Um pouco de Minhas Lagrimas escrita por Mayara Wilvert


Capítulo 5
Eu só... Seguirei minha vida...




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"Perdoa por eu não poder te perdoar

Dói muito mais em mim não ter a quem amar..."

 O tempo se passou, mas continuava tudo piorando para eu, passava mau cada vez mais, não dormia nem comia direito, muitos desmaios, e estava cada vez mais roxa, de tanto cair de tontura ou desmaios. Se não fosse tudo isso comigo, as piadas de Jess teriam graça.

 - Você já pensou que você pode ser a nova "Virgem Maria"? Mas agora seria "Virgem Ammy"... Ah, mas você já não é mais... Então, Deus te deu o filho dele e na mesma noite você deixou de ser "pura", ai ele tirou, mas você continuou com os sintomas, que tal?

 - É Jess... Essa é a unica explicação, já que nem médicos sabem me dizer o que eu tenho...

 - Calma Ammy, em breve eles descobriram o que você tem, olha lá, o Thomas está chegando... Vocês vão sair?

 - Não... Ele vai me levar em mais um médico, amigo dos pais dele. Ele disse que esse é especialista em doenças neurais... Já estamos achando que pode ser neural sabe...

 - Ele vai entrar lá com você hoje, ou você não vai deixar de novo. - Disse Nathy.

 - Não... Vou sozinha. Não quero que ele ouça nada de ruim... Bem garotas, vou lá... 

 Me levantei e entrei no carro, ele arrancou o carro sem falar nada, estava pálido e trêmulo, aparentemente estava com medo. Eu também estava, não vou negar, estava com medo de tudo, não queria ter que fazer nenhuma cirurgia na cabeça que tivesse somente 10% de chance de dar certo.

 Enquanto entrei no consultório, Thomas ficou no carro dele, não disse nenhuma palavra quando sai do carro, quando fui falar algo, somente acenou com a cabeça para a frente, como se disse "Vá logo", ele com certeza estava com mais medo que eu.

 O Dr. Wilton me examinou só disse que não era neural, mas me mandou fazer um exame de sangue. Entrei no carro e Thomas olhou para mim serio.

 - E então... O que você tem?

 - Ele... Não sabe dizer... Nada de neural, nem dores de cabeça eu tenho, não sei o que te levou a pensar que era isso...

 - Hum... Vamos embora...

 Thomas ficou comigo em casa até minha mãe chegar, quando ela chegou conversamos um pouco, ela estava bem preocupada.

 - Sabe Am... eu estou ficando bem nervosa já com isso tudo, se eu pudesse saber o que é... Aquele médico não te disse nada mesmo?

 - Mãe... Ele me mandou fazer um exame de sangue, não contei a Thomas, por que acredito, que dessa vez vá apontar algo... E, ele está com tanto medo, que achei melhor não...

 - Ah sim... Quando vai fazer o exame?

 - Amanhã mesmo, e já pego o resultado amanhã. Você vai comigo?

 - Claro que sim... Que horas que você vai?

- No primeiro horário, as 07horas da manhã... Antes da aula sabe...

 - Tem que ser em jejum não?

 - Não sei... Mas vou em Jejum!

 - Então vá dormir... Amanhã vamos acordar bem cedo...

 - Sim... Boa noite mãe...

- Durma bem Am...

Fui para meu quarto e fiquei "rolando" na cama como sempre, estava com medo do exame, do seu resultado. Consegui dormir já passavam 5:30 da manhã, e acordei as 6:30 para ir ao laboratório.

 Nunca tremi tanto para tirar sangue como daquela vez, estava com medo de tudo, minha mãe olhava para eu com cara de quem sentia muito por eu ter que fazer aquilo, mas ao mesmo tempo me encorajando.

 Sai de lá e fui comer algo, mas regurgitei absolutamente tudo, a muito tempo não me alimentava direito. Fui a escola e todos podiam ver que eu estava piorando ao longo do tempo, mal falei com meus amigos, sabia que se ficasse muito tempo com eles, iria contar sobre o exame, então falei que queria ficar sozinha, que tinha brigado com minha mãe, claro que era mentira, mas tudo valia a pena naquele momento.

 Quando o sinal tocou para o termino das aulas, eu sai o mais rápido possível,  Entrei no carro de minha mãe e fomos para a clinica pegar o exame, pedi que minha mãe subisse e já perguntasse o que havia saido no exame, quando ela desceu logo vi que tinha más noticias. Então comecei a chorar. Ela me abraçou e disse no meu ouvido, baixo mas o suficiente para eu ouvir.

 - Você tem que ser forte... Sintomas de Leucemia...

 Chorei mais ainda com o que ela disse, minha vida estava por um fio, eu estava morrendo aos poucos e nenhum medico foi capaz de diagnosticar isso.

 - Você vai ter que fazer um Mielograma para ter certeza, mas é 70% de chance de ser isso... Você tem que ser muito forte minha filha...

 Ela chorava comigo em frente aquele laboratório, e eu mal conseguia imaginar como ia contar aquilo aos meus amigos... E a Thomas.

 Minha mãe deu partida no carro, mas ainda podia ver as lágrimas escorrendo por sua face, com certeza, ela podia sentir tudo o que eu estava sentindo, ou até pior... Afinal, uma filha já esta "preparada" para o óbito de seus pais antes dela, mas para uma mãe saber que sua filha possivelmente pode morrer antes dela, é uma tragédia... Apesar de que, minha vida já era uma tragédia grega mesmo.

 Quando chegamos em casa, me sentei no sofá para conversar com minha mãe, ela me abraçou e me olhou nos olhos.

 - Mãe... Eu não quero que ninguém saiba disso por enquanto esta bem? Marque o exame, eu vou e faço, mas não conte a ninguém por enquanto, eu quero ver primeiro se eu tenho leucemia mesmo, quero me preparar para a bomba de exames que terei de fazer e por ai vai...

 - Vou ligar para algum laboratório tão bom quanto aquele que fomos, para marcar logo esse exame... Ai filha, tenho tanto medo...

 - Calma mãe, eu ainda estou aqui! - Notei que estava tentando manter o sangue frio, manter a cabeça no lugar, mas sabia que não iria aguentar muito tempo.

 Resolvi subir e minha mãe foi logo para a lista telefônica, achar algum laboratório confiável. Fiquei então na minha cama, deitada, pensando em todos os exames que viriam dali por diante, nas quimioterapias, e nos dias de... Solidão. Então, adormeci.

 Acordei no dia seguinte com minha mãe me sacudindo, ela me mandou levantar de pressa pois conseguiu um bom hospital particular apara fazer os exames nessessarios em mim para tirar nossa duvida. Mas já não era mais duvida, pela primeira vez eu sabia realmente que eu estava muito doente, e que era mesmo o que o exame apontou. 

 Levantei contra minha vontade, pois pela primeira vez em muito tempo eu consegui dormir, claro que sim, eu havia tomado um calmante de minha mãe sem ela perceber. 

 Não comi nada, só troquei de roupa e entrei no carro, olhei para minha mãe e ela me esperava cabisbaixa.

 - Onde é esse hospital?

 - No centro. Uma amiga minha do trabalho me indicou!

 - Você não contou a ela não é?

 - Claro que não, ela só me ligou para saber como tinha ido seu exame, falei a ela que não conseguiu apontar falha nenhuma, então precisávamos de um novo exame.

 - Ah!

 O resto do caminho foi todo em silêncio. Me tremi de mais quando coloquei a roupa para fazer exame. Fui a sala de espera, mas logo me chamaram, minha mãe só me sussurrou um "boa sorte" e me beijou a face. Fiquei muito assustada com tudo o que fizeram comigo.

 Sai da sala com a perna totalmente amortecida, afinal, me deram anestesia na bacia e fiquei muito estranha, mau sentia minha perna esquerda. Os medicos pediram para aguardar por alguns minutos que logo me chamariam para apassar o resultado. fiquei sentada ali, esperando, os minutos pareciam horas, até que eu ouvi um "Ammy Souza", era eu.

 Entrei no consultório com minha mãe, respirei fundo e me sentei, o medico me olhou espantado.

 - Nossa, quantos anos você tem garota?

 - Dezessete anos, porque?

 - Tenho más noticias então, não gosto de ter que tratar com esse tipo de noticia para garotos e garotas que ainda tem muita coisa para viver mas...

 - Doutor, nós já sabemos que possivelmente ela tem Leucemia, só fizemos o exame para confirmar. - Disse minha mãe.

 - Sim... Ela tem Leucemia Mieloide Aguda.

 - E isso significa o que doutor? - Disse eu me sentindo presa ao chão, com vontade de fugir, tinha medo de ouvir aquilo.

 - Você tem câncer nos glóbulos brancos, podemos assim dizer. Seus blastos imaturos são malignos se acumulam em sua medula óssea, e assim você tem esse tipo de leucemia.

 - Qual é o tratamento para isso doutor, é muito caro? - Minha mãe estava preocupada de mais com tudo o que ele disse, estava palida.

 - O tratamento é quimioterapico, e está dividido em duas fases: indução e pós-remissão. O objetivo da fase de indução é conseguir uma remissão completa, reduzindo a quantidade de células leucêmicas a um nível indetectável. Já o objetivo da fase de consolidação é eliminar qualquer resíduo da doença que não tenha sido detectado com a finalidade de se obter a cura.

 Apertei minhas mãos fortes, sabia que isso iria acontecer, quimioterapia, como tenho medo disso.

 - Quanto antes começar, melhor. Isso não é brincadeira Ammy, você precisa começar logo. Lembre-se que Leucemia pode levar a óbito! - acrescentou o medico.

 Olhei para ele e soltei o ar. Ele ficou me olhando e minha mãe notou o que eu quis dizer, "Hora de ir para casa, pensar".

 Quando sai daquela clinica, não podíamos dizer mais que era um hospital era pequeno de mais para ser um. Fomos para casa, entrei direto em meu quarto, peguei meu celular e mandei uma mensagem de texto à Thomas, continha a seguinte frase: "Precisamos conversar!"

 Quando acordei na manhã seguinte, não quis ir a escola, Thomas me esperava na sala, troquei de roupa rápido e fui conversar com ele. Havia passado a noite toda pensando no que iria fazer e falar, mas quando o vi ali, parado, me olhando serio, minha armadura de guerreiro caiu, me senti tão despedaçada e com medo de não consegui, mas fui em frente.

 Me sentei a frente dele, peguei um copo de achocolatado que havia feito, gelado, para me acalmar, respirei fundo e olhei para baixo.

 - Olha Thomas, eu só quero que você saiba, que você sempre foi muito legal e especial mais... Sabe, eu sei que não vai dar mais certo. Já deu errado uma vez, e também eu... - respirei fundo para dizer aquilo. Uma lágrima escorreu por minha face, senti a pior dor do mundo e falei - Eu não te amo mais como antes, dói em mim ter que te falar isso, mas eu não amo a ninguém alem de mim e minha mãe. Eu só... Seguirei minha vida...

 Thomas me olhou, seus olhos estavam cheiros de lágrimas, senti que ele sabia que eu estava mentindo, então tive que inventar algo a mais.

 - E, eu estou começando a gostar de um outro garoto, você não o conhece, ele é amigo de meu primo... Nós conversamos muito sabe, e ele sempre me entende e sinto que ele pode me completar... - Comecei a chorar mais e mais, não conseguia mentir para ele, mas tinha de fazer aquilo - coisa que você não faz... Sabe... Eu ainda não te perdoei pelo passado, e nem posso!

 - Por que você esta fazendo isso Ammy? Eu sei que você esta mentindo e olha...

 - Infelizmente Thomas, eu não estou mentindo... Eu não quero mais ficar com você. Já fui muito magoada por você lembra? Não quero isso de novo!

 - Olha... Pense bem no que você esta fazendo... Me ligue a noite, e me diga o que pensou!

 - Não Thomas, eu estou decidida... Adeus!

 - Mas... 

 - Adeus Thomas!

 Ele levantou-se e tocou meus lábios com os seus, nossos rostos estavam molhados de lágrimas então desviei meu rosto do dele. Thomas saiu pela porta e a bateu com força, me desmoronei em lágrimas, mas sabia, que assim ele iria sofrer menos. Cortando esse amor logo enquanto ele esta florescendo novamente, faz com que doa menos... Doa menos nele é claro.


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Notas finais do capítulo

"Saigo no kisu wa
Tabako no flavor ga shita
Nigakute setsunai kaori
(...)
Ashita no imagoro niwa
Watashi wa kitto naiteru
Anato wo omotterundarou"

First Love - Utada Hikaru

"Nosso último beijo teve
gosto de cigarro
Um sabor amargo e triste
(...)
Amanhã nessa mesma hora
Estarei certamente chorando
Pensando em você"



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