Um pouco de Minhas Lagrimas escrita por Mayara Wilvert


Capítulo 8
Só pode ter algo errado nisso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/102388/chapter/8

"...Em cada poça dessa rua você vai me ver
Em cada gota dessa chuva você vai sentir minhas lágrimas
Minhas lágrimas..."

 

Já era sexta quando finalmente consegui minha consulta com a médica para então agendar a quimioterapia.

Sai da aula depois de passar um dia bastante agradável com as meninas, o sol estava gostoso e eu finalmente tinha conseguido comer bem, os remédios que estava tomando de medida paliativa finalmente estavam fazendo seus efeitos.

Quando terminou a aula fui direto para o carro de minha mãe, acenei para as meninas e  para Thomas e sai dali com minha mãe.

Estava animada porque finalmente via uma luz no fim do túnel, mas ficava ansiosa e inquieta na sala da médica, ela era a melhor no tratamento de adolescentes. 

Assim que chamou meu nome, entrei rapidamente com os envelopes dos exames na mão e os remédios que estava tomando dentro de uma sacolinha. Assim que me sentei e conversamos um pouco, ela pegou os exames para olha-los e torceu um pouco a boca, balançou a cabeça e esticou o exame.

— Vocês chegaram a olhar eles?

Minha mãe rapidamente respondeu

— Achamos melhor não, já que não entendemos... Porque doutora?

— Ammy, você está grávida... Pelos valores que apresentam aqui é de pouco mais de um mês... Mas seu exame está muito ruim, se você não se tratar vai morrer, mas se você se tratar vai ter um aborto...

Respirei fundo assustada e olhei para minha mãe, não fazia ideia do que fazer, não sabia como contar aquilo para Thomas, afinal agora não era mais só minha opinião, minha vida.

— Vou remarcar a consulta de vocês para segunda, você vai ter que pensar o que fazer... E pensar o quanto antes.

Me levantei da cadeira e sai cambaleando da sala, minha mãe logo atrás de mim. Respirei fundo sem conseguir absorver direito toda aquela informação. Sentei no banco do carro e fiquei olhando para minha mãe, encolhi minhas pernas em cima do banco e abaixei a cabeça no joelho, começando a chorar desesperadamente. Senti os braços de minha mãe envolta de mim e chorei ainda mais, não fazia ideia do que iria acontecer, mas não queria impedir a vida daquela criança que se formava dentro de mim, fruto de um amor cheio de dificuldades e barreiras.

Assim que cheguei em casa, fui até o meu quarto e enviei uma mensagem para Thomas nos encontrarmos.

Enquanto o esperava chegar, aproveitei para tomar um banho e tomar os remédios que haviam me passado, eram apenas vitaminas, então podia tomar sem medo.

Assim que ouvi a campainha, desci correndo as escadas e pedi para Thomas vir até meu quarto, entreguei a ele primeiro o exame de gravidez.

Vi o choque e o alivio se passar pelos seus olhos em segundos.

— É só por isso? Você na verdade está grávida e não doente?

Logo depois disso comecei a chorar e fui obrigada a lhe contar o restante.

— Não Thomas... Eu estou com leucemia, e estou grávida... E eu preciso escolher entre me tratar ou ter o bebê... Na verdade eu já escolhi, eu vou ter nosso bebê, e se algo me acontecer preciso saber se você está junto comigo...

— Eu... Como assim? Você pode morrer se ter esse bebê? Nós podemos ter vários filhos... Eu preciso de você aqui.

— Eu já estou decidida, preciso saber se você está comigo nessa...

— Você precisa resistir, por nós três... Me deixe ficar com você, por favor.

A partir desse momento a luta se tornava ainda mais difícil, não era apenas fazer um tratamento, era sobreviver mais sete meses sem me tratar e torcendo para não ter uma metástase.

Abracei Thomas depois de muito tempo longe de seus braços e chorei, chorei muito, esperando que todos aqueles problemas fossem embora sozinhos.

Dali em diante a luta pela vida não era só minha, precisaria fazer de tudo para manter poucas boas células do meu corpo saudáveis e torcer para a reprodução delas diminuir um pouco, até então eu não tinha noção alguma do que significava ser uma gravida com leucemia.

Minha mãe foi até meu quarto com seu notebook e se colocou entre nós dois na cama, olhou para Thomas de um modo sério, provavelmente achava que ele iria me matar aos poucos de novo.

— Eu tenho certeza que Am resolveu ficar com o bebê e retardar o tratamento, mas li aqui no Google que é possível manter a gestação e fazer um tratamento mais leve, as chances de aborto continuam grandes, ou do bebê nascer com leucemia ou... De levar a óbito a paciente... Mas ainda assim pode ser tratado...

— Eu acredito que ficará tudo bem dona Esther, vamos ter pensamento positivo... Agora eu preciso ir, vou falar com a minha mãe pra ver se ela pode atender você amanhã já ok? Precisamos de vocês dois saudáveis.

— Por que sua mãe Thomas?

— Ela terminou a faculdade de Medicina e se especializou em ginecologia dona Esther, está montando o consultório dela aqui no centro.

— Ah sim... Boa noite garoto.

Fui com Thomas até a porta e lhe dei um beijo muito saudoso antes dele sair. Sorri e passei a mão na barriga agradecida por te-lo ali comigo.

Tomei um banho quente um pouco mais aliviada por poder contar com as duas pessoas que mais amava para passar por aquilo, logo logo seriam três pessoas que mais amava. Quando voltei pro quarto tinha uma vitamina cor de rosa com gosto de terra, logo identifiquei o gosto de beterraba e espinafre... Ferro, muito ferro.

Na manhã seguinte fui até a escola me sentindo um pouco melhor, realmente os remédios e a alimentação conseguiam influenciar bastante na forma como eu encarava a doença, mas agora precisava contar para minhas amigas a unica novidade boa daquilo tudo, mas quando cheguei lá, já não tinha nada pra ser contado. Thomas tinha acabado de entregar um pezinho de sapato vermelho para cada uma, Nathy me encarava em choque balançando o sapatinho ao lado do rosto e Jess dava pulinhos de alegria.

— É... Nem tudo pode ser só noticias ruins...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"...When you cried, I'd wipe away all of your tears
When you'd scream, I'd fight away all of your fears
And I held your hand through all of these years
But you still have all of me..."

My Immortal - Evanescence

"...Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
E eu segurei sua mão por todos estes anos
Mas você ainda tem tudo de mim..."



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um pouco de Minhas Lagrimas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.