Ks POV:

Amanhecia... Kl no quarto ao lado ainda roncava, e eu podia ouvir o Kn rolando na cama no quarto à minha frente... Permaneci deitado e imóvel ainda por alguns minutos, quanto eu não sei dizer. Aos poucos o quarto ia sendo banhado pela luz fraca da manhã.

- Maravilha - exclamei para mim mesmo. - hoje vai chover de novo...

Só pra confirmar, olhei no calendário ao lado da minha cama... Terça-feira... Ainda faltavam cinco dias pra a temporada de caça. Todos os anos eu e meus irmãos nos juntávamos a outros tantos aventureiros, jovens caçadores e nos enfurnávamos na floresta em busca de diversão e competição. Tudo muito perigoso e inútil na opinião de nossa mãe.

Cansado de enrolar na cama, decidi fazer minha primeira boa ação do dia... Acordar meus amados e estimados irmãos...

Saí do quarto e sem bater, invadi o quarto do Kn que ainda rolava na cama e dizia coisas desconexas. Abri as cortinas e limpei a garganta, preparando-me para gritar seu nome. Nada pagava o prazer de irritar meu querido irmão logo nas primeiras horas da manhã. Certamente me renderia uma boa briga e um sonoro sermão de nosso pai, mas valia à pena. Aproximei-me bem lentamente de onde deveria estar o ouvido de meu irmão... Naquela massa de cabelos não identificava nada... E respirei fundo, me preparando para o meu primeiro berro.

- ACORDA MANINHO QUERIDOOO, JÁ TÁ NA HORA DA FEIA ADORMECIDA LEVANTAAAR!!!

Ver meu irmão cair no chão enrolado nos cobertores e puxar o colchão junto era sempre uma cena impagável de se ver, e sempre me rendia boas gargalhadas. Levou alguns segundos para que Kn voltasse a si e saísse da confusão causada pelo susto e a interrupção abrupta de seu sono. Ele sempre fora o mais esquentado dos irmãos e vi naquele momento que era a hora da saída estratégica, fugindo o mais rápido que minhas pernas permitiram pela porta ainda escancarada. Corri sem pensar ao quarto de Kl que roncava tranqüilo até o momento em que eu, perseguido por um gigante furioso, saltei em cima da sua cama, rindo apesar da situação.

Percebi naquele momento que tudo dependia do humor do meu irmão mais velho, se ele estivesse de bom humor, eu escaparia de uma surra certa. Se ele estivesse de mal humor... Bem, eu podia esperar passar as próximas horas pendurado pela minha CK no gancho do banheiro... Correndo o risco de levar um olho roxo de bônus.

Como a esperança é a última que morre... Decidi arriscar:

- Kl, hoje eu já disse que você é o melhor irmão do mundo? - ele nunca se deixava enganar pela minha cara de inocente, mas, tive que me arriscar. O outro irmão, tão gigante como eu e meu perseguidor enfurecido, despertou, e imóvel me analisou com aquele olhar que eu tão bem conhecia.

- O que você fez? - ele perguntou sem rodeios, a voz ainda cortada de quem havia sido desperto de um sono recente.

- Não fiz nada Kl. O que te fez pensar que eu vim aqui porque fiz alguma coisa? - Indaguei com a cara mais natural que consegui fazer.

- Talvez o barulho de um animal enfurecido se aproximando daqui? Posso ouvir nosso irmão bufar de longe. - disse ele, irritantemente observador.

- Mas Kl, você falando assim faz parecer que eu realmente fiz algo... Mas eu não me importaria se você desse um olá pro Kn.

- Ks, eu ainda não sei como é que eu sempre acabo tendo que te proteger...

- Porque você é meu amado e estimado irmão querido que eu amo e admiro muito e...

- Ta... Chega de adulação... Eu vou lá acalmar a fera. – Pensei comigo: É por isso que eu amo esse cara...

Nesse momento a porta se escancarou com estrondo e uma figura aterradora se desenhou no portal. O fast and furious havia me encontrado.

Kl levantou de um salto, a tempo de segurar Kn que se precipitava pela porta na minha direção com o olhar mais assassino que conseguiu colocar no rosto

- Ei ei, irmãozinho, calma. O que o caçula fez pra te deixar de tanto mau humor assim tão cedo?  - Kl falava, sorrindo, enquanto dava uma chave de pescoço, tentando imobilizar nosso irmão

- Esse pirralho me acordou; de novo. Gritando; de novo. Abriu minhas cortinas; de novo. E agora ele vai apanhar. De novo! - rugiu um Kn bem nervosinho, fechando as mãos em punhos quando em resposta eu lhe dei um sorrisinho cínico.

- Ah, qual é lindão? Se você parasse de ficar a madrugada inteira se remexendo muito na cama e dormisse como homem, não teria problemas em acordar cedo, flor do dia. – eu disse, rindo às gargalhadas, de pé na cama, seguramente alguns passos atrás de KL.

- Deixa o Kl me soltar e eu vou te mostrar a flor do dia seu pirralho.

Notei que aquela irritação matutina do Kn não era normal... e percebi que o dia hoje seria muito interessante. Olhando de lado pro Kl lancei um sorriso maior que de costume e ele pareceu entender a deixa.

- Diz aí pra gente qual é o nome dela Kn. – melhor do que ver o Kn enfurecido, só o vendo mudo. Com muito custo consegui conter uma gargalhada enquanto o Kl o questionava.

- É Kn, diz aí para os seus irmãos, qual é o nome dela? – acho que quando ele se livrar do Kl eu vou apanhar, e muito.

Coloquei rapidamente a mão na boca, tentando esconder a custo o sorriso travesso que escapava de meus lábios. Olhava de KL para Kn, esperando ansioso por uma resposta do irmão nervosinho ou uma nova pergunta indiscreta do mais indiscreto de todos nós. Como eu os conhecia bem, pensei. Já era de se esperar, um mudo e o outro voltando a questionar.

- E então man, vai dizer ou vamos ter que descobrir? - KL agora sorria largamente, me lançando olhares cúmplices

- Er, eu... Que? Vocês estão ficando mais pirados a cada dia. – dizia Kn, visivelmente mais calmo, livrando-se dos braços de nosso irmão. - Não tem "ela" nenhuma entenderam? E se ficarem me zoando com isso, eu mato vocês dois, eu juro.

- Huuum, já vi tudo mano. Ta namorando, ta namorando... Já beijou ela? Ou você ainda é BV hein maninho? – e lá estava eu, rebolando e fazendo dancinha da vitória em cima da cama, satisfeito em ter desviado o foco da briga.

Ouvindo a confusão, a voz da nossa mãe se fez ouvir no andar de baixo.

- Meninos, parem já com isso e desçam pra tomar café! Hoje é dia de vocês irem à cidade fazer as compras do mês. Agora!

- EU TOMO BANHO PRIMEIROO!!! – o Kn sempre foi tudo menos discreto e era perceptível o alívio dele em sair do quarto do Kl. Olhei para meu irmão ainda com o nosso sorriso cúmplice no rosto.

- Vou esconder as roupas dele... Você cuida da toalha, combinado?

- Você vai apanhar ainda hoje irmão.

- Vou fazer por merecer, e posso afirmar que hoje eu estou inspirado.

- Traduzindo: o Kn vai querer te matar e eu vou ter que impedir. Oh Man, hoje vai ser um dia daqueles... – meu irmão falou sabiamente.

***

Eu tinha dó do Kl, sério mesmo. Sempre me livrando das confusões, me protegendo, um irmão mais velho de primeira, e eu estava sempre tentando compensá-lo por me tirar das minhas roubadas... Saí do quarto do meu irmão-cúmplice e aproveitando a pressa de Kn, dei um jeitinho de esconder suas roupas, perfeitamente escolhidas, em algum lugar em que ele iria demorar a encontrar e não contive o sorriso ao ver Kl dar um destino semelhante à toalha e em seguida descendo as escadas, assobiando, como se nada tivesse acontecido, não deixando de falar ao passar.

- Tente se manter vivo, preciso de você irmãozinho. Temos trabalho duro pela frente e não dou conta de todas as compras sozinho. - desaparecendo de vista.

Sorri e fui procurar alguma coisa decente para vestir e então me veio àquela sensação estranha novamente. Já fazia semanas que sentia aquilo, como se estivesse prestes a viajar pra longe, como se sempre fosse à última vez que andava pelos corredores cheios de vida e cor de nossa casa. Uma sensação de perda tomou conta de mim e me incomodava, fazendo meu coração bater descompassado no peito, apertado.

"De novo não" - reclamei comigo mesmo, e seguido dessa sensação senti uma forte tontura, e me apoiei na parede esperando que tudo parasse de rodar, mas ao notar minha visão escurecer, passei a torcer para que nenhum dos dois me visse assim.