Gabriel ria de sua própria roupa, ajeitando a estola sobre os ombros. Logo foi se encaminhando até a mesa no centro do altar e se sentando em uma cadeira de veludo atrás desta. O garoto pôs seu laptop de frente aos seus olhos e procurou rapidamente algo como “O que um padre fala em um casamento?” achando um site praticamente perfeito, se ele pelo menos tivesse paciência para falar tudo aquilo.

- Gabe – Pete chamou, saindo do lado esquerdo do altar, onde teria que ficar durante toda a cerimônia por ser um dos padrinhos –, o que você está fazendo? As pessoas por um segundo realmente acreditaram que você era o padre. – Gabriel lhe lançou um olhar ofendido como quem dizia “Por que não acreditam mais?” – Que merda você está fazendo aí sentado com um computador?

- Aaah. – Gabriel por fim compreendera aonde errou. Dando uma última olhada no site, leu as palavras “A cerimônia começa com as boas vindas do Padre aos convidados”. Oh, talvez não fosse tão difícil... Mas ele continuaria com o notebook na mão de qualquer forma. – Alô, alô, testando. – o garoto pegara o microfone, fazendo com que todos os presentes olhassem para ele. – Ah, ótimo. Bem, primeiramente eu quero que todos vocês sejam bem vindos...

- O que você está fazendo? – Brendon perguntou em desespero.

- Começando, ora. – Explicou, desligando o microfone.

- Sem a noiva? – e Gabriel mordera os lábios por um instante, segurando um palavrão apenas por respeito ao seu mais novo posto.

- Onde está ela, afinal de contas?

No momento em que o garoto terminara a pergunta, a marcha nupcial começara a tocar. A menina aparecera na ponta do corredor com o mesmo vestido que Urie já havia visto meia hora atrás, sendo levada por seu pai, com um sorriso demasiado grande no rosto – que sumira assim que vira Gabriel de batina.

Logo atrás da bela noiva, encontravam-se dois garotos que, se houvesse uma olimpíada de quem estava com a expressão mais fechada e com as bochechas mais coradas, seria difícil dizer o vencedor. Patrick, com um terno cor de rosa um pouco mais curto que o normal, segurava a caixinha com as alianças na mão direita e andava com a cara abaixada procurando não ver a reação das pessoas a sua volta. William, com um vestido magenta – também mais curto do que o normal – andava com o semblante totalmente sério, jogando as flores de sua cestinha com a maior ignorância possível.

Era meio visível que Genevieve morreria quando fosse encontrada esta noite.

Alguns convidados não continham as risadas, o que obviamente acabava com o ideal de casamento perfeito para a noiva – não que ela ainda achasse que teria depois de ver Saporta no altar -, mas as coisas estavam piorando quase que em progressão aritmética ali.

Pobrezinha, mal sabia ela que o casamento estava apenas começando.

- Boa noite para todos vocês. – Gabriel começou assim que Sarah se colocou ao lado do noivo. Parou por um segundo apenas para olhar qual era a segunda etapa de um casamento no Google, logo sorrindo de volta para os convidados – Eu não sei o que é “liturgia da palavra”, então eu vou pular essa parte, além do mais, todos nós sabemos que essa é parte mais chata de um casamento, certo? – Sarah lançou um olhar maligno para Gabriel, assim como toda a sua família. – Eu iria pular a “homilia” também, ninguém aguenta a falação do padre, maas... – o garoto olhou para os noivos e para a família da garota com seu sorriso simpático. – Era só uma brincadeira. Eu sou judeu, eu nem sei o que é homilia... Aqui diz que é só falar sobre a importância do casamento... Então... A importância do casamento...

Wentz tampava o rosto segurando uma risada; ele sabia que não devia perder esse casamento de forma alguma. Patrick se sentara no degrau do altar, balançando a cabeça negativamente e pensando que até ele daria um padre melhor. William ria descaradamente – porém baixo – de Saporta, comparando o casamento a um palco de stand up comedy (provavelmente os demais convidados também compartilhavam essa sensação). Os pais da noiva se sentiam completamente ofendidos; era a religião deles, a escolha deles aquela igreja e havia um palhaço dizendo que não casaria. Mas aquele não era o casamento dele, então só o noivo estava na merda ali. Sarah olhou para o futuro marido com tamanho desprezo que ele só fora capaz de cutucar o “padre” e fazer sinal para que pulasse essa parte.

- Ah, sim, etapa quatro... – Gabe rolou o mouse, lendo qual era. – Mas e então, Sarah - o garoto se debruçou na estante da palavra –, você está casando porque está grávida ou não deu certo? Ou você ainda está pensando em ter um filho? Ou um de vocês é estéril?

- Gabriel! – Urie censurou assim que a menina abriu a boca ofendida. – Próxima.

- Mas eu nem perguntei sobre a fidelidade de vocês... – Mais um olhar mortal. – Ah, tanto faz. Essa é a parte mais legal... Sarah Orz... Orz... Sarah. – ele concluiu, desistindo de tentar falar o sobrenome da garota. – Você aceita Brendon Urie como seu legítimo esposo?

- Aceito.

- Promete ser fiel, amá-lo, respeitá-lo, blábláblá, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe?

- Prometo. – ela já respondia com certo tédio misturado com uma fervente raiva.

- Então eu acho que você tem que dizer isso pra ele enquanto coloca a aliança... Ah, claro, onde estão as alianças?

Patrick se levantou correndo, abrindo a caixinha e entregando aos noivos. A garota simplesmente rolou os olhos, colocando a aliança no dedo de Brendon.

- Brendon Urie... Você sabe o que fazer.

Brendon pegou a aliança, tremendo. Talvez tenha sido melhor não repetir tudo aquilo; talvez soasse menos falso se simplesmente não dissesse. Já havia doído demais cada vez que a noiva concordava, machucaria ainda mais se saísse de seus lábios.

- Então você aceita a Sarah Orz.. A Sarah? – Gabriel pressionou, já que o garoto não falara nada.

- Aceito. – o estômago do garoto revirou. Aquilo não estava certo. Ele queria fugir, só agora notara o quanto queria.

- Ótimo. – Gabriel concordou incerto, notando todo o nervosismo do outro, mas dando de ombros logo em seguida. – Se há alguém que é contra a união dos dois, fale agora ou cale-se para sempre. – Gabriel sorria; sempre quis dizer aquelas palavras.

- Eu!

Oh, graças a Deus.

Por mais estranho que pareça, aquele “eu” fora compartilhado por mais de uma pessoa. Um dos garotos que gritaram, estava acompanhando a cerimônia desde o começo, ao lado de Pete Wentz, no altar: Este era Shane Valdés, um dos padrinhos do noivo.
              E Brendon pensava ser o único hipócrita.

O segundo a gritar fora Ryan Ross, que assistia a cerimônia atrás de uma das colunas esquerdas da igreja, sendo notado pelos presentes apenas quando se pôs a frente.

- Ops, eu não sei como proceder diante disso. – Gabriel comentou, agora tentando procurar alguma outra solução na internet.

De repente o casamento ficou ainda mais interessante.

- O que eles estão fazendo aqui? – Sarah perguntou até que educadamente, sua paciência quase sendo perdida.

- O Shane é o meu padrinho...

- Oh, desculpe. Deixe-me reformular a pergunta: O que ele está fazendo aqui? – ela apontou para Ross, agora também de pé no altar, trocando olhares de desprezo para Valdés ao seu lado.

- Atrapalhando o casamento. – Urie respondera da forma mais calma e óbvia possível; por mais difícil que fosse manter a calma ali, afinal, Brendon estava tão surpreso quanto ela.

- Ah! – Gabriel revirou os olhos, fechando o laptop. – Que se dane. Quando vocês acabarem, eu estarei no confessionário. – Todos o olharam com expressões confusas. – Acho que a dama de honra tem vários pecados pra compartilhar aqui.

De repente, um sorriso descomunal apareceu na expressão de William, e arrumando o vestido, o garoto jogou o cestinho de lado, se levantando subitamente.

- Você está absolutamente certo. – Concordou, passando os braços em volta do maior. – Um deles é que eu durmo com o padre dessa eucaristia.

- Céus, isso exige muitas horas naquele confessionário...

- Definitivamente.

E os dois saíram do altar. Era completamente óbvio que Beckett não via a hora de retirar aquela batina de Saporta e de que o outro também não estava contando os segundos para deixar aquele vestido ridículo o mais longe possível do corpo de seu garoto.

Após milhares de sussurros na cerimônia, a expressão de assombro na família da noiva e esta quase se debulhar em lágrimas por tamanha depreciação do casório, ela gritou:

- Tire-os daqui, Brendon! – apontava para Valdés e Ross.

- Por que sou eu quem tem que fazer tudo nessa droga?!

- Porque eles estão aqui por você!

- Como você sabe? Você também dormiu com o Shane!

- A ideia foi sua de fazer a três!

- Mas era para não cair na rotina!

- Então estava caindo na rotina, é? – Ela revirou os olhos, segurando o buquê com toda força, quase o desmanchando. – Só um milagre agora para fazer esse casamento dar certo...

- Alguém disse “Milagre?”

Foi ouvido isto logo após um estrondo na porta principal da igreja. A voz viera de um homem vestido de anjo, sendo carregado por mais outros dois: um vestido de Adão e o outro de capetinha.

E bem atrás deles podia notar-se a forma pequena de outro garoto de coelho e um maior de policial, batendo um cassetete no banco ao seu lado.

- Oh, Deus. – Foi a última palavra que a mãe de Sarah soltara enquanto cobria os olhos. Por um mísero segundo, Urie agradeceu por seus pais não terem ido até lá.

A mulher ficara tão surpresa não só por culpa da entrada repentina dos cinco garotos fantasiados; ela ficara daquela forma por culpa da fantasia de cada um. Mark Hoppus - o anjo que entrara perguntando sobre milagre - usava apenas uma cueca branca, uma auréola e uma asa; Tom Delonge segurava o namorado com uma roupa de couro vermelha, que acentuava devidamente bem o seu corpo, mas não mais do que o couro preto da fantasia de policial de Jack Barakat, enquanto Alex Gaskarth apenas usava duas folhas escondendo suas genitálias e Nate Novarro brincava com seu rabo felpudo e suas orelhinhas cor de rosa.

- O que os strippers estão fazendo aqui um dia depois? – Wentz fora o primeiro a se pronunciar, rindo de toda a encenação dos amigos. – Olhe, Trick, tem pessoas que provavelmente estão passando por mais vergonha que você agora. – Sussurrou para o outro, que apenas concordara, se aninhando a Pete.

- Um dia depois? – Hoppus lançou um olhar aborrecido para os outros. – Vocês não sabem mais olhar a data?

- Então é isso que você faz à noite, Nathan? – um dos convidados, Alex Suarez, se levantou, cruzando os braços e olhando com reprovação para o namorado.

- Eu ia te contar... – o coelho tentou se defender.

- Eles eram os meus strippers? – Brendon perguntou, rindo.

- Pra mim chega. – Sarah falou, segurando o choro e jogando a aliança em Urie. – Eu disse que daria errado e você nem ao menos se importa!

- Sarah... – Brendon tentou se explicar, mas a garota agora já havia dado as costas a ele, andando pelo corredor.

Urie não se moveu, deixou com que a noiva e seus convidados fossem saindo. Sarah percebera que ainda segurava o estúpido buquê e logo se desfez dele, caindo exatamente no rosto de Ross que, quando se dera conta do que tinha nas mãos, apenas riu para Shane soltando um “Há!”.

Gabriel saíra do confessionário, agora com a roupa comum, apenas mal abotoada, enquanto William tentava arrumar o pingente de flor que agarrara no cabelo. Quando Saporta notara que todos estavam saindo, se apressou a correr até o microfone e dizer:

- Só queria avisar que o casamento pode ter sido uma porcaria, mas ainda tem a festa e a minha religião é completamente contra desperdício, então encontro todos vocês lá. Obrigado. – e entrelaçou sua mão à de Beckett, encaminhando-se para saída.

- Sinto muito, Brendon. – Patrick falou, dando uns tapinhas nas costas do outro.

- Pelo menos ainda tem a festa, huh? – assim que Pete terminara a frase, levara um cutucão do namorado. Urie apenas sorriu.

Os olhos do garoto correram pelos poucos convidados que ainda restavam ali. Spencer e a namorada puxavam Shane pra fora, como se pra impedir de que ele conversasse com Urie naquele momento. Travis veio até Brendon, gargalhando.

- Cara, o melhor casamento que eu já fui. – Brendon soltou uma pequena risada pelo comentário. – Parabéns. – e foi saindo, obviamente para a festa.

Urie caminhou até a mesa do altar, olhando as coisas que ali estavam e por fim se sentando na própria mesa. Pensou por alguns segundos se aquilo era um desrespeito muito grande, enquanto olhava para o crucifixo à suas costas, mas deu de ombros em seguida, girando a sua aliança entre os dedos.

Ryan Ross fora o único que restara na igreja.

- Você é um completo idiota, sabia? – ele falou, se sentando ao lado do outro.

- Eu? Eu sou o idiota aqui? Sério? – Brendon ainda olhava para as alianças.

- Você podia ter ido atrás dela... – Ryan comentou.

- Poderia, se eu quisesse. – Ryan pareceu surpreso por um segundo, mas não pode deixar de escapar um sorriso entre os lábios. – O que você está fazendo aqui, Ryan? – Urie repetiu a mesma pergunta que a ex-futura-esposa. – Por que diabos você impediria esse casamento?

Eis alguns pequenos fatos: Brendon Urie podia não ter certeza se gostava da garota ou não e mesmo assim tê-la em noivado; Brendon Urie podia não ter certeza se gostaria de se casar com ela e mesmo assim ter chegado até o altar; mas nunca, nunca que Urie correria atrás de Sarah depois de ter escutado a interjeição de Ross a seu casamento. Se havia alguma pequena chance daquilo ter sido uma forma de Ryan expressar afeto – o afeto que ele tanto quis durante anos -, ele não a deixaria escapar.

E as palavras que se seguiram, mesmo que sarcásticas, mostraram a Urie que ele não estava errado em ter deixado a menina ir.

- Porque eu não me senti satisfeito estragando apenas o que a gente tinha... Eu precisava estragar o seu casamento também.

Ross estava corado e olhando para as próprias mãos. Brendon não conseguia deixar de sorrir, era involuntário.

- Sabe... – ele começou, arrastando sua mão sobre a de Ryan. – Eu ainda tenho duas passagens para a minha lua de mel...

- E o que te faz pensar que eu iria com você a ela? – Ryan levantou o rosto, agora encarando os olhos de Urie pela primeira vez.

- Me diga você. Foi você quem veio até aqui.

Ross deu um último sorriso antes de passar suas mãos pelo rosto de Urie e puxá-lo para si, juntando seus lábios. Eles eram o casal certo ali, Brendon sabia disso desde quando tocara aqueles lábios pela primeira vez. Eles deviam ter ido juntos para o altar, não Brendon e Sarah. Talvez o destino soubesse disso, talvez tenha sido apenas uma sequência de coincidências que os levaram até ali, mas isso realmente não importava.

Estavam juntos de novo, isso sim era o que realmente importava agora.

FIM