau... O gatinho está perdido...
Uma voz ressoava na minha mente.
A alguns quarteirões eu podia ver o grande centro de Tókio. Um grande relógio anunciava vinte minutos para a meia-noite, tinha que me apressar. Mais à frente, uma grande e iluminada construção se destacava. A torre de Tókio, meu destino.

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“- É claro que não vamos aceitar isso! Somos um grupo de mercenários, não a Liga da Justiça! – Ria um homem alto de cabelos roxos. Seu nome era Kamui Gakupo, e parecia liderar um pequeno grupo.

- Viajamos de cidade em cidade à procura de trabalho, que executamos apenas diante de uma quantia de dinheiro. – Disse uma mulher que parecia ser a mais madura, com cabelos curtos e escuros. Era Meiko.

- Nee... Você nos contratou para acabar com uma gangue... Nós resolvemos o seu probleminha e você já nos pagou... – Disse com ar zombeteiro uma garota baixa, de cabelos loiros, Kagamine Rin.

- ...Agora, se você quer que realizemos mais algum “servicinho” pra você, é bom enfiar a mão no bolso e ir tirando a grana! – Disse Kagamine Len, completando a frase da irmã gêmea.

- Então, se você já entendeu o nosso recado, estamos indo. Nos chame quando estiver disposto a pagar o que queremos. – Disse por fim uma garota de cabelos curtos e verdes, Gumi. Ela encarava a sedutora “contratante”, Megurine Luka, a poderosa dona de um grande grupo de empresas, que sorria.
Os gêmeos começaram a correr com grande agilidade, saindo da sala, apertada com tantas pessoas. Um a um os integrantes iam deixando a sala de Luka.

- Espere Gumi, querida... tenho assuntos a tratar com você. – Disse Megurine, sorrindo.

- O que você quer? Já disse que não faço nada de graça.

- Huhu... mas esse trabalho pode te interessar... Vamos, feche a porta e sente-se... quem sabe o seu preço mude...”

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Quanto mais eu corria, mais eu percebia a distância que me separava da Torre de Tókio. Pff, doce ilusão pensar que eu estava perto. As luzes apenas criavam a sensação de proximidade. Ah, a chuva parou, posso enxergar com mais clareza. De repente o chão perto da linha férrea ao meu lado começa a tremer. Os trens circulam a essa hora? Bom, não importa, acho que vou pegar uma carona.

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“ - E então, o que você me diz? Essa proposta é quase um favor que faço a você... Aproveite que não estou cobrando nada.
 - O que você quer dizer com isso? Não brinque comigo, você é a contratante aqui! E eu não pedi nada a você, nem te devo nada. Não sei o que te fez pensar que a minha resposta seria diferente da de meus companheiros! – Gumi, exaltada, começava a se dirigir à grande e luxuosa porta do escritório de Megurine.

 - Hm.. Então quer dizer que você já se esqueceu da sua querida Hatsune?
Ao ouvir essas palavras, a jovem parou de caminhar. Seu coração parou de bater por um segundo, enquanto ela processava as informações.
 - O que... Como... O que você sabe sobre isso? – Disse Gumi, virando-se para a mesa.”

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O vento forte já começou a secar meus cabelos, mas minhas roupas ainda estavam molhadas.

Minha calça, feita de tecido leve, já havia secado, e me livrei da jaqueta molhada rapidamente, ficando apenas de blusa social.

- Um peso a menos na batalha... – Eu estava apenas pensando alto, enquanto olhava as estrelas. Uma sensação de imensa melancolia invadiu meu peito. Queria chorar, gritar, queria voltar ao tempo em que nada disso existia, maldições, mercenários, serviços e contratantes. O tempo em que o simples era bonito. Olhar as estrelas ofuscantes naquele momento era uma tarefa árdua e dolorida para mim. Talvez fosse minha última missão.

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“- Huhu... Acho melhor ir direto ao assunto, estamos quase sem tempo. -
A garota continuava estática sob o olhar intrigante da mais velha.
- Bom...- Continuou Luka - Hatsune Miku está na cidade. Huhu, curiosa? Não vou dizer aonde. Não até você aceitar minha proposta. – Brincou a mulher diante do olhar assustado da mais nova.
- Pense bem, mas decida-se rápido... Quem sabe sua “irmãzinha” te conte algumas verdades... Ou quem sabe ela possa te livrar do peso que colocou nas suas costas? Essa maldição, passada pela família, o seu outro “eu”, a voz que te atormenta.”

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Finalmente cheguei ao meu destino. No topo da Torre de Tókio o vento soprava forte, me fazendo tremer cada vez mais. Caminhei até a beira, pude ver cada pedaço de Tókio, cada pedaço daquela cidade iluminada e suja, podre, aonde o poder e o dinheiro determinavam vida e morte.

- Branco e preto... o gatinho está perdido?...

Congelei. Um arrepio percorreu todo o meu corpo. Eu não tinha coragem de olhar para trás e encarar a dona daquela voz que cantarolava. Aquela música tão conhecida, aquelas palavras que eu ouvia de sua boca cada vez que ia dormir.

- Branco e preto...

- Minha irmã. – Eu finalmente encarei a quem estive procurando por tanto tempo. Hatsune Miku. Saquei minha arma e me preparei para lutar.

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“– O que você quer que eu faça?
- É simples... Tudo o que quero é que a mate. Está com medo? – A mulher se divertia com a cara de espanto da mais nova. – Hatsune Miku é a fonte de seus problemas, assim como é dos meus. Desde que foi... dominada por aquilo.
- C-como você sabe tanto sobr...
- Shh, - interrompeu Luka, aproximando-se da garota. – Isso não é algo que você precisa descobrir agora. E é melhor se apressar, ou vai acabar ficando como sua irmãzinha...
Gumi deu um passo em direção à porta, afastando-se da mulher. Seu olhar fora de assustado a determinado.
- Considere o serviço feito. – Disse Gumi, após engolir em seco, antes de sair em disparada pela porta.
- Ahh... Ela se parece tanto... Espero que não terminem da mesma forma... – Um olhar melancólico tomava conta de Megurine Luka.”

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Ela começou me atacando primeiro. Dei um salto para trás e revidei com alguns tiros, dos quais ela desviou. Aproveitando sua distração pelos disparos, corri até ela e lhe soquei a boca do estômago, fazendo-a ofegar por alguns instantes e cair no chão, logo em seguida chutando-a nas costelas. Um de meus tiros havia acertado seu braço de raspão. Ela olhou-me nos olhos por um segundo, e rapidamente ergueu-se, com mais de dez facas nas mãos, prontas para cortar minha garganta. Hatsune as Lançou em minha direção, numa velocidade mortal. Tentei desviar rapidamente pulando para trás e para os lados, mas não consegui. Uma das facas atingiu minha perna, enquanto outra atingiu meu ombro, fazendo um ferimento profundo. As demais facas atingiram os lados de minhas roupas, prendendo-me contra a parede. Minha pistola caiu de minha mão, indo parar longe de meu alcance. Ela se aproximou de mim lentamente.

- Miku... Por que está fazendo isso? –Eu não conseguia entender naquela época.
- Sua irmã não existe mais... Eu a dominei completamente... Huhu –Talvez houvesse uma outra forma.

- Branco e preto... Algo como cinza não existe... – Após cantarolar esses versos, um sorriso sádico se apoderou de seu rosto, enquanto ela tirava uma das facas que me prendiam e começava a esfaquear meu braço esquerdo.
- Ahh!.. Ahh! Pare! – Eu não conseguia mais resistir à dor, lágrimas saltavam de meus olhos enquanto eu começava a perder meus sentidos.

Depois de se divertir com meu braço, começou a fazer cortes leves no meu rosto, rindo, enquanto se deliciava com o sangue escorrendo. Eu não tinha mais forças para sair dali, era o meu fim. Dentro de mim, a voz que sussurrava, a outra“eu”, se tornava cada vez mais alta, eu estava sendo dominada...

Gatinho, gatinho... Foi aprisionado.. huhu..
A dor se tornava insuportável, meu coração queimava. Com a última de minhas forças, e talvez com um pouco de sorte, consegui arrancar uma das facas que prendiam parte de minha calça, cravando o coração de minha irmã. Um segundo, um grito abafado selou meu destino.

- G-gumi..? – Seu olhar era de espanto, sua voz era calma.
- Miku? É você, minha irmã? – Tudo se tornava claro naquele momento.

Lembranças invadiam minha mente. Hatsune me acolheu quando eu precisei, se tornou minha irmã quando me juntei ao grupo de mercenários. Sem saber, a maldição que ela carregava despertou minha segunda personalidade, tornando-me o que ela fora um dia. O estágio dela era muito mais avançado. Ela desertou do grupo para não me afetar mais ainda..

- Escute-me Gumi...Eu vou partir... Nunca, nunca dê ouvidos àquela voz! – Palavras que ela repetia naquele momento, enquanto sua vida se esvaía por um filete de sangue. Antes de fechar seus olhos pela ultima vez, Hatsune Miku sorriu, um sorriso limpo e calmo. O sorriso das minhas noites estreladas.

- Preto e branco não... Gumi, misture-os...

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Vi seu corpo cair lentamente, como num filme. O segundo que definiu meu destino me pareceu um dia inteiro.
Com dificuldade retirei as facas que ainda me prendiam à parede, mas não possuía mais forças para ficar de pé. Caí ao lado do corpo inerte da pessoa mais importante para mim. Meu corpo tremia devido aos traumas e à dor. Quando fechei os olhos, só via cinza. Nada de preto, ou branco.Cinza.

Meu coração sangrava.

Minha irmã, quantas noites você chorou?

Querer te ter de volta foi egoísmo demais?

“Preto e branco, não há algo como cinza.”

Será mesmo que não havia outra saída?

Naquela época, eu não poderia entender.

Agora eu posso encarar as estrelas.

Se observar constelações posso encontrar seu sorriso...
 

“Preto e branco, não há algo como cinza.”

Não. Destruirei esse mundo monocromático.
Hatsune Miku, construirei novas cores para você.

Mosaic Roll - Fim