Volta por Cima escrita por TaisePeixoto


Capítulo 5
Celebridade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora mas eu simplesmente não conseguia escrever nada que preste. Talvez eu poste outro hoje. Espero que gostem.



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1º de março

Ainda o primeiro dia de aula

Faltam dez meses para acabar e contando...

Saí do banheiro e fui direto para a sala de aula, eu sabia que todo mundo ia demorar um pouco para subir para a sala já que ainda tinham que trocar os uniformes de ginástica. E foi exatamente o que aconteceu, quando cheguei à sala não havia ninguém ainda. Fui direto para o fundo e sentei na classe que a Sam tinha reservado pra mim usando a bolsa dela. Provavelmente ninguém ia reparar em mim quando chegasse, e eu contava com isso, queria deixar minha exibição pro intervalo.

Sentei e tirei o horário da bolsa, ainda teríamos dois períodos de história antes do intervalo. Aos poucos o restante dos alunos foi chegando, como eu previa todo mundo entrou em uma algazarra e foram direto para suas classes, ninguém reparou em mim sentada no fundo. Para meu espanto, e da turma inteira também, Chaz e os outros atletas sentaram direto no fundo, logo a minha direita. Aquilo era mais ou menos como o Presidente ir comprar rosquinhas na padaria, não se pode simplesmente romper a hierarquia.

Na nossa sala a divisão de classes era bem explícita. Nas filas da frente e a esquerda sentavam os populares, para que ficassem perfeitamente em evidência, e é claro que eles não suportariam ninguém na frente deles. Na frente à direita ficavam os nerds, na frente da classe do professor para poderem discutir a matéria. Atrás dos populares ficavam os atletas menos expressivos e atrás dos nerds os tímidos, que não eram inteligentes o suficiente para entender a conversa dos nerds. Mais atrás sentavam as pessoas normais, aquelas sem nada de excepcional. E no fundão sentávamos nós, os renegados da sociedade à direita, e os artistas à esquerda. Da pra imaginar o choque que causou a retirada do Chaz, e conseqüentemente do grupinho dele pro lugar onde ficavam as pessoas menos populares do mundo. Mas o motivo era claro, ele queria ficar o mais longe possível da Tom-tom. E foi ela que entrou na sala em seguida, com o rímel borrado e os olhos vermelhos enquanto as siamesas falavam com ela com uma expressão séria. Aparentemente estavam contando o que ela tinha feito e não se lembrava, quando ela sentou na classe Tony, do outro lado da sala, jogou um beijo barulhento na direção dela, o que fez deitar a cabeça na classe soluçando.

Mas havia alguma coisa errada, geralmente eu e a Sam éramos as primeiras a entrar na sala, o motivo era óbvio, gostávamos tanto da educação física que já ficávamos na beira da escada dez minutos antes da aula acabar, mas hoje a turma inteira já estava na sala e não havia nem sinal dela. Mas eu ia descobrir que aquela não ia ser a única coisa estranha hoje.

Nosso professor de história, o Senhor Webber, era definitivamente uma figura. Imigrante alemão e judeu ele era completamente diferente do estereótipo de alemão, ao invés de ser alto, forte e loiro, era baixinho, moreno e careca. Parecia muito com um gnomo, e se comportava como um também, quando ele perguntava e um aluno não sabia a resposta ele tentava dar dicas através de mímicas e ficava pulando de frustração quando mesmo assim não adiantava. Como ele morava na rua atrás da escola vinha todos os dias de bicicleta, eu nem tinha notado que a bicicleta dele não estava no saguão hoje. Sim, porque o homem que entrou na sala não era o professor Webber.

A turma, que quando o nosso querido gnomo entrava simplesmente continuava gritando uns co os outros, ficou em silêncio imediatamente. O homem que entrou na sala era negro, alto e musculoso, parecia mais um general, e bem que podia ser. Todos cochichavam, provavelmente pensando que era mais uma das palestras da escola com caras da polícia para tentar nos convencer que seríamos presos se não nos comportássemos bem, essas palestras aconteciam com freqüência assustadora nessa escola. O homem deu um bom-dia em uma voz grossa e decidida e sentou na classe do professor. Foi nessa hora que a Sam entrou, corou violentamente quando viu o professor, murmurou um com licença e correu pra classe ao lado da minha.

- Onde diabos você se meteu? – ela murmurou pra mim.

- Eu tava no banheiro matando a educação física, não queria estragar meu cabelo hoje. Onde diabos você se meteu?

Ela sorriu pra mim, o sorriso que eu e o Roy reconhecíamos como o sorriso maligno.

- Estava preparando uma surpresa pra você.

Eu a olhei incrédula, eu detestava as surpresas dela. Acontece que a Sam é a pessoa mais sem-noção do mundo quando se trata de surpresas. No meu último aniversário ela achou que seria uma boa surpresa contratar aquelas tele-mensagens, até aí tudo bem, isso se eles não me ligassem de hora em hora o dia inteiro, inclusive de madrugada, para me desejar feliz aniversário e ler aquelas mensagens irritantes. Ou como na vez em que nós fomos ao zoológico comemorar meu aniversário e ela foi até o cara que anunciava crianças perdidas ou carros mal estacionados e pediu pra ele anunciar que eu estava de aniversário, até aí tudo bem porque ninguém me conhecia, só que ele descreveu onde eu estava como estava vestida e ainda convidou o pessoal a cantar parabéns pra mim, e isso que era meu aniversário de nove anos! Ou na vez que ela achou que aumentaria a minha auto-estima se ela pagasse uma floricultura para me trazer na escola buquês de rosas de hora em hora com cartões românticos assinados por caras imaginários que ela fazia questão de ler em voz alta para fingir para a Tom-tom que eu tinha milhares de admiradores secretos.

Eu tinha medo das surpresas da Sam.

- Ah qual é – ela percebeu a cara que eu estava olhando pra ela – eu só achei que com esse visual você merecia. Desculpa Ellie, eu tenho sido uma péssima amiga, eu devia ter apoiado você nessa transformação se era isso que você queria, a partir de hoje vou corre com você todo fim de semana se você quiser.

Mas não deu tempo de eu responder porque nessa hora o cara sentado na mesa do professor levantou.

- Eu me chamo Paul Newman, e serei seu professor de história nesse semestre e talvez no próximo. A razão dessa mudança é que o professor Webber pediu afastamento para cuidar de problemas familiares e não sabemos exatamente quando ele vai poder voltar. Fui informado que vocês têm aula com ele há muitos anos e que ele é um dos professores mais queridos da escola, vai ser difícil substituí-lo à altura mas prometo que vou me esforçar.

A voz dele era um tanto ameaçadora, mas a expressão e o sorriso que ele nos lançou era bastante gentil, ele parecia ser um bom professor. Todos começaram a cochichar novamente, a direção poderia tentar encobrir mas todo mundo sabia o motivo do professor Webber estar com problemas na família. Ele e a esposa não tinham filhos, e embora a escola inteira o achasse o máximo a esposa aparentemente não compartilhava a mesma opinião, não importava o dia que você passasse na frente do bar na esquina oposta da escola, fosse de manhã ou fosse à tarde, a senhora Webber estava lá enchendo a cara. Isso quando ela não protagonizava seus lendários shows na frente da escola gritando que o senhor Webber não ia mais dar aula ali porque ela sabia que ele estava tendo um caso com a irmã Marion. Alguns alunos até filmavam para colocar no You Tube.

- Então vamos começar a aula falando sobre colonização. Alguém sabe...

Eu deixei de prestar atenção porque a Sam jogou um papel na minha direção. Fazíamos isso sempre nas aulas chatas, geralmente falando mal dos robôs.

Você não vai acreditar no que aconteceu na E.F.!!!!!

Tive que ouvir a narração do episódio da tom-tom. Apesar de saber o que tinha acontecido confesso que foi engraçado ouvir sobre a perspectiva da Sam, ou melhor, ler a redação que ela escreveu sobre o assunto. Contei pra ela sobre o beijo que o Tony mandou pra Tom-tom quando ela sentou, temi que o professor notasse o ataque de risos da Sam mas ele continuou falando da África e da Índia.

Você viu que o Chaz sentou aqui no fundo?

Ela leu o bilhete e olhou pro canto sem a menor cerimônia. Eu quase engasguei quando li a resposta dela.

Você deve ter notado, ele não pára de olhar pra você.

O.o

Olha então pra você ver.

Eu olhei e encontrei os olhos dele fixos nos meus. Senti meu rosto corar e ele sorriu. Ele sorriu pra mim.

Chega Ellie, ele não tem coração, lembre-se disso.

Mas era difícil lembrar sem notar o quanto ele era gostoso.

- Senhor Sullivan, pode me dizer quais foram as colônias africanas pertencentes à França nesse período.

Ele sequer voltou os olhos para o quadro enquanto respondia corretamente uma lista de países. Ele simplesmente continuou olhando pra mim. Aquilo já estava começando a me incomodar.

- Perfeito. Agora alguém pode vir até o quadro e escrever o motivo pelo qual os escravos africanos foram trazidos para a América? Depois quero que todos copiem a resposta pois ela será importante para a próxima aula. Alguém?

Ninguém levantou. Então eu tive uma idéia, arriscada, mas que podia dar certo. Afinal ninguém ia notar se eu dormisse um pouco na aula não é? Senti minha alma ser levemente empurrada pra fora, não sem antes me deitar sobre a classe. Caminhei determinada até a Tom-tom e fui puxada para dentro.

- Eu não quero ter que chamar alguém, quero um voluntário.

Então eu levantei, ou melhor, a Tom-tom levantou.

- Muito bem, aqui está. – e me estendeu um giz.

Eu fui até o quadro e escrevi:

Porque na África não tinha emprego.

A turma caiu na gargalhada e eu saí do corpo da Tom-tom deixando ela confusa e humilhada, pela segunda vez em cerca de quatro horas. Olhei para o professor para ver a expressão dele mas ele não olhava para ela, segui seu olhar e estremeci, ele olhava diretamente para o meu corpo deitado na classe. Corri até meu corpo e voltei pra ele. Fingi acordar com os risos e notei que ele ainda me olhava com uma expressão séria. Como se soubesse que eu era a culpada daquilo, enquanto isso Tom-tom olhava horrorizada o que ela tinha feito.

- tudo bem já chega. Sente-se senhorita. – então ele pegou um giz e escreveu a resposta certa no quadro. – Copiem isso e estão dispensados.

Todos copiaram e o sinal tocou. Uma enxurrada saiu pela porta, todos queriam chegar ao refeitório antes que acabassem todas as mesas. Eu e Sam ficamos por último.

- Pode vir aqui por favor Senhorita Satler.

Eu estremeci, o que ele queria comigo agora?

- Ah, eu te espero lá fora. – e a Sam saiu me deixando sozinha com o Senhor Newman.

- Posso ajudar?

- Eu não pude deixar de notar que estava dormindo na aula Senhorita. – ele me encarava sério.

Eu corei.

- Ah, sim senhor, é que eu não dormi direito, minha mãe acaba de ganhar o bebê e ele não dormiu muito essa noite. – não era de todo mentira.

- Achei estranho que a senhorita tenha dormido exatamente na hora em que a senhorita Deville fez algo do qual ela não se lembra exatamente de ter feito.

Parecia que ele sentia a mentira nas minhas palavras, mas ele não podia saber da verdade, ninguém imaginaria isso.

- Não sei o que pode ter relação com isso senhor.

Ele me encarou ainda por um tempo.

- Espero que saiba o que está fazendo. Pode ir.

Saí tremendo da sala, o que ele estava querendo insinuar? Contei pra Sam que ele estava reclamando de eu ter dormido, não podia dizer o resto. Ela apenas riu enquanto seguíamos para o refeitório. Os corredores estavam vazios o que significava que teríamos sorte em arrumar uma mesa.

- Então, vai me contar o que você tá tramando ou não vai?

- Se eu contar não é surpresa.

Cada minuto eu gostava menos daquilo. O som de uma multidão gritando encheu meus ouvidos assim que eu abri a porta do refeitório.

- Espero que não seja muito humilhante dessa vez senão...

Mas eu nem pude dizer o que ia fazer com ela porque eu percebi algo muito estranho acontecendo, assim que eu coloquei o pé no corredor entre as mesas os gritos pararam, o silêncio caiu como se um alien tivesse entrado na sala. Olhei em volta e todos me encaravam com expressões chocadas, eu corei muito dessa vez. As garotas cochichavam desesperadas, os garotos me olhavam de boca aberta, e a irmã Marion olhava pro meu rosto e pro meu short como se estivesse prestes a me exorcizar. E eu fiz a coisa mais idiota do mundo, fiquei parada no meio do corredor, assustada demais pra me mover.

- Vamos logo. – a Sam me empurrou.

Eu caminhei trêmula enquanto ela me conduzia pra uma mesa no centro do refeitório, ao lado do Buffet, bem em evidência. A última coisa que eu queria era sentar no meio, onde todos podiam me ver, mas aquela era a única mesa vazia, quando cheguei perto entendi porque, a Sam tinha obrigado o Roy a chegar mais cedo e guardar aquela mesa pra nós. Sentei esperando em vão que os murmúrios parassem, enquanto eu passava as pessoas murmuravam “Quem é essa?”, aparentemente ninguém tinha e reconhecido.

- Uau, você tá um arraso Ellie. – O Roy murmurou assim que eu sentei.

- Se comporta. – a Sam fingiu que batia nele enquanto sentava.

- Então essa era a surpresa? – perguntei incrédula. Os dois riram.

- Tá só começando.

De repente ouvi uma voz conhecida.

- Boa tarde alunos, estamos começando mais uma edição da rádio da escola.

Era o Shaggy, do clube de arte, transmitindo direto da cabine suspensa no refeitório. Das janelas de vidro da cabine eu podia ver o rosto redondo e espinhento lendo uma folha de papel. A rádio da escola era uma palhaçada que só era transmitida antes do almoço no refeitório ou em horário de aula, mas só se houvesse alguma emergência ou algum aluno estivesse sendo chamado. Em geral eram avisos da direção ou da Irma Marion, ou convites para festas ou eventos dos robôs, ou a chamada para o jogo, que era narrado também pelo Shaggy.

- Vamos começar com os anúncios. Às duas horas, a pedido da equipe de limpeza do colégio, será dada uma palestra exclusivamente para as garotas no auditório sobre As Dez Maneiras de Se Descartar Higienicamente Um Absorvente, dada pela professora Kelley de biologia a fim de melhorar as condições dos banheiros femininos. Pedimos a presença de todas.

Um murmúrio de nojo foi ouvido no refeitório inteiro. Bela maneira de introduzir um almoço.

- A irmã Marion pediu para avisar que todos os armários têm combinações e que é responsabilidade de cada aluno lembrar sua combinação. A partir de hoje quem esquecer terá que arcar com os custos de chamar a manutenção para abrir o armário, o uso de pés-de-cabra e afins para abertura do mesmo está proibida a partir de hoje.

Gritos de protesto partindo da mesa dos atletas. Quanta babaquice.

- Agora lembrando que as inscrições pro Show de Talentos anual começa semana que vem. Lembrando que o aluno inscrito é responsável por trazer o equipamento para sua própria apresentação.

Aquilo era bobagem, só o pessoal do Clube de Arte participava daquilo, embora toda a escola comparecesse, por que éramos obrigados obviamente.

- Agora vamos para as fofocas do dia.

Risadinhas das garotas em geral. Era ridículo que em uma escola de freiras os namoros fossem anunciados na rádio da escola.

- Pra começar ficamos sabendo por uma fonte altamente confiável, leia-se ele mesmo, que Chaz Sullivan é o novo solteiro da escola, preparem-se para o ataque meninas.

Gritinhos das garotas, enquanto na mesa do time os jogadores riam e batiam nas costas do Chaz que sorria. Olhei direto pra Tom-tom que soluçava com o rosto entre as mãos. Nossa, ele queria tanto se livrar dela que no mesmo dia anuncia pra escola inteira que está solteiro, que horror.

- Gostaria também de anunciar e dar as boas-vindas ao nosso novo professor de história, professor Paul Newman.

O senhor Newman levantou-se na mesa dos professores para receber as palmas.

- Mas agora preparem-se para a notícia mais bombástica do ano. Todos que estudam nessa escola há algum tempo conhecem nossa querida colega Ellie Satler, embora ela seja mais conhecida como Elliefantinha.

Risos pelo refeitório inteiro. Eu queria sair correndo dali.

- Silêncio, silêncio. Pois vocês devem estar se perguntando onde ela está hoje, no primeiro dia de aula. Pois parece que alguém foi visitada pela fada da beleza essa noite e se transformou nessa bela criatura que vemos hoje, e que muitos devem ter se perguntado quem era quando entrou no refeitório hoje. Então dêem as boas-vindas à nova Ellie Satler!

Silêncio enquanto todos me procuravam com a cabeça, ninguém tinha me reconhecido ainda.

- Vamos Ellie, mostra esse corpinho novo pra galera.

Eu fiquei paralisada, enquanto os murmúrios cresciam impacientes. Eu ia matar a Sam, definitivamente, o que ela tava pensando? Me anunciar na frente da escola inteira?

- Ellie levanta agora! – e a Sam me empurrou pra fora da cadeira, de modo que eu só pude levantar com um sorriso sem graça no rosto.

O silêncio dominou o refeitório. Então aconteceu. No princípio eu não entendi bem, achei que estavam me xingando, mas então começou a ficar mais forte e eu percebi que estava acontecendo. Começou na mesa dos artistas, e pelo que eu percebi foi o Roy, que foi sentar com os colegas depois de guardar a nossa mesa, que começou a gritaria, depois se espalhou pelos nerds e pessoas normais até que chegou à mesa dos atletas. Todos gritavam e assobiavam pra mim, parecia que eles realmente estavam gostando. Só quem não estava gritando ou aplaudindo eram as garoas da mesa da Tom-tom, essas me olhavam chocadas.

Começaram a bater nas mesas e gritar tanto que a irmã Marion teve que passar gritando pra todos pararem. Sam me puxou de volta. Eu estava tão chocada que ainda não tinha recuperado os meus movimentos. Quando ficaram em silêncio novamente um dos atletas gritou:

- Hey Ellie, por que não passa lá e casa depois da aula pra gente comparar o antes e o depois hein? – e todos na mesa começaram a rir.

Tinha sido uma piada mas, tinha sido boa. E ele não tinha me chamado de Elliefantinha.

- Muito bem pessoal, aqui se encerra mais uma edição da nossa rádio, aguardem os próximos capítulos. E agora podem se servir.

- Me. Mata. Agora. – eu falei pra Sam.

- Desculpa por isso, eu só queria que você começasse em grande estilo, e todo mundo adorou você, viu?

- Isso ainda não justifica.

- Tá eu sei, agora vem vamos nos servir.

Senti todos me olhando enquanto eu levantava. Encontramos o Roy na fila do Buffet.

- Eu vou matar você. Não pense que eu não vi que foi você quem começou a gritaria.

- Tá me desculpe, só achei que você merecia.

Era impossível brigar com o Roy.

Comecei a me servir e enchi o prato de salada, a Sam e o Roy que estavam na minha frente me olhavam apavorados. Quando cheguei nas frutas e olhei pro outro lado do Buffet percebi que o Robert, minha alma gêmea, estava bem na minha frente. Ele sorriu pra mim. Eu corei e derrubei a maçã que estava segurando.

Com os acontecimentos narrados a seguir eu aprendi uma coisa: você pode até se transformar por fora, mas dificilmente vai deixar de ser o que é por dentro, no meu caso uma desastrada. Enquanto tentava seguir em frente eu consegui pisar exatamente em cima da maçã que eu tinha derrubado e escorreguei direto pra chão. Nos segundo que antecedem uma queda você já começa a se preparar para a dor que vai sentir nesse caso eu me preparei psicologicamente pra cair de bunda no chão, mas eu não caí. Enquanto escorregava ouvi o som metálico de uma bandeja caindo no chão e senti dois braços fortes me agarrando pela cintura antes que eu caísse no chão.

O salvador desconhecido me ajudou a ficar novamente a 90 graus e eu notei que com sorte minha bandeja estava intacta ainda, por sorte eu ainda não tinha pegado o suco. Olhei pra trás pronta para agradecer àquela boa alma, e percebi com pavor que era o Chaz.

Eu sabia que a escola inteira estava olhando, a nova Ellie Satler sendo salva pelo novo solteiro da escola Chaz Sullivan. Que ótimo.

- Obrigado. – eu consegui murmurar.

- Não tem de quê. – ele sorriu e foi apanhar a bandeja no chão.

- Espero que não tenha virado nada. – eu me sentiria realmente culpada se o capitão do time ficasse sem comer por causa da minha incapacidade de passar 24 horas sem fazer algo estúpido.

- Não, tudo bem, eu ainda não tinha pegado nada.

Eu não sabia que era comum os atletas cabularem a salada. Continuei me servindo já que a Sam estava bem longe e eu estava obviamente trancando a fila. Servi meia colher de arroz branco.

- Então – ele falou enquanto servia três colheres de risoto com lingüiça calabresa, que eu havia cortado terminantemente do meu regime – você foi abandonada quando criança e criada por uma família de coelhos?

Eu o olhei sem entender. Então olhei pro meu prato e compreendi, tive que rir.

- Essa foi boa.

- Não, na verdade foi péssima, eu não sei contar piadas, nem sei porque você riu.

Eu ri de novo. Era impossível não sorrir quando ele sorria.

- Achei que atletas deveriam comer comida balanceada. – eu disse enquanto ele despejava metade do prato de batatas fritas no prato dele.

- Deveriam, mas eu nem sou profissional, posso comer o que eu gosto.

O que eu estava fazendo? Ele era meu inimigo, o cara que criou a Elliefantinha, que tornou minha vida um inferno, e agora eu estava puxando assunto com ele. Eu não estava normal hoje, deve ter sido o tempo que eu passei fora do corpo.

- Desculpe esqueci seu nome.

Como assim? Ele esqueceu? Sou eu, a Elliefantinha lembra? E eles tinham acabado de dizer meu nome na rádio da escola, ou ele tinha sérios problemas de memória ou ele tava se fazendo.

- Ellie, Ellie Satler.

- Você não é parente do General Satler?

- Sim, ele era meu avô.

- Meu pai costumava falar dele – agora ele estava colocando dois bifes e uma tonelada de molho no prato, enquanto eu pegava um pequeno bife grelhado de frango – dizia que ele era um grande homem, o que aconteceu com ele?

- Se viciou em brigas de galo, teve um ataque cardíaco durante um batida da polícia.

Eu tinha que dizer a verdade. Ele riu com vontade dessa vez.

- Tá, fala sério.

Eu olhei pra ele do jeito mais sério possível. Ele tava rindo do meu avô oras.

- Eu falando sério.

Ele parou de rir e ficou vermelho.

- Ah, me desculpe, é só que, é meio difícil de acreditar. Eu sinto muito.

Tínhamos chagado ao final do Buffet. Ele se virou pra mim.

- Escuta, eu gostei de conversar com você, não quer sentar a gente?

Eu fiquei chocada mas não pude responder porque a Tom-tom literalmente se enfiou na minha frente tapando minha visão com aquele cabelo aguado.

- Chaz a gente tem que conversar, vem sentar comigo. – e começou a arrastar ele.

Ele me olhou com uma expressão resignada no rosto.

- A gente se vê depois.

Ah meu deus, ele me chamou pra sentar com ele. Ainda bem que a Tom-tom apareceu senão eu não saberia o que dizer. Voltei para minha mesa, a Sam já estava comendo.

- Aquele era o Chaz Sullivan? Ele tava conversando com você?

Contei tudo pra ela, como eu tinha caído vergonhosamente e como ele tinha me salvado e me chamado pra sentar com ele.

- Ah não, daqui a pouco você vai estar animando a torcida e eu vou ter que arrumar uma nova amiga gordinha.

Eu ri e joguei uma batatinha nela. Olhei pra mesa das líderes de torcida, o Chaz parecia estar discutindo feio com a Tom-tom que chorava, enquanto o Tony olhava furioso pro Chaz. Foi então que eu tive a idéia.

- Fica aqui um pouquinho, eu já volto. – e corri pro banheiro.

Me tranquei e sai do corpo. Procurei pelo refeitório e sentei no corpo do Tony. Levantei fui direta e furiosamente pra mesa da Tom-tom. O Chaz passou um braço em torno dela e tentava consolá-la. Os dois deram um pulo quando eu berrei.

- POSSO SABER O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO COM A MINHA NAMORADA?

O Chaz me olhou apavorado.

- Como é?

- A TOM-TOM E EU ESTAMOS TENDO UM RELACIONAMENTO AGORA E EU AGRADECERIA SE VOCÊ FICASSE LONGE DELA. OU ENTÃO EU VOU TER QUE ACABAR COM A TUA RAÇA GAROTO.

E fiz com os braços como um lutador de boxe. O Chaz riu e levantou as mãos como se estivesse se rendendo.

- Tudo bem, era exatamente o que eu estava tentando dizer pra ela. Mas fica tranqüilo que acabou tudo entre nós. Felicidades pra vocês. – pegou o almoço dele e foi voltou pra mesa do time.

- Fica tranqüila gatinha eu vou cuidar de você. – e me inclinei pra ela.

Saí do corpo do Tony bem na hora, e como eu previ, ao acordar tão perto do rosto dela o Tony tascou logo um beijo. A Tom-tom reagiu e empurrou ele.

- O QUE VOCÊ TÁ PENSANDO? – e correu chorando pro banheiro.

E eu corri pra lá também, de qualquer forma não podia ficar muito tempo longe do meu corpo. Saí do boxe e encontrei ela chorando na frente do espelho. Fui até ele pra retocar a maquiagem.

- Tendo um mal dia Tom-tom?

Ela agarrou o meu braço quase me fazendo engolir o batom estava passando.

- Escuta aqui garota, eu vi você dando em cima do Chaz. Eu não sei bem o que está acontecendo comigo hoje mas o Chaz é meu está entendendo. E ninguém, muito menos você vai tirar ele de mim.

Eu ri e me desvencilhei dela.

- Então é isso que você quer? Que eu fique longe dele? Pois então vamos ver Tom-tom. Eu posso até ficar longe dele, vamos ver se ele vai querer ficar longe de mim.

Foi a vez de ela rir.

- Você pode emagrecer, cortar o cabelo, passar maquiagem, mas nunca vai ser igual a mim, nunca vai ficar no meu lugar.

Eu cheguei mais perto e encarei os olhos vermelhos e inchados de choro.

- Então vamos ver, porque é exatamente isso que eu vou fazer Stefânia, vou colocar você no meu lugar, e vou tomar o seu.

Virei às costas e fui até a porta, antes de sair virei pra ela.

- E a propósito, acho melhor parar de usar essa água oxigenada, pelo visto está afetando o seu cérebro.

E sai do banheiro. Voltei pra mesa e eu e a Sam fomo até os nossos armários pegar os livros pra próxima aula. Quando estava quase na sala esbarrei no professor Newman. Ele apenas me encarou com intensidade, como se visse além de mim, como se visse o que eu tentava esconder. Eu sabia que era impossível mas não conseguia evitar a sensação de que ele sabia demais. 


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Notas finais do capítulo

Quero cinco reviews senão eu não posto o próximo capítulo.
Sim, eu sou má.
Beijos